sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um país triste, pobre e revoltado

O New York Times publicou um artigo sobre a actualidade portuguesa ilustrado com fotografias do fotógrafo brasileiro Maurício Lima. O artigo (pelo menos na versão em linha) é factual, mas dá, em minha opinião, um retrato da situação que ignora parte da realidade. Por exemplo, ao afirmar que “São cada vez mais frequentes manifestações do tipo das que têm sido vistas em outros países que enfrentam crises económicas”, diz a verdade, mas apesar de serem cada vez mais frequentes estão longe do que se tem relatado na Grécia, em Espanha e mesmo em Itália em termos de frequência e de violência, além de que se tem notado alguma diminuição no número de participantes. Também quando diz que “Os salários dos trabalhadores têm sofrido cortes tanto no sector público como no privado”, esquece que os cortes no sector privado estão previstos no orçamento, mas ainda não foram realizados. Ainda ao dizer que “os reformados enfrentam aumentos no custo da saúde” poderia acrescentar que, se por um lado houve aumento das taxas moderadoras, a grande maioria dos reformados estão isentos, e que o preço dos medicamentos até baixou. Mas no fundamental a notícia está correcta.

O título do artigo é “Os portugueses juntam-se ao coro europeu de indignação”. Enfim, não serão todos os portugueses, mas já vamos estando habituados a estas generalizações abusivas nos meios de comunicação. Mais grave é o título escolhido pela TVI para divulgar o artigo: “Um país triste, pobre e revoltado”. Há muitos portugueses tristes, outros pobres e alguns revoltados, até pode haver alguns que têm as três situações, mas não é o estado geral do País. É , no entanto o que as fotografias escolhidas para ilustrar a notícia levam a crer. Maurício Lima pode ser um fotógrafo com um grande currículo e muito apreciado, mas as fotografias que acompanham o artigo não me parecem muito felizes para dar uma ideia da situação actual no nosso País. A demolição de casas ilegais ocupadas por imigrantes de Cabo Verde ocorreu, mas não é uma característica actual do País. Não sei quais são os “hospitais que estão a fechar”. A mudança dos móveis e pertences de um “idoso que morreu” não ilustra nada, a não ser que morrem idosos; os móveis até me parecem terem boa qualidade. Existem sem-abrigo, mas o que se mostra na fotografia deve ser um caso extremamente raro. Grafiti existem em quantidade em Lisboa, mas ainda não vi nenhum que se refira à elevada taxa de desemprego. Os ângulos escolhidos e o preto e branco parecem ter como propósito dar um aspecto triste. Maurício Lima deve tê-los escolhido propositadamente, mas não dá um retrato fiel de Portugal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Condições de crescimento aumentaram drasticamente

Lido no Chicago Tribune:

«On a recent visit to Portugal, German Chancellor Angela Merkel endured some nasty public protests, including displays of swastikas and catcalls such as, "Merkel Nazi, Go Away." As head of Europe's largest and most successful economy, Merkel is pushing fiscal discipline across the continent. She recognizes it is a tough path to follow. But she is exactly right when she notes that Portugal's "conditions for growth" have improved dramatically, as a result of "the courageous action of its government."»

E esta, hem?

E ainda, conforme salientado no Quarta República:

«Hollande has to muster the same political courage as leaders of Portugal and his counterpart, President Cavaco Silva, to make France competitive again.»

Que dirá Seguro?

Maré baixa nas manifestações

A manifestação de ontem frente ao parlamento para protestar contra a aprovação do OE2013 suscita-me as seguintes observações:

1) É de louvar o comportamento pacífico dos manifestantes da CGTP, aliás em resposta ao apelo nesse sentido de Arménio Carlos. Mas este comportamento não significa necessariamente que a CGTP e os seus membros sejam incondicionalmente contra a violência. Em primeiro lugar, trata-se confessadamente de um comportamento estratégico. Arménio Carlos disse, com razão, que a violência dá argumentos ao Governo. Portanto a ausência de violência tem, pelo menos primariamente, por fim evitar dar argumentos ao Governo. Em segundo lugar, o secretário-geral da CGTP repetiu que era contra "a violência gratuita". Esta repetição deixa adivinhar que a organização poderá aprovar ou mesmo promover comportamentos violentos desde que não sejam "gratuitos", o que, segundo a minha interpretação, poderá ser o caso de violência que seja um meio necessário para conseguir os fins pelos quais a CGTP luta. É bem sabido que para o partido do qual o movimento sindical é, ou deveria ser, a correia de transmissão, os fins justificam os meios.

2) Uma dezena de jovens fizeram tristes figuras ao aparecer mascarados de palhaços e a fazer palhaçadas. Será uma forma de luta de indignados, de anarquistas ou simplesmente de palhaços?

3) O movimento sindical e a oposição em peso deve meditar nas razões que levam a que as afluências às manifestações tenham uma tendência para diminuir cada vez mais. Pelo menos a avaliar pelas imagens das TVs, a manifestação de ontem teve fraca adesão.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aprovação do OE

Sou dos muitos que se congratularam com a aprovação do OE 2013, apesar de prejudicado pessoalmente nos meus rendimentos e também familiarmente nos respectivos. Mas não gosto de viver à custa de dinheiro emprestado, portanto suporto o sacrifício (ou pelo menos julgo que serei capaz de suportar).

Segui com interessa alguns momentos do debate de hoje antes da aprovação. Retive principalmente duas frases de representantes da oposição que demonstram uma certa confusão mental. Penso que não queriam bem dizer o que disseram ou não deram pelas contradições do discurso. Lá vai:

António Filipe (PCP) afirmou: "Não há alternativa com esta política." Então, se não há alternativa, porque votou contra? Os deputados do PCP estão fartos de dizer que há alternativa, e vêm agora dizer que não a há? Pensou no que disse?

António José Seguro, sobre as previsões da OCDE de maior recessão e mais desemprego hoje anunciadas disse que este anúncio "significa que terá de haver mais austeridade, mas a austeridade não resolve os problemas do país." Parece uma confissão de que quando há recessão e quando o desemprego aumenta terá de haver mais austeridade, ou seja, a austeridade é a resposta necessária ("terá de haver") a essas situações. Mas se não resolve os problemas, porque é que terá de haver mais? Onde está a lógica?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Carros velhos

A anunciada medida de proibição da circulação de carros antigos nas zonas centrais de Lisboa é um verdadeiro atentado à liberdade de circulação dos cidadãos e pode contribuir para um retrocesso no equilíbrio da balança de pagamentos com o exterior. O meu velho carro, de 1998, anda perfeitamente e ainda há dias passou na inspecção obrigatória. Quando vou à baixa utilizo normalmente os transportes públicos e só uso o automóvel se preciso levar companhia. Pois a partir de Abril ou Maio do próximo ano já não me posso dar a esse luxo: na baixa e na Avenida da Liberdade não há liberdade para circular com veículos automóveis anteriores ao ano 2000! Sou o mais possível a favor dos transportes públicos e gosto mesmo de andar de metro, mas nem todas as pessoas têm a facilidade que eu ainda vou tendo de subir e descer escadas e nem todos os locais estão bem servidos de transportes. Mas há mais: A minha filha tem um carro ainda mais antigo, uma coisa que a Câmara considera, ao que parece, quase pré-histórica, com matrícula de 1994. Apesar de ser dotado de catalisador e de estar em muito bom estado, a partir de 2013 não poderá entrar na zona limitada pela Av. de Ceuta, Eixo Norte-Sul, Av. Forças Armadas, Av. E.U.A., Av. Marechal António Spínola, Av. Santo Condestável e Av. Infante D. Henrique, isto é, a maior parte da cidade. Estes casos familiares servem apenas para exemplo, mas penso que são, em certa medida, representativos de muitas situações. Andei pelo meu bairro a olhar para as matrículas dos automóveis estacionados. Há alguns, não muitos, anteriores a 1996, que estão, portanto, na situação do carro da minha filha, mas os anteriores a 2000 são muito numerosos. Pensou o Presidente da Câmara nos inconvenientes que causa aos numerosos munícipes proprietários destas carros? Os casos dos táxis e dos veículos que fazem entregas ou outras deslocações em serviço por toda a cidade são talvez os mais graves, mas muitos particulares serão muito prejudicados. Alguns serão mesmo forçados a adquirir automóveis novos para poder fazer as deslocações a que estão obrigados para irem trabalhar, levar filhos às escolas ou outras razões, tendo de investir quantias importantes num momento de crédito escasso e de dificuldades financeiras. Ainda por cima, o valor dos seus carros velhos passará a ser praticamente nulo. A importação em quantidade extraordinária de novos automóveis terá influência negativa nas contas nacionais. Ainda não apareceu uma petição a solicitar a suspensão desta medida, mas será por demais justificada.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

