sábado, 30 de março de 2013

Nova guerra da Coreia?

Para mim é um mistério o que pretende Kim Jong-Un e até onde pode levar a sua ameaça. O anúncio feito há minutos de ter entrado em "estado de guerra" com a Coreia do Sul é mais um passo na escalada ameaçadora. Não parece que possa agora iniciar uma nova fase de apaziguamento sem perder a face. Será Kim Jong-Un que decidiu estes avanços guerreiros para ultrapassar, pelo menos nos discursos de violência, o seu pai e o seu avô, impondo a sua vontade aos sector militar ou será antes que os militares resolveram agora impor a sua lógica de ataque a este líder mais fraco e fácil de convencer, enquanto que os seus antecessores não se deixavam levar em acções aventureiristas? Se amanhã começar a haver acções militares a sério, se a Coreia do Norte passar das palavras aos actos, isso pode levar situações muitíssimo perigosas. O exército norte-coreano é muito mais numeroso do que o sul-coreano, mesmo se somarmos a este o contingente militar americano na península, mas o Sul leva a palma em tecnologia, tanto em armas e mísseis como em carros de combate e aviões. O desfecho é difícil de prever.

sexta-feira, 29 de março de 2013

A Grande Burla

Tenho visto com prazer alguns episódios da séria televisiva sobre Artur Alves dos Reis na RTP-Memória. Quando da primeira passagem da série, comprei e li com interesse o livro A Grande Burla de Murray Teighy Bloom que descreve em pormenor o golpe deste célebre, audaz e habilidoso burlão e li também a biografia de Alves Reis de Francisco Teixeira da Mota. Não sei porquê, as façanhas de Alves Reis e o modo como, na TV, ele convence ou tente convencer os que duvidam da sua honestidade vieram-me à memória ao assistir a alguns momentos de uma recente entrevista na RTP.

Perguntas inúteis

Parece-me inexplicável a mania que os jornalistas têm de fazer perguntas a pessoas que se sabe de antemão que não vão responder a essas questões. É sabido que o Primeiro-Ministro, os ministros, o Presidente da República e outras individualidades com responsabilidade política não respondem a perguntas sobre situações hipotéticas. Por exemplo, para quê perguntar a Passos Coelho que fará se o Tribunal Constitucional chumbar este ou aquele artigo do orçamento. Claro que com mais ou menos delicadeza, dependendo das circunstâncias e do humor da ocasião, obtêm uma nega. Para quê pedir opiniões sobre assuntos que não devem ser apreciados pelo inquirido? Perguntar ao Primeiro-Ministro o que pensa sobre a entrevista de Sócrates pode ser provocador, mas é uma perda de tempo, já que se sabia que com toda a segurança o PM não daria a sua opinião.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Saída do euro

Mais uma vez, poupo trabalho copiando o que outros disseram e que merece a minha inteira concordância. Desta vez é o postal de João Miranda no Blasfémias. Reza assim:

«De entre os defensores da saída do euro só levo a sério aqueles que se derem ao trabalho de explicar o que acontecerá:
- aos salários reais
- ao preço de bens importados como gasolina, computadores e automóveis
- ao valor real dos depósitos bancários
- às várias dívidas que actualmente estão denominadas em euros
-aos bancos e a outras empresas dependentes da dívida
Dos que não se derem ao trabalho de explicar, concluo que ou não estão a sério quando defendem a saída do euro, ou estão a sério mas não fazem a mínima ideia de quais são as consequências

Sempre gostava de ter acesso a um estudo sério com estes dados.


Giscard d'Estaing

A ideia de Giscard d'Estaing de se constituir um núcleo duro de 9 países (que inclui Portugal) para a zona euro e de suspender a entrada de novos candidatos pode vir a ter futuro. É certo que vai contra uma regra da UE, mas as regras, como é bem sabido, podem ser modificadas.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Os ricos que paguem a crise

Ora é isto mesmo que eu também pensei:

«No meio disto tudo, os únicos contentes com o que aconteceu no Chipre devem andar pela sede do Bloco de Esquerda: finalmente um imposto sobre as grandes fortunas como deve ser.»

Só com uma diferença: Em Portugal o dinheiro dos ricos não chegava para pagar a crise, longe disso. Faltam-nos os depósitos russos.

