quinta-feira, 30 de julho de 2015

Passos Coelho socialista?

Uma palavra pode mudar completamente o sentido de uma frase. Na SIC e na SIC-Notícias, Ana Lourenço informou que "Passos Coelho diz que foi o Governo nestes 4 anos que defendeu o Estado Social socialista". Para conformar a informação, esta frase foi mostrada por escrito no roda-pé por várias vezes. Afinal, ouvindo com atenção a parte do discurso de Passos Coelho na apresentação do programa eleitoral da coligação Portugal à Frente, é possível distinguir perfeitamente que o que o Presidente do PSD disse foi que "foi o Governo, nestes 4 anos, que defendeu o Estado Social do socialismo". Seria um absurdo Passos Coelho gabar-se de defender um estado socialista, fosse social ou não. É exactamente o contrário; o que este Governo afirma defender é o Estado Social, e defendê-lo de quê? Do socialismo. A omissão da palavra "do" e a transformação de "socialismo" em "socialista" leva a pensar que Passos Coelho defende o socialismo, é afinal socialista, quando o sentido da frase realmente dita significa que foi o socialismo que pôs em perigo o Estado Social que os sociais-democratas e os centristas defendem.

sábado, 25 de julho de 2015

Caça aos votos

 Ora aqui está o que eu pensei logo que ouvi há dias a argumentação canhota de Isabel Moreira sobre as intenções dos partidos da maioria ao aprovarem as alterações à lei do aborto. O Corta Fitas definiu bem a contradição:

«Eu sei que o assunto é sério mas eu escangalho-me a rir sempre que a oiço. Ainda hoje Isabel Moreira, pelo PS, espumava na AR o argumento. Trata-se esta decisão da coligação de uma medida eleitoralista, apenas para "caçar votos!"
Ora bem. Se é uma medida eleitoralista porque ganha votos é porque se trata de uma medida que democraticamente a população aplaude e pretende; e por isso dará votos e merecerá a qualificação de eleitoralista.
E se se trata de uma medida que a população portuguesa democraticamente aplaude e pretende, como o reconhece Isabel Moreira e os restantes partidos de esquerda com esta acusação de eleitoralismo, que motivo e legitimidade terá essa esquerda para, qual Estaline, impor a todos as suas ideias quando são contrárias às dessa maioria democrática da população?»

É que para certa esquerda, qual Estaline, há que impor as ideias de esquerda, democraticamente ou não, porque eles é que sabem o que está certo. Como já ouvi dizer a alguém que defende estas ideias: "É preciso obrigar as pessoas a serem felizes, mesmo que não queiram."

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Critérios jornalísticos

"Rainha de Inglaterra filmada a fazer saudação nazi", noticiou a TVI 24 no dia 19. A notícia merece duas críticas severas: 1) Quem foi filmada a fazer a saudação nazi não foi a rainha de Inglaterra: Isabel ainda era uma criança, não era rainha e nem sequer era filha do rei da altura. A notícia seca assim dá a entender que a Rainha Isabel II foi recentemente filmada na circunstância citada e não há 82 anos. Portanto, tal como está redigida é enganadora. 2) O acontecimento em si, ocorrido há tanto tempo e pouco depois de Hitler ter sido nomeado chanceler pelo Presidente Hindenburg no seguimento de eleições democráticas, não parece merecer a importância que critérios jornalísticos sensacionalistas lhe deram.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Hollande propõe federalismo colonial

Não ouvi a proposta do presidente Hollande pela boca dele, só referências que creio incompletas e vagas, mas do que ouvi parece que terá proposto que a zona euro passasse a ser dirigida por um "governo" que inclua exclusivamente os seis países fundadores da CEE (França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Itália) em parceria com um parlamento constituído por deputados oriundos do Parlamento Europeu, mas também exclusivamente daqueles seis países fundadores. A ser verdade é a oficialização dum directório formado por países seleccionados que terão direitos superiores aos do restantes estados. Será uma proposta para levar a sério? Que eu saiba não existe precedente; nem nos Estados Unidos há um governo que inclua apenas alguns dos estados, nem sequer em organismos que não são federações, como a OTAN ou a ONU (neste caso apenas no Conselho de Segurança existe algo semelhante com os membros permanentes, mas não foi uma discriminação criada depois do Conselho formado, foi formada esta diferenciação logo de início para dar primazia aos países vencedores da 2.ª Guerra Mundial). Não me parece que a ideia de Hollande tenha qualquer vantagem, pelo contrário, e creio que felizmente não terá qualquer possibilidade de concretização.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A questão grega em poucas palavras

