quarta-feira, 5 de junho de 2013

Violência contra-policial

É sabido que não constitui notícia de interesse um cão morder um homem (a não ser em casos extremos), mas é notícia de 1.ª página um homem morder um cão. Da mesma forma, deveria ser com as agressões de polícias sobre cidadãos pacatos comparadas com as agressões de cidadãos não tão pacatos contra polícias. Parece que estas últimas deveriam ter mais relevo jornalístico, exactamente por serem mais contrárias ao habitual e mais raras. Surpreendentemente não é assim, a ponto de uma evidente (e filmada) agressão dum manifestante a um polícia ser noticiada como se se tratasse de violência policial sobre um cidadão. Mas para dizer a verdade, esta transformação não nos admira. É que, para lá do efeito do homem que mordeu o cão, está a tendência dos nossos meio de comunicação para dar um jeito às notícias no sentido mais populista, omitindo pormenores, dando relevo às versões mais contrárias às autoridades ou ao governo ou mesmo deturpando a realidade.

Não, não se tratou de um pacato e pacífico cidadão que, revoltado por lhe terem reduzido a pensão, pensou que deveria pedir simplesmente a demissão dos responsáveis por esse acto e escreveu numa folha A4 (na impressora do computador) o apelo "DEMISSÃO JÁ" ao abrigo da liberdade de opinião, pacato cidadão que, ao levantar a folha A4 foi agredido pela polícia, algemado e levado para a esquadra. O cidadão, que fazia parte dum grupo pouco numeroso que gritava e mostrava faixas a pedir a demissão do Governo à passagem da Ministra da Agricultura, foi empurrado, ao aproximar-se brandindo o cartaz, por um ou mais polícias à paisana que asseguravam a segurança da Ministra. Não tendo gostado, deu um soco num dos homens que o tinham empurrado. Pode alegar que não sabia que era um polícia por estar à paisana, mas não pode continuar a fingir que não bateu em ninguém e que só o detiveram e algemaram por levantar o dito cartaz. Agressão é crime, e alegar que ignorava que fosse polícia não é desculpa. Ora alguns jornais resolveram ignorar a agressão (ou não se informarem como deviam) e noticiaram ou deram mais relevo, pelo menos nos títulos das notícias, à detenção como se se devesse apenas a ter protestado.

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