terça-feira, 30 de julho de 2013

Humor malgré lui

Visto n'O Insurgente:

«Esta silly season não tem precedentes
Então as acusações de José Sócrates sobre “não dizer a verdade” e dizer “falsidades” são notícia na secção de Economia e não nas secções de Humor ou Insólito?»

Jerónimo e a luta do povo

Jerónimo diz que «se hoje este Governo está mais isolado isso deve-se não às suas contradições internas mas fundamentalmente à resposta de luta que os trabalhadores têm dado ao longo destes meses». É preciso ter prosápia. Jerónimo sabe que as movimentações de massas que o PCP e a sua correia dxe transmissão, a CGTP, têm promovido conseguem reunir cada vez menos manifestantes. Sabe também que, embora as sondagens mostrem uma grande erosão eleitoral do PSD desde as últimas leições e mais recentemente também do CDS, nas últimas sondagens que têm vindo a público a soma das intenções de voto no PSD e no CDS aproxima-se mesmo assim de um terço do eleitorado (Pitagórica, 2 de Julho: 32,8%; Eurosondagem, 10 de Julho: 33%; Aximage, 11 de Julho: 33,8%), inferior mas perto dos números do PS e muito superior às votações no partido de Jerónimo, ou melhor, na coligação defendida por Jerónimo, já que o PCP nunca concorre isolado (respectivamente 13,2%, 12% e 10,5%). Gabar-se de ser "a luta dos trabalhadores" que tem "isolado" o Governo, quando o PCP está muito mais isolado, é querer enganar quem o ouve.

domingo, 28 de julho de 2013

Álvaro

Foi com tristeza que soube que o Ministro Álvaro Santos Pereira deixou o executivo. Sempre o considerei um dos melhores ministros, apesar dos ataques e acusações de ineficiência que surgiram quase logo após a tomada de posse e continuaram até a demissão. Já o conhecia pelo que escrevia no blog Desmitos, que espero retome agora. A sua acção foi muito positiva, mas quase ignorada por completo. As palavras de reconhecimento que recebeu quando cessou funções foram raras. Mas uma foi, na minha opinião, muito justa e oportuna: a palavra "injustiçado", como se escreveu no Blasfemias. Não resisto a transcrever um pequeno trecho:

«Na realidade, Santos Pereira até fez muito: várias reformas legislativas no sentido de descomplicar o impulso económico. Desde um novo Código das Insolvências, passando pelas mudanças e reformas na Contratação Pública, concorrência, associações profissionais (se bem que, nestes domínios, com o “impulso – exigência”, da própria União Europeia e da “troika”), passando por aspetos do arrendamento urbano e do trabalho, por exemplo. Claro está que este tipo de medidas (quer se goste ou não delas) marcam mais quem as estuda e com elas trabalha do que a imprensa, sempre à procura desse estranho critério da “relevância política” que, muitas vezes, mais não é do que o da atratividade para os título de jornais.

Santos Pereira foi também o protagonista, pelo lado do Governo, da primeira grande vitória “política” deste: o acordo alcançado e depois desbaratado pelo Governo, na concertação social.
»



Mas vale a pena ler na íntegra.

Só é pena que Álvaro Santos Pereira não tenha tido o fair-play de comparecer na cerimónia de posse do seu sucessor, Pires de Lima. Por muito graves que tenham sido os ataques que este lhe tenha feito (e que na maior parte desconheço, mas tenho visto referidos), foi um gesto pouco elegante, uma forma desagradável de acabar a sua participação no Governo.

De qualquer forma, espero que volte à sua cátedra no Canadá e que a experiência o possa ter enriquecido alguma coisa.


sábado, 27 de julho de 2013

Títulos tendenciosos

É frequente encontrarem-se em alguns dos nossos jornais títulos que dão um determinado sentido à notícia, muitas vezes para lá do próprio texto noticioso. Um exemplo flagrante é o título de 1.ª página do jornal i de hoje onde, a toda a largura da página e sobre fundo vermelho, o que o realça, se pode ler: "Reforma do IRC transfere 1200 milhões do Estado para as grandes empresas em cinco anos". Não li a notícia respectiva e portanto neste caso não sei se é só o título que é tendencioso ou toda a notícia. Mas a redacção tem o intuito de transformar uma baixa de imposto numa transferência do Estado para as empresas, e, para tornar esta acção mais odiosa, refere expressamente que é para "as grandes empresas". Mas afinal, por esta reforma, o Estado deixa de receber, mas não transfere nada. Para mais, esta baixa do IRC será compensada por um aumento da tributação dos rendimentos de dividendos. A haver transferência, será portanto dos capitalistas para as empresas. Se ou quando se der uma baixa do IRS, será que o i também noticiará como uma transferência do Estado para os cidadãos? Aqui está como uma reforma considerada geralmente como um factor de promoção do investimento e portanto do crescimento é anunciada como uma transferência que empobrece o Estado. Além disso é dado como um favor às grandes empresas. Será que as pequenas não vão também beneficiar da baixa do IRC? Até agora nada do que veio a público indica que só as grandes venham a ganhar com esta reforma.

A esquerda escolhe novos alvos

Tanto o caso dos swaps como o dos antecedentes na SLN são os exemplos mais recentes de como a esquerda escrutina ao pormenor o passado dos governantes para escolher os seus alvos.

