sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Afinal o que é feito da luta dos mineiros asturianos?

Do blog O Princípio da Incerteza:


Não costumo ver telenovelas. Por outro lado tenho o hábito de ver noticiários da TV várias vezes por dia. Mas talvez tenha de mudar os meus hábitos; é que ao passo que as telenovelas têm um desenvolvimento da história, que pode ser mais ou menos conseguido e com mais ou menos coerência, e normalmente chegam a uma conclusão, seja um casamento, vários casamentos, uma morte, várias mortes ou qualquer coisa faz com que se saiba como acaba a história, nas notícias da TV é demasiado frequente um assunto ser pura e simplesmente esquecido, por vezes quando alcança o climax da acção, e fica-se sem se saber em que termos ficou a questão e que aconteceu às personagens. Bem sei que a realidade não é como a ficção, mas mesmo que não siga os trâmites de uma novela ou de uma telenovela, tem por força de acontecer alguma coisa a seguir ao que é noticiado numa questão que deixa de ser notícia e os espectadores interessados ficam na ignorância do que se passou depois da última notícia.

Um exemplo flagrante disso é a luta dos mineiros asturianos. Durante semanas seguimos quase em directo as peripécias, desde os foguetes lançados sobfre a polícia, as barricadas nas estradas e auto-estradas até à marcha sobre Madrid e às manifestações e sarrafuscas que ocorreram já na capital. Temos uma ideia das reivindicações dos mineiros. Mas, de repente, o assunto foi esgotado e nada mais se soube. Claro que ressalvo a possibilidade de eu não ter visto algumas notícias que algum ou alguns dos canais de informação terão divulgado; não estou 24 horas por dia a ver TV nem posso seguir todos os canais simultaneamente. Mas após dias e dias a preencher os telejornais, é evidente que houve, se não um silêncio completo, pelo menos um contraste flagrante de desinteresse. Afinal, os mineiros continuam em Madrid? Voltaram pacificamente para as suas terras? As manifestações acabaram de repente? Continuam a luta por outros meios? Houve conversações? Alguma das reivindicações foi satisfeita? Nada se sabe.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ir de fato ao Algarve mesmo de Verão

O único fato que uso no Algarve é o fato de banho. De resto, quando vou em pleno Verão ao Algarve nunca levo fato, visto simplesmente camisas ou polos de mangas curtas e calções.

Mas, no mesmo noticiário em que Judite de Sousa prescindiu da soberania portuguesa sobre Olivença, oferecendo-a de graça aos espanhóis, falou-se do afluxo crescente de turistas franceses ao Algarve. Uma turista francesa declarou que "Le Algarve est en fait très joli". A legenda em português que acompanhou esta fala foi "O Algarve de fato é muito bonito." A omissão do c na palavra facto começa a ser quase constante, quando o facto é que o acordo ortográfico manda manter o c antes de um t desde que seja lido. Ora na palavra facto o c é de facto lido. Porque é que alguns escrevinhadores, sejam jornalistas ou tradutores, são mais papistas do que o Papa, ou seja, mais acordistas do que o acordo? Merecem ser obrigados a envergar fato completo no calor algarvio, para distinguirem fato de facto.

Mantenho a maiúscula na palavra Verão de propósito e não por distracção, mas rejeito escrever "acordo ortográfico" com maiúscula, porque não estou de acordo com o acordo.

domingo, 26 de agosto de 2012

A questão de Olivença

Não pertenço ao Grupo dos Amigos de Olivença, mas gosto de ser rigoroso (embora nem sempre o consiga) e aprecio quando os outros são rigorosos, e dizer que a Igreja de Santa Maria Madalena, em Olivença, se encontra em "território espanhol", como afirmou hoje no noticiários da TVI a jornalista Judite de Sousa é pura e simplesmente uma afirmação não rigorosa. A TVI insiste na falta de rigor ao afirmar no seu sítio na net que "está localizada na, atualmente, espanhola Olivença". Portugal nunca reconheceu, após o Congresso de Viena de 1815, a soberania espanhola sobre Olivença, portanto não concordamos que seja território espanhol, apesar de Espanha, que subscreveu as conclusões do Congresso em 1817, nunca nos ter devolvido o território. Se Judite de Sousa tivesse olhado para um mapa de Portugal ou da Península Ibérica teria verificado muito provavelmente que a fronteira Portugal-Espanha entre Badajoz e Mourão não está definida, já que a Comissão de Fronteiras Luso-Espanhola nunca chegou a acordo sobre a questão de Olivença.

