domingo, 26 de janeiro de 2014

Prometer é fácil

Prometer é fácil, sobretudo quando se acrescente um "se" ou um "quando". Por isso creio que Jerónimo de Sousa esteja a ser sincero quando promete devolver "aos trabalhadores e ao povo" tudo o que foi "roubado" pelo Governo. É que só fará esta devolução quando houver um “governo patriótico e de esquerda, com a presença do PCP”. Jerónimo de Sousa sabe que um tal governo não está próximo, por isso não teme ver-se na contingência de ter de inventar dinheiro para fazer essa devolução. É que para repor os cortes em salários e pensões, a que Jerónimo chama roubo, iria ser preciso mesmo muito dinheiro e não vejo onde se poderia ir buscar tal quantia.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Primeiras damas

A separação entre Hollande e Trierweiler é oficial. Pelo menos é o que dizem as notícias. A declaração do presidente francês foi menos formal: Apenas disse “Faço saber que pus fim à vida comum que partilhava com com Valérie Trierweiler.” Não consigo descortinar aqui qualquer carácter oficial, o que seria difícil, já que a "vida em comum" não era, nem teria justificação para ser, oficial. Mesmo que haja em França a figura legal de "união de facto", que é recentemente reconhecida em Portugal, não creio que tenha havido tal classificação para o casal Hollande-Trierweiler. Mas para além disso, quanto a mim a classificação da esposa de presidentes como "primeiras damas" é um disparate sem qualquer lógica, ou um resquício republicano de ideias mais ou menos monárquicas. Os americanos, que nunca viveram em monarquia, podem gostar de elevar a família do presidente a níveis quase reais ("reais" de reis, não de realidade), mas nas repúblicas europeias tal não se justifica; ser presidente é um cargo público que nada tem a ver com a respectiva família, pelo que a esposa do presidente não tem, por o ser, qualquer cargo oficial e não deve, portanto, ter qualquer designação oficial, muito menos chamar-se primeira dama, como se houvesse uma hierrarquia de damas na popolação. Por maioria de razão, uma mulher que tem apenas uma "vida comum" com o presidente, sem qualquer vínculo oficial, não tem que ter uma designação própria nem qualquer regalia ou estatuto especiais.

Por isso creio que foi errado da parte de Hollande permitir que a sua companheira de ocasião tivesse assumido um papel que, mesmo que fosse legítima esposa, não lhe competiria, com pessoal próprio e atribuição de regalias e obrigações. Ao anunciar o fim da vida comum, Hollande precisou, e muito bem, que se exprimia a título pessoal e não como chefe de Estado e tem-se esforçado por distinguir a sua vida privada da função oficial. É pena que não tenha feito idêntica distinção desde o inicio do mandato. Fica agora a dúvida se, ao iniciar uma nova vida comum com outra companheira (ou amante, ou concubina, ou namorada), esta terá também direito ao título de primeira dama e às regalias de representação e outras inerentes.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Praxes

Não, não me vou referir ao caso do Meco. Espero que esteja bem entregue às autoridades de investigação e que as famílias das vítimas consigam recuperar pelo menos a paz de espírito. Mas vou dar a minha opinião sobre o fenómeno das praxes universitárias, que este caso trouxe nos últimos dias para a ribalta.

Quando eu era estudante, não existiam praxes em Lisboa e suponho que também não no Porto, as então únicas cidades com Universidade além de Coimbra. Aí sim, tínhamos conhecimento que havia umas práticas mais ou menos patuscas que se chamavam praxes. Em Lisboa considerávamos estas práticas com um certo sentimento de superioridade; nós éramos mais civilizados, mais modernos, e não ligávamos a essas coisas tradicionais mas que não pertenciam à nossa tradição. Não havia nas Faculdades e Institutos Universitários de Lisboa um único estudante que usasse capa e batina. Não havia hierarquia, não havia qualquer tipo de pressão sobre os caloiros e os que em Coimbra se designavam como veteranos eram para nós os cábulas que estavam no curso mais tempo do que o devido por serem burros ou estudarem pouco. No início de cada ano lectivo as Associações de Estudantes organizavam semanas de recepção aos caloiros, que tinham como principal finalidade ajudá-los a integrarem-se na vida académica e a sentirem-se bem. Estas recepções constavam de actividades de convívio, como exposições e bailes. Mas, respeitadores das diferenças, não criticávamos os cossos colegas coimbrões e muito menos os hostilizávamos.