O Blasfémias fala do primeiro em "O novo ódio da nomenclatura":

«Maria Luís Albuquerque é o novo ódio de estimação da nossa nomenclatura. Percepcionam correctamente que ela é o principal obstáculo entre eles e a despesa pública. O episódio de ontem dos emails sobre os swaps é revelador. Maria Luís Albuquerque tinha dito que nenhuma informação relevante sobre SWAPS tinha sido passada na transição de pastas. Surgem agora estes emails, que a própria Maria Luís Albuquerque pediu depois da transição de pastas, para provar que a informação foi passada na transição de pastas e que Maria Luís Albuquerque mentiu. A forma instintiva como a nomenclatura se coordena espontaneamente para perseguir quem se lhes opõe é fascinante. É também interessante ver quem faz de idiota útil e vai atrás

Mas o segundo caso é ainda mais flagrante: O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, é acusado de ter tido um cargo dirigente na Sociedade Lusa de Negócios, como se esta relação, só por si, fosse impeditiva de integrar o Governo. Ora a SLN não foi condenada por nada, não foi acusada de nada e não foram encontrados factos ou indícios que valessem uma investigação. Ter trabalhado na SLN parece equivalente a ter lepra: é preciso menter as distâncias.

Alta velocidade

O trágico acidente de comboio perto de Santiago de Compostela tem sido objecto de horas e horas de notícias com milhares de informações de pormenores, mas há aspectos que não se compreendem. O comboio Alvia Madrid - Ferrol é, segundo as notícias, considerado um "comboio de alta velocidade". Ora o acidente deu-se alegadamente por ter feito um curva, onde o limite de velocidade é de 80 km/h, a mais de 200 km/h. Ainda ninguém esclareceu qual é a velocidade máxima deste tipo de comboios fora de curvas tão apertadas como a do local do descarrilamento. Mas as referências a afirmações do maquinista em que se vangloriava de circular a mais de 200 km/h não referiam se se tratava também de velocidade na curva fatídica ou se esta velocidade é demasiado elevada para todo o percurso. Uma imagem que o maquinista teria inserido na sua página do facebook mostra um velocímetro em que o máximo na escala é da ordem de 200 km/h. Qual será então a velocidade normal para este comboio, fora das curvas apertadas como aquela?

A noção que eu tinha de comboios de alta velocidade correspondia a velocidades muito superiores. O TGV francês corre normalmente a 320 km/h e os TGVs podem viajar também em linhas tradicionais à velocidade máxima normal dessas linhas com um limite de 220 km/h. (pt.wikipedia.org/wiki/TGV). Além disso, o alfa pendular Lisboa - Porto da CP atinge uma velodidade máxima de 220 km/h [pt.wikipedia/wiki/Alfa_pendular_(CP)] e não é considerado um comboio de alta velocidade. O projecto do Governo Sócrates para a linha Lisboa - Porto era fazer uma linha nova de alta velocidade para reduzir o tempo de viagem em 30 minutos. Aliás a definição que conheço de "comboio de alta velocidade" define-o como ciirculando a velocidades "excedendo os 250 km/h (pt.wikipedia.org/wiki/Comboio_de_alta_velocidade).

A resposta às minhas dúvidas vem novamente da Wikipédia, pelo menos parcialmente. Os comboios de "Alta Velocidad Española" (AVE) têm como máximo de velocidade os 320 km/h (es.wikipedia.org/wiki/Alta_Velocidad_Española). Os comboios Alvia, como o Madrid - Ferrol, circulam a uma velocidade máxima de 250 km/h e utilizam em parte o percurso das linhas de alta velocidade e de linhas convencionais no resto, adaptando a largura entre rodas à bitola ibérica ou europeia conforme a linha (es.wikipedia.org/wiki/Alvia). Não é portanto um "comboio de alta velocidade". Porque razão a nossa comunicação social lhe chama "comboio de alta velocidade" e não refere se a velodidade de 200 km/h é aceitável fora das curvas pronunciadas como a do acidente? Porque os jornalistas não têm dúvidas e se as têm não se dão ao trabalho de perder uns minutos para investigar, nem sequer na Wikipédia.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Quanto custa o programa de Seguro

Mais uma vez, aproveito o que li no Corta-Fitas:

«Os Verdadeiros e Legítimos Reaccionários
por José Mendonça da Cruz, em 22.07.13
 

Conhecido o grau de irresponsabilidade daquilo a que o Partido Socialista chama «propostas alternativas», foi José Gomes Ferreira quem (perante o incontido desconforto de António José Teixeira, que logo convidaria Seguro para uma entrevista) as explicou melhor, na Sic: o PS defendia cortes de apenas 2 mil milhões; seguidos de aumento de despesa e diminuição de receita de 2 mil milhões (mediante coisas como a subida de salários, a reposição das pensões, o congelamento das saídas na função pública, o abaixamento do IVA da restauração). Ou seja, o PS quereria governar como se houvesse dinheiro, como se não estivéssemos ainda a pagar penosamente as consequências do desgoverno socialista, como se não estivéssemos mergulhados num gravíssimo problema de défice e dívida.

