sábado, 18 de julho de 2009

Sócrates ou Robim dos Bosques?

No Insurgente, Miguel Botelho Moniz escreve em "Guilhotinando o futuro":

"José Sócrates está contente com as estatísticas da desigualdade e risco de pobreza em Portugal. Segundo ele, isso será mérito da acção governativa; é o atingir do objectivo do estado. Como bom “humanitário”, Sócrates perpetua o erro que sempre esteve por trás do socialismo: A promoção da igualdade à custa da produção, descuidando que sem a última não há “transferências” que sejam possíveis.

O lado escondido do estudo do INE é que a redução de desigualdades e de risco de pobreza incide apenas nos sectores sociais directamente dependentes do estado para a sua subsistência e que por definição não são sectores produtivos: Reformados, idosos carenciados e indivíduos socialmente excluídos. Já noutros sectores sociais essas desigualdades e risco de pobreza aumentaram. Entre população activa desempregada e crianças (que por sua vez estão dependentes de pessoas na população activa), os números pioraram, ultrapassando já as estatísticas dos idosos. Isto é: Foi dado apoio social à custa do empobrecimento dos sectores produtivos, pondo em causa estes últimos e a própria capacidade futura de conceder apoios sociais.

O mais preocupante é que os dados do INE são relativos a 2007. Não incluem, portanto, os resultados do agravamento da crise, nomeadamente o vertiginoso aumento do desemprego. Mas enfim. Deixê-mo-lo ficar satisfeito consigo próprio."

Tem razão. Os grandes "triunfos" do governo Sócrates, a sua grande obra a favor do "estado social" basearam-se na redistribuição da riqueza, tirar a uns para dar aos outros. Como Robin Hood, o princípio seria tirar aos ricos para dar aos pobres. No entanto, como hoje no i Martim Avilez Figueiredo notou muito bem, os ricos já nem eram assim tão ricos, eram mais classe média, e com esta redistribuição acabaram ficando mais pobres. A redução das desigualdades sem criação acrescida de riqueza tem inevitavelmente este resultado.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Patentes e traduções

Acabei de saber, pela notícia inclusa no blog 31 da Armada, que o governo português se prepara para aderir ao artigo 65 do Protocolo de Londres sobre patentes, pelo qual deixa de ser obrigatório apresentar tradução em português do texto completo de patentes para as tornar válidas no nosso país, fazendo fé no nosso país o texto numa das línguas oficiais da Patente Europeia, inglês, francês ou alemão. Tenho seguido este assunto com atenção e até agora congratulava-me com a renitência do nosso país em aderir a este artigo, no que estava bem acompanhado por Espanha, Itália, Grécia, Polónia e outros. Pois bem, ao que parece quem manda cá mudou de opinião e acha agora que não há problemas em tornar oficialmente válidos e legais documentos escritos numa língua estrangeira. Contudo os inventores portugueses, infelizmente poucos, mas que por isso mesmo mereciam ser acarinhados, continuam a ter de mandar fazer traduções, e de as pagar, para uma das línguas oficiais da Patente Europeia, além, evidentemente, para as línguas dos países que não aderirem ao artigo 65, se quiserem proteger as suas invenções nesses países. Não há qualquer vantegem para Portugal nessa nossa projectada adesão, a não ser um eventual aumento de patentes europeias registadas no nosso país, o que também não nos traz qualquer vantagem, além de uma maior cobrança de taxas pelo INPI. Em contrapartida, quem fica a ganhar são as empresas e os inventores franceses, ingleses e alemãoes, que. esses sim, poupam nas traduções. Não posso concordar com essa situação. Por isso assinei a petição.

Declaração de interesse: Além de utilizador durante toda a minha carreira profissional de literatura de patentes como fonte de conheciemento, fui durante muitos anos tradutor técnico e traduzi textos de numerosíssimas patentes a partir de originais alemães, ingleses e franceses. Hoje já me reformei e deixei essa actividade, embora tenha tradutores técnicos na família. Creio que esse facto não me tira a independência de critério.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Será obrigatório gostar de futebol?

Não creio que gostar de futebol já seja obrigatório. Também não me parece que mesmo quem goste de futebol, o que não é raro, tenha obrigação de apreciar as numerosas transmissões de discussões, comentários, debates, discursos, reportagens e transmissões de eventos futebolísticos. É natural, portanto, que quem goste de estar informado e dê prioridade às informações que podem ter maior influência no seu modo de vida não tenha ficado particularmente contente com a cobertura em directo e demorada simultânea em todos os canais de TV generalistas e de notícias (excepto se considerarmos a RTP2 generalista) da apresentação de Cristiano Ronaldo no Real Madrid. Não que a notícia não tenha importância e não mereça algum relevo, mas ter 6 canais ocupados com o assunto ao mesmo tempo e em detrimento das restantes notícias parece exagero. Os que pensam assim podem ser uma minoria, mas não merecem o ataque que André Macedo (AM) faz em "As fintas de Cristiano e as fintas dos moralistas" no i de hoje.
Não, não me considero um dos "moralistas do costume", mas é bem certo que fui dos que "criticaram as televisões portuguesas pela cobertura em directo da apresentação" e dos que "Não gostaram do tempo ocupado nos telejornais, talvez por considerarem o assunto menor e o protagonista demasiado rasteiro", como declarei neste blog. Neste talvez é que não me revejo, mas será que todos os assuntos que não são menores e cujos protagonistas não são rasteiros merecem tal relevo informativo?
Também talvez me enquadre no que AM designa como "estas luminárias" e "grupinho desconfiado que gosta de se misturar com os intelectuais – apesar de inteligência e sabedoria mostrarem quase nenhuma", embora não tenha propriamente "asco" a "tudo o que agrade e mobilize a maioria das pessoas". Mas confesso que muitas coisas (não tudo) o que mobiliza a maioria das pessoas me deixam indiferente ou mesmo me desagradem, como em concreto o futebol.
Agora AM exagera quando opina que os membros deste "grupinho", em que penso estar incluído, "tentam, em vão, fazer de Portugal um país ainda mais apertado". Tem porém razão quando afirma que os "estes valores não matam ou esmagam os outros. Podem coabitar. Devem coabitar. Futebol e cultura, educação e diversão – tudo tem o seu espaço e o seu tempo, sem sobranceria nem repugnância." Só que neste caso não houve propriamente coabitação, houve uma preponderância quase exclusiva da notícia futebolística em detrimento das restantes.
É completamente diferente o registo de Paulo Tunhas que se refere a assunto afim (no fundo ao mesmo assunto, só que em vez da apresentação de Ronaldo fala das eleições no Benfica), logo na página seguinte do i. Não poderia estar mais de acordo com o que escreve, especialmente quando conclui que "A atenção desproporcionada ao futebol menoriza, porque nos afasta ainda mais do já precário hábito de deliberar". É isso mesmo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Filomena dixit

