quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ortografia

Convenhamos que é raro detectar erros de ortografia nos textos, legendagens ou notícias de roda-pé das TVs, mas este foi tão grave que merece ser assinalado. Foi na notícia sobre a criança de 11 anos que embarcou sozinha num voo passando nos diversos controlos do aeroporto de Manchester sem ser detectada nem travada. Num dos canais que deram a notícia, uma inglesa interrogada sobre o caso por um jornalista dizia (em inglês) que alguma acção de segurança devia ter sido accionada antes que a criança embarcasse no avião. Pois na legenda podia ler-se "antes que a criança embarca-se no avião". Erro de teclagem, eventualmente, mas erro que não se admite em crianças do 3.º ano de escolaridade, muito menos num jornalista.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Mensagens subliminares

As notícias não têm apenas por função informar. Procuram também influenciar o leitor ou tele-espectador num determinado sentido, conforme a tendência ideológica do jornalista. A frase proferida ontem por Passos Coelho no jantar com os deputados do PSD "Que se lixem as eleições; o que interessa é Portugal!" deu muito que falar. Houve quem a louvasse e houve quem a criticasse. Mas houve também um jornalista que resolveu insinuar que Passos quer aparecer aos olhos dos portugueses como um D. Sebastião e, em vez de se limitar a noticiar o acontecimento, resolveu afirmar: "O líder do PSD assume o papel de salvador da Pátria!". Não é tal, senhor jornalista: Não "assume o papel", não se quer apresentar como um D. Sebastião; apenas cumpre o que se espera dele. Afinal não será obrigação de um Primeiro Ministro fazer o possível para salvar a Pátria quando esta está em perigo? E não está Portugal em perigo?

A este propósito não posso deixar de rir da crítica mais descabelada: Arménio Carlos afirmou que o PM "está a lixar-se para os portugueses". O SG da CGTP não conhece bem o calão português. "Estar a lixar-se" não é nada. Quando muito seria "Está a marimbar-se", "Está a borrifar-se" ou versões mais vernáculas, mas "lixar-se para" não consta da nossa linguagem popular (*). Por outro lado, a acusação é injusta: Para qualquer democrata patriota o destino de Portugal tem prioridade sobre o resultado de qualquer eleição, embora muitos políticos se interessem mais por ganhar as eleições do que contribuir para o bem do País, mas isso é outra coisa.

 (*) Ver, por exemplo, "Dicionário de calão" de Eduardo Nobre, Círculo de Leitores:
lixar(-se): "prejudicar(-se); "borrifar-se: não se importar; desprezar.

Jornalismo fiel ou corrector de linguagem?

É norma nas nossas TVs traduzir as falas de entidades que se expressam numa língua estrangeira em legendas inseridas na parte inferior da imagem, como nos filmes, ouvindo-se simultaneamente a voz original ao fundo. Tudo bem, é preferível à dobragem, como faz a Euronews, em que não se consegue ouvir o original porque o som fica abafado pela voz do jornalista que debita a versão portuguesa. O pior é que na legendagem é mais fácil, quando se conhece a língua original, dar pelos erros de tradução, que infelizmente são numerosos. Mas o que é mais chocante não são os erros involuntários por mau conhecimento da língua ou por puro engano, são os "aperfeiçoamentos" da elegância das frases que os jornalistas tradutores acham por bem executar, sem que por vezes nada o justifique. Para ilustrar o que afirmo, apresento alguns exemplos que pude anotar. Se estivesse sempre de caneta em riste e com papel printo, muitos mais exemplos poderia apresentar.

A vice-presidente do Governo Espanhol dizia há dias que não eram as medidas de austeridade, mas sim os erros do passado "que nos han llevado a la situación que vivimos". Na legenda, o tradutor resolveu tornar a frase mais elegante, mais digna duma vice-presidente, legendando "que nos levou à situação actual"!

