domingo, 11 de outubro de 2015

Esquerda, volver! Mas que esquerda?

A fractura entre esquerda e direita ainda tem sentido? Claro que tem, embora nem sempre seja fácil classificar os partidos dentro desta dualidade. Esta classificação está aliás sujeita a uma considerável subjectividade, ela própria influenciada pela situação, mais à esquerda ou mais à direita do classificador. Veja-se, por exemplo, que as pessoas que simpatizam com a coligação PSD/CDS costumam considerá-la de centro-direita, enquanto que dos socialistas para a esquerda todos a classificam como direita. Mas apesar de se reconhecer que há partidos mais à direita e outros mais à esquerda, nem sempre a fractura passa pelo centro, porque há outras dimensões. No actual espectro português, se se examinarem com cuidado os programas eleitorais e o posicionamento de cada entidade com base não só nos programas mais ainda nas declarações e actos dos respectivos actores, verifica-se que a grande fractura não se situa entre esquerda e direita, mas sim entre moderados e esquerdistas. De facto, há mais afinidades entre o PSD e o PS do que entre este e o PCP e o BE. E para o demonstrar não é necessário recorrer a posição perante tratados, o euro ou a Europa. Estas entidades são ocasionais e o modo como os partidos se posicionam perante elas depende da sua opção política anterior. A diferença está mais entre a aceitação de uma economia de mercado, da defesa da propriedade privada e das regras da democracia representativa e a sua recusa. O socialismo democrático moderno não pressupõe a necessidade, nem sequer a vantagem, de manter uma tutela apertada da economia pelo estado, embora defenda um sector público importante, não estrangula a iniciativa privada, embora tenda a manter um estado social forte, e principalmente defende o estado democrático. Aproxima-se, portanto, mais dos partidos considerados de direita ou de centro-direita do que dos outros partidos de esquerda. Os partidos de inspiração comunista, onde se inclui claramente o BE, propõem, por outro lado, a apropriação pelo estado dos sectores estratégicos e do poder económico, seja essa apropriação, se necessário, por meios violentos, embora a sua propaganda, mormente em tempos de aproximação de eleições, esconda estes princípios. Embora se tenham adaptado bem aos regimes democráticos, a história ensina que, uma vez no poder, adoptam modos de governação ditatoriais. A principal fractura política não passa portanto entre esquerda e direita, com o PS, o PCP e o BE dum lado e o PSD e o CDS do outro; a fractura actualmente situa-se entre os partidos que defendem uma economia de mercado e os que preferem uma economia planificada. Antes do aparecimento de esquerdas que não se apresentam como comunistas, era possível afirmar que a fractura passava entre os partidos democráticos e os não democráticos. Mas a existência do BE (e eventualmente de outros recém-vindos) não permite manter essa divisão, já que o BE não manifestou ainda tendências anti-democráticas, nem defendeu, que eu saiba, a ditadura do proletariado como modo de instaurar o socialismo,mas no resto ideias semelhantes às do PCP.

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