De resto, a notícia de que a Igreja de Santa Maria Madalena pode vir a ser escolhida como "mejor rincón de España 2012" não afecta as pretensões portuguesas. Acaba por ser irónico, já que mesmo que Portugal viesse a reconhecer a soberania espanhola sobre Olivença, a igreja não deixava de ser uma igreja portuguesa, tal como há igrejas portuguesas noutros recantos do mundo.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

RTP

A comunicação social vive de polémicas, quanto mais melhor. Hoje, e eventualmente nos próximos dias, até o tema enjoar, trata-se da questão do futuro da RTP, privatização, concessão ou outra coisa. A entrevista de António Borges à TVI veio abrir as hostilidades. A esquerda ficou extremamente nervosa. A direita parece um pouco envergonhada e não tomou ainda posição sobre o fundo do problema, referindo-se apenas à forma. Uma das questões (de forma) mais debatidas é a do facto, que afinal não é um facto, de o "anúncio" da solução adoptada pelo Governo ter sido feito por António Borges na referida entrevista. Ninguém mais se lembrou, ou fingiu não se lembrar, que antes da entrevista já o Sol tinha publicado essa solução e que António Borges se limitou a confirmar, em resposta a uma pergunta de Judite de Sousa, que era uma das hipóteses a considerar, não escondendo contudo que essa hipótese lhe agradava. Uma das cabeças da futura coordenação bicéfala do BE chegou a dizer que o anúncio da posição do Governo tinha sido feito por "um funcionário qualquer", esquecendo que António Borges não é "funcionário", mas sim consultor, e não é, evidentemente, um "qualquer" no sentido depreciativo que a futura participante na liderança bicéfala lhe deu (e esquecendo ou ignorando que não se trata ainda de um anúncio de uma decisão do Governo, mas sim da confirmação de que a solução já publicada na imprensa é realmente uma hipótese).

Quanto ao fundo, pode ser verdade que, como vários já afirmaram, que na UE todos os membros tenham um canal de TV público gerido pelo respectivo governo. Só tenho conhecimento que é o caso da Espanha, Itália, França e Reino Unido, mas acredito que talvez o mesmo se possa passar nos outros membros. Pode ser até que no mundo a maioria dos países tenha canais de TV públicos, não sei, mas aceito essa possibilidade. No entanto nos Estados Unidos não existe tal e não consta que se sinta a sua falta. Para dizer a verdade, não sei bem de que consta o tal serviço público da RTP, para além da transmissão dos tempos de antena que pouca gente suporta ver. Não me pesa muito a contribuição audiovisual, e portanto não me importo de a pagar, mas não sei o que recebo em troca. A RTP é aparentemente uma televisão como as outras. Tem menos publicidade? Pode ser, mas mal se dá pela diferença. Por isso, se for privatizada ou concessionada, penso que o País nada perderá por esse motivo. Mas, admitindo que o serviço público é importante, estou com o Prof. João Duque, quando diz que o importante é defini-lo com clareza e obrigar o concessionário a respeitá-lo. Quanto à RTP2, tenho pena do seu eventual encerramento, mas, sem conhecer os dados concretos quanto a custos e sustentabilidade, sei que as audiências são muito baixas, pelo que admito que os poucos espectadores que gostam dos seus conteúdos, como eu, tenham de aceitar o seu fim.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O lucro é pecado