Em poucas palavras, mas está tudo dito. Visto no 31 da Armada e nada a acrescentar:

«os bons, os maus e a maria
por Alexandre Borges, em 15.07.15
Toda a vida, só conheci três gregos: o deprimido que se limitava a responder ”Philip Morris. Isso é da Philip Morris” ao entusiasmo com que lhe dizia que comprar cigarros Karelia de duvidosa sexualidade era o meu contributo para a recuperação da economia grega, e duas gregas simpaticíssimas, uma das quais, pura e simplesmente, uma das mulheres mais belas que alguma vez conheci (A propósito, Maria, se estiveres a ler isto… Ah, deixa lá). O saldo é, portanto, francamente, positivo. Mas, nesta interminável discussão sobre a Grécia, reduziu-se tudo a um simplismo maniqueísta de fazer corar de embaraço.
Os Gregos são os bons; os Alemães, os maus. Os Gregos são bons porque são coitadinhos; os Alemães são maus porque só emprestam mais dinheiro aos Gregos se estes prometerem portar-se bem. Os Gregos são os bons porque nos deram a democracia; os Alemães são maus porque são nazis.
Bom, é capaz de valer a pena lembrar que os mauzões dos Alemães – e dos Holandeses, e dos Belgas, e dos Luxemburgueses, enfim, do resto da Europa – estão, pela terceira vez, a emprestar enormes quantidades de dinheiro à Grécia, a juros que a Grécia nunca encontraria, por si só, no mercado. E que esses mauzões e amigos já permitiram uma reestruturação da dívida grega. E que aceitaram os dois pedidos de adiamento de uma prestação pedidos pelos geniais Tsipras e Varoufakis.. E que, quando Tsipras e Varoufakis simplesmente não pagaram, os mauzões – estranho comportamento para vilões tão infames – rosnaram, mas continuaram disponíveis para novo empréstimo. E que, afinal, os implacáveis alemães, andam há cinco anos nisto.
Ah, dirão: os Alemães (vamos continuar a fingir que são só os Alemães) não andam nisto há cinco anos porque queiram salvar os Gregos; os Alemães andam nisto há cinco anos porque querem salvar os bancos alemães. Claro. Mas os bancos alemães têm uma peculiaridade – peculiaridade, aliás, partilhada por todos os bancos que conheço: não têm dinheiro; têm o dinheiro dos clientes. Quando cai um banco – sim, PCP, desculpe dar esta notícia assim, a frio – não é o banqueiro que se trama; é o povo que lá tenha as poupanças. Tome-se aqui o bom e velho BES como exemplo: é a família Espírito Santo que vêem a liderar as manifestações dos lesados do dito? Sim, amigos solidários. Estou certo de que se fosse o meu dinheiro na Caixa que estivesse em xeque na questão grega, era rapaz para andar um bocado mais agastado. Serei nazi?
Para a discussão, gostamos de trazer a Grécia que temos na cabeça. E a Grécia que temos na cabeça – vá lá explicar-se este fenómeno psiquiátrico – é uma Grécia que inventou a democracia e a filosofia há 2400 anos e que, por qualquer razão, os Alemães decidiram agora linchar. Mas – notícia de última hora – a Grécia de há 2400 anos, por mais gratidão que nos mereça, nada tem a ver com isto. A Grécia que se deixou cair nesta trágica situação não é a cidade-estado de Atenas com que, romanticamente, a insistimos em confundir. É o país que só existe como hoje o conhecemos desde o século XIX e que sempre teve dificuldades financeiras. E é, sobretudo, a Grécia que, nos últimos 20 anos, maquilhou os números para ocultar a sua dívida real, que atingiu défices anuais de 15%, que continuou a engordar o número de funcionários públicos até mais de 800 mil (incluindo casos célebres como o dos 45 jardineiros para tratar de quatro canteiros num hospital). É a Grécia onde, apesar de haver uma economia ainda mais pobre do que, por exemplo, a portuguesa, se praticava (e pratica) um ordenado mínimo superior ao ordenado médio português, se trabalha menos anos e, frequentemente, se fecha a porta quinta-feira ao fim da tarde e se volta segunda. É a Grécia que, na sua extensa lista de profissões de desgaste rápido a quem era permitida a reforma aos 40 e tal anos, se encontrava, por exemplo, o perigoso métier de cabeleireiro. É a Grécia que, apesar de todas as vilanias pedidas pelos mauzões do centro da Europa, ainda não aceitou mexer nos seus off-shores, em fazer os armadores pagarem impostos, em retirar os privilégios à igreja ortodoxa ou reduzir aquele que é, percentualmente, um dos maiores orçamentos militares da Europa.