Hoje um responsável espanhol referia-se ao perigo de um eventual fim do euro usando a expressão "ruptura del euro". O legendador mudou duas vezes para "dissolução do euro". Porquê? Será que não sabe que existe em português a palavra "ruptura" ou, de acordo com o acordo ortográfico, "rutura", ou mais popularmente "rotura"? Mais adiante, o mesmo responsável afirmava que tal ruptura seria uma "hecatombe". Na legenda apareceu "catástrofe"! Será que o jornalista pensa que a palavra "hecatombe" é só espanhola?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

"O Inferno Ortográfico"

aqui expressei a minha opinião sobre o acordo ortográfico que nos querem impor. Remexendo em antigos papéis da família, topei com este recorte (mais rasgado do que recortado) de um jornal brasileiro, a "Voz de Portugal", de 1942. Não se tratava então, como é óbvio atendendo à data do artigo, da observância ou falta dela do actual acordo, que nos tentam agora impor apesar das críticas e que eu tenho apelidado de "aborto ortográfico", mas sim da não adopção plena pelo Brasil do acordo de 1931, ainda anterior ao de 1945 pelo qual aprendi a escrever como ainda escrevo e escreverei.


Como se vê, já então a questão levantava acesos debates e suscitava opiniões contraditórias. É lamentável que tantos anos e tantas discussões encontros depois se tenha chegado a um acordo (ou aborto) que nada resolve e causa mais problemas do que os resolve. E que desde a sua origem, logo após assinatura do acordo, em 1991, dava já origem a objecções e críticas, por vezes violentas, como a que foi logo publicada no suplemento de A Capital dedicado ao acordo.


sábado, 21 de julho de 2012

Manifestações de professores

Quem se lembra das grandes manifestações de professores dos tempos da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, em 2008 e 2009, não pode deixar de estranhar a fraca adesão aos protestos agora fomentados pela FENPROF. A recente vigília em frente da Assembleia de República foi patética. Por outro lado, enquanto que as grandiosas manifestações anteriores eram absolutamente pacíficas e respeitadoras da legalidade, agora até faz pena ver um pequeno grupo de professores abusar do seu direito de assistir como cidadãos aos debates da Assembleia da República para se manifestarem com a exibição de faixas negras escritas e gritos de palavras de ordem. Não sei se os professores têm ou não razão nos seus protestos, assim como no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues também não sabia; não sou professor e não conheço em pormenor a legislação e as regras contra as quais se manifestam nem as outras porque outrora se manifestavam, mas perante a fraca adesão actual sou levado a crer que é provável que tivessem mais razão no tempo do governo Sócrates do que agora. Mesmo que seja apenas por uma razão de estratégia, Mário Nogueira devia evitar manifestações que não tenham condições para reunir números significativos de aderentes.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Que quer a população?

Do blog "O Princípio da Incerteza":

Mário Soares afirmou que “a maioria da população está a reclamar” um novo Governo em Portugal. Como sabe o Dr. Mário Soares o que quer a maioria da população? Terá acesso a sondagens que não foram tornadas públicas e que dizem o contrário das que têm sido conhecidas? Será que se baseia no número de participantes nas diversas manifestações, marchas, vigílias e protestos? Obviamente que não, pois basta olhar para as imagens para concluir que representam uma ínfima percentagem da população, muitíssimo longe de poderem ser confundidas com "a maioria". Será que Mário Soares, que em tempos já foi eleito por maiorias, já não sabe o significado da palavra "maioria"?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Graves

Muito graves são as acusações do Bispo Januário Torgal Ferreira ontem dadas a conhecer e hoje várias vezes repetidas em vários noticiários. Tendo dado a entender ter conhecimento directo dos factos que cita, como corrupção do Governo, existência de gangues entre os que nos governam e outros de igual gravidade, parece evidente que, como pediu o Ministro da Defesa, deva concretizar perante a justiça, não se limitando a acusações gerais lançadas ao público. Vale a pena ler o que JM Ferreira de Almeida diz sobre o assunto no Quarta República. Absolutamente de acordo. Quem assim procede não pode continuar a ser capelão supremo das Forças Armadas. Coloca-se ao nível de Otelo e de Vasco Lourenço.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O caso Relvas

