domingo, 31 de julho de 2011

NEI EOS

Ontem vi o porta-voz do NEI informar que a sua proposta para a compra do BPN tinha sido reforçada. Apesar disso, como se sabe agora, não venceu.
Mas uma imagem da notícia chamou-me a atenção por uma razão que não tem rigorosamente nada a ver com o BPN nem com a sua compra. Numa parede por detrás do porta-voz estava pendurado um quadro que me chamou a atenção: Uma cena mitológica com um carro grego que levava o que parecia um deus rodeado de belas jovens com túnicas de várias cores pareceu-me familiar. A minha mulher avivou-me a memória: Era uma reprodução de um quadro que vinha estampado no interior duma caixa de charutos brasileiros que o meu sogro trouxera do Brasil em 1946 e onde tenho guardados alguns selos antigos.


Fui verificar e constatei que era realmente a mesma cena que tinha visto na entrevista do porta-voz do NEI.


Fiquei curioso sobre o que representava, mas pensei que mesmo com o recurso à internet e a motores de busca era difícil identificar o quadro. Que palavras usar para descrever a cena de modo a poder obter informação sobre o assunto e o autor? Pensei que talvez se tratasse de Apolo num carro guiado pela Fama, mas as palavras "Apolo carro Fama" não deram qualquer informação. Tentei então uma busca de imagens com base na marca de charutos inscrita na caixa, Suerdieck, e realmente encontrei, entre milhares de figuras, algumas caixas com a mesma pintura no interior, mas nada que desse pistas sobre de que se tratava. Resolvi apostar nas palavras "Apolo ninfas carro" e aí tive mais sorte: com tempo e paciência descobri imagens do mesmo quadro, algumas mesmo de caixas de charutos Suerdieck da Bahia semelhantes à minha, mas não eram essas que identificavam o quadro. Mas continuei a não achar qualquer informação útil. Repeti com a busca em inglês: "Apollon nymphs car" e finalmente, entre numerosas imagens, achei uma que me deu o artigo que trazia a informação desejada: O quadro representa afinal Aurora (deusa Eos) mostrando o caminho ao seu irmão Helios (que por vezes se confunde com Apolo por ambos serem deuses que representam o Sol) cujo carro está rodeado pelas Horas. O quadro é um fresco de Guido Reni pintado no Palazzo Pallavicini em 1614.

BPN

Fiquei admirado de ter sido escolhida a proposta da BIC para compra ao Estado do BPN. Na minha ingenuidade, ao comparar a oferta da BIC com a do NEI, pareceria esta última mais favorável. Mas concedo que o que veio a público sobre as propostas, quase nada, não permitia ter opinião fundada sobre o assunto. Espero bem que o Ministro das Finanças tenha ponderado bem e resolvido pelo melhor. Pelo menos é positivo que finalmente se tenha tomado uma decisão sobre este assunto que se arrastava para além do razoável e que parecia não ter qualquer possibilidade de solução.

sábado, 30 de julho de 2011

Nomeações: escandalosas ou normais?

Os órgãos de comunicação informam que o novo Governo fez 235 nomeações para os gabinetes ministeriais. Lê-se nos jornais e ouve-se na TV em tom sensacionalista. E logo se ouvem comentários a criticar esta onda de jobs for the boys, a afirmar que afinal são todos iguais, a concluir que as promessas eleitorais foram quebradas. Será assim? Francamente a informação que me foi dado recolher não permite saber se estas nomeações são escandalosas ou se são absolutamente normais. É altamente positivo que estas nomeações venham listadas no sítio do Governo, com nomes, cargos e vencimentos, mas não se incluem as informações que permitiriam julgar do escândalo ou da normalidade.
Seria necessário saber:
- Os números são anormais? Os governos anteriores nomearam mais ou menos?
- É ou não normal que um governo novo que toma posse proceda a estas nomeações?
- Os cargos são novos ou vêm substituir tantos outros anteriormente nomeados que cessaram funções? (Pelos cargos, parece que se trata de substituições, veja-se o caso dos chefes de gabinete.)
- São entradas novas para funções públicas ou são funcionários públicos que tomam posse em novos cargos destacados ou em comissão de serviço?
- Os anteriores detentores de cargos equivalentes eram ou não funcionários em comissão de serviço que voltaram para as suas funções anteriores?
- Os salários são idênticos ou superiores aos praticados pelo governo anterior?
- No caso de funcionários em comissão de serviço vêm ganhar mais ou o mesmo?
- Qual é o acréscimo de despesa total em relação à situação anterior?
Se alguém me souber responder a estas questões, então poderei emitir opinião sobre a bondade destas nomeações, até lá dispenso comentários.

sábado, 23 de julho de 2011

Austeridade revisitada

Várias vozes, desde economistas estrangeiros com o Prémio Nobel ou nacionais sem prémios, até comentadores, criticam as medidas de austeridade e tanto as consideram ineficazes como temem as suas consequências recessivas. A estas vozes juntam-se, por motivos diferentes, os partidos de esquerda, que recomendam a renegociação da dívida e dizem que a austeridade é a causa de todos os males. Não sou economista nem comentador e não milito em partidos, nem de esquerda mas também não de direita ou de centro, mas parece-me que, se para manter o nível de vida que temos tido, foi preciso endividarmo-nos ao ponto que chegámos, a austeridade necessária e suficiente para passarmos a viver só com o que ganhamos sem pedir emprestado é uma consequência inevitável do limite do endividamento. Por outro lado, parece-me evidente que, se pedíssemos qualquer renegociação da dívida, a austeridade viria automaticamente por mais ninguém estar disposto a emprestar-nos dinheiro. Não há fuga possível e mais vale sermos nós a decidir o melhor modo de ser austero com tempo e os meios da ajuda exterior do que termos uma profunda crise repentina por não termos possibilidades de fazer frente às nossas necessidades.