E, no entanto, choca-nos que possa haver quem não esteja disposto a continuar a dar a esta Grécia, de mão beijada, milhares de milhões de euros. Choca-nos a vilania desse sinistro FMI que insiste em fazer exigências, quando, afinal, não é mais do que uma organização de países, a maioria dos quais – continuam as notícias bombásticas – com condições de vida bem piores do que a Grécia. Repugna-nos que governos democraticamente eleitos pelos seus povos tenham de prestar contas a esses mesmos povos pelo que decidem fazer com o dinheiro deles, porque, aparentemente, o argumento da democracia só é válido quando se fala da – digam em coro – Grécia.
Os gregos comuns não terão culpa da Grécia. Mas não podem, certamente, culpar os maus dos alemães pela enorme e persistente ingenuidade, senão negligência, com que escolheram os seus responsáveis políticos e os deixaram agir, ao longo de décadas, enquanto seguiam, lenta e inapelavelmente, para o abismo.
Recentemente, cansados das velhas soluções, os Gregos entregaram o governo a um pequeno partido que, pouco antes, não recolhia mais de 300 mil votos, e que dizia que faria tudo diferente do que os outros faziam. Por cá, mas não só, a esquerda facilmente impressionável (levem-me ou não a mal, amigos de esquerda, a diferença entre esquerda e direita é, frequentemente, apenas uma questão de ingenuidade versus realismo) tratou da canonização instantânea. Não era só Tsipras, cuja rebeldia consistia, ao que percebi, em dispensar a gravata; era, sobretudo, Varoufakis, o homem que as mulheres queriam ter e que os homens queriam ser; o governante que se deixava fotografar a caminho de reuniões de mota e blusão de cabedal; o génio rico, filho de ricos, casado com uma mulher rica, filha de ricos, que, ao que se diz, terá inspirado Jarvis Cocker a escrever essa bela canção sobre uma grega em Londres, estudante de escultura, que queria brincar às “pessoas comuns”.
Pouca importava se lembrássemos que Varoufakis já trabalhara no governo do PASOK e que, portanto, era difícil compreender que o seu tão propalado génio não tivesse funcionado então. O fascínio deu para meses. Deu para fazer uma super-star política como não se via, talvez, desde a primeira corrida presidencial de Obama.
Eis o resumo da genialidade: eleito para bater o pé à austeridade da Europa, o Syriza passou cinco meses a pedir adiamentos. O tempo foi passando, entre as lições de moral de Varoufakis aos ministros das finanças a quem tinha de pedir dinheiro e os “programas económicos” rabiscados pelo negociador em folhas do bloco de notas do hotel. No fim, o Syriza não só não pagou, como passou a batata quente para as mãos do povo. Que coragem, disse-se por aí. Um governo eleito pelo povo para o representar e decidir, na hora da decisão, lavou as mãos e disse ao povo que fizesse o que entendesse.
Tsipras e Varoufakis nunca tiveram a menor ideia de como tirar a Grécia da situação em que está. Talvez tenham achado que encher o peito e aparecer ao lado de Putin bastaria para meter medo a um velho continente tão cheio de medos, traumas e ligações perigosas. Mas a chantagem emocional não funcionou. Então, sonharam ardentemente com um “sim” no referendo. Sim, com um “sim” – “nai”. Durante uma semana, apavoraram o próprio país impondo um limite diário de 60 euros por cabeça aos levantamentos de dinheiro. Com um requinte: só mil dependências bancárias poderiam estar abertas em todo o país. Porquê? Se cada