sábado, 28 de março de 2009

Escândalo

Não resisto a reproduzir a peça que acabei de ler no blog "O sexo dos anjos"

"Nouveau scandale suite à un propos du Pape !

A son retour à Rome, par une belle après-midi ensoleillée, le Pape aurait confié à une journaliste: "Il fait beau aujourd'hui !"
Ces propos ont aussitôt soulevé dans le monde entier une immense émotion et alimentent une polémique qui ne cesse de grandir.
Quelques réactions:
Le maire de Bordeaux: "Alors même que le pape prononçait ces paroles, il pleuvait à verse sur Bordeaux ! Cette contre-vérité, proche du négationnisme, montre que le pape vit dans un état d'autisme total. Cela ruine définitivement, s'il en était encore besoin, le dogme de l¹infaillibilité pontificale !"
Le Grand Rabbin de France: "Comment peut-on encore prétendre qu'il fait beau après la Shoah ?"
Le titulaire de la chaire d'astronomie au Collège de France: "En affirmant sans nuances et sans preuves objectives indiscutables qu'il fait beau aujourd'hui", le pape témoigne du mépris bien connu de l'Église pour la Science qui combat ses dogmes depuis toujours. Quoi de plus subjectif et de plus relatif que cette notion de "beau" ? Sur quelles expérimentations indiscutables s'appuie-t-elle ? Les météorologues et les spécialistes de la question n'ont pas réussi à se mettre d'accord à ce sujet lors du dernier Colloque International de Caracas. Et Benoît XVI, ex cathedra, voudrait trancher, avec quelle arrogance ! Verra-t-on bientôt s'allumer des bûchers pour tous ceux qui n¹admettent pas sans réserve ce nouveau décret ?"
L'Association des Victimes du Réchauffement Planétaire: "Comment ne pas voir dans cette déclaration provocatrice une insulte pour toutes les victimes passées, présentes et à venir, des caprices du climat, inondations, tsunamis, sécheresse ? Cet acquiescement au "temps qu¹il fait" montre clairement la complicité de l'Église avec ces phénomènes destructeurs de l'humanité, il ne peut qu'encourager ceux qui participent au réchauffement de la planète, puisqu'ils pourront désormais se prévaloir de la caution du Vatican."
Le Conseil Représentatif des Associations Noires: "Le pape semble oublier que pendant qu'il fait soleil à Rome, toute une partie de la planète est plongée dans l'obscurité. C'est là un signe intolérable de mépris pour la moitié noire de l'humanité!"
L¹Association féministe Les Louves: "Pourquoi "il" fait beau et pas "elle" ? Le pape, une fois de plus s'en prend à la légitime cause des femmes et montre son attachement aux principes les plus rétrogrades. En 2009, il en est encore là, c'est affligeant !"
La Ligue des Droits de '¹Homme: "Ce type de déclaration ne peut que blesser profondément toutes les personnes qui portent sur la réalité un regard différent de celui du pape. Nous pensons en particuliers aux personnes hospitalisées, emprisonnées, dont l'horizon se limite à quatre murs ; et aussi à toutes les victimes de maladies rares qui ne peuvent percevoir par leurs sens l'état de la situation atmosphérique. Il y a là, sans conteste, une volonté de discrimination entre le "beau", tel qu'il devrait être perçu par tous, et ceux qui ressentent les choses autrement. Nous allons sans plus tarder attaquer le pape en justice."
A Rome, certains membres de la Curie ont bien tenté d'atténuer les propos du pape, prétextant son grand âge et le fait qu'il ait pu être mal compris, mais sans succès jusqu'à présent.

A bon entendeur, salut !"

Impecável!

Será que os jornais impressos em papel vão continuar a existir?

No blog De Rerum Natura pergunta-se:
"Qual será, neste quadro, o futuro dos livros tradicionais, com letras impressas em papel?"
e responde-se:
"Estou em crer que vão continuar a existir."
Também o creio, embora possam vir a sofrer algumas transformações e a ter mais concorrência de meios que começam a despontar ou que nem sequer adivinhamos hoje. O teatro resistiu ao cinema, o cinema resistiu à televisão, a televisão está a resistir à internet, o correio tradicional resiste ao correio electrónico, etc., etc.. Claro que há espécies (refiro-me a espécies de meios de comunicação) extintas ou em vias de extinção, como por exemplo o cinema mudo, os selos de correio, as máquinas de escrever e as cartas manuscritas, mas os certificados de óbito passados prematuramente a muitos meios de comunicação, de registo ou de informação revelaram-se isso mesmo: prematuros.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Direito da Educação

Leio no Público:

«Meia centena de pastas cheias de fotocópias do Diário da República e de índices dos diplomas fotocopiados é praticamente tudo a que se resume o trabalho pelo qual o Ministério da Educação (ME) pagou cerca de 290 mil euros ao advogado João Pedroso (mais cerca de 20 mil a dois colegas).

