sábado, 31 de janeiro de 2009

Consumo ou poupança?

Tenho ouvido muitos reputados economistas de várias áreas defender que para combater a crise se deve incrementar o consumo. Inclusivamente tenho ouvido dizer que se deve evitar que as medidas anti-crise venham a aumentar a poupança, pois o que se deve promover é o consumo. Esta estratégia sempre me fez uma grande confusão. Se é certo que uma redução generalizada do consumo trará mais problemas às empresas produtoras e comerciais dos produtos que deixarão de se vender, num país em que vivemos acima das nossas possibilidades, o incremento do consumo parecia-me um contra-senso. Mas como pouco percebo de economia admitia estar errado. Fiquei mais tranquilo (e mais confiante no meu raciocínio) ao ler (Público de hoje) a opinião de António Borges: "O problema principal do país é o de não haver poupança. O país está completamente descapitalizado e estarmos a dizer que é preciso estar a consumir mais e gastar mais é afundar ainda mais o buraco no qual nos estamos a enterrar. Portugal tem tido despesa a mais estes anos e a economia não responde. Continuar a gastar é contribuir para aumentar o défice externo."

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mensagem de José Sócrates

A declaração feita hoje com solenidade pelo PM José Sócrates foi patética. Perdi um bom bocado da tarde à espera de que Sua Excelência se dignasse falar e afinal a montanha pariu um rato. Pensei que num acesso de vergonha iria anunciar que ia apresentar o seu pedido de demissão ao Presidente da República ou então iria contrapor argumentos e factos indiscutíveis de tal modo determinantes que todo o bom povo ficaria convencido da sua completa inocência. Em vez disso não disse nada de novo e limitou-se a insistir na tese da cabala. Não percebi a lógica de acusar a comunicação social por um lado de calúnias e manipulação e por outro de usar fugas de informação. Se as notícias vindas a lume se baseiam em fugas de informação, não se trata de calúnias; as fontes de onde esssas fugas podem provir (neste caso naturalmente a Procuradoria Geral da República ou o DCIAP) não costumam deixar fugir calúnias, mas sim informações reais.

Não sei se Sócrates é culpado ou não. Só sei que a maneira como se defende não inspira confiança. Não me refiro à eventual falta de honestidade, mas sim à evidente falta de competência.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Sócrates igual a si mesmo




Acabei de assistir ao exercício de autopropaganda de Sócrates na apresentação da sua moção de estratégia. E fiquei a compreender que a estratégia de Sócrates continua a mesma: autojustificar-se, autopromover-se e travestir as suas promessas de linguagem mistificadora que leve a pensar que são mais aliciantes. No fundo, quase nada de novo. O elogio da sua acção reformista, nomeadamente no campo da educação, sem reconhecer o completo falhanço e a desgraça em que o seu governo fez cair o sector do ensino, e ainda referências ao Plano Tecnológico, que se nota tão pouco, à célebre exportação de tecnologia por Portugal, que foi Sol de pouca dura, à consolidação das contas públicas, à nossa custa e que vai ser completamente varrida pela crise, a tal que até há pouco tempo nem se sentiria graças à boa saúde económica do país, e finalmente à acção social, que, segundo disse, estava a fazer diminuir a pobreza e o fosso entre ricos e pobres, o que não tem sido confirmado pelas notícias mais recentes.

Parece que vivemos num país de sucesso e que, com a firme acção do governo e das suas medidas anticrise, até conseguiremos ultrapassar o “Cabo das Tormentas” e chegar incólumes ao ano de 2010, em que retomaremos a via do progresso. Só Sócrates a descortina. As previsões da OCDE, do FMI e principalmente as mais recentes do Economist não abalam a esperança do PM na passagem da crise quase sem dor.

Pelo caminho prepara a legalização dos casamentos de homossexuais, cedendo ao lóbi da JS, como se o país não tivesse outras preocupações mais prementes, e o desagravamento dos impostos dos mais pobres à custa do agravamento dos dos mais ricos. O pior é que já sabemos que para estas medidas que mexem com ajudas e impostos, o nível a partir do qual somos considerados ricos e não merecemos qualquer ajuda, só agravamentos, é muito baixo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Más notícias em catadupa