cidadão só podia levantar 60 euros, que diferença fazia estarem todos os bancos abertos? Uma diferença enorme: as filas dramáticas de gregos, de todas as idades, espremendo-se contra a porta de um dos poucos bancos abertos num raio de quilómetros. As imagens correram mundo e, naturalmente, chocaram. Os maus dos Alemães. Os maus dos Europeus. E, entretanto, as sondagens iam dando o “sim” a subir porque os Gregos começavam a ter um terrível vislumbre do que seria um futuro sem dinheiro. Se votassem “sim”, Tsipras e Varoufakis lavariam daí mais uma vez as mãos. Era o povo que tinha escolhido a austeridade, forçado pela vilania alemã. Apresentariam a demissão, saindo como tinham entrado: como heróis, sem que tivessem tido de provar o que quer que seja a quem quer que fosse.
E, no entanto, os Gregos disseram “não”. Oxi. Não à austeridade. Não à Europa. Morremos, mas morremos de pé. Vamos lá! E que fizeram Tsipras e Varoufakis? Varoufakis, que prometera demitir-se se ganhasse o “sim”, demitiu-se ganhando o “não”. Diz que foi para facilitar as negociações porque tinha ouvido dizer que lá na Europa não gostavam dele – mas, na verdade, já tinha sido substituído há muitas semanas por um “negociador” que, agora, o substitui como ministro de facto. E Tsipras? Foi negociar mais austeridade, para depois voltar a casa e gritar que foi “chantageado”.
Nunca souberam o que fazer. Nunca houve alternativa. E é melhor que deixemos rapidamente de tratar a questão como um debate moral. Alguém pode não pagar o que deve? Pode. Mas não espere que lhe voltem a emprestar dinheiro. Isto não é moral; é lógica simples. E, a propósito: haverá, com certeza, muitos especuladores a enriquecer com a compra de dívidas soberanas, mas sabem quem é que também investe muito em dívidas soberanas? Outros estados soberanos, com os fundos com que tentam financiar os seus sistemas de Segurança Social.
Quanto à solidariedade, choca-nos que o Presidente da República Portuguesa dissesse que, saindo a Grécia, ficavam 18 países, em resposta a uma jornalista que lhe perguntava se a Zona Euro acabaria com uma saída da Grécia. Choca-nos que o primeiro-ministro português se demarcasse da Grécia. Mas não nos choca que a Grécia não tivesse tido o menor pudor em dizer, consecutivamente, que, saindo eles, Portugal seria o próximo. Não nos choca que o governo grego arrastasse com ele os juros da dívida portuguesa em nome de nova chantagem emocional. Mas choca-nos que o governo português faça o que tem de fazer: preocupar-se, em primeiro lugar, com a débil situação portuguesa. Choca-nos o alemão feio de cadeira de rodas, que é ministro das finanças e tem cara de mau, mas admiramos o ministro das finanças gregos, que é garboso e bem falante. E não nos chocam os seus colegas de governo que chamam nazis por tudo e nada aos alemães, que ameaçam invadir a Alemanha com jihadistas (?), enquanto vão fazendo os seus negócios com Putin.
Podemos estar todos à beira de uma história muito complicada, e as histórias muito complicadas nunca foram contadas dizendo que, de um lado, estavam os bons e, do outro, os maus.
E, já agora, a quem possa ser mais sensível ao argumento arqueológico, vale a pena pensar que o nosso sistema político – aliás, toda a contemporaneidade – deve muito mais à Revolução Francesa, arquitectada sobre os princípios definidos por alemães como Kant, do que à longínqua democracia de Atenas, onde mulheres, escravos e estrangeiros não podiam tomar parte. E que não é lá muito humanista insistir em reduzir a Hitler uma cultura que nos deu Beethoven, Bach, Goethe, Schumann, Nietzsche, Hegel, Leibniz, Husserl, Shopenhauer, Schiller, Thomas Mann, Brecht, Murnau, Lang, Einstein e até, vejam lá, Karl Marx.
(Mas concedo que também foi de lá que vieram os Scorpions. E, afinal, a Maria era muito mais bonita do que qualquer alemã que tenha conhecido em dias de minha vida).

