sexta-feira, 30 de julho de 2010

Touradas


É possível que a proibição das touradas na Catalunha tenha como causa mais questões políticas que a defesa dos animais. Seja ou não verdade, acho que é uma boa notícia. Conheci aficionados do toureio que eram pessoas cordatas e pacíficas, incapazes de fazer mal a uma mosca (como é costume dizer-se com algum exagero), mas um espectáculo em que se espeta repetidamente um animal e principalmente, como no caso da Espanha, se mata no fim é para mim um espectáculo bárbaro e cruel. O povo espanhol tem outras ricas tradições culturais, nomeadamente na música e na dança, e não necessita de se afirmar considerando como festa nacional a tortura de um bicho que não tem culpa de ter o instinto de atacar, mesmo sofrendo golpes dolorosos. Por isso cada proibição de touradas é um passo no sentido certo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

John Nash

Soube agora pelo blog Quarta República que o matemático John Nash esteve a semana passada em Lisboa para participar na Conferência Europeia de Investigação Operacional na Faculdade de Ciências. É pena que a presença de John Nash em Lisboa não tenha sido mais noticiada. Como não li o Público de 15 de Julho, onde veio publicada uma entrevista, não soube da sua vinda; se algum outro jornal ou alguma TV se referiu ao assunto, não dei por isso.

Vi há dias o filme "Uma Mente Brilhante", tendo-me escapado um pouco do início, pelo que só depois de um bom bocado de seguir a história ouvi o nome do protagonista. Apesar de não ser economista, o nome era-me familiar, pelo que resolvi consultar a Wikipedia e fiquei a conhecer melhor a sua biografia.

O comentário da Quarta Republica, mormente sobre a aplicação disparatada das teorias de Keynes, é muito justo.

domingo, 18 de julho de 2010

Rádio Clube Português


O fecho do Rádio Clube Português passou quase despercebido, como se duma rádio menor se tratasse, como se não tivesse história e não tivesse desempenhado um papel importante na informação deste país. Poucos comentários, poucas saudades, poucos lamentos, poucas recordações. É pena. José Pacheco Pereira foi dos poucos que se referiu ao acontecimento (hoje no programa Ponto Contra Ponto - ou será Ponto Contraponto? - na SIC Notícias).

Confesso que posso ter contribuído para o fim do Rádio Clube porque raramente o ouvia. Aliás há anos, desde que me reformei, que ouço muita pouca rádio em geral. Ainda o que ouço mais amiúde é a Antena 2. Por isso, pessoalmente o Rádio Clube não me faz muita falta, mas não é por mim que lamento o seu fim, é pelo panorama informativo português e pela história. Lamento ainda mais porque é mais um órgão de informação que acaba. Já vi fechar tantos jornais que não sou capaz de os contar. Quando começarão a fechar estações de televisão? Talvez não tão cedo, já que desconfio que são elas as principais responsáveis pelo fim de rádios e de jornais. Até que a informação via internet substitua as televisões, se algum dia acontecer, vai provavelmente demorar muitos anos.

Afinal devemos perspectivar estes encerramentos como ajustes provocados pelos avanços tecnológicos e pelos novos hábitos daí decorrentes. Assim como o Cinema não matou o Teatro, também a TV não matou o Cinema e penso que a internet não matará nem o Teatro, nem o Cinema, nem a TV.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Matar o mensageiro



Estou com aqueles que denunciam os ataques às agências de notação financeira como inúteis e até perniciosos. As agências podem ter muitos defeitos, erros de apreciação, enviesamento da notação por interesses próprios ou dos seus associados, mau conhecimento das circunstâncias locais ou outros, mas os meios financeiros que podem comprar os títulos de dívida portuguesa têm em consideração as notações que estas agências emitem. Por isso bradar contra elas, acusando-as de conluio com os especuladores ou acusá-las de errar não evita que quem nos empresta dinheiro as ouça. É como se uma família muito endividada acusasse a casa de penhores de avaliar mal as peças de ouro que quer empenhar. Pode ter razão, mas não serve de nada, e, se o fizer em voz alta e armando escândalo no próprio estabelecimento que lhe pode emprestar o dinheiro necessário, só pode prejudicar a possibilidade de obter o empréstimo. O mais sensato é fazer um plano de austeridade e procurar não precisar do dinheiro dos outros. É isto que aconselha Cavaco a nível nacional e não é preciso ser grande economista para o perceber.

