segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Uma análise desassombrada

A análise da situação política actual perante a aproximação das eleições apresentada por Pedro Magalhães no seu blog Pedro Magalhães - Political Scientist é de uma clareza e de uma profundidade que nos permite ver claro sobre o que se está a passar, os resultados das sondagens, a evolução dos indicadores económicos e as suas consequências e, como o próprio diz, "uma história possível sobre esta legislatura". Sob a forma de perguntas e respostas, apoiada por gráficos (de que indica as fontes), é de leitura obrigatória para quem se interessa de saber mais do que os mexericos e análises superficiais de estratégias políticas dos actores da cena nacional.

sábado, 26 de setembro de 2015

A estocada final

Teixeira dos Santos considera que as políticas previstas no programa do PS “são arriscadas". É a estocada final numa candidatura que há pouco tempo parecia vencedora. Mas as causas da queda contínua não são apenas do programa do PS (nem das contas de Centeno); a exibição de António Costa, com hesitações, acusações não fundamentadas, discursos vazios e exibição de saltinhos também ajudaram.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Quotas, divergências e números

A informação sobre as decisões tomadas hoje pelos ministros do interior reunidos em Bruxelas são contraditórias. Ouvi diferentes jornalistas afirmar que tinham sido definidas quotas obrigatórias enquanto outros disseram que eram facultativas, ouvi que os países que votaram contra a decisão final foram a República Checa, a Eslováquia, a Hungria e a Roménia, mas pelo menos um jornalista acrescentou-lhes a Polónia, que parece, segundo outros, ter afinal votado a favor. Não se sabe se os países que votaram contra se recusam em absoluto a aceitar refugiados ou se apenas querem serem eles a fixar o número de migrantes que podem aceitar. Sobretudo não veio a público qualquer informação de como será seleccionado o contingente de cada país e como se obrigarão os refugiados a fixarem-se nos diferentes países, principalmente se se terá em conta as preferências dos próprios ou não. Também não se sabe se depois de colocados em cada país os refugiados terão liberdade de se deslocarem no espaço europeu ou no espaço Schengen. A terem essa liberdade, a fixação de quotas perde qualquer significado. Esperemos que a reunião de chefes de estado e de governo de amanhã esclareça estas dúvidas.

O que é preocupante é, numa questão tão importante que tem a ver com a soberania dos estados, não ter havido consenso.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Lições das eleições na Grécia

Confesso que fiquei um pouco admirado pelos resultados das eleições na Grécia. Em primeiro lugar, não esperava que a cisão do Syriza provocasse tão poucos danos na aceitação do partido pelos eleitores. Mais a mais, tendo Tsipras aceitado, é certo que sob pressão, um acordo com o qual diz que não concorda, seria de esperar que os "puristas" do Syriza que abandonaram o partido, tivessem levado com eles, para o novo partido que fundaram, muitos dos que votaram pelo "não" no referendo sobre a aceitação das anteriores medidas de contenção orçamental, que correspondem à depreciativamente chamada austeridade. Afinal, o eleitorado preferiu a estabilidade, talvez precária, mas de acordo com o que conhecem, a uma aventura ainda mais esquerdista ou ao regresso aos velhos partidos desacreditados. As sondagens divulgadas eram quase unânimes em prever votações muito próximas no Syriza e na Nova Democracia, mas o resultado das eleições foi muito diferente. Suponho que o à vontade e o sorriso jovial de Tsipras tenha tido influência no desfecho.

Como já vem sendo hábito, as sondagens erraram sistematicamente. No caso do Reino Unido, o erro foi a favor da esquerda, no caso grego, foi a favor da direita. Vamos a ver se também se verificará a existência de erros nas sondagens portuguesas e para que lado será o desvio.

domingo, 20 de setembro de 2015

Respeito e consideração?

