quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Esquerda, volver! Até onde?

A fractura principal que se verifica na política portuguesa não se encontra entre a esquerda e a direita, mas está situada entre o conjunto de partidos e movimentos que aceitam os princípios democráticos da economia de mercado, da defesa da propriedade privada e das regras da democracia representativa e os que recusam estes princípios, segundo defendi anteriormente. Mas aparentemente até há por vezes fracturas no interior dos partidos ou de movimentos, como parece acontecer actualmente no PS, em que uma ala esquerda se sente tentada a aceitar acordos com o PCP e com o BE ao mesmo tempo que outras sensibilidades no interior do partido os recusam, seja por convicção em princípios, seja por simples estratégia. Essa fractura é evidente e tem sido ultimamente objecto de discórdia, agora que o secretário geral do PS hesita entre procurar apoio à esquerda ou suportar o centro-direita. Segundo o meu ponto de vista, a hipótese de o PS procurar chefiar um governo de esquerda combinando um qualquer tipo de apoios com o PCP e com o BE tem o problema de se basear na disponibilidade destes partidos para se aliarem ao PS para todas as decisões que contarem com o voto contra da coligação PSD/CDS, e essa aliança terá de tomar a forma de foto a favor de ambas as forças de extrema esquerda, não bastando a abstenção. Ora o PCP já fez saber que, após viabilizar um programa de governo do PS, só votará as matérias com que concordar. Conhecendo o programa e as ideias do PCP, é evidente que as matérias que podem ser defendidas simultaneamente pelo PCP e pelo PS são muito poucas. Quanto ao BE começou logo por indicar alguns pontos que quer ver incluídos no programa dum governo do PS para lhe dar apoio. É a fractura a funcionar, o que levará a curto prazo à impossibilidade de tomar decisões. Um tal governo terá necessariamente vida curta e corresponde a um desaire do PS que influenciará o futuro do partido.

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