Com o tempo, as coisas começaram a mudar. Já no tempo de os meus filhos entrarem na Universidade havia em Lisboa algumas praxes a que os caloiros eram submetidos, mas não passavam de pequenas humilhações, como pintar-lhes o rosto com desenhos coloridos, ou partidas, como darem aulas falsas. O incidente mais grave que me foi relatado nessa altura foi o uso de um extintor de incêndio lançado para dentro de um anfiteatro. Coisas que alguns suportavam com maior ou menor azedume, e a que outros achavam graça. Mais recentemente as praxes tornaram-se mais violentas e mais humilhantes, com diversos casos que mereceram censura generalizada.

Para mim, estas práticas, que antes considerava estranhas mas suportáveis, são agora condenáveis. Em Lisboa nem sequer se podem considerar tradicionais, visto que é uma falsa tradição, uma importação recente de costumes de outras paragens. Demonstram um desejo de mostrar superioridade, de estabelecer uma hierarquia em que os inferiores são dominados. Bem podem argumentar que a praxe é voluntária e que quem declarar não aderir não será praxado, pois os que se rebelam contra estas práticas são hostilizados e não podem usar trajes académicos nem participar em certas manifestações estudantis. A recepção aos caloiros é substituída por um cerimonial de iniciação, como nas sociedades secretas, mas, em vez de ter como objectivo submeter o candidato a provas de coragem e rectidão, são humilhantes e serevem principalmente para obter obediência e ausência de espírito crítico.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Entrevistas e entrevistadores

É quase insuportável assistir a entrevistas em que os entrevistadores não respeitam o direito do entrevistado a responder com frases completas, atalhando a meio do reciocínio sem deixar terminar uma única frase. Muitas vezes interessa-me mesmo ouvir e compreender a resposta e, zás, o entrevistador interrompe no ponto de maior interesse com uma nova pergunta. Por vezes o entrevistado faz como se não ouvisse a interrupção e continua impertubável a resposta anterior, outras vezes pede delicadamente que o deixem acabar o raciocínio, mas é frequente ir atrás da estratégia do entrevistador, não acabar de explicar a questão anterior e esforçar-se por responder à nova questão, deixando o problema anterior em aberto, o que é muito irritante.

Pode acontecer que o entrevistador seja uma entrevistadora chamada Judite Sousa e o entrevistado seja uma entrevistada chamada Maria Luís Albuquerque. Foi o que se passou hoje e, apesar da Ministra ter normalmente conseguido prosseguir o raciocínio e só depois passar à nova questão, a quebra do ritmo do discurso prejudicou a compreensão das respostas. Ficou assim prejudicada uma entrevista muito interessante.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Memória de José Terra

Conheci José Terra há muitos, muitos anos, em casa dos meus pais, era eu miúdo. Era amigo do meu pai, João Pedro de Andrade, e foi visita frequente da nossa casa antes de se fixar em Paris, menos frequente depois. Numa das suas últimas visitas trouxe e apresentou-nos a sua jovem esposa francesa. Soube agora que tem duas filhas e dois netos. Lembro-me do modo quase entusiasmado como descrevia as dificuldades com a censura quando da publicação do seu primeiro livro de poesia “Canto da Ave Prisioneira”. Chegou a ser interrogado pela PIDE e descrevia com pormenores a curiosidade dos agentes que o interrogavam sobre o significado de alguns poemas que lhes pareciam mais suspeitos. Depois perdi-lhe o rasto, para só agora vir a saber notícias dele, com a notícia da sua morte. Os jornais apresentam notas biográficas e algumas fotografias recentes. A que prefiro é a que publico agora, que mostra José Terra já velho, mas com o sorriso que me faz recordar a imagem já desvanecida que tenho dele na minha memória.



Também encontrei na net vários poemas seus. Eis um dos que mais gosto que reproduzo de:

http://timtimnotibet.blogspot.pt/2014/01/jose-terra-1929-2014.html


Para O Poema da Criação

Porque tu percorres o meu sangue
e paras de repente no meu cérebro.
Teus olhos procuram a flor da pele
buscando a existência fugidia
das árvores, dos rios, da paisagem.
E se te reconheço é porque apenas
és um sinal qualquer de outro país
donde fui expulso para sempre.
E se te reconheço é porque foges
pelas longas margens longamente
e teu sorriso concreto só existe
para a boca oleosa do veneno.
E se te reconheço é porque quero
entre meus dedos destruir teus olhos.
Para que tu existas e eu exista
nenhum sinal de nós deve existir.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Responsabilidades

Ainda ontem escrevi aqui sobre a falácia de atribuir a responsabilidade do empobrecimento de Portugal nestes últimos anos à Troika, falácia em que cai, segundo a sondagem da Católica, a maioria dos portugueses. As declarações de responsáveis europeus, ouvidos perante a comissão parlamentar do Parlamento Europeu que investiga a actuação da Troika, ajudam a situar a questão no enquadramento correcto. Durão Barroso lembrou que os programas de ajustamento aplicados em Portugal, Grécia, Irlanda e Chipre "não marcaram o início da crise, mas o princípio da sua resolução". Por sua vez, Olli Rehn declarou: "Tivemos discussões com o ministro das finanças de Portugal muito, muito antes de Portugal ter solicitado um programa, porque era bastante claro já em determinado momento de 2010 que, a menos que Portugal tomasse uma acção forte em relação a reformas económicas e a consolidação orçamental, iria enfrentar custos de financiamento proibitivos e enfrentaria a ameaça de ficar de fora do financiamento nos mercados, o que acabou por acontecer no início de Abril de 2011 e conduziu ao programa". Perante estas declarações tão claras, parece indispensável questionar Teixeira dos Santos porque não tomou medidas mais cedo para evitar o descalabro financeiro. Mesmo que tenha sido Sócrates que impediu Teixeira dos Santos de inverter a estratégia económica, o ministro continua responsável pela sua acção, já que continuou até à véspera da banca rota a cumprir as ordens do PM.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Glaciar a derreter

Segundo notícia do DN, o "glaciar de Pine Island está a derreter irreversivelmente". A notícia pode ter interesse por adiantar dados sobre o grau de fusão do gelo do glaciar e sobre as suas consequências, mas o título é tudo menos informativo e novidade. Ainda no Liceu, há cerca de 60 anos, ensinaram-me que em todo o mundo os glaciares estavam em recuo. Não se falava então de "aquecimento global", nem sequer de "alterações climáticas", mas sabia-se e ensinava-se aos alunos que, desde a última idade do gelo, os glaciares vinham recuando lentamente. Claro que esse recuo estava associado a fusão de parte do gelo e que essa fusão era irreversível, pois não estava previsto que se entrasse proximamente numa nova idade do gelo.

Empobrecimento

Segundo uma sondagem da Católica, divulgada pela RTP, a maioria dos portugueses "consideram que a intervenção da Troika em Portugal contribuiu para o empobrecimento do país". É certo que tivemos um período de recesssão, o PIB baixou e portanto parece que ficámos mais pobres. Mas há que ter em conta que a nossa riqueza pré-troika era ilusória e baseava-se em défices constantes alimentados por dinheiro emprestado. Não éramos, portanto, mais ricos.

