terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Interessa-nos a política grega?

Temos algo a ver com o que acontece na Grécia? A economia e a política grega têm algum interesse para nós? Tendo em atenção a pouca importância que a comunicação social lhes dá, parece que não. Para dizer a verdade, fiquei absolutamente surpeendido pela falta de interesse que a informação televisiva mostrou em relação à falhada eleição presidencial de hoje na Grécia. Pelas 10:30 já se sabia que o Parlamento grego não tinha conseguido eleger um Presidente da República e que portanto, de acordo com as normas constitucionais, teriam de ser convocadas eleições legislativas, havendo o perigo de o Syriza sair vencedor. Mas, nos jornais televisivos das 13 h, foi em vão que esperei que fosse dada ao acontecimento a importância que me parecia merecida. Falaram de tudo, do avião desaparecido, do navio em chamas, do "caos" no Hospital de Amadora-Sintra, das cartas trocadas entre Sócrates e Mário Soares, na operação da GNR, de futebol, do frio, de notícias repetidas desde ontem, antes de abordarem, já depois das 13:30, as eleições gregas. O primeiro canal que resolveu, finalmente, abordar o assunto, foi a RTP1. Os outros demoraram ainda mais tempo. Durante a tarde, nos canais informativos, houve referências à falhada eleição, mas pouco se aprofundou o assunto nem se referiu o perigo de a instabilidade na Grécia, se houver dificuldades em formar governo, poder ter repercussões importantes para nós. O programa do Syryza e em particular o projecto de renegociação da dívida e as consequências económicas que este projecto acarreta para a estabilidade do euro, para a economia da zona euro e em particular para os países mais endividados, entre os quais nos encontramos, não mereceu, que eu desse por isso, uma referência pormenorizada. Como se não tivéssemos nada a ver com isso.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Greve

Até que enfim que leio uma crítica fundamentada ao direito à greve tal como esse "direito" é exercido actualmente:

«O direito à greve é um anacronismo nas sociedades atuais, um resquício, uma visão ultrapassada que ignora o que é o mundo contemporâneo civilizado. A greve traduz uma visão dialética, conflituante, das relações entre o “trabalho” e o “capital”, ignorando que hoje impera o interclassismo, a economia vive integrada, e o ambiente legal e institucional é suficientemente protector do trabalho, sem que se justifique por isso o recurso sistemático e banal a um processo profundamente destruidor de valor e que é tanto mais eficaz quanto mais prejuízos causa à empresa em si e aos clientes e utentes que dela dependem.
  1. A greve tornou-se infelizmente mais uma ferramenta política dos sindicatos-reféns dos partidos políticos da esquerda, e menos um mecanismo de defesa real dos interesses legítimos dos trabalhadores.
  2. Não deixa de ser relevante que a greve praticamente tenha desaparecido da realidade das empresas privadas, ao mesmo tempo que se tornou um expediente banal no sector público (incluindo empresas públicas). Hoje, em Portugal e em todo o mundo civilizado, impera um ambiente económico em que a empresa se faz, não de relações de conflito, mas de cooperação – uma cooperação por vezes difícil, é certo, mas sempre, de cooperação – entre accionistas, gestores, trabalhadores, clientes e fornecedores, numa teia complexa e multilateral. Muitas empresas em Portugal, que se encontram em dificuldades, são bons exemplos de como a cooperação, por vezes tensa, é certo, é a única saída, por vezes exígua, para a solvência. A destruição de valor não é hoje alternativa para ninguém, que não para alguns agentes sindicais e trabalhadores do setor público, uma ideia obsoleta que persiste nas cabeças da esquerda mais radical – que em Portugal continua a ser mainstream.
  3. Nas empresas públicas, no sistema educativo, nos hospitais, a greve continua a merecer um “carinho” especial por parte de “sindicatos-partidos” e dos que dormem no seu regaço. A greve, diga-se sem rodeiros, não é mais do que uma forma de causar atrito em favor de agendas políticas da esquerda, traduzindo-se num mecanismo agressivo de extorsão da sociedade que tem de pagar os custos da sua banalização – pois não há almoços grátis, todos pagamos, do nosso bolso, os custos das greves dos trabalhadores do metro, da TAP, dos professores, dos profissionais de saúde. Até ao dia em que não haja mais dinheiro para pagar, ou empresas viáveis para financiar. A TAP pode bem vir a tornar-se num primeiro exemplo deste fim-de-linha, dada a falência iminente, e o risco real de não haver quem a queira comprar
Visto n'O Insurgente, escrito por Rodrigo Adão da Fonseca.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

TAP

O Governo informou hoje que irá decretar a requisição civil do pessoal da TAP indispensável para manter as condições de funcionamento pleno durante os dias para os quais os sindicatos anunciaram a greve. Logo se ouviu um coro de críticas de toda a oposição e de muitos comentadores, politólogos e outros cidadãos. Mas que esperavam? Que o Governo esperasse impávido e não actuasse deixando derreter milhões de euros da empresa e da economia nacional? O sector do turismo é fundamental para o nosso desenvolvimento. As famílias e os emigrantes não mereciam serem impedidos de viajar normalmente numa época de tanto movimento como é o período entre o Natal e o Ano Novo. A má fé dos sindicatos ficou bem patente nos 10 pontos das suas reivindicações. É evidente que se essas reivindicações fossem incluídas nas condições de privatização, não apareceriam interesados em adquirir a companhia. A imposição de só dialogarem se o Governo suspendesse a privatização mostra bem que não tinham uma verdadeira vontade de chegar a qualquer acordo. Perante esta situação, se o Governo nada fizesse, mostraria uma incapacidade de resolver os problemas que pesaria fortemente na opinião pública. Para situações tão extraordinárias, impõem-se soluções extraordinárias. Só nestes últimos dias tivemos greves no Metro de Lisboa e na Refer, com consequências graves, mas não tão graves como as que resultariam da greve da TAP. Já basta.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Não é um cidadão qualquer

Segundo António Campos, um dos fundadores do PS, Sócrates não é um cidadão qualquer, é um símbolo da democracia, e portanto não deveria estar preso. Claro que a Constituição deveria ter uma disposição que excluia os símbolos da democracia de serem presos; isso é para os cidadãos vulgares. Há cidadãos sem classificação e os outros que não são cidadãos quaisquer e que merecem tratamento especial.

