quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A garrafa de Lisboa é inglesa

A EPAL teve a ideia de convidar o arquitecto Álvaro Siza Vieira a desenhar uma garrafa que evocasse a "história e o património de Lisboa", como homenagem às "matérias primas [a]os artistas nacionais. Boa ideia, sem dúvida. O desenho da garrafa é inspirado "na Torre de Ulisses, fundador lendário da cidade". Talvez a EPAL se refira ao Ulisses de James Joyce e não ao herói grego, só assim se poderá justificar que alguém, não sei se da EPAL ou o próprio Siza Vieira, tenha pensado que era apropriado dar à garrafa um nome inglês: Lisbon Soul. Assim talvez tivesse sido mais lógico que a garrafa evocasse a história e o património de Londres ou mesmo de Dublin em homenagem às matérias primas e aos artistas ingleses ou talvez irlandeses. Ou, mais prosaicamente, alguém pensou que seria mais conveniente apostar no mercado dos turistas ou até da exportação e um nome em português seria mesquinho. Já agora, porque é que a EPAL não passa a vender water aos seus clientes, Lisbon water.
Não cobro nada pela ideia.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Tanta pressa porquê?

As eleições para o novo Presidente do PSD decorreram no último Sábado, dia 13, no 1.º dia do fim-de-semana, período de merecido descanso. Hoje é, portanto, o primeiro dia útil após a eleição de Rui Rio, que não teve tempo para fazer contactos para quaisquer alterações de órgãos dirigentes do partido. Como é presidente eleito, mas só tomará posse depois do Congresso, que apenas decorrerá daqui a um mês, não é exigível que comece já hoje com quaisquer iniciativas. Mas parece que os barões e baronetes do partido e vários politólogos não pensam assim e todos decidiram dar sugestões, quase exigências, sobre o que Rui Rio deve fazer e até do que já deveria ter feito. Como se estas sugestões e quase exigências não fossem suficientes, sugere-se ainda que os titulares de cargos no Partido tomem eles próprios a iniciativa que, pensam, se impõe após e vitória de Rio. Marques Mendes abriu logo no Domingo o espectáculo declarando que Hugo Soares deveria pôr o lugar à disposição, logo imitado por Manuela Ferreira Leite. Qual é a pressa? E põe-se a questão, que parece não aflorar aos neurónios de Mendes nem de Ferreira Leite: pôr o lugar à disposição de quem? O lugar de Hugo Soares como Presidente do grupo parlamentar do PSD, é de escolha do dito grupo parlamentar. Ora o Presidente do partido mudou ou mudará no próximo congresso, mas os deputados que formam o grupo parlamentar não mudaram nem se prevê que mudem até lá. Portanto ou todos colocariam o seu respectivo lugar à disposição dos eleitores, os que os elegeram, o que é impossível, ou então não tem sentido mudarem de opinião por irem mudar de Presidente. Claro que toda a gente sabe que as escolhas dos deputados são influenciadas, quando não comandadas, pela direcção política, mas também se dá o caso de que esta ainda é a mesma. Por estas razões parece-me que Mendes e Ferreira Leite se apressaram demasiado. Deixem Rui Rio decidir, falar e, principalmente, tomar posse, e dêem então as sugestões que quiserem, mesmo as que não tenham qualquer cabimento.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Notícias de 1623

Não é uma notícia recente, muito menos de última hora, mas não deixa de ter actualidade nos dias de hoje. Leio em "História de Portugal por datas", Temas e Debates, 3.ª edição, 2000, a seguinte notícia: "1623 [31 de Janeiro] Carta de lei que estabelece que os funcionários públicos devem proceder à declaração de bens." Já havia, portanto, a preocupação de vigiar o enriquecimento não justificado dos titulares de cargos públicos e, mais do que agora, mesmo de todos os funcionários públicos! Note-se que isto acontece durante a dinastia filipina. Não sei se esta medida se manteve depois da restauração.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O pior

O pior não é uns deputados, na verdade a grande maioria deles, terem cozinhado uma lei às escondidas, aprovando-a disfarçadamente num dia em que pensavam que todas as pessoas estavam distraídas e não davam por isso. O pior não é terem aprovado essa lei para permitir que os partidos se pudessem financiar à fartazana e sem limites. O pior não é arrogarem-se o direito de isentar os respectivos partidos de pagar IVA. O pior não é não terem a noção de que havia um claro conflito de interesses na aprovação dessa lei, feita para lhes facilitar a vida. O pior não é terem mentido ao afirmar que se tinham limitado a esclarecer dúvidas que a lei anterior suscitava. O pior não é os deputados que aprovaram a lei não terem tido a sequer esperteza, já não digo a inteligência, de pensar que o povo não é parvo e alguém havia de dar pelo disparate e que a aprovação pelo Presidente da República era improvável. Tudo isso é grave, é gravíssimo, mas nada disso é o pior.

O pior é que são estes indivíduos que mandam em nós, fabricando as leis que nos regem, nomeando o Governo que nos governa. Isso é que é o pior. E com estes indivíduos mais o Governo que escolhem a mandarem assim em nós não admira que o País vá tão mal como vai.