As más notícias agora são diárias, e por vezes várias por dia. Só desejo que passem a ser em dias alternados, mas não abrandam o ritmo. Ontem foi a descida da notação da dívida portuguesa pela Standrad & Poors (cada vez mais poors estamos nós a ficar), hoje foi a previsão do FMI de que o pior da crise ainda está para vir, não sei o que será amanhã. Perante tão negras perspectivas ainda tive tentações de rasgar as vestes e deitar cinza sobre a minha cabeça, como faziam os antigos e as personagens bíblicas, mas depois pensei melhor e achei que com este frio as vestes rasgadas não fariam nenhum jeito e que se enchesse a cabeça de cinza, que aliás não seria simples de arranjar a não ser que deitasse fogo à casa, o resultado é que seria mais difícil lavá-la depois. Por isso resolvi desistir dessas ideias e preparar-me para aguentar o embate, isto é, fazer o possível por poupar, ao contrário do que aconselham os economistas, que é aumentar o consumo para contrariar a crise.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quanto tempo é necessário para rever previsões económicas

Não sei como classificar a desculpa de Sócrates para só agora, na recente entrevista, ter admitido a recessão, mesmo assim apenas classificada como provável, e de ter apresentado e feito votar um Orçamento de Estado completamente ultrapassado, negando-se a reconhecê-lo. Essa desculpa foi de que na altura a situação era tão imprevisível que o próprio FMI se vira obrigado a alterar as suas previsões no curto prazo de 4 dias. Assim, Sócrates só se enterrou ainda mais, pois quando podia ter seguido o exemplo do FMI e rever rapidamente as previsões já geralmente apontadas por vários quadrantes como irrealistas demorou não 4 dias mas quase 4 meses a fazê-lo.

A recessão não começou agora

Raras vezes concordo com Francisco Louçã. Mas quando ontem afirmou que a recessão não começou agora, estamos há 6 meses em recessão, foi oportuno, porque ainda ninguém tinha feito essa precisão, pelo contrário confundia-se nas notícias e nos comentários o início da recessão com o momento em que Constâncio a reconheceu. O facto de os economistas referirem que para se admitir que ocorre recessão técnica o PIB deve decrescer em 2 trimestres sucessivos, não quer dizer que só quando são conhecidos os resultados da variação do PIB no fim do 2.º trimestre é que começa a recessão. Nesse momento até já pode ter acabado. Infelizmente não é agora o caso.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Aumentos para 2009

Foi anunciado que os aumentos de pensões para 2009 se situam entre 2,1% e 2,9%, com excepção das pensões superiores a 5000 €, que não terão qualquer aumento. Isto quer dizer que, na verdade, oa aumentos não se situam entre 2,1% e 2,9%, mas sim entre zero e 2,9%.

Mas o que ninguém disse nem ninguém comentou é que pela primeira vez os aumentos só se verificaram nas pensões de Janeiro, ao contrário do que era norma (ou pelo menos habitual há largos anos) de o ajuste ser efectuado logo em Dezembro e abranger o subsídio de Natal.
Recorde-se que já o ano passado se verificara o mesmo, mas que perante os protestos o ministro Vieira da Silva veio a fazer uma compensação, embora já no início de 2008, repondo o valor correspondente ao aumento do mês de Dezembro e do subsídio. Se bem me lembro, foi dito então que seria a última vez e que a compensação só foi feita por não ter havido aviso prévio da alteração da data dos aumentos. Quanto a mim, esta explicação não justifica que agora, em que pela primeira vez não há aumentos em Dezembro nem compensação com retroactivos, o facto não seja sequer lembrado. Note-se que o adiamento da data de qualquer aumento equivale, numa base anual, a um aumento menor.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Difícil subir impostos?

A propósito da conferência de imprensa de hoje do Governador do Banco de Portugal, diz JM Ferreira de Almeida no blog Quarta República:

«Afinal o Dr. Vitor Constâncio veio dizer que não recomenda o alívio fiscal porque "as descidas de impostos são sempre difíceis de inverter". Se bem entendo o que quer dizer, em Portugal é dificil subir impostos.
Concluo que a minha ignorância deve também ser fruto de muita distracção. Porque no País em que vivo sempre me pareceu que a coisa mais fácil (e menos ponderada) que um governo consegue fazer é justamente subir todos os impostos...»

Não resisti a comentar:
Realmente, o argumento da dificuldade de subir os impostos só pode ser um elogio a este governo, que foi a primeira coisa que fez quando tomou posse e tem continuado todos os anos a fazer essa coisa tão difícil. E ainda por cima, certamente por modéstia, afirma repetidamente que não o faz. Na verdade a modéstia é a marca distintiva de José Sócrates, como se tem visto abundantemente e ainda hoje na entrevista que deu na SIC-notícias.