PS: Afinal há outra diferença: Em Chipre não se trata de um imposto; se, como dizem, houver uma compensação com acções ou outros títulos, é um investimento forçado. Pode não ser melhor (as acções podem desvalorizar-se), mas em rigor é diferente.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Perda de confiança 5

O suspiro de alívio durou só algumas horas. Pouco depois de se saber que, na reunião do Eurogrupo, se tinha finalmente chegado a um acordo mais aceitável, ou pelo menos menos inaceitável, em relação ao resgate de Chipre, estalou como uma bomba a notícia de que o Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, tinha afirmado que a mesma receita de confisco de parte de depósitos de clientes de bancos poderia vir a ser adoptada, e era mesmo a solução preferível, noutros países. É certo que o acordo de Chipre isentava do confisco os depósitos até 100 000 euros, aumentando de modo significativo a taxa aplicada acima daquele valor. No entanto foi repetidamente afirmado, designadamente por Olli Rehn e cá pelo Governador do banco de Portugal e pelo Ministro das Finanças, que a contribuição forçada dos depositantes era apenas aplicável a Chipre, não sendo de admitir noutros países. Por esta razão a declaração de Dijsselbloem foi completamente inesperada e anulou a sensação de alívio dos depositantes em bancos em diversos países, nomeadamente dos que estão em processo de resgate, e provocou de imediato uma descida nas bolsas europeias com reflexos mais pronunciados no sector bancário. Se quisesse acabar de destruir a confiança dos investidores no sistema bancário europeu não faria melhor.

Acabo de saber que Dijsselbloem veio suavizar a sua posição, numa tentativa de acalmar os ânimos, afirmando, num curto comunicado que “Chipre é um caso específico com desafios excepcionais”. Como já aqui disse, não é só nos bancos que se está a perder a confiança; é sobretudo nos dirigentes europeus.


Desacordo no acordo 2

Puseram na minha caixa do correio um prospecto de propaganda de uma firma de artigos eléctricos que convidava a obter mais informação num sítio da www. Como o assunto me interessava, lá fui ao dito sítio. Falava em "detetores de movimento", artigo (quer dizer "detectores de movimento") de que eu queria mais informação. Como havia um rectângulo para escrevermos a palavra que queríamos pesquisar, escrevi "detetores", respeitando a ortografia da referência no sítio web, embora desrespeitando a minha vontade de nunca usar o acordo ortográfico. Como resposta obtive a informação de nada ter sido encontrado. Fiquei confuso: Como era possível terem "detetores" na lista de artigos e depois não encontrarem na informação de pormenor? Tentei então pesquisar "detectores" e eis que apareceu a informação requerida. Esta situação é apenas um pequeno exemplo da confusão que o acordo veio trazer.

sábado, 23 de março de 2013

Perda de confiança 4

É reconfortante ler de especialistas o que nós, sem ser especialistas nem sequer conhecedores, já tínhamos pensado. Foi o que aconteceu comigo ao ler o artigo de Ricardo Reis no Dinheiro Vivo: começa assim:

«A política europeia de resposta à crise tem sido uma enorme confusão. No Chipre, a proposta de taxar os depositantes foi tão absurda que, nem 24 horas depois, todos os que a assinaram, incluindo cipriotas, FMI, e ministros das Finanças, recusavam a responsabilidade e a autoria de tão obtusa ideia. Era difícil ter melhor comprovativo da desorientação dos líderes europeus. No domingo, assinaram todos livremente um acordo; na segunda-feira todos discordavam e diziam que tinha sido outro a forçar a medida.»
 
É melhor ler o resto.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O regresso de Sócrates

A notícia do convite da RTP endereçado ao ex-primeiro ministro José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa para comentar semanalmente a actualidade nacional, e suponho que em particular a actualidade política do País, caiu como uma bomba e suscitou de imediato reacções adversas e até algumas favoráveis. Há agora uma luta renhida de petições e de declarações sobre o assunto. Um dos argumentos aduzidos em favor da decisão da RTP baseia-se na célebre frase de Voltaire: "Não concordo com nem uma das palavras que me diz, mas lutarei até com minha vida se preciso for, para que tenhas o direito de dizê-las". Embora nem sempre esteja de acordo com as ideias de Voltaire, adiro completamente a este princípio (com a ressalva de que não subscrevo a parte de "até com a minha vida se for preciso"; não teria coragem para tanto). No entanto, este argumento não é aplicável a esta questão: Não é objectivo dos que protestam contra o convite a Sócrates tirar-lhe o direito de liberdade de expressão. Sócrates tem, tal como o interlocutor de Voltaire, tem todo o direito de falar e é bom que o tenha. O que está em causa é o critério e a oportunidade do convite para comentador endereçado a Sócrates, principalmente por partir de uma estação de televisão que tem por obrigação prestar serviço público. Que utilidade tem para o País ouvir as opiniões do senhor Pinto de Sousa? Que interesse tem para os telespectadores saber o que ele pensa? O seu percurso profissional e político não o recomenda como emissor de pareceres válidos. Claro que há pelo menos mais um exemplo de um ex-primeiro ministro que tem feito comentários na TV e vários ex-líderes de partidos e ex-ministros também o fazem, mas o caso de Sócrates é muitíssimo mais grave pelo modo como desgovernou o País e pelo estado em que deixou as nossas finanças. Basta todos os dias sermos confrontados com as consequências da sua política.