O retrato sintético de Sócrates feito por Filomena Mónica hoje no i é absolutamente lapidar:
"um rapaz da província que subiu na vida à custa de esperteza e de pouco trabalho".

Há notícias?

Um cidadão liga a televisão à hora dos telejornais para saber o que vai pelo mundo e que acontece? Num dia só ouve falar das eleições no Benfica, como se destas dependesse a salvação nacional ou a saída da crise mundial, no dia seguinte só ouve falar da apresentação do Ronaldo no Bernabeu. Irra, que já é demais. Mesmo para quem gosta de futebol, o que não é o meu caso, não será exagero? Em simultâneo 6 canais (pelo menos: RTP1, RTPN, SIS, SIC-Notícias, TVI, TVI24) a darem o mesmo! Mas não se passa nada mais de importante no mundo? Ah, já me esquecia, também se falou das cerimónias fúnebres do Michael Jackson. Ainda assim, antes o Ronaldo.
Espero que nos próximos dias não haja eleições em nenhum clube, nem apresentações de jogadores milionários, nem mortes de cantores pop, para podermos ouvir algumas notícias.

domingo, 5 de julho de 2009

Fait-divers


Imagem tirada da net

O gesto insultuoso do ministro Pinho (agora ex-ministro) em plena sessão da Assembleia da República tem feito correr muita tinta, o que já foi criticado por alguém, considerando o facto um fait-divers. Claro que é um fait-divers e o país tem, infelizmente, questões muito mais importantes e graves a discutir. Contudo silenciar o caso seria desculpabilizá-lo e o gesto merecia ser criticado como foi e ter as consequências que teve. Por uma vez até concordei com a rápida decisão de Sócrates. Dizem que Pinho até foi um bom ministro e teve acções meritórias, mas apenas tinha má imagem e uma grande tendência para as gafes. A ideia que eu faço de um bom ministro da economia não é a de um bombeiro que se cansa a andar de empresa em empresa para tentar resolver pontualmente os problemas (muitas vezes sem êxito, como se viu). Posso estar enganado, até porque o meu julgamento é feito a partir das suas políticas e das suas palavras tal como relatadas nos meios de comunicação, mas desde muito cedo que me pareceu completamente desajustado ao lugar e, tirando a aposta nas energias renováveis, cujos resultados só a prazo poderão compensar os custos, não dei pelas suas ideias de política económica.

sábado, 4 de julho de 2009

Escândalo

Não, não me vou referir ao escândalo do gesto malcriado do ministro Pinho (agora ex-ministro) com total desrespeito da Assembleia da República. Alegou que tinha sido provocado, mas não cheguei a perceber em que constava exactamente a provocação, por Bernardino Soares ter falado em aparte num cheque da EDP que o ministro entregara ao clube de Aljustrel. O cheque existiu? Não se podia falar dele? Mas não é desse escândalo que quero falar, nem de o próprio ministro ter revelado, depois do incidente, total irresponsabilidade ao responder que o seu lugar não estaria em causa "enquanto houver postos de trabalho para safar". Claro que ninguém acredita, depois desta confissão, que tenha sido ele a pedir a demissão por sua iniciativa. É evidente que foi Sócrates a exigir que se demitisse. Mas não é disso que vou falar.
O escândalo de que me quero queixar é de o programa "Expresso da meia-noite", que eu pensava ser um programa sério, ter sido interrompido logo de início e depois mais tarde para ligar à sede do Benfica a dar notícias sobre as respectivas polémicas eleições. Por favor, há jornais e programas desportivos para essas coisas. O "Expresso da meia-noite" tem coisas mais importantes para debater, sem perder tempo com futebóis.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ainda sobre os contra-manifestos

Vale a pena acrescentar à referência que fiz no Domingo ao comentário de Helena Matos sobre o manifesto dos 51 esta outra referência a outra mensagem no mesmo blog, desta vez de João Miranda. Os argumentos de João Miranda desmistificam o contra-manifesto intitulado Manifesto pelo Emprego, mas que não explica quem vai pagar o emprego que eventualmente seria criado (quando, para quem?) pelas obras públicas dos mega-investimentos.