Tinha pensado não referir o caso das acusações várias contra o ministro Relvas e das reacções que tem suscitado. Mas o volume que o caso tomou, que culminou na manifestação de ontem, fez-me mudar de opinião. Não penso que se trate verdadeiramente de "um não assunto", embora compreenda as razões que levaram o PM a designá-lo assim, mas parece-me que os comentários, as acusações e os pedidos de demissão são nitidamente um exagero tendo em conta os factos conhecidos. Em primeiro lugar temos a questão das secretas. As explicações de Relvas parecem ser suficientes para, neste caso, se tratar realmente de um não assunto. Já na questão das pressões sobre uma jornalista, a ser verdadeira a acusação, parece que a actuação do ministro teria sido realmente condenável, mas mesmo assim não creio que forçosamente justificasse uma demissão, e o certo é que não ficou provada e uma acusação não provada não deverá ter consequências em política como na justiça. Mas o assunto que mais tem dado que falar e causado reacções mais sérias é o da licenciatura na Universidade Lusófona. Mesmo neste caso, o que verdadeiramente está em causa, na minha opinião, é a lei que permite que a experiência profissional pessoal possa justificar créditos sem regras claras que evitem abusos e a interpretação que a Lusófona fez dessa lei. Em qualquer dos casos tem sido afirmado que não houve ilegalidades e mesmo que mesmo que as tenha havido não foram praticadas por Relvas. Espero que a auditoria que o Ministro da Educação ordenou venha esclarecer o assunto. Por agora só é de lamentar que tenha sido possível obter um grau de licenciatura com tão pouco esforço e pode-se dizer que não é muito digno alguém aproveitar-se dessa lei e do modo como a Lusófona a usou para obter um grau académico, mas quantos dos que criticam Relvas teriam feito o mesmo, caso tivessem tido a oportunidade. Num grau diferente, mas com a mesma gravidade, o sistema das Novas Oportunidades permitia também obter diplomas com pouco esforço e está felizmente a ser revisto. Não consta que contra este sistema tenha havido manifestações. É certo que nenhum ministro, que se saiba, obteve qualquer diploma pelas Novas Oportunidades, mas houve milhares de portugueses que aproveitaram as facilidades deste sistema. Dum ponto de vista pragmático, o que interessa realmente é se Relvas é útil no Governo ou não e aí, quer se concorde ou não, quem decide é o PM, pelo menos até às próximas eleições. A manifestação de ontem foi verdadeiramente patética e mostra que a maioria dos portugueses não se interessa pelo caso ou pelo menos não acha que mereça a pena sair de casa para mostrar a sua opinião. O que me parece ridículo, para não classificar de modo mais severo, é justificar, como ouvi ontem alguém num canal de TV, o pedido de demissão do ministro por ser alvo de chacota e anedotas nas redes sociais. É um novo tipo de justiça popular adaptado à vida moderna!

sábado, 14 de julho de 2012

Hollande e Peugeot- Citröen

François Hollande ficou preocupado, segundo parece até chocado, com o anúncio do plano de redução de custos da PSA (Peugeot-Citröen) que implica o despedimento de 8000 trabalhadores em França e o encerramento da fábrica de Aulnay-sous-Bois, tendo considerado o acto "inaceitável" e acrescentado que "o Estado não o permitirá". Resta saber que poderes tem o Estado para impedir uma empresa privada de despedir trabalhadores no âmbito dxe um plano de reestruturação.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Médicos

Parece que a greve dos médicos está a ser um grande êxito. As imagens da televisão confirmam isso: Entre outros vimos os médicos Garcia Pereira, Arménio Carlos e Ana Avoila na manifestação frente ao Ministério da Saúde.