Fiquei chocado ao ouvir o Papa, ao cumprimentar o Chefe de Estado de Cuba, Raul Castro, declarar que tinha "consideração e respeito pelo seu irmão Raul". Não sou católico, mas reconheço que o chefe da Igreja Católica tem uma autoridade moral nas suas declarações e opiniões. Tem, ou melhor, deveria ter. Ter consideração e respeito por um ditador que privou durante décadas o seu povo das liberdades mais fundamentais, numa palavra, da Liberdade, não parece muito normal em quem preza a Liberdade e não contemporiza com ditadores. Claro que como Chefe de Estado, que o Papa também é, de visita a um país estrangeiro, é natural que se digam as coisas com diplomacia e delicadeza, mas há formas diplomáticas e delicadas de dizer o que se pensa ou até de o calar. Se eu tinha ainda alguma consideração e respeito pelo Papa, estou a um pequeno passo de os perder.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Novo Banco: instante zero

Leio num roda-pé da RTP-N sobre a suspensão da venda do Novo Banco: "Novo processo poderá ser lançado entre o final do ano e o início de 2016". Ora como o final do ano será às 24 horas de 31 de Dezembro e o início de 2016 às 0 horas de 1 de Janeiro e como estas horas significam rigorosamente o mesmo instante, o lançamento do novo processo de venda terá de ter lugar nesse preciso momento e terá de ser instantâneo. Será precisa muita pontaria.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Taxas moderadoras

Jerónimo de Sousa proclama a discordância do seu partido e da coligação que dirige quanto à recente alteração da lei que regula o aborto e introduziu as taxas moderadoras para o acto. Foi entusiasticamente aplaudido por um público constituído maioritariamente por velhotas. Não percebi se as palmas provinham de algum interesse próprio, mas dada a idade das espectadoras não me parece que tivessem algo a ganhar por uma eventual abolição das taxas.

sábado, 12 de setembro de 2015

Mais filhos? Mais reforma

Tenho uma grande satisfação quando encontro, e não é raro, uma opinião ou uma ideia que já tive, descrita por alguém na imprensa ou na TV. Agora li no Observador uma proposta de José Maria Tovar que corresponde ao que eu já pensei há muito, mas não me atrevi a divulgar. Julguei que a ideia não teria aceitação, para além da minha voz ser ouvida por um número muito restrito de pessoas. No seu artigo, Tovar desenvolve a ideia de que quem tem mais filhos contribuiu muito mais para o sistema de pensões e merece, por consequência, ser beneficiado quando se reforma. E fá-lo de maneira que eu não seria capaz, quanto a mim de modo magistral. Quem tem filhos merece uma reforma mais elevada. No actual sistema, até são os filhos que trabalham quem paga as pensões dos reformados. É justo que quem tem mais filhos a descontar tenha alguma vantagem e uma compensação para as despesas e o trabalho que a criação dos filhos implicaram.

Declaração de interesses: Tenho 3 filhos, todos a trabalhar arduamente e a descontar pesadamente para a Segurança Social. Se o sistema proposto por Tovar fosse adoptado, ficaria a ganhar, mas admito que este sistema possa ser aplicado apenas às pensões futuras, para que não me chamem interesseiro.

Os 50 anos do 25 de Abril

Sampaio da Nóvoa perguntou: "Que país queremos ser daqui a poucos anos nos 50 anos do 25 de Abril?" E, como 9 anos são realmente "poucos" e passam num instante, acrescentou: "É esse o debate que temos de travar." Se Nóvoa conseguir ser eleito e ainda se puder alcançar o favor dos eleitores para um segundo mandato, ainda vai a tempo de travar esse debate.

Quotas ou cotas

Discute-se muito nos últimos dias a questão do estabelecimento de quotas (em geral referidas com o "cotas", mas eu prefiro a palavra quotas, para não confundir com as cotas de malha dos antigos guerreiros) por país para distribuição dos refugiados que estão a afluir em grande número e a ritmo crescente à Europa. Alguns são a favor e consideram necessário que as quotas sejam obrigatórias, outros são contra. Segundo as notícias mais recentes, vários países, entre eles os do grupo de Visegrado (Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria), e ainda a Roménia, a Dinamarca e a Finlândia, recusam a imposição de quotas obrigatórias, embora pelo menos alguns destes se disponham a receber refugiados, mas a título voluntário e em número definido pelos próprios. No próximo dia 14, esta questão será discutida numa reunião dos ministros do interior da UE e só depois se saberá se a questão das quotas avançará e se estas serão obrigatórias ou indicativas.