Os caixotes de papelão que guardam as pastas encontram-se no chão de uma sala poeirenta, vazia e fechada à chave, do 5.º andar do ministério, encostados a uma parede, sem qualquer uso ou préstimo.

O objectivo dos dois contratos feitos com Pedroso — o ME considerou que o segundo foi cumprido em apenas 50 por cento, razão pela qual lhe pediu, em Novembro, a devolução de 133.100 euros — consistia na “construção de um corpo unificado de regras jurídicas e de normativos harmonizados e sistematizados de Direito da Educação” até ao final de 2007.»

O que mais me espanta não é o estapafúrdio contrato com João Pedroso nem o seu preço nem o facto de estar desaproveitado. Tudo isto é muitíssimo grave, mas mais grave ainda é, penso eu, o que esta notícia revela sobre o caos da legislação portuguesa. Porque estou certo que o que se passa com a educação passa-se igualmente com todos os outros aspectos da vida portuguesa: o direito é um autêntico labirinto enorme e qualquer tentativa de catalogação só revela a impossibilidade de na prática se dominarem todas as regras dispersas por numerosos diplomas, leis, decretos, portarias e quejandos. Como será possível conhecer as leis se enchem meia centena de pastas? E se não é possível conhecer tudo, como se pode obrigar alguém a cumprir a legislação?

sábado, 14 de março de 2009

A Escola não deveria ser um armazém de crianças

As recentes notícias 1) de redução da idade de entrada no 1.º ciclo do ensino básico para os 5 anos, 2) de obrigatoriedade de frequência no jardim infantil e 3) de aumento da carga horária da escola básica para 12 horas diárias, a serem verdadeiras e a serem as respectivas medidas postas em prática, representam, a meu ver, passos muito negativos que contribuirão, como tantas medidas recentes, para diminuir a integração familiar. O que mais me repugna não são as medidas em si, mas a obrigatoriedade anunciada (excepto, suponho e espero, para questão das 12 horas). Lembro-me que quando entrei para a primeira classe, aos 7 anos, fiquei revoltado por os meus pais não terem adiado a minha inscrição por um ano, assim teria tido mais um ano para brincar. Já os meus filhos e a minha neta começaram o 1.º ano com 6 anos. A eventual redução para 5 anos parece-me uma violência. Mesmo que os programas, como seria aconselhável, fossem adaptados para essa idade, a maioria das crianças não tem aos 5 anos a maturidade para uma escola com tarefas obrigatórias.

Quanto ao alargamento dos jardins de infância, parece-me uma medida muito positiva, mas a sua obrigatoriedade, a ser concretizada, é um atentado à liberdade de os pais escolherem o tipo de educação que querem dar aos seus filhos, que para as idades do jardim infantil pode, quando possível e se tal for a opção dos pais, ser simplesmente familiar. Os meus filhos frequentaram o jardim infantil e os meus netos também e acho que foi útil, mas se vier a ser obrigatório já me parece que interfere indevidamente com as opções familiares. Para mais não estou a ver como se poderá assegurar uma cobertura das pequenas comunidades em que se fecharam escolas por o número de crianças ser inferior ao julgado recomendável, fecho que me pareceu em muitos casos excessivo. Será que vão transportar crianças de 1 a 4 anos em autocarros e carrinhas para distâncias por vezes consideráveis, como fazem actualmente com as crianças do ensino básico?

Já a questão das 12 horas parece-me de um absurdo sem classificação. Quanto tempo poderão estas crianças passar com os pais ? Suponho que deveriam ser vistos separadamente o aspecto de horário escolar em função de critérios pedagógicos e o de guarda e eventual entretenimento mais ou menos educativo das crianças cujos pais, por razões de horário de trabalho ou por outros motivos, não possam ter ao seu cuidado os filhos fora desse horário. A instituição "avós" também é útil (eu que o diga) e deve ser tida em conta e incentivada. Para os outros casos existem os ATL que têm uma função muito meritória, sejam na própria escola ou em instituições específicas. Mas em que as crianças se sintam livres de obrigações e possam brincar, jogar, conversar ou dedicarem-se às actividades da sua preferência. Há ainda que contar com o tempo gasto em transportes, que com a recente concentração das escolas em unidades de maior dimensão, é muitas vezes considerável. O que acho inadmissível é que as crianças tenham uma carga horária superior às dum trabalhador numa fábrica ou num escritório e que, foram os fins de semana, não tenham tempo para conviver um pouco com a família antes de estarem cheias de sono.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Magalhães e a ortografia II

