As recentes notícias 1) de redução da idade de entrada no 1.º ciclo do ensino básico para os 5 anos, 2) de obrigatoriedade de frequência no jardim infantil e 3) de aumento da carga horária da escola básica para 12 horas diárias, a serem verdadeiras e a serem as respectivas medidas postas em prática, representam, a meu ver, passos muito negativos que contribuirão, como tantas medidas recentes, para diminuir a integração familiar. O que mais me repugna não são as medidas em si, mas a obrigatoriedade anunciada (excepto, suponho e espero, para questão das 12 horas). Lembro-me que quando entrei para a primeira classe, aos 7 anos, fiquei revoltado por os meus pais não terem adiado a minha inscrição por um ano, assim teria tido mais um ano para brincar. Já os meus filhos e a minha neta começaram o 1.º ano com 6 anos. A eventual redução para 5 anos parece-me uma violência. Mesmo que os programas, como seria aconselhável, fossem adaptados para essa idade, a maioria das crianças não tem aos 5 anos a maturidade para uma escola com tarefas obrigatórias.
Quanto ao alargamento dos jardins de infância, parece-me uma medida muito positiva, mas a sua obrigatoriedade, a ser concretizada, é um atentado à liberdade de os pais escolherem o tipo de educação que querem dar aos seus filhos, que para as idades do jardim infantil pode, quando possível e se tal for a opção dos pais, ser simplesmente familiar. Os meus filhos frequentaram o jardim infantil e os meus netos também e acho que foi útil, mas se vier a ser obrigatório já me parece que interfere indevidamente com as opções familiares. Para mais não estou a ver como se poderá assegurar uma cobertura das pequenas comunidades em que se fecharam escolas por o número de crianças ser inferior ao julgado recomendável, fecho que me pareceu em muitos casos excessivo. Será que vão transportar crianças de 1 a 4 anos em autocarros e carrinhas para distâncias por vezes consideráveis, como fazem actualmente com as crianças do ensino básico?
Já a questão das 12 horas parece-me de um absurdo sem classificação. Quanto tempo poderão estas crianças passar com os pais ? Suponho que deveriam ser vistos separadamente o aspecto de horário escolar em função de critérios pedagógicos e o de guarda e eventual entretenimento mais ou menos educativo das crianças cujos pais, por razões de horário de trabalho ou por outros motivos, não possam ter ao seu cuidado os filhos fora desse horário. A instituição "avós" também é útil (eu que o diga) e deve ser tida em conta e incentivada. Para os outros casos existem os ATL que têm uma função muito meritória, sejam na própria escola ou em instituições específicas. Mas em que as crianças se sintam livres de obrigações e possam brincar, jogar, conversar ou dedicarem-se às actividades da sua preferência. Há ainda que contar com o tempo gasto em transportes, que com a recente concentração das escolas em unidades de maior dimensão, é muitas vezes considerável. O que acho inadmissível é que as crianças tenham uma carga horária superior às dum trabalhador numa fábrica ou num escritório e que, foram os fins de semana, não tenham tempo para conviver um pouco com a família antes de estarem cheias de sono.
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