domingo, 30 de abril de 2017

Criticar Trump sob qualquer pretexto

Trump foi duramente criticado pelas suas promessas como candidato e como presidente eleito. Parece que nada do que prometeu se aproveitava. Agora, aos 100 dias de reinado, é novamente criticado com dureza por não cumprir a maioria das promessas. Isto parece-me profundamente paradoxal. Claro que Trump e as suas ideias são criticáveis e mesmo eu, que de política americana percebo muito pouco, não estou de acordo com muito do ele tem dito e com o modo como o diz. Não gostar de Trump é natural, eu próprio não gosto do seu estilo, mas haja coerência. Se prometeu coisas erradas e não cumpre, deveria agora receber elogios e não mais críticas.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Mais mulheres e copos

Para grande admiração minha, o assunto da declaração de Dijsselbloem sobre alegados gastos em mulheres e copos, que provocarão necessidade de depois pedir dinheiro, continua na ordem do dia. Parece-me que os ilustres deputados europeus têm pouco que fazer para ainda perderem tempo com esta questão. Custou-me, principalmente, ouvir Paulo Rangel a exigir mais uma vez, desta vez "cara a cara", e em voz grossa, a demissão de Dijsselbloem. Mas o que mais me admirou foi a insistência, inclusivamente por uma deputada europeia, de que a célebre frase, que afinal nem sabemos bem como foi dita, perante variadíssimas versões publicadas e ainda mais traduções, para além duma ofensa aos países do Sul, que nem foram referidos, incluiria também uma ofensa às mulheres, numa atitude sexista. Ora vamos a factos: É um facto que há homens que gastam dinheiro com mulheres. Para além dos que gastam dinheiro com as respectivas esposas legítimas, o que é fácil de explicar dado as estatísticas mostrarem que os homens ganham (injustamente) mais do que as mulheres, é indesmentível que há homens que gastam dinheiro com outras mulheres, por vezes muito mais dinheiro. Dizer que isto acontece não é ofensivo para as mulheres. Acontece, pode ser considerado bom ou mau, mas acontece. Também há homens que gastam dinheiro em copos, mas não é isso que interessa agora. Considerar que quem assim gasta o seu dinheiro não tem desculpa para depois pedir dinheiro emprestado é perfeitamente natural. Portanto deixem Dijsselbloem acabar em paz o seu mandato e gastem o seu precioso tempo em tratar de problemas mais importantes para a Europa, que não faltam e é para isso que nós lhes pagamos.

domingo, 23 de abril de 2017

França: alguém ganhou?

Sim, a conclusão da 1.ª volta das presidenciais francesas é que a derrota que tem perseguido as sondagens em várias eleições em vários países foi finalmente derrotada. Quem ganhou foram de facto as sondagens, mais ninguém. A vitória foi das sondagens.

sábado, 22 de abril de 2017

Estabilidade e pacificação

Marcelo Rebelo de Sousa continua a sua cruzada de sossegar os portugueses. De um optimismo irritante (embora só reconheça o "optimismo" e não o "irritante"), contagiado por certo pelo Primeiro Ministro, apregoa a sua confiança e mesmo felicidade perante a ínfima boa notícia, mas cala qualquer mínima referência a problemas, fracassos ou dificuldades. Vá lá, desta vez, depois de incutir esperança na audiência juvenil do 15.º Encontro Nacional de Associações Juvenis, reconheceu: "Não é que não haja aspectos negativos a corrigir, não é que não haja erros, fracassos, mas há sucessos e vocês devem liderar a luta por esses sucessos". Na minha modesta opinião seria mais prioritário que os jovens colaborassem no combate aos erros e fracassos. Mas o que me chocou mais nas declarações do PR foi a afirmação de que "estamos a viver em Portugal, um momento ... de estabilidade e pacificação", que o Jornal de Negócios decidiu, e bem, puxar para título da notícia.

Estabilidade, com os apoios de esquerda do Governo a ameaçarem todos os dias a sobrevivência da geringonça? Claro que todos sabemos que estas ameaças não são, por enquanto, para levar a sério, porque os partidos de esquerda radical, seja estalinista, seja trotskista ou maoista, não vêem ainda vantagem em precipitar uma crise. Mas esta estranha estabilidade é, afinal, a estabilidade do funâmbulo, sujeito a cair se houver um descuido ou um abanão. Além disso, apesar da alegria que o nosso PR encontra no nosso crescimento anémico, nas pequenas variações favoráveis do desemprego, das exportações, do investimento, estes indicativos não são ainda suficientemente firmes para os considerarmos estáveis. Além de erros e fracassos, MRS deveria ter mencionado os perigos, que os há e têm sido denunciados, embora não com o relevo suficiente, já que a comunicação social não gosta de assustar o povo.