De qualquer modo, nada foi dito ainda sobre o modo concreto de distribuir os refugiados pelos diversos países. Que critérios serão adoptados? Como serão seleccionados os refugiados destinados a cada país? A preferência dos refugiados terá algum peso? E se as escolhas dos migrantes não coincidirem com as quotas determinadas? Sabe-se que a grande maioria dos migrantes declararam, por vezes aos gritos e em coro, que queriam ir para a Alemanha. Outros atravessaram a Dinamarca com a finalidade de se fixarem na Suécia, que, ao que declararam, e parecem bem informados, oferece melhores condições. Há ainda o caso particular do Reino Unido, que não aderiu a Schengen, mas também se dispões a receber refugiados. Entretanto, em Calais, há alguns milhares que pretendem transpor a Mancha, sem que lhes seja dada autorização. E quanto a Portugal: será que a boa vontade declarada pelo Governo e por várias instituições e, ao que parece, até por particulares, para acolher refugiados, será correspondida por migrantes que quererão fixar-se cá? Muitas questões sem resposta, pelo menos por enquanto.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O assunto

O assunto é o assunto do momento. E muito se tem falado sobre o assunto. Há, sobre o assunto, um discurso dominante politicamente correcto e que não admite desvios. Baseia-se nos valores da Europa e na solidariedade. E tem como corolários que a solidariedade não se discute, tal como no tempo de Salazar "a Pátria não se discutia", que com boa vontade, solidariedade e espírito de justiça tudo se pode resolver e que a responsabilidade de resolver o assunto é nossa, da Europa e de cada europeu em particular.

Ora há indícios suficientes para pensar que o assunto é mais complicado do que parece resultar do discurso habitual (ia dizer "do discurso oficial", mas parece-me uma classificação pouco exacta). Vejamos alguns exemplos do que diz Helena Matos sobre o assunto:

1) Ao contrário do que se possa pensar, os mais dependentes dos apoios muito frequentemente não são aqueles que os recebem mas sim aqueles que os distribuem e que não podem deixar de os distribuir porque isso seria o fim da sua razão de existir.

Os que prestam apoios aos carenciados prestam sem dúvida um bom serviço à sociedade em geral e aos carenciados em particular. E se esses carenciados são refugiados fugidos de um país em guerra, esses apoios são úteis e bem-vindos. Mas há algo que faz pensar quando os que prestam apoios pedem apoio para prestar apoios.

2) não tardará que, se o fluxo de refugiados se mantiver nos actuais níveis, passemos todos a imitar a Hungria.

No caso particular de Portugal, começou-se a falar de acolhermos 1500 refugiados (ou candidatos ao estatuto de refugiado?). Há poucos dias já se falava em cerca de 3000 e hoje aparece de surpresa o número de 4755. Tendo em atenção que continuam a chegar milhares às praias das ilhas gregas e centenas ao sul da Itália, temo que dentro em pouco aquele último número, apesar de tão preciso, não seja o último. Como a Síria tem 22 milhões de habitantes, mesmo que apenas uma pequena percentagem destes se decida a fugir à guerra e a procurar "uma vida melhor" na Europa, é de esperar que a corrente migratória continue ainda durante muito tempo e atinja dimensão tal que se tornará na prática receber todos os que o desejam, muito menos receber bem. Mas quando Viktor Orban o afirma, todas as boas almas se revoltam.