4% ou 3,5%, eis a questão

A descida da sobretaxa sobre o IRS solicitada pelos deputados do PSD e do CDS e aceite pelo Ministro das Finanças dos 4% previstos na proposta de Orçamento de Estado para 2013 para uns meros 3,5% tem sido desvalorizada pela oposição e por vários comentadores. É certo que é uma descida de apenas 0,5%, o que, segundo cálculos divulgados pela comunicação social, representará, para um salário médio, só cerca de 10 € por mês, o que é insignificante, na verdade. No entanto, quando a proposta da sobretaxa de 4% foi apresentada, foi considerada um valor enorme, quase incomportável. Se bem que 4% seja 8 vezes a baixa agora concedida, se esta vale apenas 10 € por mês, o valor da proposta inicial seria apenas 80 € mensais, o que, sendo dinheiro, não dá para arruinar ninguém com o tal salário médio. Mas nessa altura ninguém fez as contas e a coisa foi apresentada e criticada dentro do pacote do "enorme" aumento de impostos, como se fosse mais uma enormidade.

Ainda a propósito da sobretaxa: Se não estou em erro, já pagamos desde 2011 uma sobretaxa de 3,5% sobre o IRS, imposta pelo OE para 2011, aprovado em 2010, mas nessa altura não deu a polémica que agora está a dar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Afirma Gaspar

A conferência de imprensa de Vítor Gaspar foi a mais calma e com menos surpresas desde a sua tomada de posse. De tudo o que foi dito, para além de ter reafirmado o cumprimento das metas e de ter avançado previsões macroeconómicas até 2016, o que retive foi a afirmação de que a reforma do estado social terá como objectivo chegar a "o estado social que os portugueses querem ter e que os portugueses podem pagar". O problema é que, como o próprio Vítor Gaspar reconheceu há dias, estes dois estados sociais não coincidem. O que penso que vai suceder é que os portugueses terão de se contentar com o estado social que podem pagar. E contra isto não há pressões, manifestações ou declarações da oposição que possam ter qualquer efeito. Como dizia o meu avô: O que tem de ser tem muita força.

Moody's corta notação da França

Então a Moody's corta a notação financeira dos títulos do Governo francês e por cá ninguém acha que é uma notícia suficientemente importante para interromper a emissão ou pelo menos introduzir a notícia em roda-pé, nem sequer os canais de informação? Mesmo nos sítios em linha na net, só encontrei a notícia na TSF, Expresso e Jornal de Notícias. Nas televisões nem sequer a Euronews e dos portugueses nem o canal Económico conseguem informar em devido tempo uma notícia desta importância!

PS: Soube da notícia pelo canal Bloomberg.

sábado, 17 de novembro de 2012

Critérios informativos

Os caminhos dos critérios informativos são insondáveis. Ou talvez até nem tanto. Veja-se este exemplo (visto no Quarta República):

«1. O Boletim Económico do Outono, esta semana divulgado pelo BdeP, apresenta, no que se refere às previsões económicas para 2013, três pontos que merecem especial atenção: (i) um cenário mais negativo para o desempenho global da economia, com uma nova contracção do PIB, de 1,6%, quando na anterior edição do Boletim (Verão) a apontava uma estagnação; (ii) apesar da maior negatividade do cenário económico, a previsão de variações positivas do PIB, em cadeia, a partir do 3º trimestre; (iii) e um cenário muito mais positivo no que se refere ao comportamento das contas com o exterior, com a previsão de um superavit das balanças de bens e serviços de 4,5% do PIB (era apenas de 0,8% do PIB no Boletim do Verão) e tb um superavit da balança corrente+ balança de capital, de 4% do PIB

