terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Crescer, abrandar, cair, melhorar, acelerar

Há frequentemente uma grande confusão entre grandezas, variação dessas grandezas e aumento ou diminuição dessa variação. É evidente que os jornalistas que redigem muitas das notícias em que esses conceitos se revelam, nomeadamente sobre temas económicos, não deram ou não estudaram bem os conceitos de função, derivada e segunda derivada. A inflação é, como é bem sabido, uma variação positiva dos preços. Normalmente é definida em percentagem. No entanto por vezes diz-se erradamente que a inflação cresceu x por cento, quando o que seria correcto seria dizer que os preços cresceram esse x e que a inflação foi x. Se a inflação cresce ou diminui, será correcto indicar essa variação de segundo grau por pontos percentuais. Se se disser que a inflação era de, por exemplo, 2% e cresceu 1%, isto não significa que passou a ser de 3%, porque 1% de 2% é 0,02%. Visto que a inflação representa uma variação, pode-se dizer que os preços aceleraram, isto é, crescem mais depressa, mas é corrente dizer que a inflação acelerou, quando ela apenas cresceu. Outros índices estão sujeitos à mesma lógica.

Vejamos dois casos concretos noticiados hoje:

A RTP noticia em título que "Preços na produção industrial abrandaram em janeiro para 1,9%, mas no corpo da notícia "O índice de preços na produção industrial desacelerou em janeiro, em termos homólogos, fixando-se nos 1,9%, um decréscimo de 1,7 pontos percentuais face a dezembro, indicou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE)." "Abrandar" ou "desacelerar" são sinónimos, mas o índice de preços representa uma variação e portanto o que abrandou não foram os preços, mas sim o seu crescimento; os preços continuaram a aumentar, mas mais lentamente, visto que a mesma notícia prossegue: "Em dezembro, o índice de preços na produção industrial situou-se nos 3,6%". Já nos negócios on-line a notícia é dada correctamente, quer no título: "Subida de preços da produção industrial abranda em Janeiro", quer no desenvolvimento: "Preços na produção industrial voltaram a aumentar, em Janeiro, mas a um ritmo menos acentuado do que no mês anterior. A taxa de variação homóloga do índice de preços na produção industrial, que tem como função traduzir a evolução mensal dos preços das transacções nas actividades económicas, fixou-se em 1,9% no passado mês de Janeiro, comparativamente com uma taxa de 3,6% registada no último mês de 2012." Além de descrever melhor a situação, emprega a expressão mais correcta: "taxa de variação homóloga do índice de preços", em vez de, simplesmente, "índice de preços".

O sítio do dinheiro vivo tem também uma divergência entre o título "Queda da actividade económica abranda no último mês do ano" e o corpo da notícia: "A atividade económica registou uma melhoria no último mês do ano. Este foi o resultado mais positivo desde há cinco meses. Apenas em janeiro e fevereiro os resultados foram mais positivos." Ora quando a actividade económica abranda, não se deve falar em melhoria. A actividade económica piorou, não melhorou. Poder-se-á dizer, quando muito, que a queda foi menos grave, mas não que melhorou.




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