A explicação de Gomes Ferreira é, além, de verdadeira, claríssima. Terá sido por isso que nenhum  outro jornalista repegou nela, preferindo ouvir sucessivamente um partido e outro, fingindo que a responsabilidade pelo fracasso do acordo de emergência cabia a todos por igual. Nenhum quis fazer as contas que Gomes Ferreira fez, inquirir o PS sobre o valor das suas «alternativas», avaliar se elas seriam viáveis sem agravar o desastre. Preferem assim: estar distraídos, não fazerem contas, não saberem nada. Assim, já podem dizer que as acusações contra o PS são mera parte de um «jogo de ping pong de culpas».


Absolutamente certeiro. Foi o que eu pensei quando ouvi José Gomes Ferreira confirmar com números o que eu tinha suspeitado ao ler o documento do PS que se deveria destinar a um contributo para o "compromisso" mas que tinha por fim evidente matá-lo à nascença.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Não, não voltámos à casa inicial

Perante a derrota do compromisso de salvação nacional, Cavaco saiu-se muito bem. Explicou em poucas palavras mas num discurso lógico que a tentativa de compromisso tinha vantagens, lamentou a impossibilidade de acordo, mas não culpou ninguém. Depois tomou a única decisão lógica: manter o Governo, e, mais do que isso, manter a confiança no Governo e reconhecer-lhe condições de cumprir a legislatura até ao fim. Na minha opinião nem tudo ficou como no início; o Governo sai reforçado, venha a fazer ou não uma remodelação. É estranho que o anúncio de que ia apresentar uma moção de confiança tenha sido feito pelo PR, mas esta notícia fez parte da estratégia de Cavaco de tentar reforçar a confiança no Governo. Não voltámos à casa inicial do jogo: O episódio da tentativa de compromisso veio clarificar a situação e mostrar que os insistentes pedidos de eleições antecipadas deixam de fazer sentido por inutilidade evidente. Além disso, a publicação do documento apresentado pelo PS como contribuição para um acordo mostrou à evidência que o PS não queria mesmo qualquer acordo e só estava a fingir corresponder ao apelo do PR para não ficar com o ónus da recusa. Seguro sabia que não convinham ao PS eleições antecipadas, nem agora nem em Setembro de 2014, já que a situação em qualquer dessas duas ocasiões obrigavam o PS a tomar medidas muito impopulares, contrárias ao que tem vindo a afirmar. Mas a estratégia de fingir colaborar e sabotar qualquer consenso foi demasiado evidente. As dificuldades de entendimento entre Passos e Portas não terão desaparecido, mas o episódio deve contribuir a que se entendam.

sábado, 20 de julho de 2013

Compromisso falhado

Conforme já sabíamos que era provável, a tentativa de corresponder à vontade de Cavaco Silva de levar os 3 partidos que assinaram o MoU a assinar agora um compromisso de salvação nacional falhou. As posições eram demasiado distantes para permitir um entendimento? Talvez, mas nós só conhecemos um documento de cada partido: o apresentado pelo PS (medidas PS), que parece decalcado do seu programa de governo e não uma proposta de entendimento, um documento emitido pelo PSD (compromisso_psd), que é designado como 3.ª versão, não conhecendo as versões anteriores, e, da parte do CDS, apenas as declarações de hoje. Lendo os documentos, não parece realmente fácil uma conciliação, mas sem conhecer o teor das intervenções que se seguiram à apresentação dos documentos não é possível afirmar que o acordo fosse completamente impossível nem saber quem teve a responsabilidade pelo impasse. O que não há dúvidas é que quem rompeu as conversações foi o PS.

Deste desfecho não se pode concluir que Cavaco errou. Fez uma tentativa, ao que parece de boa fé, e os partidos é que não estiveram à altura. Não sei se o resultado é trágico para Portugal. Espero que agora o Presidente da República escolha a solução mais conveniente, já que disse que havia várias possíveis. Penso mesmo que talvez esta clarificação das posições dos partidos seja benéfica. Assim sabemos com o que podemos contar de cada um.

Ana Gomes na France 24

Durante um agradável passeio pela Baixa ontem, depois de visitar o Cais das Colunas, apinhado de turistas e onde se ouviam muitas e variegadas línguas, fui admirar a estátua de D. José, agora limpa e finalmente livre de andaimes. Perto da estátua vi ao longe o que me pareceram dois fotógrafos profissionais, com máquinas assentes em tripés. Ao aproximar-me, vi que estavam a filmar uma conversa entre um jovem louro e uma senhora vestida de branco. Mais perto ainda reparei, com algum espanto, que a senhora era a eurodeputada Ana Gomes, que estava a ser entrevistada em inglês e que quem filmava eram um jornalista e uma jornalista, envergando esta uma camisola com “France 24” escrito nas costas. Ana Gomes ao vivo é mais baixa e até atarracada (e mais despenteada) do que parece na televisão. Como de costume falava pelos cotovelos, mas à distância que eu estava só compreendia uma ou outra palavra. Da parte do entrevistador consegui ouvir uma pergunta que incluía as palavras “too much austerity”, mas a resposta escapou-me completamente. Calculei que o resto da conversa seguisse o mesmo tom e decidi afastar-me e continuar o meu passeio. À noite, na TV, Ana Gomes, mais maquilhada e bem penteada, vestia o mesmo vestido branco e, desta vez, falava português, mas o assunto continuava a ser “too much austerity”.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Incoerência

Apesar de todas as explicações, continua a parecer-me profundamente contraditória a atitude do PS ao tentar, se é que tenta, chegar a um acordo de princípios com os partidos da maioria e simultaneamente a votar favoravelmente uma moção de censura ao Governo suportado pela mesma maioria. A desculpa de que não é com o Governo que o PS mantém conversações com vista a um compromisso, mas sim com partidos, é isso mesmo, uma desculpa, aliás uma desculpa sem qualquer lógica. Os partidos da coligação defendem a política do Governo que deles emana. Como pode ser possível negociar um compromisso com estes partidos se se recusa e se censura a política que eles defendem?