Uso propositadamente a expressão mais longa de "agências de notação financeira" e não de "agências de rating" porque, picuinhas como sou, não gostei que uma TV (não reparei que canal era) tivesse traduzido do francês (em legendagem), na intervenção do comissário para os serviços financeiros, Michel Barnier "agences de notation" por "agências de rating". Se há um equivalente português, porquê usar a palavra inglesa?

domingo, 11 de julho de 2010

Será possível endireitar o plano inclinado?

Não pude assistir ao Plano Inclinado de sábado passado, mas, segundo relata o Quarta República, em "Inverter o «plano inclinado»", o empresário Alexandre Soares dos Santos é de opinião que "os partidos políticos já não resolvem coisa alguma." e de que "Está chegado o momento, sob a égide do Presidente da República, de sentar à mesma mesa governo, partidos políticos, empresários e sindicatos e outras entidades representativas das forças vivas da sociedade civil para se chegar a um acordo."

Não acredito que seja esta a solução para a grave crise que atravessamos. Essa "solução" era defendida há anos pelo meu sogro para todos os conflitos ou dificuldades do mundo, incluindo as crises porque Portugal passava, que não se comparavam com a actual. O meu sogro morreu há anos com 94 anos, só tinha a 4.ª classe e pouco sabia de política, mas já nessa altura eu sorria incrédulo com a sugestão. Seria uma iniciativa impossível e, mesmo que possível, inútil, porque não se chegaria a acordo e, mesmo que por absurdo se chegasse, não creio que o acordo resultasse. É com pena que o digo, mas parecem-me muito ingénuos os que, como o meu sogro, o propõem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ricardo Salgado e o verbo haver

Estou habituado a ver ou ouvir maltratar a língua portuguesa nas televisões (para não falar das línguas estrangeiras, principalmente da francesa e da alemã, mas neste último caso com alguma desculpa, dada a reduzida divulgação que tem no nosso país). Os jornalistas são profissionais da língua, mas por vezes mostram ignorância sobre regras elementares. Um dos erros mais frequentes é o uso do verbo haver impessoal (ou de verbos auxiliares do verbo haver) no plural, principalmente quando usado no pretérito. Arrepio-me todo com estas calinadas, mas tenho uma certa compreensão quando cometidas por jovens ou por pessoas com pouca educação. Mas quando é um banqueiro que possui presumivelmente uma educação esmerada e que aprendeu a língua portuguesa nos tempos em que o ensino não era facilitista, o arrepio é mais intenso. Foi o caso, hoje, ao ouvir o Dr. Ricardo Salgado


a propósito da intervenção do Estado para impedir a venda pela PT da Vivo à Telefónica, dizer que acreditava que "possam haver" outras oportunidades de investimento. É caso para perguntar: Poderão haver outras oportunidades? Haverão estas outras oportunidades? Até agora não houveram muitas!

Desculpem-me o preciosismo. Quando está em jogo um negócio de milhares de milhões, o interesse estratégico de Portugal, o futuro da maior empresa nacional e dos seus milhares de trabalhadores, o que me impressionou foi o erro gramatical que o Presidente do BES deixou escapar, certamente não por ignorância, mas sim por distracção! Certamente que os factores que enunciei são muito mais importantes do que a conjugação do verbo haver, mas não resisti a registar o facto de até uma pessoa com a craveira intelectual e o cuidado com a linguagem do Dr. Ricardo salgado poder enganar-se.

domingo, 4 de julho de 2010

Zita Seabra


Por acaso apanhei hoje quase por completo a entrevista de Zita Seabra a José Luís Goucha. Não costumo ver o programa do Goucha, mas tive a sorte de ligar por acaso para a TVI24 na altura da entrevista. Conheci a Zita de longe na altura da crise académica de 62, era ela uma jovem aluna de liceu. Nunca estive de acordo com as ideias políticas que ela defendia nessa época, mas havia um clima de alguma aproximação por oposição comum à política autoritária vigente. Quando há anos li o seu livro Foi Assim, compreendi a história da sua militância e da sua desilusão com a política comunista. O livro levou-me a recordar muitas das vicissitudes porque passámos e fala de muitas pessoas que conheci nessa época. Admirei principalmente a sinceridade que transparece nas páginas do livro e que revi agora na entrevista.