sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Dúvidas da DBRS

A agência de notação financeira do Canadá, a DBRS, admite cortar a notação portuguesa, a única que ainda não é classificada como "lixo", por temer um desacordo com a União Europeia sobre o orçamento de 2016. Se o Governo seguir os conselhos de Catarina Martins de bater o pé à Comissão Europeia e recusar qualquer intromissão que diminua a nossa soberania de fazermos os orçamentos como quisermos, o desacordo temido pela DBRS será inevitável, com as consequências que a porta-voz do BE certamente não desconhece. Mas António Costa está tão seguro de que é possível cumprir os compromissos europeus e simultâneamente os compromissos para com o eleitorado e para com os partidos que o apoiam no Parlamento (torturando a Matemática, como eu previ), que só lhe falta convencer os parceiros europeus e as agências de notação da sua razão. Sugiro que envie rapidamente o deputado João Galamba ao Canadá para que, de viva voz, explique aos técnicos da DBRS que não devem misturar alhos com bugalhos, mistura que é sabido há séculos dar mau resultado.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A matemática implacável também por cá

Escrevi em tempos que a matemática é implacável. Referia-me então à dificuldade que, na Grécia, o Syriza teria em terminar com a austeridade, renegociar a dívida e conseguir financiamento para pagar salários dos funcionários públicos e cumprir as outras funções do estado, tudo ao mesmo tempo. Como se sabe, não conseguiu. Mas agora, a matemática aplica-se, não às contas da Grécia, mas às nossas. Mais uma vez, a matemática não se compadece com boas intenções ou com optimismos desajustados da realidade. A promessa de acabar com a austeridade (não imediatamente, que é impossível como até Costa já reconheceu, por muito que custe aos seus apoios de esquerda, mas, em certos pontos, ao longo dos 4 anos da legislatura) não é compatível com a obrigação de redução do défice. Só que a pobre matemática, bem torturada, deixa de ser uma ciência exacta, a rainha das ciências exactas, para poder dar os resultados que sejam desejados se se adoptarem como dados de partida números irrealistas. É o que Rita Carreira chama, em O "Exel de Centeno" o efeito da cauda que abana o cão. Suponho que Costa e Centeno terão ficado muito contentes com a ideia e vá de enviar o célebre esboço de orçamento para Bruxelas. Agora recebem críticas não só da oposição, mas também das agências de notação financeira, do Conselho de Finanças Públicas e da UTAO, assim como um sério pedido de explicações da Comissão Europeia, explicações tão urgentes que têm de ser apresentadas em apenas 2 dias, sob a ameaça de não aceitação do esboço e exigência da sua reformulação. A apreciação da UTAO é particularmente violenta, ao apontar no documento "contradições", "irregularidades" e contas questionáveis, e todos são unânimes em falar em perigo, demasiado optimismo, irrealismo.

Entretanto Costa parece satisfeito e diz que a carta da Comissão é absolutamente normal, que muitos países têm recebido cartas semelhantes, Galamba diz que todos estão errados, misturam alhos com bugalhos, e só o Governo está certo, Porfírio Silva acusa Bruxelas de "tentar tramar o governo português". De Centeno não se sabe, deve estar fechado a preparar as explicações pedidas por Bruxelas. Não sei se pensa seguir o exemplo de Campos Cunha. É a gente como esta que estamos entregues.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Eleições presidenciais

Mais uma vez os portugueses foram sensatos e recusaram pôr todos os ovos no mesmo cesto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A educação não deve ter a nota como finalidade

O novo Ministro da Educação diz que quem o acusa de radicalismo tem razão, porque a reforma que pretende fazer na educação é radical. Diz também que é errado que se adopte a nota como a principal finalidade da educação. Como a nota é inconveniente, acaba com os exames. Deveria antes acabar com a nota. Isso sim, seria absolutamente radical. Se o ministério desse ordem para acabarem as notas, seja as de 1 a 5, as de 1 a 20, as de 0% a 100% e as de "não satisfaz", "satisfaz", "Satisfaz" (sim, há uma escala em que "satisfaz" vale um pouco menos de "Satisfaz"), "Bom" e "Excelente", enfim, acabar com todas as notas, classificações e apreciações, então teríamos a educação em estado puro, a ausência de desigualdades, e, por consequência, acabavam-se também as reprovações, as retenções e outros tipos de chumbos, como o "não aprovado". Espero que nos 4 anos da legislatura o ministro tenha tempo para esta reforma radical.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Investidores assutados