Para certas pessoas, o facto de empresas privadas terem lucro é um escândalo e quanto maior for o lucro conseguido mais escandaloso é. Porém essas mesmas pessoas lamentam, não sei se com sinceridade, o aumento do número de falências e de fecho de empresas.
Ontem ouvi parte de uma entrevista de um responsável (não ouvi qual o cargo) da CPPME - Confederação Portuguesa das Pequenas e Microempresas. Depois de críticas ao Governo por causa da inexistência de medidas de apoio às pequenas e microempresas, que, segundo afirmou, representam 97% do total de empresas do País, pelo que apoiar estas empresas é apoiar o País, lamentou que os lucros das grandes empresas tenha aumentado 155% entre 2004 e 2010, como um sinal de que a estratégia económica do Governo estava errada. O que me parece errado é a enorme predominância das pequenas e microempresas, o que limita certamente o aumento da produtividade e da competitividade da nossa economia. O encerramento de muitas pequenas e microempresas como consequência da crise e da diminuição do consumo que dela resulta é grave e é causa de aumento do desemprego com todo o sofrimento daí decorrente, mas se, a par deste processo, se verificasse o aumento de médias e grandes empresas, eventualmente por via de fusões ou de aquisições, poderia ter, a par dos efeitos inconvenientes referidos, outros benéficos. Infelizmente não está sendo o caso.
Outras afirmações do responsável da CPPME deixaram-me atónito. Uma foi de que, na falta de investimento privado, o investimento público deveria ser aumentado como a única via para salvação de pequenas empresas, nomeadamente no campo da construção, que está a ser dos mais duramente atingidos, o que é uma das principais causas do desemprego. Em teoria pode ser verdade, mas nas circunstâncias actuais é difícil ver como pode aumentar significativamente o investimento público, nomeadamente no domínio da construção. Na década anterior, mesmo antes do início da crise, este não evitou que as principais causas das nossas dificuldades actuais se avolumassem, nomeadamente a dívida pública e a dívida externa (pública e privada), antes contribuiu para aumentar esse efeito.
Outra das afirmações referidas foi a de que, se não foram tomadas medidas de apoio às empresas representadas pela CPPME, os empresários prejudicados poderão efectuar acções enérgicas, sem excluir protestos de rua. Protestos de rua de pequenos e microempresários para exigir apoios? Será inédito!

A partícula mais leve de sempre é mais pesada do que muitas

Não se pede aos jornalistas que percebam a fundo de física das partículas, mas pode-se pedir que não deturpem o que dizem os físicos e que não repitam acriticamente o que lêem ou ouvem. Na maior parte das vezes basta ir à net para verificar a veracidade de certas notícias. Deveria ser uma norma para o bom jornalista, mormente em casos em que o título de uma notícia não condiz com o texto respectivo. Vejamos o caso concreto que desencadeou estas apreciações:

Noticiaram há meses que tinha sido identificada, na Universidade de Coimbra, «a partícula subatómica mais leve de sempre». No texto da notícia, porém, falava-se de um «novo bosão» «que é 25 vezes mais leve do que um protão e três vezes mais leve que um pião (a mais leve partícula que participa nas interacções nucleares)» e que é «mais leve do que quaisquer outras partículas com (anti)quarks» Isto é um pouco diferente de ser a partícula subatómica mais leve de sempre.

Agora volta a falar-se desta descoberta porque «O trabalho de investigadores internacionais [russos] veio confirmar a descoberta de um cientista da Universidade de Coimbra, que identificou o "bosão mais leve de sempre"». Novamente o título amplia abusivamente o âmbito da descoberta, afirmando que «Cientistas russos confirmam descoberta portuguesa de partícula mais leve de sempre».  Mas mais adiante, no próprio corpo da notícia, diz que «A E(38), sugerida pela primeira vez publicamente em Fevereiro de 2011 por Eef van Beveren e George Rupp, é a mais leve partícula nuclear até agora observada.»

Bastaram-me alguns minutos, a mim que não sou físico e muito menos especialista em física de partículas, para verificar que:
1) A partícula descoberta em Fevereiro de 2011 e objecto da notícia de Março de 2012 é mais pesada do que o electrão. Segundo a própria notícia a massa é 1/25 da massa do protão, enquanto que o electrão tem uma massa de 1/1836 da do  protão. Em unidades SI, o protão tem uma massa de 1,673 x 10^-27 kg, o electrão de 9,1 x 10^-31 kg e o novo bosão de 6,7 x 10^-29 kg (1/25 do protão).
2) Reduzindo a observação apenas às partículas nucleares, excluindo pois o electrão, mesmo assim, não é verdade que seja «a mais leve partícula nuclear até agora observada», pois os quarks, que são igualmente partículas nucleares, são mais leves: Por exemplo o quark up tem uma massa de 3 x 10^-30 kg, menor, portanto, que na massa do novo bosão..
3) É, sim, o bosão mais leve até agora observado, já que tanto o electrão como os quarks são fermiões e não bosões e é verdade que é mais leve que o pião, cuja massa é 0,24 x 10^-27 kg.
4) Expressando a massa em MeV, uma unidade de energia mas que é comummente usada para definir massas de partículas subatómicas (pois, de acordo com a equação de Einstein E=mc^2), teremos:
protão: 938 MeV
pião: 135 MeV
muão: 105,6 MeV
E(38) (novo bosão): 37,5 MeV
quark up: 1,7 a 3,1 MeV
electrão: 0,511 MeV

Tudo isto se pode verificar rapidamente e sem esforço na Wikipedia.