 Porque só mereceu relevo informativo nas TVs o ponto (i), altamente negativo, e, que eu desse por isso, nada se disse sobre os pontos (ii) e (iii), muito positivos? Como nota Tavares Moreira, só "mereceu a atenção da comunicação social" "a previsão mais negativa" "por ser desfavorável".  Obviamente, critérios informativos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Violência

Foi possível ver várias vezes, nas numerosas manifestações que têm ocorrido em Portugal nestes últimos tempos, cartazes a afirmar que "Isto não vai lá sem violência" ou "Isto não vai lá sem sangue" ou coisas do género. Também em declarações de manifestantes se ouviram apelos semelhantes; lembro-me especialmente de um protestante que disse ser estivador e que estava mesmo integrado no grupo de estivadores que participou na manifestação de 15 de Setembro no Terreiro do Paço ter declarado à jornalista, que interrogava o grupo, que seria necessário violência para mudar o sistema que impunha a austeridade. Pois bem: Os que tanto desejavam violência e sangue tiveram ontem o que queriam, e bem repartida para ambos os lados: manifestantes e polícia. Claro que, pelo menos oficialmente, a manifestação promovida pela CGTP foi pacífica e ordeira e não esteve implicada nos desacatos que ocorreram frente à AR depois da desmobilização dos sindicalistas. O facto de já em outras iniciativas da CGTP se terem ouvido apelos à violência não implica que a CGTP como organização ou algum dos seus quadros esteja de acordo com estes apelos, assim como a detenção de um sindicalista da CGTP depois dos desacatos de ontem também não. De resto ainda não foi revelada a identidade nem a relação com a central sindical deste detido.No entanto é de notar que em nota emitida hoje, a CGTP condena a "violência gratuita" que se verificou; será que se a violência não for gratuita já será aceitável para a organização?

Mas de tudo isto, fica uma dúvida maior: Os incidentes da tarde de ontem frente à AR, e que são devidos alegadamente a alguns jovens excitados ou a "desordeiros profissionais", serão uma ensaio ou preparação para qualquer coisa maior? Veremos repetirem-se em maior escala incidentes do mesmo tipo nas manifestações futuras, sejam promovidas pela CGTP, pelo movimento "Que se lixe a troika" ou por qualquer outra organização? Espero que no dia 27 se desmintam estas desconfianças.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A greve dita geral

O que eu penso da greve geral, que não foi geral (nem foi uma das maiores de sempre, a não ser que se considerem maiores de sempre todas as que não foram mais pequenas) está aqui. Com preguiça de escrever, e como é mesmo o que eu penso, limito-me a remeter para o Forte Apache.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Informação enviesada ou parcial

A visita de Angela Merkel decorreu sem incidentes e sem surpresas, ou melhor, a única surpresa foi a fraca comparência de manifestantes em todos os locais em que se esperavam multidões a protestar. Na Praça do Império os jornalistas deambulavam entre pequenos grupos ou manifestantes isolados, mas os espaços vazios eram superiores à área ocupada. Uma jornalista, logo de manhã, informava, com alguma surpresa, que estariam umas 30 pessoas. Pareceu-me uma estimativa por baixo e é certo que posteriormente se juntou mais gente, mas penso não terem passado de algumas dezenas. O Largo do Calvário parecia mais cheio, mais pela diminuta área do largo do que pelo número de manifestantes. Junto ao aeroporto só a TV só conseguiu mostrar os 2 "homens da luta"; manifestantes, nada. Uma senhora, em frente do Palácio de Belém, explicou que a fraca afluência se devia a ser um dia de trabalho (mas estão os desempregados e os pensionistas não chegavam, infelizmente, para encher bem aquele espaço?) e pela presença de barreiras da polícia que obrigava os manifestantes a caminhar longas distâncias, o que tinha feito desistir muita gente. Fraca militância!

