sexta-feira, 15 de julho de 2016

Cabelo e governação

O fosso entre pobres e ricos, as desigualdades de rendimentos e as injustiças sociais são constante assunto de debate. Mas por vezes o que choca não é a desigualdade, é a pouca diferença de rendimentos entre quem, por um lado, tem poucas responsabilidades e faz um trabalho que pouco contribui para o bem comum e quem, por outro, tem enormes responsabilidades e de cujo trabalho dependem milhões. Há dias, perante a notícia de que a Chanceler alemã Angela Merkel tinha o miserável salário mensal de 18 000 euros fiquei admirado e até chocado. Mesmo para os que criticam o poder da Chanceler e as políticas que segue, suponho que ficarão surpreendidos com a exiguidade deste salário, principalmente quando comparado com os dos grandes chefes de empresas. Outra notícia que chocou em sentido contrário foi a que revelou o ordenado, superior a 9000 euros, do cabeleireiro do Presidente Hollande. A comparação deste salário com o da Chanceler alemã só pode surpreender. A explicação de que o cabeleireiro é privado e está de serviço 24 horas por dia não explica nada. O meu cabeleireiro cobra 12 euros por um corte de cabelo com lavagem, o que me parece um preço razoável. Supondo que esta operação demora uma hora, se eu exigisse que ele estivesse 24 horas por dia e 30 dias por mês a cortar e pentear o meu cabelo deveria pagar-lhe 12*24*30=8640 euros por mês, mas é evidente que esse horário, além de ilegal, é absolutamente absurdo. Um cabeleireiro ganhar mais de metade do que ganha a chefe máxima de um grande país não é razoável, qualquer que seja o dono do cabelo que ele serve e qualquer que seja o seu horário ou a sua ausência de horário.

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