domingo, 19 de agosto de 2012

Louçã defende capitalismo selvagem

Alguns podem ficar espantados ou até escandalizados com o título deste postal. Talvez até Louçã me ponha um processo por difamação. Mas eu apresento os factos:

 Segundo ouvi há pouco nas notícias da TV, Louçã afirmou num comício em Quarteira que "Governo pagou 6.000 milhões de euros a esses bancos [BPI e BCP]" pelo que "Se o Estado português, com o dinheiro dos portugueses, pagou quatro vezes o valor do BPI e três vezes o valor do BCP, esses bancos devem ser postos ao serviço do crédito público, devem ser nacionalizados porque já estão a ser pagos pelo dinheiro de toda a gente". Estas falas foram confirmadas por numerosas fontes. Contudo eu ouvi Louçã acrescentar como explicação complementar que a sugerida nacionalização se justifica porque "Quem põe dinheiro, manda!" Infelizmente, não vi esta última fala reproduzida pela abundante comunicação social que noticiou as anteriores, mas deve haver gravações nos canais que a transmitiram. Parece-me que esta defesa do poder do dinheiro é um forte argumento para justificação do capitalismo e mesmo, visto que nenhuma regulação ou restrição foi aduzida, do capitalismo selvagem, isto é, o que deriva do "posso, quero e mando, porque fui eu que pus o dinheiro".

Mas afinal nem sei a que 6.000 milhões de euros se refere Louçã. Será a parte utilizada dos 12.000 que a troika nos disponibilizou para recapitalização da banca? Se for assim, não me parece que se trate de "dinheiro dos portugueses" ou de "dinheiro de toda a gente". É sim um empréstimo que os bancos terão de devolver ao Estado (e não ao Governo) e que este terá de reembolsar à troika com juros, tal como a parte restante do montante do resgate. Se os bancos não o devolverem no prazo estipulado,  o Estado ficará dono da parte correspondente dos bancos, e portanto haverá de facto uma nacionalização parcial, independentemente das exigências de Louçã. Se não estou em erro, é isto que ficou estipulado e não vale a pena estar agora a exigi-lo.

Liderança bicéfala: homem e mulher

Não haverá uma certa incoerência na ideia do coordenador cessante do Bloco de Esquerda, Prof. Francisco Louçã, em sugerir que seja adoptada para o partido uma liderança bicéfala constituída por um homem e uma mulher, quando esse mesmo coordenador cessante e o partido que ainda chefia e onde pretende continuar a militar condenam veementemente a ideia de que qualquer criança tem direito a ter como pais um homem e uma mulher? Uma das razões invocadas de que essa configuração reflecte a sociedade não será discriminatória?

sábado, 18 de agosto de 2012

Violência na África do Sul

A troca de argumentos nos comentários e comentários a comentários ao post de Sérgio Lavos no Arrastão é o espelho da polémica política em Portugal. Vale a pena ler com atenção. A crítica ao próprio título do post, "A barbárie do capitalismo" deu origem a apreciações antagónicas sobre se se tratou de "confrontos" ou de uma "execução", sobre a acção da polícia, sobre o sindicalismo na África do Sul e sobre a violência latente no país. Mais do que as posições particulares, interessa o confronto de ideias a a diferente visão das mesmas imagens chegando a conclusões opostas.

domingo, 12 de agosto de 2012

Unidades e confusão

Também no Que Treta, leio:

«ouvi ontem no noticiário da TVI que se prevê uma precipitação de 40cm por metro quadrado. É como o limite legal da velocidade ser 120Km/h por automóvel ou alguém ter a idade de 18 anos por pessoa.»

Pois. A falta de precisão em unidades de medidas científicas ou económicas, mas que caíram na linguagem de todos os dias, é flagrante nos nossos meios de comunicação. Ainda hoje ouvi que "a inflação cresceu 2,8%". Não é a primeira vez que ouço disparates semelhantes. Quando compreenderão os senhores jornalistas que a inflação é o crescimento dos preços e que neste caso os preços aumentaram 2,8%, mas a inflação não cresceu, pelo contrário até diminuiu, já que no mês anterior tinha sido de 3,1% (se não me falha a memória).


sábado, 11 de agosto de 2012

Pingo Doce não amarga

Leio no blog Que Treta:

«Multa
O grupo Jerónimo Martins foi condenado a pagar a multa máxima pela venda de quinze produtos abaixo do seu custo na promoção de dia 1 de Maio. Terão de pagar trinta mil euros. No entanto, é provável que contestem a decisão em tribunal, assim que conseguirem parar de rir

 Publiquei este post assim que consegui parar de rir.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O sorriso dos portugueses

O Económico noticia que "os portugueses sorriem menos por causa da crise". Fiquei curioso de saber como tinham chegado a esta conclusão. Não é fácil medir o grau de sorriso dos portugueses; será que andariam pelas ruas e por outros locais públicos a contar quantos passantes sorriam? E então nas casas particulares? E como poderiam saber se era por causa da crise? Teria perguntado às pessoas sérias por que razão não sorriam? Como poderiam, doutro modo, chegar às conclusões enunciadas?