Mas a fraca afluência e a importância do evento não foram factos suficientes para que alguma comunicação internacional prestassem mais atenção à visita do que aos protestos. Assim, a Euronews afirma "Merkel foi recebida pelos portugueses com protestos e pelo Governo com elogios". Os portugueses? Poucas dezenas representam os portugueses? Quem viu as imagens de algumas manifestações recentes na mesma Praça do Império ou na Praça de Espanha teve mais a noção de como era minoritária a manifestação de hoje. A notícia era a falta de protestantes e não o facto de ter havido alguém a protestar. Por sua vez a Al-Jazeera noticiou em roda-pé."Protesters in Portugal rally against german chancellor Angela Merkel in opposition to spending cuts and taxes rises". É certo que no desenvolvimento da notícia a Aljazeera deu mais pormenores da visita com o devido relevo, mas mesmo assim pôs a tónica nas manifestações, embora reconhecendo que foram apenas duas dezenas de protestantes. Estes importantes órgãos de informação deram, pois, notícias enviesadas ou parciais.

domingo, 11 de novembro de 2012

Oportuno

Vale a pena ver a entrevista que a jornalista Isabel Silva Costa fez à chanceler (ou será chancelarina, como diz Seguro) Angela Merkel. Perguntas bem feitas e respostas bem informativas e esclarecedoras sobre a posição da mulher que dirige a Alemanha e que maior influência tem na política europeia. Isabel Silva Costa colocou a chanceler perante as dúvidas e acusações que muitos lhe fazem em Portugal. Merkel não fugiu às questões e foi muito clara quanto às responsabilidades que reconhece, explicando que, se considera necessária a austeridade, não tem culpa das causas desta necessidade. Muito oportuno. Claro que não convence, nem um bocadinho, os críticos e os que acusam Merkel de ser a causa de todos os nossos males. Mas talvez faça pensar alguns que não estejam de má fé.

Fraquinho

Se era com este vídeo que Marcelo pensava impressionar os alemães, falhou redondamente. Claro que não é culpa de Marcelo que o vídeo tenha resultado tão fraquinho, mas como a ideia foi dele, cabe-lhe uma parte da responsabilidade. Rodrigo Moita de Deus não soube dar ritmo e estrutura ao vídeo. Talvez não fosse possível sem mais meios e um orçamento muito maior, mas então teria sido melhor desistir da ideia. Se queria transmitir alguma informação útil ao povo alemão, ficou pela rama. E quando fala que "também cometemos alguns erros", parece querer insinuar que a culpa desses erros foi dos alemães. É aparentemente uma provocação. Se não era essa a intenção, parece.

Ainda há Movimento Nacional Feminino?

Continua a campanha contra Isabel Jonet. Desta vez foi o coordenador cessante Louçã a referir-se à Presidente do Banco Alimentar contra a Pobreza como "a senhora do Movimento Nacional Feminino a brincar à caridadezinha". Porquê tanta raiva? Porque é que até agora, que eu saiba, nem Louçã, nem o BE, nem em geral a esquerda acusara IJ ou o BACF de serem "caridadezinha", coisa nojenta e detestável, pelos vistos, ou de serem instrumentos da direita, cripto-capitalistas ou outras barbaridades? Já se sabe que para a esquerda a caridade é uma coisa terrível e a caridadezinha ainda pior. Já nos meus tempos de estudante se sabia que a esquerda recomendava que não se desse esmola aos pobres porque isso atrasava a revolução. Será ainda pela mesma razão que a caridade é tão mal vista? Ou por ser uma palavra muito usada pela igreja? Mas a esquerda da redistribuição da riqueza por meio de impostos progressivos não suporta que se ajudem os pobres?