O Ministério da Educação deu um prazo de uma semana para a firma JP Sá Couto e a Caixa Mágica corrigirem os erros de ortografia detectados no computador Magalhães. É o mínimo que tinha de ser feito, ou talvez não; pensando bem é abaixo do mínimo. Digo isto porque não ouvi qualquer explicação sobre como foi possível ter deixado passar esses erros sem que nenhum responsável pela política educativa portuguesa os tivesse detectado. Isto significa pura e simplesmente que ninguém no Ministério tinha visto os programas em causa antes da distribuição às centenas ou aos milhares pelas escolas que tutela. Mesmo que não houvesse erros de ortografia, é forçoso concluir que o conteúdo pedagógico não foi avaliado nem a sua concordância com os programas escolares e a adequação às idades a que se dirigem os programas. E digo que é forçoso chegar a esta conclusão porque se algum técnico educativo do Ministério tivesse feito essa avaliação, como devia, teria de detectar os erros, ou então seria ainda mais ignorante do que o pretenso tradutor, o tal que até tem duas licenciaturas mas fez os erros de palmatória ou pelo menos deixou-os passar.

Sócrates afinal não é o nosso querido líder

Houve línguas mal intencionadas que compararam as recentes eleições no PS para secretário-geral às eleições norte-coreanas, por o resultado se ter alçado a mais de 96%. Nada mais injusto. Se bem que tivessem em comum a falta de listas alternativas e a ausência de reais debates, e ainda a tónica posta na figura do líder como único factor a ter em conta, é agora fácil de verificar que houve uma diferença fundamental. É que o resultado na Coreia do Norte atingiu 99% a favor do querido líder (ou do Partido Comunista a que ele preside, não sei bem), enquanto o de Sócrates se ficou por uns meros 96%. Portanto o nosso líder é menos querido que o deles.

sábado, 7 de março de 2009

Magalhães e ortografia


Os erros de ortografia encontrados no computador Magalhães que está a ser distribuído ao abrigo do programa e-escolinhas são imperdoáveis. Num instrumento didáctico promovido activamente pelo Ministério da Educação com a bênção do Primeiro-Ministro que abrilhantou com a sua presença várias sessões de distribuição às criancinhas, descobrir-se agora que um dos programas contém numerosos erros de português porque o tradutor, ou melhor o chamado tradutor, só tinha o 4.º ano, é um escândalo que deveria ter consequências.

Quando fiz a então chamada instrução primária, no tempo em que o ensino era exigente, faziam-se ditados desde a 1.ª classe. Lembro-me de ter escrito "ero" só com um R em vez de "erro", logo erro ao escrever "erro", erro de ortografia marcado no caderno e com direito a uma reguada, embora os castigos corporais fossem então já formalmente proibidos (o que levou o meu pai a ir à escola protestar).

Pelos vistos agora pode-se chegar a tradutor de programas didácticos promovidos pelo próprio Ministério da educação sem saber bem português.

domingo, 1 de março de 2009

Congresso do PS, uma certa noção de democracia


Sócrates tentou justificar a sua ausência da cimeira da UE salientando a alta importância da sua presença no congresso. Para isso afirmou: "É aqui que se discutem as ideias." Se houve coisa que não se desse por isso foi ter existido algum assomo de discussão de ideias no congresso. Nem no discurso do próprio Sócrates, que acrescentou: "É a democracia a funcionar." e mais adiante: "O que fazemos neste congresso é do mais nobre e necessário ... é viver a democracia em pleno." Por estas palavras se vê quem tem uma ideia empobrecida da democracia. "Nobre"?! "Necessário"!? "democracia em pleno"?? Já sabíamos que Sócrates não tinha a mínima ideia do que fosse discussão de ideias e debate democrático pelas suas intervenções nos debates quinzenais na Assembleia da República. Aí sim, deveria funcionar a democracia em pleno. E se nesses tristes debates não é o que se passa, grande parte da responsabilidade tem de ser atribuída ao PM pela sua relutância em responder às questões que lhe são colocadas, preferindo desvalorizar os contendores e iludir as respostas. Infelizmente, neste congresso não foi mais bem sucedido na exposição e explicação das suas ideias do que considera bom para o país.



Muita gente criticou o Presidente da República por em diversas ocasiões não se ter referido à crise e aos problemas dos portugueses. Pelo que se viu, Sócrates também acha que essas questões não são dignas de ser sequer tocadas no congresso, tendo preferido queixar-se da campanha contra si que certos órgãos de informação, que Arons de Carvalho fez o favor de especificar (TVI, especialmente à 6.ª-feira e Público) promovem, fazer a autopromoção que prenuncia um verdadeiro culto da personalidade.

Bateram-me, e então?