Desvio... colossal

Afinal o desvio não era colossal, mas mesmo assim vamos ter de pagar para o endireitar. O esforço que será preciso para isso é que vai ser colossal. Sempre havia várias palavras entre "desvio" e "colossal", o que muda tudo. Só não muda a austeridade que vem aí. Vamos todos, quer queiramos quer não, ser muito austeros. Como disse há dias, sempre levei uma vida um tanto austera, um pouco por feitio, por vezes por necessidade. Agora vai ser a sério.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

To be or not to be colossal

A discussão a propósito do "desvio colossal" ou do "desvio... (várias palavras) ... colossal" é inútil. Tudo depende da definição de "colossal". Afinal as medidas de austeridade estão aí, algumas já chegaram e as outras virão em breve. Se houver um desvio muito colossal, haverá, para compensar, mais austeridade. Já vamos estando habituados...

Mas já agora, como é que ninguém se admirou de palavras ditas numa reunião à porta fechada terem chegado cá fora tão rapidamente? Também vamos estando habituados, infelizmente.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Queda de notação: consequência ou causa?

A decisão da Moody's de baixar a notação da dívida portuguesa em 4 níveis tem suscitado reacções muito desencontradas. Depois do coro quase geral de repúdio e indignação, apareceram numerosas vozes a considerar a medida justificada pela realidade da situação difícil em que nos encontramos. Claro que as agências de notação financeira não estão ao serviço dos emissores de dívida, estados ou empresas, mas sim dos investidores. Claro que a dívida portuguesa é problemática e sujeita a riscos. Assim se justificaria a baixa de notação. No entanto, pessoalmente parece-me que a iniciativa da Moody's falhou no tempo e no modo. Os riscos da dívida portuguesa não aumentaram agora, pelo contrário, o acordo com o trio FMI-UE-BCE e o comprometimento do novo governo com um apoio parlamentar largamente maioritário e expresso recentemente nas urnas vieram aliviar o risco, embora não o anulassem. A ocasião escolhida pela Moody's parece assim completamente desajustada. Não me teria admirado se esta ou outra agência tivesse subido ligeiramente a notação em vez de a baixar drasticamente. Mas principalmente, a baixa de 4 níveis não parece ter fundamento. Uma baixa desta amplitude necessitaria de uma melhor explicação e fundamentação.
Concordo, no entanto, com aqueles que dizem que as mostras de indignação não resolvem nada. Há sim que provar, com actos, que a Moody's não tem razão. Enviar pacotes de lixo para a Moody's? Pode ter alguma graça, mas é absolutamente pueril. Fazer uma manifestação de repúdio no Terreiro do Paço? Tenham juízo! Alguém na América se impressionará com isso? As manifestações de repúdio do antigamente resolveram alguma coisa? Apoiar as medidas do Governo e eventualmente, para quem tenha possibilidades de investir um pouco, comprar Certificados do Tesouro, procurar gastar menos, não contribuir para aumentar as dívidas (particulares e públicas), quando possível comprar português pode a médio prazo ser muito mais útil do que gastar tempo com graçolas e manifs.
A baixa de notação foi apresentada como uma consequência da difícil situação portuguesa. Há que procurar que não seja causa da sua deterioração.

terça-feira, 5 de julho de 2011

ETV

O canal ETV, do Diário Económico, tem informação muito importante e programas muito bem estruturados. Apesar de eu não ser economista, é um dos canais que mais vejo, já que considero importante estar bem informado sobre as questões económicas. No entanto esta canal tem um enorme defeito: a maneira deficiente com que apresenta súmulas de notícias nos seus rodapés.
Vejamos 3 exemplos retirados da emissão de ontem:
1) "GOVERNO CONTRATA BANCOS PARA VENDER A LOTERÍA"
A primeira impressão foi "Enganaram-se a escrever «lotaria»!" Depois reparei no acento no í e comecei a desconfiar: Porque escreveriam "lotaria" à espanhola? A que governo se referem; em que país isto aconteceu. De certo não foi em Portugal, onde a Santa Casa tem a máquina bem montada. Deverá ser em Espanha, mas não está certo escrever "Governo" sem dizer que se trata do governo espanhol.
2) "TAP PROIBIDA DE AUMENTAR VOOS PARA LUANDA"
Proibida? Por quem, com base em que lei. Porquê? Aumentar voos? será aumentar o preço dos voos, isto é dos bilhetes, ou o número de voos?
3) "PROFESSOR DE ECONOMIA EXIGE SAÍDA DA ALEMANHA DA MOEDA ÚNICA"
Professor de economia? Quem? Português? Alemão? De outra nacionalidade? Exige? Como é que um professor pode exigir? Não caberá ao governo alemão decidir?
É certo que aparece de longe em longe: "ESTAS E OUTRAS NOTÍCIAS EM economico.pt. De facto, lá estão as explicações todas. Mas se o canal não considera necessário dar essa informação e remete para a net, também não vou divulgar.