terça-feira, 19 de março de 2013

Perda de confiança 3

Se eu fosse deputado cipriota também teria votado contra.

Perda de confiança 2

Visto aqui:

«Chipre: a ultrapassagem dos limites da decência
por Carlos Faria
A partir do que se propôs para o Chipre ficámos todos agora a saber que dentro da eurozona já não se "castiga" apenas aqueles que viverem acima daquilo que podiam, pois passou-se também a massacrar todos aqueles que em vez de se endividarem, viveram abaixo daquilo que podiam e pouparam.
Tudo passou a valer para estes dirigentes europeus, não há princípios de ética ou de moral que os trave, isto nem é neoliberalismo no seu pior é nojeira pura contra os povos fragilizados pela ganância de outros.»

 Por mim, não perdi apenas a confiança no sistema bancário: Perdi a confiança nos dirigentes europeus. Aliás, o sistema bancário cipriota é mais vítima que carrasco.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Perda de confiança

O principal pilar de sustentação do sistema bancário é a confiança. Com esta medida, perdeu-se a confiança. Temo pelo sistema bancário (ainda mais do que pelos meus depósitos).

quarta-feira, 13 de março de 2013

Desacordo no acordo

O jornal Olivais, publicado pela Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais, é distribuído gratuitamente aos moradores da freguesia e reúne notícias locais de interesse. Infelizmente a redacção do periódico adoptou o acordo ortográfico de 1990, o que, para quem não está habituado (ou não se quer habituar), dificulta a leitura e irrita sobremaneira. Até uma notícia sobre um evento anti-acordo está escrita conforme o acordo. O artigo «"catáSTrOPhe" na Casa da Cultura dos Olivais» noticia que, por iniciativa do "#5 - cardinal cinco colectivo", foi inaugurada na Casa da Cultura uma exposição "que pretende dar a oportunidade a vários artistas de criticarem e debaterem as novas regras da ortografia portuguesa". No âmbito desta iniciativa realizou-se uma conferência sobre "Institucionalidade e demérito do acordo ortográfico" e um debate sobre "Desacordo ortográfico - um contínuo mal-estar no reino do absurdo". Apesar da crítica ao acordo destes eventos, a notícia diz que «nove artistas procuram defender um dos aspetos da identidade portuguesa: a língua», que «encaramos esta exposição como um ato de solidariedade entre as expressões artísticas e a escrita», que «a Casa da Cultura está recetiva a qualquer movimento» e que «os seus criadores [das obras em exposição] pretendem preservar o "aspeto sagrado da língua"». Até numa citação entre aspas o redactor decidiu introduzir o erro ortográfico. Lamentável, numa iniciativa muito louvável.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Pietá

O escândalo não é cá, é no Irão, por causa de uma fotografia que mostra o Presidente iraniano, Ahmadinejad a consolar a mãe de Chávez com o rosto encostado ao dela e de mãos dadas. O que a nós nos parece absolutamente natural - consolar uma mãe que perdeu o filho - dando-lhe um beijo e a mão, para os xiitas parece ser um pecado, já que é proibido a qualquer homem tocar uma mulher que não seja familiar. O Presidente tem sido criticado por este acto e mais tarde houve uma tentativa de negar o que aconteceu acusando o jornal britânico Daily Telegraph de ter criado uma fotomontagem, acusação que veio a ser desmascarada. Por uma vez, a minha simpatia vai para o gesto humano de Ahmadinejad.

sábado, 9 de março de 2013

Dia do Homem

Ontem (há precisamente 52 minutos) foi o Dia da Mulher. Para quando o Dia do Homem? É uma injustiça, não é?