sábado, 10 de novembro de 2012

Temos direito a comer bifes todos os dias

Fiquei espantado com as reacções da esquerda às declarações de Isabel Jonet na entrevista que deu à SIC. Seguramente é por ingenuidade minha. Vi a entrevista e pensei que o que IJ tinha dito fazia sentido. Posso mesmo acrescentar que subiu na minha consideração. Murmurei até: "Haja quem diga umas verdades!" Afinal há quem a considere "uma gaja nojenta", a acuse de "achar necessário empobrecer os portugueses" e de ter "intenções... terroristas e disfarçadas de solidariedade" (num comentário a esta mensagem do blog Corta-Fitas). Este é só um exemplo extremo das reacções e acusações de que IJ tem sido alvo. Até se chegou ao disparate de propor um boicote ao Banco Alimentar! Afinal porquê? Por ter dito que os portugueses vão empobrecer? Por ser de opinião que em Portugal não existe miséria (como a que viu na Grécia)? Repare-se que não disse que não existe pobreza. Miséria e pobreza não são sinónimos. Por ter dito que não se pode comer bifes todos os dias? Já uma vez expressei a minha opinião que não há um real empobrecimento dos portugueses; já éramos pobres, só que, como vivíamos à custa de dinheiro emprestado, não dávamos por isso. E será um direito adquirido comer bifes todos os dias que não pode ser discutido?

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Grécia: alívio

O parlamento grego acaba de aprovar as medidas de austeridade que permitem que a tranche do empréstimo bloqueada desde Junho seja libertada. A aprovação esteve em perigo por causa da recusa do partido DIMAR, que, apesar de fazer parte da coligação de governo, se opunha às medidas. A votação esteve também por ser adiada, uma vez que os funcionários do parlamento decidiram aderir à greve geral que dura desde ontem, o que se pensou que inviabilizaria o acto. Afinal votou-se e conseguiu-se reunir os 151 votos necessários. É um alívio para a Grécia, um alívio para o euro e um alívio para nós, portugueses.

Reduzir o défice pelo crescimento

Seguro disse ontem na entrevista que deu à SIC que não está de acordo com o corte de 4000 milhões de euros na despesa. À pergunta da jornalista, Clara de Sousa, como será então possível cumprir a meta do défice em 2013, respondeu que o que preconiza e tem repetido sempre é crescimento em vez de austeridade, visto que, sendo o défice uma dada percentagem do PIB, se pode reduzir o défice expresso em percentagem pelo crescimento em vez de ser pela redução da despesa. Matematicamente o raciocínio é rigoroso, mas experimentei fazer umas contas, a partir do PIB previsto para 2012 e da previsão de crescimento do PIB para 2013 (negativo), para saber quanto teria de ser o crescimento se se pretendesse obter um défice de 4,5% em 2013 sem o efeito correctivo dos 4 mM. Cheguei a um crescimento absolutamente absurdo de 54%. As contas são as seguintes:

O PIB 2012 previsto para 2012 é de 166.341,1 milhões de €.
Se o PIB cair 1% em 2013, como previsto, será nesse ano de 164.677,7 M€.
A meta do défice é de 4,5% deste último valor, ou seja  7.410,5 milhões de €.
Se são necessários 4000 milhões de cortes na despesa para atingir essa meta, é que o défice previsto sem essa correcção seria de 11.410,5 milhões, o que corresponde a 6,93% do PIB de 2013.

Para que este défice de 11.410,5 milhões corresponda, sem a correcção, a apenas 4,5% do PIB,
este teria de crescer em 2013 até 253.566,6 milhões de €, ou seja, o crescimento do PIB teria de ser de 88.888,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 54%.

A redução do défice pelo crescimento é desejável, mas só é possível a médio/longo prazo. Entretanto, das duas uma: Ou se vão fazendo défices sucessivos e para isso é necessário obter financiamento, o que se afigura dificílimo, e faria crescer ainda mais a dívida pública, ou se diminuem os défices rapidamente, seja pelo lado da receita, como o OE para 2013 pretende fazer maioritariamente, seja do lado da despesa, como se prepara para 2014 e seguintes com o corte dos tais 4000 milhões que Seguro desaprova. Recusar o corte e pedir que todo o ajustamento seja feito por meio do crescimento é absolutamente impossível, pois só crescimentos estratosféricos o permitiriam (é fazer as contas!), quando o que perfila para 2013 é até ainda um clima de recessão e para 2014 um crescimento anémico. Aliás, para quem protestou veementemente contra o brutal aumento de impostos, a recusa de cortes na despesa é irracional.








terça-feira, 6 de novembro de 2012

João Salgueiro

Na entrevista dada por João Salgueiro no programa Portugal 2012 na SIC-N ouvimos algumas das mais clarividentes observações sobre a economia portuguesa. O comentário que mais me chamou a atenção, feito em resposta a uma pergunta de António José Teixeira sobre se achava que o Governo tinha condições para continuar, foi o seguinte: "O actual Governo tem uma excelente condição para continuar: é que ninguém quer ir para lá." Pois é: Por muitos erros e omissões que os membros do actual Governo façam, temos de lhes reconhecer que só por patriotismo se aguentam no seu posto. Bem pode Mário Soares pedir que o Governo se demita. Quem quereria ir para lá nas actuais condições?