Perturbou-me a leitura do editorial da revista Pública de hoje, da autoria da editora Ana Gomes Ferreira. Para compreensão da minha perturbação, transcrevo o editorial antes de comentar os pontos que me causaram perplexidade e incómodo:

«Cresci numa época em que toda a gente batia nos miúdos - os pais, quando fazíamos asneiras; os professores, por tudo e por nada; os colegas, porque sim. Na minha casa, a palmada era domínio da minha mãe. Nunca vi mal nisso e ás vezes acho que ela nos deu poucas, a mim e ao meu irmão. Como uma vez em que lhe fizemos tantas cócegas, tantas, tantas, que ela caiu da cama abaixo e nunca mais sentiu cócegas e até hoje culpa-nos por isso. Outra vez foi ela que ficou com sentimentos de culpa porque lhe arreliámos a paciência e ela atirou-nos com o que tinha na mão. A seguir rimo-nos todos alarvemente e comemos uns bifes bem tenrinhos com batatas fritas. O meu pai só me bateu uma vez. Eu tinha dois meses, acordei pela uma da manhã assustada com algum sentimento mau e não parava de chorar. À vez, passearam comigo no corredor, mimaram-me durante um par de horas mas o medo não ia embora eu não me calava. O meu pai, então, voltou-me ao contrário, deu-me uma palmada no rabo, acalmei e adormeci. Hoje, é inaceitável um professor bater numa criança. Os miúdos são tão agressivos uns para os outros que foi preciso inventar um termo (bullying). E os pais fazem caretas quando ouvem histórias como as minhas (lembrei-me delas lendo a crónica de Daniel Sampaio sobre os direitos dos pais) e que, tenho a certeza, também se passaram com eles. Não vale a pena explicar o óbvio -- que isto não é o elogio da educação pelo chinelo. Mas, às vezes, quando os nossos filhos não estão bem, uma palmada ajuda, e não vejo mal nisso.»

A autora parece julgar o mundo ou pelo menos a sociedade portuguesa pela sua própria experiência. Isto revela-se em expressões como "toda a gente batia nos miúdos - os pais, quando fazíamos asneiras; os professores, por tudo e por nada; os colegas, porque sim.", "Hoje, é inaceitável um professor bater numa criança", "os pais fazem caretas quando ouvem histórias como as minhas … e que, tenho a certeza, também se passaram com eles", "Não vale a pena explicar o óbvio" e "uma palmada ajuda".

Não, minha senhora. Nem toda a gente batia nos miúdos. Já fui miúdo há muito tempo mas foram raríssimos os momentos em que me bateram: Que me lembre, apanhei uma reguada por ter feito um erro no ditado igual ao do meu colega da frente, pelo que a professora deu como provado que tinha copiado. Se visse o número de erros que os alunos do 1.º ano dão agora, a pobre professora teria um chelique. Mas o certo é que o meu pai apressou-se a ir à escola protestar e lembrar que os castigos corporais eram proibidos. Sim, para quem não saiba ou não se lembre: no Estado Novo os castigos corporais nas escolas eram formalmente proibidos, e embora em muitas essa proibição não fosse respeitada, não se pode dizer que "toda gente", neste caso todos os professores, batesse nos miúdos por tudo e por nada. A minha mãe era professora primária e tinha orgulho em nunca ter batido num aluno.

Quanto aos meus pais, também posso afirmar que nunca me bateram e também não bateram nas minhas irmãs. Por meu lado, nunca bati nos meus filhos, como agora não bato nos meus netos, e não sou único. À minha mulher, filha de pais de origem diferente e com educação diferente, também estes nunca bateram, nem "simples" palmadas. Com os meus colegas de liceu tive algumas raras lutas esporádicas nada violentas, mas o ambiente, quer na primária quer no liceu, era muito pacífico. Nunca tive notícia de que algum colega batesse noutro, a não ser em luta, mas mesmo estas lutas eram raríssimas. Sim, é felizmente verdade que hoje, é inaceitável um professor bater numa criança, mas não é só hoje, não vejo grande diferença para o que acontecia há 60 ou 50 anos. A palavra "hoje" não tem razão de ser. Apesar de inaceitável, continua a haver quem bata, mas está longe de ser a regra, agora como dantes.

Portanto, senhora jornalista, não tenha tanto a certeza que os pais que agora fazem caretas (!) tenham passado pelo mesmo que a senhora. Nem tenha tanto a certeza que os seus pais fizeram bem em lhe dar palmadas ou em acalmar o seu choro com uma "palmada no rabo". Sim, eu não fiz caretas mas fiquei perturbado com as suas histórias e felizmente não tinha passado pelo mesmo.

E não me parece nada óbvio que no seu editorial não defenda a educação pela palmada, se bem que não seja pelo chinelo. E não creio que uma palmada ajude. Que um pai perca a paciência e dê uma palmada num filho é condenável mas compreensível. Que pense que esse acto irreflectido ajude e não tenha mal já me parece transpor uma fronteira do admissível para o inadmissível.