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Ainda a alternativa

Tsipras deu-me razão ao reconhecer que não há ou simplesmente não conhece uma alternativa à austeridade. Acabo de ler na Quarta República:

«E o Galamba e o Varoufakis não avançaram...
"Quem tiver uma solução alternativa, que avance e diga qual é”.
Tsipras, hoje, ao Syriza, segundo o Expresso

Parece que nem Costa, Galamba ou Varoufakis, nenhum deles avançou...E as Catarinas desta terra deixaram-se ficar por Lisboa...»

Pois é.

domingo, 12 de julho de 2015

A alternativa à austeridade

Afinal, a grande esperança que a esquerda tinha na demonstração de que a Grécia ia mostrar que havia uma alternativa à austeridade esmoreceu. Fazenda e Mariza Matias bem tentaram disfarçar o mal-estar provocado pela cedência de Tsipras, mas o embaraço é evidente. Torna-se cada vez mais evidente que, por muito que a austeridade tenha efeitos recessivos com consequências, como o crescimento nulo ou negativo e o aumento do desemprego, é um efeito da necessidade de reduzir as despesas por falta de dinheiro e não uma opção. Uma política de consolidação orçamental implica necessariamente medidas que se podem classificar como de austeridade, mas é claro que pode haver políticas de consolidação bem ou mal desenhadas, com efeitos negativos inevitáveis ou evitáveis. A austeridade pode ser mais bem ou mais mal conduzida, mas quando há que reduzir gastos, ou melhor, reduzir défices excessivos, a austeridade é inevitável. Tsipras ou ignorava isso, como é o caso da nossa extrema esquerda, ou fingia ignorar, como é o caso de parte da nossa esquerda não extrema. Não sei se quando prometeu o fim da austeridade estava de boa ou de má fé, o que sei é que era uma promessa que o levou à vitória mas impossível de cumprir. Se só na passada Quinta-feira compreendeu isso ou se verificou que não podia fingir mais, ignoro. Mas é evidente que ficou provado que quando um país está nas condições em que está a Grécia ou em que estava Portugal em 2011 não há alternativa para a austeridade. Os que festejaram a vitória do Syriza na Grécia e desejam uma vitória do Podemos em Espanha e do Bloco de Esquerda ou do LIVRE em Portugal recusam-se a admitir essa verdade.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Entretanto, na China

Depois de passar horas a tentar saber o que se passava em Bruxelas com as reuniões sobre as tentativas de achar uma solução para a questão grega, desporto que já pratico há dias afincadamente, eis que acho, por um acaso do zapping, uma notícia no canal da CNN sobre a queda brusca e acentuada da bolsa de Xangai. Não ouvi em nenhum canal português a mais leve referência a problemas na China, mas parece (confirmado por uma pesquisa na net) que a questão é mesmo séria. Será o início de uma crise maior que a iniciada pela falência do Lehman Brothers, agora com epicentro na China mas que se pode alastrar a todo o mundo, ou será uma crise local e controlável pelas autoridades financeiras chinesas? Não me esqueço que a grande crise de 1929 começou por uma queda da bolsa e que já algumas vozes pessimistas ou iluminadas têm considerado provável uma crise com origem na China. É certo que a crise prevista seria causada pela bolha imobiliária, mas pode chegar lá. Esperemos que não; já nos basta o sarilho grego.