sexta-feira, 8 de março de 2013

Salário mínimo

A recusa do Primeiro-Ministro de aumentar o Salário Mínimo Nacional está a levantar coros de protestos nas várias oposições. A menção de que seria mais sensato até diminui-lo é considerada pelos círculos da esquerda como um verdadeiro escândalo. A contradição, evidente para quem raciocina sobre o assunto, dos que criticam o alto nível de desemprego e exigem ao mesmo tempo um aumento do SMN que só poderá provocar mais desemprego não parece merecer qualquer consideração. Mas o que mais é de salientar é a declaração de que "os patrões estão disponíveis para o aumento do SMN". A ser verdade, porque não aumentam os seus trabalhadores que ganham o SMN? Segundo acabo de ouvir dizer Francisco Louçã, num programa novo na SIC em que exactamente criticava a recusa do PM, o número de trabalhadores que ganham o SMN tem aumentado. Quer dizer que "os patrões" estão prontos a aumentar estes trabalhadores mas só se forem obrigados a isso por lei! Ora nada os impede de aumentar estes e outros trabalhadores, se estão disponíveis para tal, sem que o valor do SMN tenha de aumentar por isso. A aparente contradição pode estar na questão de quem são "os patrões". Quem mostrou disponibilidade para aceitar o aumento do SMN foram os representantes do patronato, mas, que eu saiba, não houve uma consulta sistemática às bases. Gostaria de conhecer a opinião das PMEs, e principalmente dos empresários que têm ao seu serviço empregados que ganham o SMN. É bem certo que subir o SMN "poderia mudar a vida de 600 mil portugueses"; alguns teriam mais alguns euros para gastar ao fim do mês, outros perderiam o seu emprego.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Eleições na Venezuela

Do blog O Princípio da Incerteza:

«Afinal as minhas dúvidas sobre o futuro imediato da situação política na Venezuela estavam um pouco deslocadas. Segundo se anuncia, não está em causa a convocação de eleições presidenciais. Deverão ser realizadas num prazo de 30 dias. Isto não quer dizer que não haja controvérsias, mas a principal, ao que parece, não tem a ver com a oposição, mas sim com diferentes forças dentro do próprio movimento chavista: O posto de presidente interino, tomado por Maduro, deveria, segundo a constituição, ter sido atribuído ao presidente do parlamento. Ao que parece, a dúvida é se Chávez, antes de morrer, tomou ou não posse oficialmente. Deixemos os venezuelanos resolver o assunto.»

Revolucionário, mas pouco

Vasco Lourenço, o destemido capitão de Abril, que entretanto já foi devidamente promovido a coronel, afirmou que se houvesse condições já estaria a preparar nova revolução. Não encontrei, nas diferentes notícias que reproduzem esta afirmação com ligeiras variantes, qualquer esclarecimento sobre quais as condições que Vasco Lourenço considera necessárias. Pelas declarações, não parece que o facto de agora vivermos em democracia, ao contrário do que sucedia em 24 de Abril de 1974, seja impedimento, visto que há uma "situação de ilegitimidade". Que regime desejaria o coronel instaurar depois de levar a cabo uma revolução triunfante? Era bom que esclarecesse.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Morreu Chávez. Que podem esperar os venezuelanos?

Do blog O Princípio da Incerteza:

«Com a morte de Chávez, abre-se um período de incertezas e provavelmente de lutas políticas. Não conheço a lei venezuelana, mas será que Maduro poderá suceder a Chávez sem eleições? Mesmo que esta sucessão esteja prevista na lei (como, sucede, por exemplo, nos Estados Unidos), só será válida para o caso de morte de um presidente efectivo, mas Chávez não chegou a tomar posse. Mas não me parece que os chavistas aceitem pacificamente a hipótese de convocar eleições presidenciais. O exército já anunciou que defenderá os ideias de Chávez. Conseguirá Maduro fazer-se reconhecer como presidente com o apoio das forças armadas e sem grandes convulsões? Por outro lado, terá a oposição a força suficiente para exigir a realização de novas eleições? As informações que nos chegam não são suficientes para prever o desfecho. Veremos...»

domingo, 3 de março de 2013

O Povo é quem mais ordena!