Cheio de curiosidade, apesar da futilidade da questão, fui ler o artigo completo. Pois bem: o estudo, do director do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, professor Freitas Magalhães foi feito por análise de fotografias publicadas nos jornais diários. Apesar de ter observado meio milhão de fotografias, pelo que lhe gabo a paciência, que o professor me perdoe, mas eu, que de estudos sociológicos nada entendo, acho que a amostra foi mal escolhida. As fotografias publicadas nos jornais não são representativas, pois podem facilmente sofrer de enviezamento pelo critério dos jornalistas: Quando os jornalistas estão em média mais mal dispostos, seja qual for a razão, como por exemplo por ganharem menos nas horas extraordinárias, terão tendência a escolher fotografias de pessoas mais carrancudas. Pode ser resultado da crise, mas a causa não está necessariamente nos portugueses, mas possivelmente nos jornalistas. E também pode ser por causa da crise dos jornais impressos, cujas vendas tem caído, e não directamente pela crise económica, financeira, da dívida soberana ou do euro, como queiram chamar-lhe.

Também a conclusão de que "as mulheres continuam a sorrir mais do que os homens", tirada a partir de fotografias publicadas na imprensa, parece-me absolutamente sujeita a erro. É fácil verificar que há maior tendência a publicar fotografias de mulheres sorridentes do que de homens sorridentes, até porque a maioria dos jornalistas da imprensa continuam, julgo eu, a ser homens.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O balde de água fria do BCE

As declarações de Draghi de há dias, "Within our mandate, the ECB is ready to do whatever it takes to preserve the Euro. And believe me, it will be enough", não me deixaram muito entusiasmado. Mesmo que estivesse a nadar em dinheiro não teria corrido a comprar títulos de dívida espanhola ou italiana e muito menos de bancos espanhóis ou italianos. Desconfiei logo da euforia dos mercados perante umas declarações tão vagas. E compreendi que, mesmo com a confirmação, no dia seguinte, de Monti e Hollande sobre o compromisso de defender o euro, a euforia não durasse mais de 48 horas. Não tinha, por isso, grande expectativa sobre o anúncio que Draghi marcara para esta Quinta-feira de tarde. Mesmo nessa manhã, ao ouvir comentários dos nossos informadores económicos nas TVs de que, se Draghi não consolidasse a sua frase algo enigmática com medidas concretas, como compra pelo BCE de dívida espanhola, os mercados poderiam reagir negativamente, fiquei à espera do pior. Ao contrário de alguns, certamente com mais conhecimentos do que eu e mais capazes de analisarem a situação, não "aguardava com alguma expectativa a reunião" do BCE. Pouco sei de economia, menos ainda de finanças e mesmo nada dos mecanismos financeiros internacionais, mas afinal a realidade veio confirmar os meus receios. Penso mesmo que não foi necessário ter em conta as pressões alemãs. Bastou manter-se fiel ao mandato.

Fundações

A publicação do Relatório de Avaliação de Fundações é altamente positiva. Em primeiro lugar porque confirma que o Governo está a trabalhar, por vezes sem ruído, no estudo da melhor maneira de reduzir a despesa pública, tirando assim valor às críticas de nada fazer nesse sentido a não ser fazer cortes nos salários dos funcionários públicos e nas pensões. Aumentam assim as esperanças de que noutros capítulos das despesas do Estado também se esteja a trabalhar sem grande alarde e de que se conheçam resultados positivos em breve, como por exemplo na avaliação e reorganização dos institutos do Estado e nas PPPs. Em segundo lugar, a divulgação do Relatório, incluindo os critérios adoptados e os resultados individualizados por fundação em fichas próprias, revela a máxima transparência neste trabalho e permite ao público conhecer este universo até agora secreto. Vale a pena dar uma vista de olhos ao Relatório e principalmente consultar algumas fichas, conforme o interesse de cada um.