quarta-feira, 30 de junho de 2010

Cidade inteligente em Paredes

Anuncia-se o nascimento de uma cidade inteligente em Paredes. O projecto perece ser grandioso: 12000 empresas, muitos milhões de investimento, a Cisco a liderar o processo, milhares de postos de trabalho! Curiosamente o Primeiro Ministro não apareceu na cerimónia de lançamento, apenas o Presidente da Câmara de Paredes.

Mas, perante tanta fartura, fiquei desconfiado. Durante 70 anos fui sempre um optimista. Por fim, graças a Sócrates e seus seguidores, abri os olhos e tornei-me pessimista. Cada vez que o PM vitupera os bota-baixistas sinto-me visado. Mesmo perante notícias tão excitantes como virmos a ter a primeira cidade inteligente do mundo em Paredes ou irmos ser o país com mais postos de abastecimento de automóveis eléctricos de todo o mundo, desconfio e pergunto: Porquê nós? Não haverá algo de errado?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Acordo Ortográfico

Sou um dos muitos que deploram a adopção do acordo ortográfico, que acho mal negociado, inconveniente e confuso. Foi, por isso, com algum desgosto que li o editorial do último Expresso "Expresso poupa letras e adota acordo". (Como o meu corrector ortográfico ainda está - e estará porque não o vou mudar - segundo a ortografia pré-acordo, aponta erro na palavra "adota".) Mas sei que agora a mudança é inevitável e a partir de 2014 nalguns casos até obrigatória, segundo o Expresso "a nível do Governo, escolas, imprensa, empresas". Eu estou velho para mudar o modo de escrever, mas terei de me habituar ao modo de ler.
Contudo, mesmo para o Expresso, nem tudo é claro. Nos exemplos de palavras que mudam, afirma que "No Caderno de Economia ... 'despediu' as palavras que já não estavam no ativo:" e inclui a palavra 'corretor'. Ora a palavra 'corretor' usada em economia significa o profissional de corretagem, (aquele que age como intermediário em negócios particulares, especialmente aqueles que envolvem compra e venda de bens ou acções na bolsa de valores, segundo o Dicionário Houaiss) e pura e simplesmente não mudou, porque, ao contrário de 'corrector', aquele que corrige, já não tinha 'c'. É exactamente um dos casos em que a nova grafia cria palavras homógrafas desnecessariamente quando, mesmo com grafia diferente, já havia muitos enganos e confusão na pronúncia das duas palavras.

Disparates da TV

Em tempos relatei aqui alguns disparates emitidos pelos noticiários das nossas televisões, até que me cansei e acabei com a série, até porque havia coisas mais importantes a comentar. Mas hoje não resisto a contar que o jornalista do jornal da manhã da SICNotícias, ao relatar o assassinato de um político mexicano, candidato a eleições estaduais, juntamente com alguns correlegionários, afirmou de forma convicta que eram membros do "Partido Revolucionário Inconstitucional". Assim mesmo, como se fosse possível em qualquer país um partido inconstitucional concorrer a eleições. Não sou grande conhecedor de política internacional, mormente de política mexicana, mas conheço o suficiente para saber que há no México um Partido Revolucionário Institucional, que durante décadas monopolizou o poder, até ser derrotado em eleições em 2000. Que um jornalista não saiba isto é desculpável, que perante a palavra "Inconstitucional" não tenha dúvidas que o levem a confirmar, já me parece menos aceitável.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

G20

Gostaria de saber quantas pessoas se deram ao trabalho de procurar na net as conclusões da reunião de Toronto do G20. Estão disponíveis em francês e em inglês e vale a pena lê-las. Não consegui ainda encontrar qualquer referência ou comentário, como se não tivesse repercussões importantes sobre o nosso próximo futuro. Se fosse uma reunião da FIFA, seguramente que teria grande audiência e numerosos comentários.

domingo, 27 de junho de 2010

A Europa e a Formiga

A não perder no Corta-Fitas A Europa e a Formiga. Hilariante mas real.

sábado, 26 de junho de 2010

Presidente entra no clube dos botabaixistas

Os avisos do Presidente da República sobre a "situação complexa" e "insustentável" que o país vive não mereceram a atenção do Primeiro Ministro, que revelou esta manhã que não os tinha ouvido, mas mereceram de ilustres dirigentes do PS comentários negativos, como "inoportunos" e outros, e do próprio Primeiro Ministro afirmações gerais que, para quem não conhecia as palavras do PR, iam mesmo assim direitas ao alvo: "A tarefa dos políticos é exactamente essa: nunca desistir da confiança.", e "Os catastrofistas não terão sucesso... O que o país precisa é de confiança." Sócrates referiu-se ainda negativamente aos que acham que "quanto pior, melhor", o que, sendo certo que não incluiu expressamente o PR nessa categoria, foi referido em resposta a questões sobre o discurso de Cavaco, apesar de não o ter ouvido. Há portanto duas visões opostas do estado do país e das vias para sair dele. Não se vê como pode continuar a cooperação estratégica que Cavaco pretende manter até ao último dia do seu mandato. E se tiver outro mandato, ainda seguirá a mesma linha?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Maçonaria recruta

Ao folhear a separata de Economia do último número do semanário Sol, dei com este anúncio intrigante:


Como é natural, depois de ler e reler o anúncio, fiquei perdido, receando, como Poe ao abrir a porta à treva enorme (n'O Corvo, versão de Frenando Pessoa). Será que a maçonaria já se vê obrigada a recrutar os seus membros por anúncios no jornal? E vem recrutar em Portugal para a loja de Lyon? E paga, embora pouco? E o novo iniciado fica logo com o cargo de Chefe de Obra a gerir uma equipa de 5 a 8 maçons? E como se compreende que sendo a maçonaria uma sociedade secreta faculte assim a todos os leitores do Sol o seu endereço electrónico e o número de telefone? Ou será possível que, mais prosaicamente, alguém traduziu maçonnerie por maçonaria? Francamente, esta última hipótese custa-me a crer.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago, o escritor e o homem

Admito que Saramago pode ser considerado um grande escritor, que os seus livros podem ser obras admiráveis e que portanto deve merecer a admiração e a homenagem dos portugueses. Admito, mas não comungo dessa opinião. Li o Memorial do Convento e gostei. Comprei O Ano da Morte de Ricardo Reis, que tentei ler, mas não consegui passar das primeiras páginas. As restantes obras simplesmente não me interessaram pelos assuntos tratados. Mas admito que pode ser defeito meu. Portanto não critico o Prémio Nobel nem os elogios que ontem e hoje ouvi repetidos por tantas vozes. Já como homem, não comungo das palavras de admiração. As suas opiniões sobre demasiadas coisas, a começar pela sua ideia de sociedade e de nacionalidade, estão nos antípodas das minhas e certamente da grande maioria dos portugueses.

Mas para além destas considerações, mesmo que se trate de um escritor genial, parece-me que houve exageros na homenagem prestada, incluindo a declaração de 2 dias de luto, a representação oficial e principalmente o tratamento dos meios de comunicação. Eu que achava lamentável que ao ligar a TV só conseguisse ouvir falar do Mundial de Futebol, hoje só ansiava que chegassem ao fim as notícias tantas vezes repetidas do funeral de Saramago, mesmo que fosse para falarem de futebol.

Mas o que mais ridículo achei foi a alegada polémica sobre as ausências no funeral. Razão tem Pinho Cardão no Quarta República: "Não seria pois sustentável que os dois mais altos representantes da República estivessem pessoalmente presentes na despedida de alguém que preconizava o fim do Estado português e da República, integrando-o na Monarquia espanhola.
Cavaco Silva e Jaime Gama honraram as suas funções institucionais. Fizeram o que devia ser feito perante quem, deslocando a soberania, acabava com as funções. Denotaram sentido de estado. Mas, de forma idiota, são vergastados pela opinião publicada. Acontece que o pesar pela morte não pode tudo esquecer.
Cavaco Silva e Jaime Gama compreenderam bem a situação e agiram de forma irrepreensível.
"
Haja que tenha a coragem de o dizer, mesmo contra a corrente.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Agências de rating e especuladores

O Bloco de Esquerda acha que é necessário criar uma agência de notação financeira europeia pública. Mas será que os investidores a que nos vemos forçados a recorrer para que nos emprestem dinheiro confiará na avaliação feita por essa agência? Há maneira de os forçar a esquecerem a notação das agências americanas em que eles se baseiam actualmente para saber como investir?

No mesmo tom, por seu lado o PCP afirma que as agências de rating não são independentes (de quê?) e trabalham para os especuladores. A solução (como é que o Teixeira dos Santos ainda não se lembrou disso?) é Portugal passar a pedir emprestado o dinheiro que precisamos para gastarmos a mais a penas a investidores bonzinhos e honestos e não aos especuladores para quem as agências trabalham. Simples, não é?

Desde quando se aplica a taxa de 45%?

