domingo, 21 de outubro de 2012

Insinuai, que da insinuação alguma coisa fica

É bem conhecido o provérbio: "Caluniai, que da calúnia alguma coisa fica." Poderemos estender um pouco o âmbito e dizer com verdade: "Lançai rumores, que do rumor alguma coisa fica", ou: "Insinuai, que da insinuação alguma coisa fica." Que eu saiba estes dois últimos dizeres não são provérbios, mas não só são tão verdadeiros como o provérbio sobre a calúnia como são largamente praticados pela generalidade dos meios de comunicação. Lança-se uma notícia, que até pode ser e geralmente é verdadeira, mas que, pelo modo como é redigida e por vezes pelo que se cala, leva a pensar em ilicitudes, em actos menos honestos ou menos éticos ou em responsabilizações ilusórias.

Vem isto a propósito da notícia sobre ter Passos Coelho ter sido "apanhado" numa escuta telefónica no âmbito da investigação do caso Monte Branco, um tenebroso caso de alegada fraude fiscal e branqueamento de capitais. O Expresso chegou a utilizar como título a afirmação de que Passos tinha sido "alvo de escutas". Ora se foi apanhado fortuitamente não era obviamente ele o alvo. Era nitidamente uma não notícia, já que não divulgava o interlocutor, não referia o tema da conversa nem qualquer pormenor. Pois esta não notícia foi amplamente divulgada, como se dela se pudesse tirar qualquer ilação sobre qualquer envolvimento do Primeiro Ministro no caso sob investigação.

Felizmente a bolha foi rebentada rapidamente e o próprio interlocutor interveio para explicar o motivo do telefonema e esclarecer que nada havia a apontar ao Primeiro Ministro, que também já admitiu que autoriza a divulgação da conversa, que aliás não teria nada a ver com o caso Monte Branco. Mas, como do rumor ou da insinuação alguma coisa fica, e como tenho ouvido e lido acusações gravíssimas e não provadas contra Passos Coelho (basta ler os cartazes das manifestações e ler comentários na net), não me admirarei se este caso continuar a ser apontado como indicação de que Passo possa estar ligado a fraudes e lavagens de dinheiro.

Sem comentários: