quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fantasmas nos cartazes

A nova série de cartazes eleitorais do PS parece-me muito feia e muito infeliz. Feia, por pôr as personagens do partido que foram responsáveis ou participaram em diversos instantes importantes da integração europeia em fotografias esfumadas em fundo, como se fossem fantasmas. Parecem os fantasmas de Mário Soares, de Guterres e de Sócrates velando pelas datas mais importantes da nossa entrada na Europa. Infeliz, por querer fazer crer que todos os passos importantes da nossa integração ou participação na Europa foram da responsabilidade dos dirigentes do PS. Mas o mais ridículo é saber agora que os cartazes que têm a sombra de Mário Soares ao lado de uma data referida como a da nossa adesão à união europeia, afinal tinham a data errada e estão a ser retirados.

Escolaridade obrigatória até ao 12.º ano ou 18 de idade

Sou o mais possível a favor da educação. Os nossos baixos níveis de escolaridade são, certamente, causa do nosso atraso. Mas desde que foi fixado como objectivo, penso que ainda no governo de Durão Barroso, levar a escolaridade obrigatória do 9.º ano actual para o 12.º ano que tenho sérias dúvidas sobre a bondade dessa medida, retomada por Sócrates no programa do governo e agora reafirmada e a ser concretizada a breve prazo.

No entanto o coro de elogios e a unanimidade em torno dessa medida quase me fizeram duvidar da razão das minhas dúvidas. Felizmente hoje o espírito esclarecido de Santana Castilho veio esclarecer-me de modo exemplar no seu artigo no Público "Uma espécie de Jihad educacional". Vale a pena ler o artigo na íntegra. Na impossibilidade de o reproduzir aqui, cito a frase que me parece fulcral: "Por ser obrigatória, a escolaridade não é sinónimo de mais e melhor educação."

Com o grau de abandono escolar que temos, a desmotivação de muitos professores e o facilitismo tornado norma, haveria medidas mais urgentes e eficazes para melhorar a educação sem obrigatoriedades forçadas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Lido no Correio da Manhã digital:


«24 Abril 2009 - 00h30
A Voz da Razão
Salazar ao largo
Coisa fatal: a Câmara de Santa Comba Dão resolve atribuir o nome de Salazar a um largo do município e logo se levantam vozes iradas contra ‘a longa noite fascista’. Ponto de ordem: é--me indiferente que Salazar tenha direito a rua, viela ou beco.

Se o homem é filho da terra, a terra que se entenda com ele. Mas estranho que os profissionais da indignação moral não levantem dúvidas sobre outras ruas, vielas ou becos que ostentam pacificamente os nomes de reis tirânicos (que os houve), déspotas iluminados (idem) ou jacobinos revolucionários (ibidem).

Sem falar da Margem Sul, onde os psicopatas do marxismo têm direito a celebração toponímica. Quando se confunde a história de um país com uma fotografia estalinista, não há nenhum motivo para dar descanso ao apagador. Vamos começar?
João Pereira Coutinho, Colunista»

Concordo só em parte. Curiosamente nas reportagens sobre este caso na TV só vi indignação da parte do dirigente da UMAR. Os habitantes de Santa Comba Dão mostraram aprovação ou indiferença. Portanto que deixem o nome do largo ficar como estava. Nunca tive qualquer apreço por Salazar e não aprovava a sua política. Considero que foi um ditador e que a maior parte da sua acção prejudicou o desenvolvimento de Portugal, para não falar da liberdade. Mas se a sua terra natal quer ter um largo com o seu nome, que o tenha, em nome da liberdade que não existia no seu longo consulado. Agora que se ponha o apagador a trabalhar sem descanso para destruir a "celebração toponímica" marxista na margem Sul, aí deixo de concordar com João Pereira Coutinho, em nome da mesma liberdade.

Não vi a entrevista de Sócrates, parece que não perdi grande coisa

Não vi a entrevista de Sócrates. Estou farto de o ver debitar a cassete de "Estamos a fazer tudo o que é possível. A crise vem de fora." Pelas referências e notícias, parece que realmente não perdi grande coisa. O que me poderia interessar saber (Até que ponto a crise nos afecta? Que se está a fazer para minorar os seus efeitos? Que perspectivas há?) não ficaria a saber mesmo que tivesse aturado o homem a falar. Já não aturo ouvir falar do Freepór, não me interessa saber se os jornalistas, designadamente os da TVI e especialmente a que faz o Jornal Nacional nas sextas-feiras, fazem parte de uma campanha negra com a conivência de forças ocultas, tais sejam o PSD e a sua líder Manuela Ferreira Leite, não me interessa saber se o estado vai dar (à minha custa e dos outros contribuintes) mais um subsídio a 15 000 desempregados. Portanto fiz bem em não desperdiçar o meu rico tempo, que é o bem mais precioso que actualmente tenho.

Julguei que o Bloco apelava ao voto no PS e no PSD!

É verdade. Julguei que o Bloco apelava ao voto no PS e no PSD! Ao ver o cartaz de campanha do BE, por baixo de "Porreiro, para quem, pá!" li distintamente: "Quem nos meteu na crise que nos tire dela ". É certo que ia a guiar, o que diminui o tempo que podemos gastar a decifrar cartazes, mas a minha mulher leu o mesmo. Pensei: "Que frase infeliz. É certo que os responsáveis pela crise deveriam ser responsabilizados e não deixaria de ser justo obrigá-los a resolver a situação, se fossem capazes disso, o que parece cada vez mais duvidoso. Mas dito assim, é um verdadeiro apelo ao voto no PS e, na óptica do BE, também no PSD, o que não era de certeza o que o BE pretendia."
Afinal, lendo melhor (pela net, bem sentado à minha secretária, sem necessidade de dar atenção ao trânsito) verifico que a frase do cartaz é: "Quem nos meteu na crise não nos tira dela", exactamente o oposto do que eu tinha pensado ler.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tencionava publicar aqui um postal sobre o assunto da declaração do Secretário de Estado da Justiça acerca da "ilegalidade" praticada pela Ordem dos Notários ao pedir aos cartórios notariais elementos sobre escrituras públicas. Hoje vi no blog Blasfémias quase tudo o que eu tencionava dizer. Obrigado. Poupou-me o trabalho.

Sigilo notarial

Publicado por Carlos Loureiro em 20 Abril, 2009

Os notários, mesmo os privados, servem essencialmente para levarem a cabo escrituras públicas. Públicas porque, entre outras coisas, qualquer cidadão pode requerer uma cópia ou certidão de qualquer escritura (com algumas restrições), que os notários são, por isso, obrigados a manter nos seus arquivos. Além das escrituras propriamente ditas, os notários são obrigados a manter registos dos actos que praticam, com o nome, a morada e o estado civil dos intervenientes e a indicação dos actos em que intervieram. Estas informações também são, em princípio, públicas. Qualquer pessoa, dirigindo-se a um notário, poderá saber se alguém ali interveio numa escritura, quando e com quem, bem como obter dela uma cópia. É (também) para isso que tais registos servem. Com a informatização destes registos, o acesso a estas informações tornou-se muito mais rápido e simples. Suspeito, porém, que esta peculiar forma de publicidade dos actos notariais não vá durar muito tempo.

Publicado em Quem não deve não teme
Está tudo dito. Excepto que não se percebe como chega a Secretário de Estado da Justiça quem não percebe isto.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Caso Qimonda


O caso Qimonda sempre me intrigou. Segundo uma reportagem que vi há tempos, as dificuldades começaram quando a concorrência asiática lançou no mercado memórias a preços muito inferiores aos praticados pela Qimonda e que esta não tinha possibilidade de adoptar devido aos seus custos. Por outro lado também ouvi que toda a matéria prima vinha da casa mãe alemã que deixou de laborar. A ser isto verdade, como se compreende que se afirme agora, como diz o próprio ministro Pinho, que o encerramento da empresa será evitável se aparecer um investidor com capacidade financeira e tecnológica. Parece que o problema não é apenas financeiro, é de viabilidade. Por outro lado para quê a capacidade tecnológica requerida ao salvador? Para fazer o quê? As mesmas memórias? Com que matéria prima? A que preço? Outros produtos? Quais? A que preço? Para vender a quem? Claro que ninguém sabe as respostas. Nem o próprio ministro. O que me espanta é que ninguém faça as perguntas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Descida de inflação não é o mesmo que inflação negativa

Continua a confusão na cabeça de muitos jornalistas entre grandezas e variações. Hoje ouvi várias vezes na TV dizer que "a baixa da inflação acontece pela primeira vez em 40 anos". Ora não é preciso recuar muitos meses para vermos baixas da inflação. Em 40 anos baixou muitíssimas vezes. O que é inédito é ser negativa, isto é o que é inédito (em 40 anos) é a baixa de preços e não a baixa da inflação. Será muito difícil que esta noção entre na cabeça de alguns jornalistas?

O blog A Pente Fino bem tem lutado pela distinção entre grandeza e variação. Pelos vistos com reduzido êxito.

Crise e propaganda governamental

O país afunda-se na crise. As previsões hoje anunciada no Boletim de Primavera do Banco de Portugal são péssimas (uma jornalista disse há pouco num canal televisivo que não identifiquei [a TV estava noutra sala e só ouvi o som] que são pessimistas; a jornalista não sabe o que quer dizer pessimista, infelizmente as previsões são péssimas, mas devem ser realistas).

No entanto o nosso primeiro-ministro desdobra-se em eventos mostrando o seu sorriso e debitando o seu discurso próprios de quem governa um país esplendoroso e próspero. Alguma vez se justifica que o PM perca o seu precioso tempo a visitar uma escola onde se vão fazer obras de reabilitação, obras que foram prometidas com pompa para dezenas de escolas e que são mais que necessárias, e no dia seguinte dedique parte importante da sua agenda em comparecer na sessão de lançamento do novo mapa judicial, alvo de muitas críticas, e a inaugurar uma farmácia. Decididamente, José Sócrates não vive no mesmo país que nós.

domingo, 12 de abril de 2009

Democracia sem partidos?

No blog Portugal Contemporâneo, Pedro Arroja sugere a proibição dos partidos políticos e a instauração de uma democracia sem partidos. Os argumentos sobre os malefícios dos partidos são apresentados extensivamente. São argumentos na sua maioria válidos, na minha opinião. No entanto Pedro Arroja advoga, no lugar da democracia partidária, uma democracia directa.

Assim como o capitalismo, com todos os seus grandes defeitos, ainda é o melhor sistema económico inventado até agora, a democracia partidária também ainda não tem alternativa à altura. O Prof. Pedro Arroja não respondeu ainda às dúvidas expostas nos comentários à sua proposta de proibição dos partidos nem esclareceu como concebe uma democracia sem partidos. Democracia directa baseada em referendos é coisa que não vejo como pode funcionar. Não haveria parlamento? Como se escolhia o governo, se é que haveria governo? Quem fazia as perguntas que iriam a referendo? Seria possível fazer referendos com a frequência necessária para resolver os problemas do país? Um referendo por semana? Por dia?

Proibir partidos? Logo se formariam movimentos de cidadãos ou clubes cívicos ou grupos de pressão ou lobies e ficávamos na mesma ou pior.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Leio no blog Geração Rasca:

"Obama defende entrada da Turquia na União Europeia

A ideia é boa... mas só depois de Obama integrar o Afeganistão nos EUA"

Acrescento:

Se Obama acha assim tão importante que a Turquia seja acolhida no grupo das nações ocidentais, democráticas e que respeitam os direitos humanos (a fim de provar que países de maioria muçulmana podem integrar este grupo para encorajar outros estados a fazê-lo e desencorajar extremismos), que aceite a Turquia como mais um estado dos Estados Unidos. Que pretenda que a União Europeia a deixe entrar, Obama que me desculpe, mas não tem nada com isso.

terça-feira, 7 de abril de 2009

NATO ou OTAN?

Nos postais anteriores uso, como sempre usei e usarei, a sigla OTAN para designar a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Durante muitos anos depois da sua criação era por esta sigla que era designada na imprensa portuguesa. A crescente influência da língua inglesa entre nós, como praticamente em quase todo o mundo, leva agora a imprensa e a TV a escreverem e dizerem NATO. Mas se consultarem a imprensa dos outros países de línguas latinas, pelo menos a França, a Espanha e a Itália, verificarão que continuam a usar OTAN. Concordo com esta posição, visto que é uma organização internacional e não inglesa ou americana e acho deplorável que neste caso se tenha esquecido que há uma sigla que já era tradicional e é mais conforme com a nossa língua.

Ainda a posição do novo secretário da OTAN Rasmussen

Ontem li a notícia de que, no encontro da Aliança das Civilizações, o novo secretário-geral da OTAN, Anders Rasmussen poderia vir a pedir desculpas pela publicação em 2005 de caricaturas de Maomé julgadas ofensivas para o Islão, como compensação (ou condição?) para a retirada do veto da Turquia para a sua nomeação. Fiquei perplexo: Afinal, o homem que tinha julgado ter uma defesa intransigente da liberdade de expressão no seu país ia ceder por um cargo? Quem recusara dobrar a espinha perante as exigências e a incompreensão ia agora negar a sua verticalidade?

O meu temor não tinha, afinal, razão de ser e os que aventaram a hipótese de cedência é que estavam enganados. Segundo noticia hoje o Público, Rasmussen declarou:
"Respeito o islão como uma das maiores religiões do mundo assim como os seus símbolos religiosos." e "Fiquei muito perturbado por or cartoons terem sido vistos por muitos muçulmanos como uma tentativa da Dinamarca insultar ou se comportar com desrespeito para com o islão ou o profeta Maomé." e acrescentou ainda: "Penso que todas as formas de censura são inimigas do diálogo, da compreensão mútua. A liberdade de expressão é uma condição prévia para um diálogo aberto e claro."

Digno.

sábado, 4 de abril de 2009

A posição da Turquia sobre a nomeação do secertário-geral da OTAN



Apesar de estar ciente de que o actual governo e presidência turcos pendem para o lado do radicalismo islâmico, embora moderadamente (não me enganei a escrever: é mesmo possível um radicalismo moderado, de que a política turca é exemplo), admirei-me sobre a alegada oposição da Turquia à nomeação de Rasmussen como novo secretário-geral da OTAN. Tal oposição não só era, em primeiro lugar, despropositada, já que as críticas dos islamistas à recusa de Rasmussen em pedir desculpas quando da publicação das caricaturas de Maomé apenas revelavam incompreensão do que é a liberdade de expressão nas democracias e do poder dos governos democráticos para a controlar, como, em segundo lugar, a Tuquia só tinha vantagem em manter a sua política moderada e o seu respeito pela tradução secular se queria continuar a servir de ponte entre o ocidente e os outros países muçulmanos.
Prevaleceu o bom senso, por melhor compreensão do problema ou por pressões dos restantes parceiros na OTAN. Foi melhor assim.