Por outro lado, temos de ter em conta que se não se tivesse dado a intervenção da Troika, como chegámos a ponto de não conseguirmos financiamento, teríamos ficado muito mais pobres muito mais depressa. Negociámos com a Troika um programa de ajustamento que trouxe a famigerada austeridade mas nos facultou dinheiro para aguentarmos o período desse ajustamento. Se não se tivesse dado a intervenção da Troika, esse dinheiro não teria entrado e a pobreza teria existido à mesma e de modo muito mais evidente. Não foi a Troika que contribuiu para o empobrecimento do País; foram os que nos endividaram até à banca rota e não contribuiram para o crescimento económico. O empobrecimento por acção da Troika é uma ilusão.

Álvaro

Fui amavelmente corrigido. Ao contrário do que afirmei na minha mensagem anterior, «Álvaro Santos Pereira não irá para a OCDE por nomeação. Submeteu-se a um concurso público internacional, como qualquer cidadão. Houve vários concorrentes e no júri não havia portugueses.» Portanto foi um reconhecimento do seu valor. O facto de vários ex-ministros do Governo terem sido escolhidos para altos cargos em organismos internacionais tem sido interpretado pela esquerda como um favor ou uma escolha por influência política. Não são capazes de reconhecer que tal facto só confirma a alta qualidade esses ex-ministros.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Álvaro Santos Pereira

Fiquei contente com a recente nomeação de Álvaro Santos Pereira para um lugar importante na OCDE. Ao contrário de muita gente, gostei da sua acção como ministro. Foi muito criticado e quanto a mim quase sempre injustamente. A sua demissão foi triste. Parece-me muito justa a sua nomeação. Junto-me a João Gonçalves a desejar: Boa tarde e boa sorte, Álvaro.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Má pronúncia ou lapsus liguae?

A nomeação de José Luís Arnaut para conselheiro do Goldman-Sachs provocou engulhos na esquerda. Em vez de se regozijarem por ter sido reconhecido a um português a competência para esse alto cargo, destilam ódio e debitam desconfianças. Não espanta, é costume. Mas Catarina Martins não tem estado atenta quando se fala na Goldman-Sachs, não aprendeu a pronúncia correcta da instituição financeira e chamou-lhe "Goldman-Sex". Será que, apesar de o banco norte-americano ser um verdadeiro símbolo do capitalismo e do detestado poder financeiro, acha que é um banco "sexy"?

Não há pequenos-almoços grátis

Catarina Martins, cocoordenadora do BE, afirmou que "não comemos mercados ao pequeno-almoço". Ora aqui está uma afirmação inquestionável. Eu não como mercados a nenhuma refeição, estou absolutamente seguro que Catarina Martins também não, assim como os demais portuguesee e desconfio mesmo que toda a humanidade. Mas assim como não há alomoços grátis, também não há pequenos-almoços grátis, embora devam ser um tanto mais económicos que os almoços. E onde compramos, eu, tu, ele e aposto que Catarina, o pão, a manteiga, eventualmente o leite ou o café e talvez os cereais? Não num simples mercado, mas sim no supermercado ou num hipermercado. E com que dinheiro? Enquanto não chegámos a défice zero, parte do nosso pequeno-almoço era comprado com dinheiro emprestado. Mesmo que Catarina nunca tenha pedido dinheiro emprestado, quem lhe paga o salário de deputada teve de pedir algum aos famigerados mercados para ela poder comprar o pão, a manteiga, eventualmente o leite ou o cafá e talvez os cereais. Se os mercados nos fechassem o financiamento, o que esteva quase a acontecer, Catarina teria de sacrificar parte do pão, da manteiga, eventualmente do leite ou do café e talvez dos cereais ou de outras coisas em que gasta o seu dinheiro. Pelos vistos, Catarina nunca pensou nisto. Não comemos mercados ao pequeno-almoço, mas podemos não comer pequeno-almoço se não recorrermos aos mercados.

Nota: Quando falo de défice zero, não me refiro ao défice orçamental, ao défice do Estado, embora no caso de Catarina Martins, que ganha de um órgão do Estado, a Assembleia da República, não fosse descabido. Quero referir-me ao défice da balança corrente com o exterior, que vai agora estando mais ou menos equilibrada, mas que deixou acumular uma dívida enorme. Temos vindo a comer pequenos-almoços ao longo de anos à custa dessa dívida.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Sinais positivos

Continuam a aparecer sinais positivos: Desta vez é a diminuição da taxa de desemprego pelo 9.º mês consecutivo. Este resultado, divulgado pelo EUROSTAT, refere-se ao final do mês de Novembro. Portanto os que afirmavam que as baixas anteriores do desemprego se deviam a efeitos sazonais não tinham razão, aliás como já se sabia por a baixa ocorrer também em termos homólogos. A desculpa da esquerda agora é que este resultado se deve à emigração. No entanto esta explicação não tem base, já que infelizmente o desemprego dos jovens aumentou e são principalmente os jovens que emigram. Claro que ninguém nega que o desemprego, apesar de baixar há 9 menses, continua intoleravelmente alto. E o aumento do desemprego jovem é muito preocupante. Mas a baixa continuada é um bom sinal, que acompanha outros sinais positivos da evolução da economia no nosso País.

domingo, 5 de janeiro de 2014

O pai perdulário

A família do Sr. Dias vivia bastante bem. Os rendimentos do trabalho do Sr. e da Sr.ª Dias davam para todas as despesas normais de uma vida relativamente desafogada e sem preocupações e ainda sobrava algum. Dava ainda para sustentar, vestir e tratar o menino Dias, dar-lhe uma semanada algo generosa e comprar-lhe brinquedos e jogos mesmo fora das épocas mais propícias a presentes, como o Natal e os aniversários. Mas com o tempo esta situação começõu a degradar-se. A empresa onde trabalhava o Sr. Dias faliu e, embora tenha conseguido novo emprego em relativamente pouco tempo, o salário do novo trabalho era muito inferior. A Sr.ª Dias manteve, felizmente, o seu posto como funcionária do Estado, mas a crise fez com que também passasse a ganhar menos, enquanto os impostos aumentavam. O casal e o rebento conseguiram manter um nível de vida pouco alterado gastando as suas poupanças e depois devido a terem conseguido empréstimos de bancos com que tinham relações antigas. Um dia, a Sr.ª Dias viu qye a situação era insustentável e convocou o Sr. Dias para uma reunião em que a insuficiência dos rendimentos para manter o nível de gastos, e ainda pior, as prestações correspondentes aos juros e a amortizações dos empréstimos começavam a pesar no orçamento. A reunião foi longa e o menino Dias, no seu quarto, ouviu a mãe, já um pouco exaltada, exigir, entre outras reduções de custos, que as semanadas fossem cortadas e a aquisição de brinquedos reduzida ao mínimo. As outras coisas pouco interessaram ao menino Dias, mas estes cortes chocaram-no, sentindo-se atingido nos seus direitos adquiridos. Dormiu mal e no dia seguinte abordou o Sr. Dias e queixou-se da decisão dos pais. O Sr. Dias, que não estava nada satisfeito com as exigências de contenção de despesas da esposa, e que supunha que alguma solução havia de lhe ocorrer para continuar a gastar como costumava, teve uma enorme compreensão pela reclamação do filho e negou-se terminantemente a seguir as ideias da Sr.ª Dias, alegando o princípio da confiança que a criança tinha em poder continuar a receber semanadas e presentes, pensando, sem o referir expressamente por precaução, que também ele tinha direito a abrigar-se ao mesmo princípio. Os dias passaram para a família Dias, mas em pouco tempo a verdade veio ao de cima e o crédito foi-lhe cortado. À beira da bancarrota, as despesas tiveram subitamente de ser reduzidas a fim de não perderem a casa e o carro e o princípio da confiança não passou disso mesmo: um princípio que não se aplicada quando a realidade se impõe.