Além disso parece estranho que o PS vote favoravelmente um texto que o atinge, quando diz «O memorando da Troika e as políticas do Governo demonstraram-se um caminho destruidor, colocando Portugal num rumo inegável de definhamento económico e social.» Ora foi o PS que negociou o memorando que agora acha que é responsável, é certo que juntamente com as políticas do Governo, mas concomitantemente com estas, pela destruição e pelo definhamento do País. Mais à frente, o texto da moção de censura defende que se deve «trocar o memorando da Troika pela renegociação da nossa dívida». O PS defende a renegociação, mas não em troca do memorando que assinou. Assim o PS, que se tem recusado obstinadamente a reconhecer que o governo de Sócrates foi grandemente responsável pelas dificuldades actuais, não hesita em acusar o memorando de contribuir para essas dificuldades. Não parece uma atitude coerente.

Parece-me ainda politicamente desastroso que o PS apoie uma moção de um partido que é uma criação do PCP e que defende políticas opostas, do ponto de vista democrático, das defendidas pelo PS, contra uma coligação que, por muitas diferenças programáticas que tenha com os socialistas, está ideologicamente mais próxima destes no que se refere ao regime de democracia representativa que defende.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Governo de esquerda

Do blog "O Princípio da Incerteza":

««Será este o Governo que nos espera, depois das eleições?
Não resisti a transcrever esta proposta de elenco ministerial do Blasfémias:

«O Governo Tripartido de Esquerda
17 Julho, 2013
por

Primeiro Ministro: António José Seguro

Ministro de Estado e das Finanças Sociais: João Semedo
Secretário de Estado da Renegociação com a Troika: João Galamba
Secretário de Estado para a Mutualização da Dívida Pública: Pedro Nuno Santos
Secretário do Planeamento Quinquenal e do Controle da Especualção: Bruno Dias
Secretário de Estado para a Extinção da Lei da Oferta e da Procura: Fernando Rosas
Secretário de Estado dos Impostos das SGPS: Jeroen Dijsselbloem
Secretário de Estado para a Diminuição do Índice de Gini: Luis Fazenda

Ministro de Estado e dos Direitos dos Trabalhadores: Jerónimo Sousa
Secretária de Estado da Modernização Administrativa: Ana Avoila
Secretária de Estado da Regulamentação Empresarial e da Luta contra o Empresariado Infantil: Raquel Varela
Secretária de Estado da Luta Contra a Precariedade: Mariana Aiveca

Ministro da Economia e dos Estímulos ao Crescimento: Carlos Zorrinho
Secretário de Estado da Economia Científica Avançada: Artur Baptista da Silva
Sub-Secretário de Estado Adjunto da Economia Keynesiana: Nicolau Santos
Secretário de Estado de Combate aos Crimes das Grandes Empresas: Fernando Serrasqueiro

Ministro das Novas Tecnologias e das Exportações: JP Sá Couto
Secretário de Estado da Internet: José Magalhães

Ministra dos Negócios Estrangeiros e das Relações com a América Latina: Ana Gomes

Ministra dos Assuntos Europeus, Congressos, Seminários e Grupos de Trabalho: Edite Estrela

Ministro da Propaganda Comunicação e Divulgação do Estado: Augusto Santos Silva
Secretário de Estado da Programação Televisiva e Rádio Pública: Emídio Rangel
Secretária de Estado da Internet, Blogues e Redes Sociais: Estrela Serrano
Secretária de Estado para a Reposição da Narrativa Histórica: Fernanda Câncio
Subsecretário de Estado para a Reposição da Narrativa Histórica e do PEC IV: Pedro Silva Pereira
Secretária de Estado da Comunicação em Casos de Falta de Energia: Heloisa Apolónia

Ministra dos Direitos das Minorias e da Luta Contra a Violência de Género, Violência Doméstica e Combate à Homofobia: Isabel Moreira
Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher: Ana Drago
Secretário de Estado para a Erradicação Definitiva do Fascismo: Sérgio Lavos

Ministra das Artes e dos Subsídios à Cultura: Catarina Martins
Secretária de Estado da Literatura e Poesia: Inês Pedrosa
Secretário de Estado da Arte Urbana: Grafiter Exas
Secretário de Estado do Som e da Música de Qualidade: Pedro Abrunhosa
Secretário de Estado das Actividades Culturais de Rua, Happenings e Manifestações: Helena Pinto
Secretário de Estado para a Renegociação do Acordo Ortográfico: Miguel Sousa Tavares
Secretário de Estado para a Especificidade do Cinema Europeu: João Botelho
Secretária de Estado das Transferências Consumidores-Artistas: Gabriela Canavilhas

Ministro da Segurança Interna e Defesa dos Direitos: Manuel Tiago

Ministro da Justiça Social: Boaventura de Sousa Santos
Secretário de Estado da Politologia: André Freire
Secretário de Estado da Quadratura dos Corpos: José Gil