PS: O Observador está atento e já noticiou o que se passa na China.

domingo, 5 de julho de 2015

Se não houvesse PS

António Costa afirmou que a Grécia é "a dramática ilustração do que seria a situação em Portugal se não houvesse em Portugal o PS". Não percebi como teria chegado a esta conclusão singular. É sempre difícil chegar a qualquer conclusão na base de o que seria se não fosse como é. Mas, pensando sobre o assunto, parecia-me que era pouco provável que, se não houvesse o PS em Portugal, os votos dos portugueses se concentrassem de tal modo no Bloco de Esquerda que pudesse resultar um governo comparável ao actual da Grécia. Mas hoje tive ocasião de saber a base do raciocínio: Se não houvesse PS, diz Costa, o país estaria assim condenado "a ter de escolher a continuidade da austeridade que a direita defende ou a ruptura com o euro que a esquerda radical defende". Singular raciocínio. Na ausência do PS, surgiria certamente um partido com qualquer outro nome que representasse a esquerda moderada. De resto, o PS quase mergulhou o País em 2011 numa situação que teria conduzido a um colapso à grega se tivesse continuado a seguir políticas semelhantes. Não foi o PS, mas sim a coligação PSD/CDS que aplicou as medidas que a troika preconizou e que o PS aceitou e que nos permitiram ultrapassar o pior da crise. Entretanto, o PS, embora com direcções diferentes, sempre combateu o rumo de consolidação orçamental seguido, e não pelos defeitos que a sua aplicação possa ter, mas sim exactamente em sentido contrário, colocando-se mais perto das políticas defendidas pelo Syriza do que da correcta aplicação das medidas negociadas pelo próprio PS.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A democracia vista por Mariza Matias

A Euronews ofereceu-nos hoje uma notícia alargada sobre a questão grega. Decidiu ouvir opiniões de políticos de países que podem ser afectados pela eventual saída da Grécia do euro. Não sei a que critério obedeceu a escolha dos entrevistados, mas o critério jornalístico seguido entendeu que a representante portuguesa deveria ser a deputada europeia Mariza Matias. Assim pudemos ouvir afirmações sobre questões relacionadas com a comparação entre a situação grega e a portuguesa e ficámos a saber que estas duas situações são iguais. Entre outros factores, em Portugal, como na Grécia, "o desemprego está a crescer" e "a dívida portuguesa é tão insustentável como a grega". Mas nem tudo é igual; a diferença está em que "o povo grego tem a possibilidade de decidir; o povo português não". É realmente uma pena que, ao contrário da Grécia, em Portugal se viva num regime de ditadura em que o povo não pode decidir por não haver eleições.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Demasiado ridículo 2

Em aditamento ao que escrevi sobre as fatiotas dos guardas gregos, tenho a acrescentar que nada tenho sobre as indumentárias regionais e históricas de cada país. Se fossem apresentados assim vestidos num festival folclórico ou participassem com as mesmas roupagens e até com os mesmos passos em demonstrações históricas ou regionais, não os consideraria ridículos. É o facto de fazerem as suas manobras solenemente diante da casa da democracia grega que me parece que pode causar sorrisos ou mesmo gargalhadas aos estrangeiros menos habituados. Para apreciar o meu ponto de vista, suponhamos que as fardas da guarda da Assembleia da República eram estas:



Não vos parece um pouco despropositado? No entanto, as mesmas roupagens, no contexto das danças tradicionais mirandesas não nos parecem deslocadas nem suscitam risos.

Claro que os gregos têm todo o direito de adoptar para a sua guarda o traje que quiserem e há que respeitar isso. Mas lá que é ridículo, é.

Demasiado ridículo

Descobri o que há de errado com a Grécia e porque não se consegue entender com o FMI, nem com o BCE, nem com a UE. E descobri-o apenas vendo televisão. O problema não está nas ideias de Tsipras, nem na arrogância de Veroufakis, nem na política do Syriza. A questão é o tremendo ridículo das fardas dos guardas gregos e dos incríveis passos que dão levantando a perna mais do que uma bailarina ou uma ginasta.

 Faz.me mesmo lembrar o célebre Ministério dos Passos Ridículos dos Monty Python.


Não é possível levar a sério os gregos depois de assistir às manobras de render da guarda ou mesmo ao simples desfilar diante do Parlamento. O ridículo é mesmo demasiado.

PS: Atenção: Quando falo no Ministério dos Passos Ridículos não tenho em mente nenhum ministério de alguém de nome Passos. Os passos de Passos podem ser tudo, menos ridículos. Aliás acho de muito mau gosto piadas baseadas em nomes das pessoas.