Teve pouca repercussão, pelo menos até agora, a notícia adiantada pelo Expresso segundo a qual os "grandes investidores estão de pé atrás em relação a Portugal.", “Os investidores estão muito renitentes a fazer novos investimentos porque não sabem o que pode voltar a acontecer.” e “no futuro próximo, os bancos portugueses não vão conseguir emitir divida ou fazer aumentos de capital no mercado.” Tudo isto por causa da decisão do Banco de Portugal de transferir para o BES mau  obrigações do Novo Banco. Felizmente "os bancos portugueses vão continuar salvaguardados, obtendo financiamento por parte do BCE." De qualquer modo, a notícia é muito preocupante. Mas parece que o melhor é não falar muito no assunto, para não assustar o povo.

A única referência que consegui encontrar a esta situação foi n'O Insurgente.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pensionistas à espera da reposição do seu poder de compra

Pareceu-me ouvir prometer que s pensionistas iriam finalmente ver as suas pensões aumentadas, para compensar a inflação, e que os cortes que iam ser repostos. Esperava ansiosamente pela minha pensão de Janeiro para saber quanto is ganhar. Aumento não houve: o valor bruto, isto é, antes dos impostos, é exactamente o mesmo que vem sendo desde 2009. Já 7 anos sem aumento. Reposição de cortes também não houve. O valor líquido é também exactamente o mesmo do do ano passado. Nesse ano houve um pequeno aumento (de 2014 para 2015), depois de anos de diminuição, aumento este correspondente, acho eu, à diminuição determinada pelo Governo de Passos Coelho, do desconto correspondente à Contribuição Extraordinária de Solidariedade. Mas este ano nada, nem 1 cêntimo. O meu poder de compra, portanto, não aumentou, pelo contrário diminuiu, embora ligeiramente, devido à inflação. Para mim a austeridade continua. Mais ainda: um familiar meu, pensionista que ganha a pensão mínima, também não teve qualquer aumento, ao contrário dos anos anteriores. No caso dos mais pobres, portanto, a austeridade ainda aumentou.

Austeridade e populismo

Há dias li na TV a seguinte frase: "Socialistas europeus querem unir-se contra a austeridade e o populismo". Só assim. Não sei quem, de entre os socialistas europeus, quer tal coisa, não sei se o Partido Socialista Europeu, que reúne vários partidos socialistas de vários países europeus, é o autor desta iniciativa nem sei o que significa em concreto unirem-se contra seja o que for. Não sei porque, como é frequente, as TVs fogem a explicar estes pormenores. É a verdade a que temos direito... Mas o que sei é que a frase em si tem uma contradição insanável: é que o discurso contra a austeridade que aparece regularmente no discurso dos mais variados socialistas é o mais puro populismo. Assim é impossível lutar-se, unidos ou desunidos, contra as duas coisas ao mesmo tempo. Os socialistas insistem que a austeridade é uma opção, que é possível combater a austeridade. No caso particular de Portugal, a afirmação tem ainda um aspecto mais contraditório, porque quem provocou a necessidade de um "tratamento" financeiro do País com austeridade foi o PS, quem negociou os termos em que essa austeridade teria de ser aplicada foi o PS. Aparecer agora a prometer acabar com a austeridade, acusando o governo anterior de a ter aplicado por opção ideológica é exactamente populismo. Só será possível aliviar as medidas de austeridade porque o Governo de Passos Coelho criou as condições em que isso é possível. Mesmo assim já está à vista que não é possível fazer esse alívio tão rapidamente como o PS prometeu na campanha eleitoral (e apesar disso não conseguiu ganhar as eleições). Vir gabar-se de estar a acabar com a austeridade porque se governa melhor que os outros é exactamente populismo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O Ministério da Educação: aquela máquina