Campos está no direito de pensar que Sócrates é inocente, mas certamente que concordará que cabe à justiça determinar se o é ou se é, pelo contrário, culpado. Campos pode considerar que a prisão preventiva que foi imposta a Sócrates é injusta e injustificada; até não está sozinho nesta opinião. Mas se de facto for assim, não é por ter sido primeiro-ministro e eleito por milhões de protugueses nem por não ser um cidadão qualquer. Terá de haver razões de direito para justificar ou injustificar essa medida de coacção. Campos recordou que não é jurista, mas basear a sua opinião na pretensa impunidade de um ex-primeiro-ministro por lhe atribuir uma categoria acima do cidadão qualquer é uma discriminação que repugna mesmo aos não juristas.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Manifestações de mau gosto

A CGTP decidiu que não deixa Passos Coelho aparecer em público sem fazer uma manifestação de desagrado. E continua nessa senda apesar de cada vez juntar menos gente e as manifestaçõezinhas se teram transformado numa demosntração da sua falta de força. Mas além disso continua também a não ter a noção da decência. Uma coisa é a luta política e, como a CGTP e a sua central de comando, o PCP, não concordam com a política deste Governo, é lógico que tenham palavras de ordem e cartazes com dizeres que não são agradáveis para o dito Governo. Outra coisa é a falta de educação e o mau gosto. Em várias manifestações tem-se visto um coelho esfolado pendurado dum pau. Agora, no Porto, quando Passos foi à inauguração da Igreja dos Clérigos renovada, lá estava um grupinho de cerca de duas dezenas de manifestantes. Um grupo ostentava uma faixa onde se lia em grandes carácteres: "PASSOS RECORDA TEMOS UMA CORDA".  Que mau gosto. Claro que pode não ser a CGTP a autora destas faltas de educação, mas como ocorrem nas manifestações que convoca torna-se corresponsável.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A melhor defesa é o ataque

Já estou farto de tanto ouvir só falar em Sócrates. Estávamos tão descansados há anos só sabendo dele por vagas referências e a apreciar a distância, eis que se tornou de repente o centro de todas as atenções. Mas apesar de farto, não resisto a comentar algumas das afirmações do ex-primeiro-ministro que mais me impressionaram.

Sócrates tem sido pródigo em mensagens por diversos meios. Como animal feroz que é, tem reagido à falta de liberdade usando abundantemente de uma das poucas liberdades que lhe restam: Protestar por telefone e por escrito, expondo as suas razões, mas principalmente atacando pessoas e instituições de forma violenta, como na longa carta que enviou ao Diário de Notícias. Nesta acusa "os políticos" de serem cobardes. Parece que não reconhece excepções, nem sequer para os seus correlegiolérios, os seus camaradas de partido, os seus amigos ou os que amavelmente o têm visitado. Diz "os políticos" e nem se exclui a si mesmo, ou talvez já não se considere um político. Ataca também jornalistas, mas aí reconhece que são só "alguns jornalistas" e apenas como cúmplices. Isto, apesar de os seus defensores protestarem veementemente contra o cerco mediático e a condenação na praça pública que os meios de comunicação têm promovido, segundo eles. Ataca também "as faculdades" e "os professores de Direito", que considera "cínicos", não reconhecento, neste caso também, qualquer excepção. Francamente não sei bem que mal lhe fizeram "os professores de Direito". Chega a falar na "impunidade de quem comete estes crimes"! Mas os crimes a que se refere não são bem definidos, pelo menos no que pudemos ler da carta.

Sócrates reage à prisão como sempre tem reagido perante as críticas e as dificuldades: atacando. Não sei se o faz porque ainda tem ambições políticas. Se não as tivesse, que lhe importariam as notícias, as alegadas condenações na praça pública, as fugas de informação? Mas talvez seja só por instinto de defesa, já que não pensa, certamente, que com estas mensagens possa influir minimamente no curso da justiça. E para o animal feroz, a melhor defesa está no ataque.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Liderança hexacéfala

Não sei se a palavra hexacéfala existe. Pelo menos o meu corrector (não corretor) de Português de Portugal aponta erro. Mas segundo as regras da numeração, ao "uno", "bi", segue-se "tri", "tetra", "penta" e "hexa", qualquer que seja a segunda parte da palavra. Pois, exista ou não a palavra, é a melhor forma de designar a nova liderança do Bloco de Esquerda. Passaram de liderança louçã, para liderança bicéfala e, quando alguns, entre os quais me incluo, previam uma liderança tricéfala, à Cérbero, aparece-nos este monstro:


É tão raro que foi difícil conseguir uma imagem de qualquer ser de seis cabeças. Após aturada pesquisa na net, depois de muitos bichos reais ou imaginários com 3, 4 e 7 cabeças, consegui finalmente e logo encarnada num dragão. O BE é mesmo um partido muito original. Felizmente, só concorreram 6 moções no Congresso. Se têm aparecido, por exemplo, 24 moções, calculem como seria a imagem do Direcção Política.