Ministro das Obras Sociais, Aeroportos e TGVs: Jorge Coelho
Secretário de Estado para a Extinção das PPP: Paulo Campos
Secretário de Estado das Rendas Excessivas: Agostinho Lopes

Ministra da Felicidade Geral: Maria de Belém Roseira

Ministro da Solidariedade Intergeracional: Pedro Delgado Alves

Ministro da Agricultura, das Cooperativas, do Vinho e da Proteção dos Produtos Tradicionais: Sérgio Sousa Pinto
Secretário de Estado de Controle de Espécies Agrícolas: Gualter Baptista

Ministro da Saúde e da Proteção contra as Epidemias: Francisco George
Secretário de Estado para a Liberdade do Medicamento: João Cordeiro

Ministra da Educação e da Erradicação dos Exames: Ana Benavente
Secretária de Estado do Ensino de Marcoeconomia Moderna: Ana Sá Lopes
Secretaria de Estado para a Extinção do Capitalismo Selvagem Neoliberal: Gil Garcia

Ministro das Generalidades e Banalidades: Pedro Marques Lopes
Secretária de Estado do Lero-Lero: Clara Ferreira Alves
Secretário de Estado da Música de Fundo: Pedro Adão e Silva»

Sem dúvida um grande elenco. Será preciso aumentar a sala do Conselho de Ministros para caberem todos. Tem também a vantegem de diminuir o desemprego ao conseguir lugar para 47 trabalhadores. O único defeito (único mas muito importante) é que não existe paridade de género; há 13 ministros homens e só 6 mulheres.

É saudável que os portugueses recuperem o hábito de conterem anedotas e sorrirem sobre a situação. Desde que não se limitem a sorrir.


publicado por Pedro Freire às 22:26
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sábado, 13 de julho de 2013

Todos os partidos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros

À primeira vista a exigência do PS de que se incluam no compromisso de salvação sugerido pelo Presidente da República todos os partidos com representação parlamentar parece razoável e democrática. A recusa de abranger o PCP e o BE pode levar a pensar que há partidos de 1.ª e partidos de 2.ª, que alguns são mais iguais do que outros, como diria George Orwell. Mas analisando bem a questão, já me parece uma ideia pouco razoável e pouco democrática, porque, ao contrário dos animais da quinta de Orwell, na verdade os partidos não são todos iguais. Eu não distinguiria os partidos chamados do "arco do poder", seja lá esse arco o que for, dos outros, mas para mim a separação estará antes entre os partidos que aceitam e defendem o jogo democrático e os que se baseiam em ideologias revolucionárias para os quais a democracia "burguesa" pode ser aproveitada apenas enquanto útil para procurar ter uma tribuna para as suas ideias que pretendem acabar com a democracia tal como é entendida nos países que não seguem doutrinas comunistas ou socialistas revolucionárias. Apesar desta distinção, que penso fundamental para guiar a nossa política, acho que não haveria mal em chamar estes partidos, PCP e BE (não diria o mesmo do PEV, que não é um partido autónomo e cuja força eleitoral nunca foi experimentada), a participar nas conversações com vista a um compromisso de cumprimento das medidas necessárias para voltar a uma plena soberania financeira, mas que, não havendo qualquer mal, essa chamada teria como resultado, aliás já anunciado pelos próprios, uma recusa de participação. A única justificação para esta inclusão do PCP e do BE nas conversações seria evitar a acusação por parte destes de falta de legitimidade de qualquer acordo a que se venha eventualmente a chegar. Mas se qualquer compromisso com o PS já parece ser difícil, englobar a extrema esquerda será comprometer o compromisso, a não ser que estes se excluam voluntariamente, como parece ser o caso, ou possam ser excluídos por impossibilidade de encontrar pontos comuns.

Cada cabeça, sua sentença

A proposta do Presidente da República veio lançar a confusão. A comunicação social ajudou à confusão ao pôr toda a gente que conseguiu convidar, mesmo os que há muito tempo não apareciam na TV, a dar opiniões, tentar interpretar e adivinhar o que se vai passar. A reacção dos partidos foi cautelosa, principalmente no que se refere aos da coligação; estes evitam ao máximo dar a entender que não concordam com os aspectos mais polémicos da sugestão, e aproveitam para mostrar uma concordância sincera ou forçada aos aspectos que mais lhes convêm.

Também o PS evita dizer que está frontalmente contra a proposta, mas vai avisando que, como sempre disse, não apoiará nem fará parte de um governo sem que antes haja eleições. Esta declaração parece-me deslocada, pois as palavras de PR não levam necessariamente à conclusão de que pretenda o apoio ou a participação do PS em qualquer governo antes de eleições, mas apenas a concordância com um compromisso de salvação, que não configura um apoio mas apenas um consenso mínimo sobre certos princípios relacionados com a realização prática do que foi acordado no Memorando de Entendimento (Claro que existe o problema das sucessivas revisões do memorando, mas isso não exclui a possibilidade de domínios de concordância.).

Quanto ao PSD e ao CDS, declarando-se a favor do entendimento proposto por Cavaco, não deixam de falar na pretensão de governarem até ao fim da legislatura. A esta manobra, o PS responde que não prescinde da fixação de eleições antecipadas em Junho de 2014 no eventual compromisso, embora recorde que prefere que fossem já este ano. Nesta pretensão acho que Seguro faz bluff, pois eleições legislativas na mesma data das autárquicas iria pôr o PS na obrigação de tomar medidas impopulares ou, em alternativa, não cumprir as metas fixadas, sem tempo para negociações para obter mais tempo e juros mais baixos, aliás de resultado incerto.

Aguardam-se os próximos capítulos deste intrincado enredo.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um bom resumo do que eu também penso mas não tinha sabido passar a escrito

Ora aí está. É mesmo assim. (Visto no Insurgente, mas com origem no Jornal de Negócios):


Comentário do André Azevedo Alves ao Jornal de Negócios

Para André Azevedo Alves, “colocam-se dúvidas muito sérias sobre até que ponto o esquema que o Presidente da República enunciou” será “realizável”, havendo ainda uma “segunda questão”: “No caso de não ser realizável, então o que é que se propõe fazer?

Para quê ter ouvido tanta gente?

Não se percebe para que se deu Cavaco ao trabalho de aturar durante dias os partidos todos (com representação parlamentar), as centrais sindicais, as confederações empresariais e não sei quem mais, para depois apresentar uma solução completamente diferente das ideias, das sugestões, dos pedidos e das reivindicações de todas estas entidades e que parece não agradar a ninguém (excepção feita para Bagão Félix)!

Estalou a bomba (mas não é a atómica)

No fim das palavras de Cavaco, houve uns segundos de silêncio. Depois, alguém disse a meu lado: "O homem ou ensandeceu ou é um génio!" Não respondi, tal era a confusão dentro da minha cabeça, mas lá no fundo pensei: "Nunca o considerei um génio."

terça-feira, 9 de julho de 2013

Não me demito

Muitos rios de tinta e torrentes de bits têm corrido sobre as demissões no Governo e as suas consequências. Discute-se principalmente a questão de a quem cabe a responsabilidade pela crise e ainda mais pela catástrofe que se chegou a temer mas foi evitada. Mas não tenho ouvido nem lido comentários sobre quem e como se evitou que a crise tivesse tido consequências mais graves, nomeadamente ficarmos sem governo e precipitar o País num período de indefinição e inacção política numa altura em que são necessárias acções enérgicas para continuar o processo de resgate. Quanto a mim o momento de inversão foi quando Passos Coelho pronunciou a frase "Não me demito!" Suponho também que coube ao PM fazer com que esta proclamação levasse às conversações que permitiram ultrapassar a crise. Pode ser que o novo Governo, que espero ver empossado dentro de dias, seja como um jarrão chinês quebrado em pedaços e reconstituído com habilidade e boa cola mas que perdeu valor (Marcelo Rebelo de Sousa) ou mesmo que seja um remendo velho em pano velho (Jerónimo), mas se vier a tornar-se realidade permitirá continuar com o processo em curso que pode, se for bem conduzido, levar-nos a recuperar a prazo a nossa soberania financeira. Não sou um admirador incondicional de Passos Coelho, que pode ter tido alguma responsabilidade no mal-estar que se instalou no Governo e que veio a dar origem à crise, mas foi a sua firmeza no momento de maior perigo que permitiu o desenlace que se espera venha a concretizar-se.

Combatendo mitos

Tavares Moreira, no Quarta República, combate com clareza dois mitos da nossa política que se enraizaram de tal modo nos discursos de muitos políticos e comentadores que se arriscam a converter-se em verdades políticas.

O primeiro mito é o de que a de que a política de austeridade falhou. Este mito tem sido repetido e glosado por vários quadrantes. Tavares Moreira desmonta-o magistralmente. A austeridade, além de ser inevitável (Quando o dinheiro falta é necessário gastar menos e isso chama-se austeridade), deu importantes resultados benéficos, a par de consequências dolorosas. Já em Outubro de 2012 citei aqui Tavares Moreira sobre a falácia do falhanço da austeridade. Os factos demonstram que ainda não é desta que se pode falar em falhanço.

O segundo mito é o de que Paulo Portas acabou ganhando com a crise que causou, apesar de ser publicamente apontado como o principal responsável pelos importantes prejuízos criados ao País e à credibilidade do Governo. Também aqui, Tavares Moreira mostra que o ganho foi mais aparente que real.

domingo, 7 de julho de 2013

Diretos que não são directos e outros enganos

As nossas televisões apõem, e muito bem, uma referência às reportagens em directo para se saber que o são. Só é pena que a referência seja uma palavra que não existe em português correcto: como adoptaram o famigerado acordo ortográfico de 90, aparece escrito "DIRETO", mas não é aí que quero agora chegar. "Directo" ou "Direto", querem dizer que a reportagem ou as imagens são transmitidas simultâneamente com a sua captura, que não se trata portanto de um programa gravado. O pior é que muitas vezes a palavra (que não existe em português correcto) "DIRETO" fica gravada juntamente com as imagens e, quando mais tarde transmitem as mesmas imagens, lá aparece, a um canto, a referência "DIRETO", quando afinal já não é directo. Na maior parte das vezes o telespectador dará por isso, mas outras vezes pode dar confusão, pelo menos momentaneamente.

Outro hábito lamentável é o de ilustrar notícias dum acontecimento, actual ou futuro, com imagens de qualquer acontecimento semelhante já passado. Por exemplo, noticia-se que a CGTP convocou uma manifestação, o que acontece quase dia sim, dia não. E enquanto se diz que a manifestação terá lugar no dia tal às tantas horas passam-se imagens de outra manifestação passada. Se a notícia se refere a um acontecimento futuro, é fácil dar pela marosca, mas quando a notícia se refere a uma concentração programada para daí a alguns minutos ou que está a decorrer e se mostram imagens de uma aglomeração de manifestantes munidos de bandeiras e cartazes, fica a dúvida se se trata do evento programado para essa altura ou se são apenas imagens ilustrativas captadas noutra ocasião. Às vezes até são imagens que o mais atento repara já serem conhecidas ou em que se pode reparar em pormenores que mostram não serem actuais, como no Verão mostrar gente com grossas camisolas e fortes casacões e blusões.

Em ambos os casos seria fácil, suponho eu, pôr num canto das imagens a palavra "ARQUIVO" ou, ainda melhor, "ARQUIVO, tantos de tal". Evitavam-se enganos e confusões.

Juntos, mas não tanto

A SIC-Notícias transmitiu escassos minutos da cerimónia da primeira missa do novo Cardeal Patriarca de Lisboa nos Jerónimos. O jornalista que cobriu o início da cerimónia chamou a atenção, como lhe competia, para as principais personalidades presentes. Mas, ao informar que assistiam ao acto Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, fez questão de acrescentar que não tinham chegado juntos. Não sei se esta observação descabida se destinava a insinuar que existia alguma distância ou até algum mal-estar entre os dois, mas para mim o que seria de estranhar era que tivessem vindo juntos, já que não vivem na mesma casa, não tinham participado antes desta missa em qualquer acto comum e é Domingo. Porque haviam de chegar juntos? Quando passou a palavra a Bernardo Ferrão, este achou que era necessário fazer-nos saber que o primeiro é o Primeiro Ministro e o outro é Vice-Primeiro Ministro indigitado (ou melo menos previsto) e ainda Ministro dos Negócios Estrangeiros demissionário. Alguém desconheceria ainda estas circunstâncias? Tinha esta informação alguma importância para a cobertura da cerimónia? Parece-me que não. Vá lá; quando referiu a presença do Presidente da República e da esposa não lembrou as suas últimas intervenções.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Parece Hitchcock

Continua o suspense. Algumas pessoas dizem que Passos e Portas chegaram a um acordo sólido e que, devido à solidez do mesmo, é provável que Cavaco o aceite e que se evite a desgraça de eleições antecipadas. Mas nada é oficial. Não se conhecem pormenores. Como podemos dormir descansados tendo só notícias vagas e por vezes contraditórias?

Estabilidade

«É evidente que, em democracia, o recurso ao voto popular é, em tese, uma opção possível. A questão que deve colocar-se é o que ganharia Portugal com uma crise política antecipada. No momento em que o nosso país se encontra, a um ano da saída da troika; com dois terços do programa de assistência cumpridos; e em circunstâncias de grande volatibilidade externa, a avaliação que fazemos é que precipitar uma crise conduziria a riscos maiores e não controlados, até porque ninguém pode honestamente prever o preço da ruptura da nossa credibilidade externa. O risco de um segundo resgate seria elevado e o prolongamento da dependência externa seria inevitável. Tudo isso poderia pôr em causa e até deitar a perder esforços notáveis e sacrifícios pesados já realizados pela sociedade portuguesa. A própria posição de Portugal a par da Irlanda, que é a companhia desejável, sofreria certamente um retrocesso. Compete aos defensores da tese das eleições antecipadas demonstrar que a promessa de um “segundo programa”, o risco de um segundo resgate, e o prolongamento da presença troika em Portugal, trariam benefícios. Sem essa demonstração que não se afigura credível uma crise política apenas serviria propósitos partidários.»

Este texto corresponde exactamente ao que eu penso, mas não fui eu que o escrevi. Adivinhem quem foi.

Não adivinham? Foi Paulo Portas, mas antes de decidir mandar tudo às malvas e precipitar exactamente uma "crise política antecipada". O texto é parte da moção que Portas tencionava apresentar no Congresso. Bem sei que com a expressão "crise política" se referia a eleições antecipadas, mas não só todo o raciocínio se aplica igualmente a uma crise provocada por um pedido de demissão extemporâneo como não está ainda completamente excluído que o seu acto venha a precipitar a antecipação de eleições.

Ainda no mesmo documento, Portas acrescenta:

«Ao invés, o CDS considera que é num quadro de estabilidade e de procura de consensos políticos que se podem obter as mudanças necessárias no relacionamento com a missão externa e na margem de manobra do Estado português.»

Bonita maneira de assegurar um quadro de estabilidade!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

48 horas que puseram o País à beira dum ataque de nervos

A demissão de Vítor Gaspar foi uma surpresa e fez colar muita gente aos ecrãs de televisão. Mas a pronta substituição parecia acalmar as águas, já que, mesmo que viesse a haver problemas (o que previ ou pelo menos admiti), resolvia a questão no curto prazo. Pelo menos assim parecia. Ontem, o pedido de demissão de Portas veio pôr o País à beira dum ataque de nervos. Parecia que o Governo e em consequência a estabilidade política estavam condenados. As palavras de estabilização e de esperança de Passos Coelho e a declaração de que não se demitia veio lançar alguma perplexidade e multiplicaram-se os comentários de todo o tipo. Como de costume os comentadores, mais do que comentar, dedicam-se a tentar adivinhar o futuro, sendo certo que os jornalistas que os interrogam os encorajam para esse exercício de previsão, mesmo quando ou principalmente quando o futuro parece incerto. Muitos consideravam inevitável a queda do Governo e a convocação de eleições antecipadas. Outros discorriam sobre as possibilidades que Passos teria de evitar a queda, conseguindo um compromisso de incidência parlamentar, hipótese maioritariamente julgada pouco provável. Ainda alguns punham, como hipótese muito longínqua, quase impossível, um recuo de algum dos protagonistas, que pudesse reestabelecer a estabilidade governativa. A possibilidade de um governo de iniciativa presidencial, ideia velha e cara a certos sectores, foi só aflorada de passagem e sem entusiasmo. À medida que os acontecimentos se precipitavam, as hipótese iam sendo baralhadas.