Que o Ministério da Educação tem sido uma máquina trituradora de ministros, é sabido. Que passam os ministros, mudam regras e regulamentos, volta-se a mudar tudo, avalia-se e deixa-se de avaliar, mas a enorme máquina continua sensivelmente igual, é notório. Mas até agora não se tem explicado porque é assim. Não se tem explicado porque não se sabe ou por falta de coragem de quem sabe. Ora coragem é o que não faltou a rui a., que explica, no Blasfémias, que "O nosso sistema educativo funciona mal porque o Ministério da Educação foi tomado pelo Partido Comunista Português em 1974, e nunca nenhum ministro teve coragem de o tirar de lá." Necessário ler o resto. Está tudo explicado.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Grau zero de informação

Quase todos os canais noticiosos da TV nacional inserem regularmente roda-pés com curtas notícias mais ou menos actualizadas. Nalguns casos não parece haver qualquer critério na sua ordenação, noutros são divididas por secções como "Mundo", País", "Economia", "Desporto", etc.. Embora sejam úteis para veicular notícias de última hora ou informar sucintamente para além dos grandes temas que são tratados nos noticiários televisivos, infelizmente é demasiado frequente que a sua leitura deixe mais dúvidas do que informação útil ou que a informação veiculada seja tão vaga que se torne completamente inútil.

Um exemplo concreto é o que ocorreu há pouco sobre a campanha eleitoral para as eleições presidenciais. Um canal noticiou em roda-pé simplesmente: "Edgar Silva defende nova visão estratégica para as forças armadas". Nem mais. Uma nova visão estratégica! Qual seria esta visão, em que poderia ser diferente da visão estratégica actual, não se sabe. Para que serve veicular esta notícia? Pensei que ou Edgar Silva não tinha definido qual o significado da visão que defendia e era apenas uma ideia sem conteúdo atirada ao vento, ou então o jornalista que redigiu a curta notícia não teve a noção de que, assim resumida, a ideia do candidato ficava vazia de sentido. Ao procurar informação que explicasse a situação, dei com a notícia desenvolvida no Observador; aí a frase do roda-pé era o título da notícia e o corpo desenvolvia e explicava a ideia de que a "nova visão" defendida pelo candidato do PCP era que as forças armadas portugueses só interviessem em missões internacionais que decorressem "de decisões ou de compromissos no quadro das Nações Unidas", deixando de se "subordinar aos interesses da NATO e dos EUA". Pronto: tudo explicado, mas, se não cabia num roda-pé, mais valia que se abstivessem de dar a notícia a não ser quando a pudessem desenvolver. Se a frase curta e pouco explicativa é aceitável num título, que se destina apenas a chamar a atenção e definir o assunto, já num roda-pé é inaceitável por incompreensível.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Canções? Não: Songs

A redacção do Observador escolheu 10 canções para agitar a passagem do ano. E, sem surpresa, são todas absolutamente desconhecidas para mim, assim como a grande maioria dos seus intérpretes. E são todas anglo-saxónicas, ou pelo menos com títulos em inglês. Não me admira, já que é difícil ligar uma estação de rádio ou sintonizar um canal musical de TV e não ouvir cantar em inglês, mesmo que por vezes quem canta não seja britânico nem americano (excepto no Canal Mezzo, evidentemente). Mas mesmo assim, não será o gosto dos componentes da redacção do Observador um pouco limitado? Eu sei que, devido à minha idade, sou do tempo em que se apreciavam canções francesas, italianas e até algumas portuguesas e mais raramente espanholas. Agora é tudo inglês. Posso ser bota-de-elástico (a própria expressão "bota-de-elástico" está a cair em desuso, prefere-se "cota"), mas não se terá caído numa monotonia musical? E não me refiro só à língua, também os estilos agora em moda são monótonos. Não as canções, evidentemente, mas sim os estilos.

Serão sinais dos tempos? Antes não era assim? Bem, não é preciso sair do Observador, basta mudar de secção e ir à escolha das dezasseis canções que fazem 50 anos em 2016, mais as cinco5 da mesma época e que, segundo o articulista, ficaram no ouvido (não no meu ouvido, certamente). Esta selecção não é da responsabilidade da redacção do jornal, mas sim do jornalista João Cândido da Silva, mas segue o mesmo princípio linguístico: têm todas títulos em inglês e suponho que eram cantadas neste idioma. Ora há 50 anos eu ainda não era tão velho como hoje (!), estava mesmo na chamada flor da idade. E sei perfeitamente que havia canções cantadas noutras línguas e algumas que ficaram mesmo no ouvido, pelo menos no meu.