Quanto à pacificação, penso que o PR se referia apenas à arena política, já que na social e especialmente na cena desportiva, em particular no futebol, nunca estivemos tão longe de um clima de paz. E todos sabemos que a redução drástica de número de manifestações, greves  e reclamações de rua, o que não significa ausência, se deve apenas à táctica do PCP  e da CGTP de dar uma aparência de calma a fim de não criar, de momento, dificuldades ao PS e ao Governo. No fundo não há mais paz real do que a que havia durante o resgate e a austeridade imposta pela troika. A austeridade que aí vem, é tão bem disfarçada que talvez não provoque manifestações violentas, mas daí concluir que os portugueses não sofrem com ela é um erro grave.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Macron = Dijsselbloem?

Ainda se vão ouvindo ecos da indignação quase geral, a que não me associei (e não fui o único), que as palavras de Dijsselbloem provocou quando disse que quem gastou o seu dinheiro em copos e mulheres não pode depois andar a pedir dinheiro aos outros. Ainda hoje li que António Costa continua a pedir a demissão do Presidente do Eurogrupo e já tem sugestão para o sucessor preferido para o cargo (que ainda não está vago). Mas que dizer das palavras ouvidas há pouco pelo candidato e provável futuro Presidente da República de França, Emmanuel Macron? Na longa entrevista em que respondeu às perguntas de Paulo Dentinho, foi muito claro quando questionado sobre a sua posição perante as propostas de mutualização das dívidas dos estados da Zona Euro. Disse, em suma, que não era a favor da mutualização das dívidas passadas, quando muito das dívidas que se viessem a criar futuramente depois de mecanismos financeiros adequados. E porquê? Porque não seria possível explicar aos contribuintes dos países que não têm dívidas acima do limiar permitido que iriam pagar pelos outros. E questionou mesmo como iria um político alemão dizer aos cidadãos da Alemanha que, depois do esforço que tinham feito para ter finanças sãs, iriam pagar as dívidas "dos que nada fizeram". Não só li a legenda como ouvi perfeitamente "ceux qui n'ont rien fait". Oh senhor Macron, então os portugueses não fizeram nada? Passaram os 4 anos da troika a preguiçar? Isto é tão ofensivo como dizer que gastámos em copos e mulheres. Não sei se António Costa viu a entrevista, mas, na impossibilidade de pedir a demissão de Macron, deve recomendar que ninguém vote nele, mesmo com perigo de facilitar a ascensão de Marine Le Pen à presidência.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Soma de vitórias

A SIC vai fazer uma entrevista a Passos Coelho. Vai ser transmitida na Quarta-feira e tem sido anunciada com frequência. O anúncio da entrevista tem sido feito em termos no mínimo controversos: Apresenta o entrevistado como estando "cada vez mais isolado". Não é uma apreciação inédita, já a tenho ouvido de diversas fontes, mas não me parece que seja um facto que possa ser assim dado como provado e a primeira característica de Passos Coelho. Uma coisa é a apreciação por comentadores políticos que terão a sua opinião fundada ou não. Outra coisa é um anúncio de uma entrevista que deve ser feito em termos factuais, independentes e não sujeitos a opiniões particulares. Passos Coelho está "cada vez mais isolado"? Isolado de quem? Da opinião pública ou dos barões do próprio partido? Está sujeito a críticas, como todos os dirigentes políticos, mas não são tão universais que o condenem ao isolamento.

Outra afirmação do mesmo anúncio da futura entrevista refere-se à dificuldade que Passos deverá ter para criticar o Governo, pois, segundo a jornalista, está "perante um Governo que soma vitórias"! Quais serão as "vitórias" deste Governo? Ter conseguido um défice de 2,1%? Vitória ou truque mal escondido, como está amplamente provado? Ter conseguido baixar a taxa de desemprego? Limitou-se a deixar correr a tendência que já vinha desde 2014 e que acompanha a da UE e da Zona Euro. Ter acabado com a austeridade? Tanto a esquerda radical que apoia o Governo como a oposição de direita contestam, com apoio em números, que a austeridade tenha acabado ou sequer diminuído. Conseguir um aumento do PIB tanto em 2016 como se prevê em 2017? Quando se verifica que estes crescimentos anémicos representam uma desaceleração em relação a 2015, onde está a vitória? Fazer com que a dívida pública continue a aumentar? Neste caso trata-se não só de uma derrota como de uma deriva que terá graves consequências para o futuro do País.

Vá lá: a jornalista acrescenta que Passos é "impiedoso nas críticas". Ao menos não o acusa, como alguns, de falta de combatividade.

sábado, 1 de abril de 2017

1 da Abril

Fiquei deveras espantado quando esta manhã soube da notícia de 1.ª página do Expresso, prontamente repetida por todos os noticiários, de que Centeno fora sondado para assumir o cargo de Presidente do Eurogrupo, substituindo Dijsselbleom. Só depois me lembrei de que hoje é 1 de Abril...