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Grande descoberta!

Com grande alegria, li no Insurgente que tinha sido descoberta a saída do País para a crise:

«Está encontrada a solução para os problemas do país: PS e CGTP defendem novo modelo económico que promova crescimento e coesão
“Existe grande convergência entre nós, a CGTP e a UGT relativamente à necessidade de uma estratégia de crescimento e ao facto de que qualquer sociedade precisa de coesão social”, disse o líder socialista.
Como é que ninguém pensou nisto antes?»

Espero bem que, patrioticamente, Seguro tenha dado todos os pormenores desta extraordinária estratégia na reunião que teve hoje com o Primeiro Ministro e não guarde segredo para a aplicar só quando for governo.

Não ao Estado low-cost

António José Seguro afirmou que o Governo não pode contar com o PS para criar o Estado low-cost. Por consequência, defende um Estado high-cost, o que não é novidade, aliás no seguimento do very high-cost de Sócrates. Só não sei onde vai Seguro arranjar dinheiro para este elevado cost.

domingo, 4 de novembro de 2012

Novilíngua

Um dos maiores perigos da adopção do acordo ortográfico (que continuo a escrever com minúsculas, visto não lhe atribuir importância de maiúsculas, isto para não lhe chamar Aborto Ortográfico ou Desacordo Ortográfico) é uma possível e até talvez provável deriva de pronúncia como consequência da anulação das consoantes não pronunciadas que marcam vogais abertas que não pertencem à sílaba tónica (como em actor - ator, por exemplo). Temo bem que, com o tempo, haja tendência para vir a pronunciar estas vogais como mudas, alterando não só a ortografia, mas a própria pronúncia, o que em muitos casos pode dar lugar a confusões. Acontece que existem muitas palavras com terminação semelhante, mas que não possuem a consoante não pronunciada e em que a respectiva vogal é muda, diferentemente das palavras em que o acordo manda agora suprimir a consoante.

Para melhor compreensão do problema, apresento em seguida um pequeno quadro com alguns exemplos:

ortografia actual    segundo o a.o.    palavras com terminação semelhante, mas em que a vogal anterior à                                                        sílaba tónica é muda
actor                     ator                    estivador, motivador
sector                   setor                   cobertor, regedor, devedor,  corretor
corrector              corretor               idem
director                diretor                 idem
preceptor             precetor              idem
directora              diretora               agressora, devedora,
preceptora           precetora            idem
acção                    ação                   formatação, motivação, colação, atribulação, filiação
facção *               fação                 idem
infecção               infeção              tropeção, recessão, concessão
direcção              direção               idem
acepção *           aceção                idem
decepção *         deceção              idem
concepção *       conceção           idem
percepção *        perceção            idem
recepção *          receção              idem
excepção            exceção              idem
aspecto *            aspeto               coreto, carreto espeto, Gepeto, graveto
correcto              correto               idem
dilecto                 dileto                  idem
directo                direto                  idem
espectáculo        espetáculo        hibernáculo, senáculo, tabernáculo
receptáculo         recetáculo         idem
baptizado            batizado            organizado, granizado
baptismo             batismo             fanatismo, tribalismo
factura                fatura                 soldadura, formatura
respectivo *       respetivo           assertivo
objectivo           objetivo              idem
detectar *          detetar                secar
intersectar *       intersetar           estatelar
bissectriz            bissetriz            meretriz
actriz                   atriz                    nariz

* No Brasil conservam a consoante antes do c ou t, porque se pronunciam, mas não em Portugal!