O Povo é quem mais ordena: É esta, em poucas palavras, a essência da democracia. Não só sou convictamente a favor da democracia (A democracia é o pior dos sistemas, excluídos todos os demais), como sou também um admirador da arte de José Afonso. Entre muitas outras, gosto da canção Grândola, Vila Morena, talvez por ser alentejano e o nome de Grândola estar entre as minhas memórias mais antigas. Cantar a Grândola, Vila Morena só pode ser entendido como um acto contra o actual Governo por um desvio ideológico que acha que as regras mais elementares da nossa Constituição não têm valor. No nosso regime de democracia representativa está definido claramente que o Parlamento depende de eleições e que o partido mais votado tem o direito de escolher o Primeiro Ministro que forma um Governo para uma legislatura, que por sua vez tem o direito de governar durante 4 anos desde que não se demita ou que o Presidente da República não o demita. Nada está previsto para o caso de o Governo não respeitar as promessas eleitorais. Mesmo que assim fosse, seria preciso determinar quem procederia à comparação entre o que se prometera e o que se cumpriu e quem decidiria pela destituição. Certamente não seriam os partidos da oposição a tomar essa decisão nem um grupo de manifestantes, por muito numerosos ou persistentes que fossem. A falta de legitimidade do actual Governo é uma falácia. Como é que o Povo exprime a sua vontade? Como é que ordena? Aos gritos nas ruas com cartazes em que exprime a sua vontade? Com manifestos e declarações? Não. É com eleições.

Mas mesmo admitindo que a partir de um determinado número de manifestantes contra o Governo, este se devia demitir, coisa absurda e que tornaria todos os países mais ingovernáveis do que é agora a Itália, vejamos os números. Nas eleições legislativas de 2011 o PSD obteve 2.179.742 votos e o CDS/PP 653.967. O actual Governo teve, portanto, um apoio de 2.833.709 votantes. Ora os organizadores da manifestação do dia 2 reivindicam um máximo de 1,5 milhões de participantes. Mesmo que este número fosse verdadeiro e mesmo que a regra enunciada acima fosse válida, estaríamos longe de ter o número mínimo necessário para impugnar o Governo. Mas, como várias vozes têm alertado, os números adiantados pelos organizadores são fantasistas. Em Lisboa, em vez dos 500.000 citados, os manifestantes seriam, quando muito 177.000 pessoas se o Terreiro do Paço, a Rua Augusta (ou a Rua Áurea), os Restauradores e a Avenida da Liberdade estivessem completamente cheios com uma multidão muito apertada (3 pessoas por metro quadrado), o que estava longe de acontecer. A afluência estaria mais próximo de metade daquele número: 88.000 protestantes. No resto do País a situação não deverá ser muito diferente, como aliás é norma na estimativa de participantes neste tipo de acontecimentos.

O Povo é quem mais ordena, mas não 88.000 pessoas não são o Povo, nem 177.000, nem 500.000, nem 1.500.000.

O que foi mais importante ontem?

Evidentemente, o mais importante foi um jogo de futebol! Houve uma manifestação, preparada meticulosamente, anunciada abundantemente, com apelos à participação, que terá reunido, segundo os organizadores 1,5 milhões de manifestantes (número muitíssimo exagerado, como é possível avaliar pelas imagens aéreas, mas em que alguns órgãos de informação acreditaram), mas à meia-noite a notícia de abertura dos principais canais informativos foi o resultado de um jogo de futebol. O movimento "Que se lixe a troika" esteve nitidamente com azar: Não só a afluência foi mais fraca do que o esperado, como a importância do evento foi abafada por coisas pelos vistos mais importantes segundo os critérios jornalísticos.

sábado, 2 de março de 2013

Apelos

Os jornais televisivos de ontem, na sua maioria, e ainda em especial o programa "Expresso da Meia-Noite" foram quase só apelos lancinantes à manifestação de hoje patrocinada pelo movimento "Que se lixe a troika". Até já se sabe que vai ser uma manifestação grande. É o que se chama noticiar o futuro. Ricardo Costa disse claramente: "Esperamos que seja uma grande manifestação". Eu até acredito que pode ser grande, mas o termo "esperamos" não exprime apenas previsão do futuro, exprime normalmente também desejo, esperança. (Eu até acredito que seja realmente grande, ao contrário das manifestações cantantes que, com 1, 5, 20 ou, quando muito, 30 pessoas, se fazem ouvir cada vez que um ministro entra ou sai de uma porta, em geral muito desafinadas. De qualquer modo, não cabe aos jornalistas fazerem conjecturas e muito menos apelarem.