Espiral recessiva?

Segundo a teoria da espiral recessiva, austeridade cria recessão, recessão faz diminuir o consumo e provoca desemprego, estes factores aumentam as dificuldades financeiras e causam mais austeridade, criando-se assim um ciclo autoalimentado que só pode acabar por sucessivos agravamentos da crise. A lógica parece imbatível, mas a realidade desmente este encadeamento. A ser verdade estarmos a cair numa espiral recessiva, se este ano se prevê uma queda do PIB de 3%, para o ano seria de esperar uma queda ainda maior e no ano seguinte ainda mais e assim por diante, até que o BE tivesse maioria, formasse governo e dissesse: "Não pagamos!" ou o PCP conseguisse instrumentalizar o descontentamento e comandasse a revolução proletária. Porém não é isso que se prevê. Ou as entidades que apresentam previsões se enganam todas, incluindo o Governo, que pode ser movido por interesses políticos, mas também o BdP, a UE e a OCDE, ou não há qualquer espiral. O PIB não deve cair mais em 2013 do que neste ano, pelo contrário não se prevê mesmo que continue a diminuir, o défice deverá melhorar, as exportações devem continuar a crescer e a balança comercial com o exterior poderá, pela primeira vez desde os anos 40 do século passado, vir a estar equilibrada. Claro que o desemprego ainda deve continuar a crescer, já que apresenta sempre um desfasamento em relação aos factores financeiros, mas se os sinais positivos se confirmarem poderemos prever que a prazo também aí deverão verificar-se melhoras.

domingo, 1 de julho de 2012

São Pedro na Afurada

A festa de São Pedro na Afurada atraiu multidões. Outras comemorações de santos também têm tido grandes afluências. E são também multidões de muitos milhares que acorrem a concertos e eventos desportivos. Parece que os portugueses se deixam mobilizar para o que lhe interessa apesar da crise. Voltando à festa na Afurada, um organizador comentava que, além dos mecenas, o dinheiro necessário foi recolhido entre a população, que contribuiu, apesar da crise, referindo que até uma senhora que tinha como rendimento uma pensão de 200 e tal euros não deixava de contribuir com 1 € por semana para a festa. Extraordinário. Porque será que as manifestações dos indignados, dos desempregados, dos CGTPistas e dos comunistas não conseguem esta participação?

Depois dos fatos, temos os jatos

O Acordo Ortográfico, a que prefiro chamar aborto ortográfico, porque é um verdadeiro aborto e porque não merece ser escrito com maiúsculas (ao contrário dos nomes dos meses), já é suficientemente mau, na minha modesta opinião. Mas pior é a tendência para abastardar a ortografia para além do que o aborto ortográfico manda, com reflexos na própria pronúncia das palavras. Já aqui referi a tendência para falar em fatos, que em português europeu (e suponho que africano) são trajes masculinos, quando se pretende referir factos. Hoje li num rodapé do noticiário da SIC "A Turquia envia jatos e helicópteros para a fronteira da Síria." Ora sempre ouvi pronunciar "jactos", quer para os aviões com motores a jacto, quer para referir um jorro impetuoso de um fluido. Aliás tanto o velhinho dicionário de Cândido de Figueiredo como o recente (mas felizmente anterior ao aborto ortográfico) Houaiss apenas referem "jacto" e não "jato".  Relembro que a Base IV, 1.º b do Acordo Ortográfico (que no caso desta Base merece o nome e as maiúsculas) estipula a conservação do c e do t antes de uma consoante quando são pronunciados. Portanto aguentem lá o jacto.

Em alternativa, recomendo à SIC que, se elimina consoantes não mudas por antecederem uma consoante, escreva "A Turquia envia jatos e helicóteros para a fronteira da Síria".