3) Por fim e para o fim, uma questão que se me coloca de cada vez que leio aqueles títulos sobre a vergonha que estes refugiados representam para a Europa. Lamento ir contra a corrente mas não vejo ali vergonha alguma para a Europa. Estas pessoas fogem para Europa. Revelam aliás uma noção muito clara dos sítios onde querem viver nessa Europa. Vergonha será sim para os dirigentes dos seus países. E também para os países muçulmanos. Por exemplo, quantos refugiados recebeu o riquíssimo Qatar? E o também fabulosamente rico Dubai? E a piedosa, islamicamente falando, claro, Arábia Saudita? Note-se que nem me interrogo se seria possível, equacionável ou sequer imaginável que esses países nos acudissem a nós, europeus, se um qualquer desastre nos obrigasse a fugir intempestivamente. Mas ao menos para estas pessoas que são muçulmanas, onde está o apoio dos países islâmicos?

Estas ideias vão contra o discurso dominante, mas devíamos pensar mais nelas.

sábado, 5 de setembro de 2015

Grau zero de dignidade

Já se sabe que as campanhas eleitorais são, infelizmente, ocasiões para achincalhamento, golpes baixos, acusações, maledicência. Nem tudo decorre com a dignidade desejável e quase nunca se discutem ideias e projectos para o País, havendo antes lugar para ataques pessoais. Mas pode haver pior, a JS optou pelo tiro ao alvo, convidando os seus militantes, simpatizantes ou simples passantes a derrubar os mais destacados membros da coligação PSD/CDS, ou 'pelo menos as suas imagens, atirando bolas. Claro que às juventudes partidárias, como às juventudes em geral, se desculpam certas irreverências, mas o tiro ao alvo contra figuras políticas ultrapassa, na minha opinião, a irreverência aceitável.


(imagem tirada do Facebook de Cristóvão Norte, via Observador)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

1200 euros

O drama dos migrantes que estão literalmente a invadir a Europa desperta muitas reflexões, principalmente de piedade, de solidariedade e outras. Mas para mim, hoje ouvi uma curta declaração de Teresa Tito de Morais que me fez pensar num aspecto que ainda não ouvi abordar. Disse ela que o custo de manter cada refugiado ronda os 1200 € por mês. Ora é preciso ter em conta que há muitos pensionistas a sobreviverem com pouco mais de 200 euros mensais, muitos trabalhadores que só recebem o salário mínimo de pouco mais de 500 €, já para não falar dos portugueses que vivem com muito menos, apenas com o Rendimento de Inserção Social. Se é certo que 1200 € não é muito, não será ilógico destinar o esforço de solidariedade a alguns que afinal serão assim privilegiados, quando há quem sobreviva com muito menos? Bem sei que os países que vão acolher os refugiados terão subsídios da União Europeia, ao que parece, no caso de Portugal, num total de 39 milhões de euros, mas essa origem não corrige a flagrante desigualdade de tratamento. Se, por virem fugidos de países onde a guerra ou outras circunstâncias não lhes permite viver, merecem ajuda, será equilibrado que essa ajuda seja superior, nalguns casos em várias vezes, ao que recebe quem tem uma pensão por ter trabalhado toda a vida ou quem ainda trabalha?

Qual é a função de Jorge Jesus no Sporting

Desde o primeiro dia de Jorge Jesus no Sporting que as TVs passam outra e outra vez, pelo menos até ontem, imagens do treinador a carregar, com ajuda, é certo, uma baliza através do campo de futebol com algum esforço visível. Eu confesso que os meus conhecimentos de futebol são muito limitados, para não dizer nulos, mas parece-me que esta insistência em mostrar estas imagens repetidamente deve ter algum significado. Mas não consigo descortinar qual seja esse significado.

Ainda o PEC IV

Parece impossível, mas ainda hoje há quem afirme sem lhe tremer a voz que, se a oposição não tivesse causado a queda do governo de Sócrates, não teria sido necessário o resgate. E esse alguém é nem mais nem menos que João Soares. É pena o jornalista que estava a entrevistá-lo não ter logo perguntado como teria sido possível, sem resgate, escapar à banca-rota, mesmo com o PEC IV aprovado.