Já basta certas pronúncias incorrectas que começam a ser frequentes não só entre jornalistas e outras pessoas, como vàcina por vacina (“a” mudo), béco por beco (pronúncia bêco). Mesmo antes do acordo era também frequente pronunciar “corrector” para designar quem trabalha na corretagem (de acções ou outros títulos de valores), quando quem faz corretagem é um corretor, quem corrige é um corrector. Se neste caso se tira o “c” as palavras passam a ser homógrafas e haverá inevitavelmente tendência para se tornarem homófonas, estabelecendo a confusão.

Se esta deriva de pronúncia se verificar, teremos uma autêntica “novilíngua”.

Ainda há classe média?

Uma das acusações mais frequentes que é feita à actual política do Governo é de que está a destruir a classe média. Está realmente a classe média a desaparecer? Todos os componentes da classe média estão a ser integrados nos pobres? Não acredito. Está a ser, sem dúvida, a classe mais sacrificada, já que os realmente pobres são em parte poupados ao aumento de impostos, aos cortes nos salários, ao congelamento das pensões e, excepto nos casos de desemprego, são menos sacrificados, e os ricos, embora com grandes perdas nos seus activos e por vezes nos seus rendimentos, pela progressividade dos impostos, pelos maiores cortes em salários altos, pela depreciação do património (incluindo participações sociais), pelas falências, têm em geral melhores condições de aguentar estas perdas ficando ainda em condições confortáveis. A classe média, entalada entre estes dois extremos tem, também pela sua dimensão, a maior quota de sacrifícios e não possui as almofadas que lhe permitam manter um mínimo de conforto.

No entanto há diariamente alguns factos que me fazem duvidar que o grosso da classe média esteja assim tão sacrificada. Ainda ontem 4 notícias me fizeram pensar no assunto: O concerto de Tony Carreira teve lotação esgotada. Um empresário que faz tatuagens não tem mãos a medir. Um grupo de caçadores preparava-se para uma batida a javalis. Em Bragança prepara-se uma feira de caça, pesca e castanha. Será que quem frequenta estes eventos em grande número são apenas pobres ou ricos, já que a classe média está a ser destruída?

sábado, 3 de novembro de 2012

Alberto João, e agora?

A vitória à tangente de Alberto João Jardim nas eleições para a presidência do PSD-Madeira deixa o partido regional com um grande problema: Nas próximas eleições para o Governo da madeira, Jardim já não se poderá apresentar, Albuquerque, derrotado, embora por curta margem, não está também em condições de concorrer. Quem será o candidato do PSD-M e provável próximo Presidente do Governo Regional?

Ao que chegou este país...

Ao que chegou este país! O Parlamento cercado por centenas de manifestantes gritando "Demissão!", alguns exaltados a ponto de, entre insultos, provocarem a polícia, de atirar pedras, garrafas e petardos. Durão Barroso vaiado e insultado por uma dezena de indivíduos à saída de um teatro em Almada. Manifestações de indignados, de trabalhadores, de pensionistas, de militares. Na manifestação diante da AR no dia da votação na generalidade do OE para 2013, as TVs até entrevistaram mascarados. Alguns dos entrevistados, sem máscara, afirmavam com ar calmo que "isto não vai lá sem violência". Já na manifestação da CGTP de 29 de Setembro no Terreiro do Paço, um estivador defendia que "era preciso sangue". No dia 31, frente à AR, todos pediam demissão, mas não sei bem de quem; como estavam à porta do Parlamento, seria de admitir que queriam a demissão dos deputados, mas perece-me que o verdadeiro alvo era o Governo. Em vários cartazes lia-se "O orçamento não passará". Suponho que a maioria dos portadores destes cartazes e dos que gritavam slogans do mesmo tom não terão a mínima ideia das consequências de uma reprovação do orçamento.

Um manifestante afirmava que "O Povo perdeu o medo". Não sei porque razão o Povo havia de ter medo: Vivemos em democracia e ninguém é prejudicado por expressar a sua opinião ou por se manifestar (desde que não atire pedras à polícia, obviamente). Parece-me que, perante os insultos, as ameaças e os apelos à violência o que alguns perderam foi a vergonha e a dignidade, mas esses não são "o Povo", podem pertencer ao Povo, mas são uma pequena parcela desse Povo.