A atribuição de culpas ou de responsabilidades também dividia as opiniões, mas as críticas iam maioritariamente para Paulo Portas, pela sua intempestiva e, ao que parece, solitária de apresentar o pedido de demissão de modo irrevogável. As consequências desastrosas no comportamento dos mercados foi a principal base deste julgamento.

O que mais me impressionou é que estes comentários e estas previsões e sugestões eram discutidas como movimentos de peças de xadrez ou tácticas de localização de tropas e de peças de artilharia, sem ter a mínima menção ao interesse do País. Interessava mais saber o que cada partido ou cada interveniente teria a ganhar ou a perder do que as consequências para a posição de Portugal, a situação perante a troika e perante os credores e o maior ou menos sofrimento do povo. Os problemas de uma eventual convocação de eleições, que Seguro e a extrema esquerda pedem insistentemente, são quase sempre esquecidos. Jorge Sampaio, com ar cândido, considera que esta é a melhor e mais rápida solução para saída da crise. Rápida? Teríamos de esperar até 29 de Setembro, mas o tempo de formação do novo Governo. Melhor? Não penso que as sondagens devam estar na base da acção política, mas não podemos esquecer que tudo indica que não sairia de eleições uma solução estável com um partido com uma maioria que lhe permita governar ou um conjunto de partidos compatíveis entre si.

Claro que tudo está ainda em aberto. As próximas horas e os próximos dias serão cruciais para sabermos o que nos reserva o futuro. Como não sou comentador, não tentarei adivinhar.

terça-feira, 2 de julho de 2013

É possível uma continuidade? É possível uma mudança de rumo?

Tenho uma óptima impressão de Maria Luís Albuquerque. Admito que possa vir a ser muito competente no seu novo lugar de Ministra das Finanças. Mas assalta-me uma dúvida: Bastará ser competente? Se seguir uma linha de continuidade na política económica do seu ex-chefe, terá as mesmas dificuldades que ele teria e talvez não tenha a mesma força para as impor (seja aos ministros seus colegas, seja aos negociadores da troika). Se tentar uma mudança de rumo não vejo como pode ser possível manter os compromissos já assumidos para com os credores. Se Vítor Gaspar se julgou incapaz de manter a credibilidade e a confiança (de quem?) para continuar o "enorme" esforço, será que Maria Luís Albuquerque terá essa credibilidade e essa confiança?

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Desemprego

Segundo o Eurostat, o desemprego em Portugal baixou ligeiramente em Maio para 17,6%, quando em Abril atingira o máximo de 17,8%. O não ter subido já seria uma boa notícia, o ter descido, embora pouco, é uma notícia ligeiramente melhor, mas não devemos esquecer que em Maio de 2012 se situava em 15,5%; portanto o agravamento anual continua importante.

No entanto, sem que tivéssemos feito nada para isso, à meia noite passada (de 30 de Junho para 1 de Julho), deixámos de ter a terceira maior taxa de desemprego da UE e passámos a ser o quarto país com maior taxa. Não é motivo para nos regozijarmos, mesmo que a nossa taxa tivesse subido tragicamente para 18%, o que felizmente não é o caso, com a entrada da Croácia na União (18,1%) desceríamos automaticamente e sem qualquer mérito de terceiro para quarto lugar. Mas há pouco uma televisão repetia que tínhamos o terceiro maior desemprego da UE. Distracções de jornalistas.

Obama em África: milhões

Segundo um canal de TV, Obama, no seu périplo por vários países africanos, anunciou que os EUA vão disponibilizar 7 milhões de dólares para ajudar a melhorar o acesso à electricidade em África. Fiquei admirado: Quantos quilómetros de linha de alta tensão ou quantos postos de transformação se podem construir com 7 milhões de dólares? Dará para alguma barragem ou é só para mini-hídricas? Minutos depois ouço a notícia sobre a mesma questão num outro canal. A mesma questão? Seguramente não: Neste caso são 7 mil milhões de dólares! Já dá para alguma coisa. Já é uma ajuda importante. Eu já devia estar habituado: Para os jornalistas mais ou menos três zeros é indiferente. (Numa curta busca na net sobre este assunto, todas as notícias referem 7 mil milhões). Além da confusão de mais ou menos 6993 milhões, não fiquei a saber se esta ajuda é sob a forma de doação ou de empréstimo, nem a que se refere mais concretamente. Mas os noticiários televisivos não têm tempo para estas minudências sem interesse: Há que repetir a polémica sobre os swaps entre ministros das finanças, o actual e o anterior, para repetir o que disse Seguro sobre uma coisa qualquer e para apresentar o último discurso de Jerónimo em que diz que é urgente demitir o Governo.