Em roda-pé as TVs noticiaram ontem que a nova taxa de 45% do IRS entraria em vigor hoje. Não me parece correcto. Apesar de a lei que cria a nova taxa entrar hoje legalmente em vigor, o que é certo é que também neste caso a taxa se aplica aos rendimentos de todo o ano, portanto a partir de 1 de Janeiro, pois também neste caso há claramente retroactividade, sem sequer haver um coeficiente de correcção.

Pão e circo

Uma pergunta simples: Que terá mais importância a curto prazo e mais influência no futuro dos portugueses a médio e longo prazo?, ou, por outras palavras: Que afectará mais a nossa vida e o nosso bem-estar: a nossa participação no Mundial de Futebol que decorre na África do Sul ou as medidas adicionais sugeridas/exigidas pela União Europeia para atingirmos em 2011 o défice a que nos comprometemos?

Estou em crer que a maior parte dos portugueses estão mais interessados, e, diria mesmo, mais preocupados, com o desempenho da nossa selecção. É natural e não se pode levar a mal. Mas que os meios de comunicação fomentem esta tendência, já me parece condenável. Pois, apesar das notícias importantíssimas que vieram ontem de Bruxelas, não só os jornais televisivos dos 3 canais de TV generalistas mas ainda 2 dos canais por cabo de notícias deram a primazia ao futebol com longas reportagens e deixaram para lugar secundário a exigência de novas medidas de austeridade para conseguir que o défice desça mais 1,5% do PIB de modo a ser possível chegar aos 4,6% em 2011. Parabéns à SIC-Notícias por ter dado ao pedido da UE a importância que merece.

Se as nossas vitórias no Mundial são duvidosas, mais dúvidas há ainda no modo como o governo vai conseguir corresponder ao pedido da UE, com ainda mais impostos, cuja carga já é asfixiante e recessiva, ou com cortes nas despesas, o que parece nitidamente muito difícil de aceitar por este governo. Felizmente o Ministro das Finanças veio imediatamente dizer que serão tomadas todas as medidas indispensáveis, não dando tempo ao PM de vir com o seu discurso optimista, como se o optimismo, ao contrário do pessimismo, criasse emprego, afirmar que não eram necessárias mais medidas. Vamos a ver como acaba a telenovela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A opinião de Mário Soares

No blog 4.ª República duvida-se se a reacção de Mário Soares sobre o apoio do PS à candidatura presidencial de Manuel Alegre será fruto do ressentimento ou acuidade de julgamento.
Penso que a afirmação pode ser fruto do ressentimento, mas a mim parece-me resultado de uma lucidez que nos últimos anos parecia faltar. Por uma vez estou de acordo com Mário Soares.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Má informação sobre IRS

Hoje entram em vigor as novas tabelas de retenção na fonte do IRS. As taxas de IRS com o agravamento previsto nas medidas de austeridade só entrarão em vigor quando aprovadas na AR, promulgadas pelo PR e publicadas no Diário da República, pelo que a data de entrada em vigor não pode ser conhecida neste momento com exactidão.

Mas os meios de comunicação -- refiro-me fundamentalmente às TVs, já que o tratamento pelos jornais só o conheço pelos títulos --, em vez de adoptarem uma postura de elucidação, resolveram na maioria das intervenções confundir as noções, referindo que as novas taxas de IRS entram hoje em vigor, dizendo que a retenção na fonte tem um aumento de 0,58%, trazendo à baila o problema da retroactividade das leis fiscais e, em consequência, da alegada inconstitucionalidade das novas taxas, como se esse problema real tivesse alguma coisa que ver com as tabelas de retenção na fonte. Em particular o tratamento pela SIC no Telejornal das 20 h foi um desastre completo, baralhando os conceitos de retenção na fonte com aplicação de novas taxas. Como desinformação seria difícil fazer melhor, quero dizer: pior. Depois das trapalhadas do Governo, não era necessária esta distorção da informação para lanças mais dúvidas na mente dos contribuintes.

Dito isto, não compreendo como ninguém se refere ao facto flagrante de o atraso da aprovação da lei que legaliza as sobretaxas de 1% e 1,5%, conforme os escalões, não condizer com os factores de 0,58% e de 0,875% para reduzir a incidência a 7 meses. Quanto mais tempo demorar a entrada em vigor da lei, mais o coeficiente a aplicar terá de ser, para ser correcto e prevenir o problema de retroactividade, corrigido para baixo. Isto independentemente do problema da falta de regularidade dos rendimentos ao longo do ano que tornará aqueles factores de correcção ineficazes. Para este último problema só uma cláusula de salvaguarda o poderá resolver, parece-me.