quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Reduzir o défice pelo crescimento

Seguro disse ontem na entrevista que deu à SIC que não está de acordo com o corte de 4000 milhões de euros na despesa. À pergunta da jornalista, Clara de Sousa, como será então possível cumprir a meta do défice em 2013, respondeu que o que preconiza e tem repetido sempre é crescimento em vez de austeridade, visto que, sendo o défice uma dada percentagem do PIB, se pode reduzir o défice expresso em percentagem pelo crescimento em vez de ser pela redução da despesa. Matematicamente o raciocínio é rigoroso, mas experimentei fazer umas contas, a partir do PIB previsto para 2012 e da previsão de crescimento do PIB para 2013 (negativo), para saber quanto teria de ser o crescimento se se pretendesse obter um défice de 4,5% em 2013 sem o efeito correctivo dos 4 mM. Cheguei a um crescimento absolutamente absurdo de 54%. As contas são as seguintes:

O PIB 2012 previsto para 2012 é de 166.341,1 milhões de €.
Se o PIB cair 1% em 2013, como previsto, será nesse ano de 164.677,7 M€.
A meta do défice é de 4,5% deste último valor, ou seja  7.410,5 milhões de €.
Se são necessários 4000 milhões de cortes na despesa para atingir essa meta, é que o défice previsto sem essa correcção seria de 11.410,5 milhões, o que corresponde a 6,93% do PIB de 2013.

Para que este défice de 11.410,5 milhões corresponda, sem a correcção, a apenas 4,5% do PIB,
este teria de crescer em 2013 até 253.566,6 milhões de €, ou seja, o crescimento do PIB teria de ser de 88.888,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 54%.

A redução do défice pelo crescimento é desejável, mas só é possível a médio/longo prazo. Entretanto, das duas uma: Ou se vão fazendo défices sucessivos e para isso é necessário obter financiamento, o que se afigura dificílimo, e faria crescer ainda mais a dívida pública, ou se diminuem os défices rapidamente, seja pelo lado da receita, como o OE para 2013 pretende fazer maioritariamente, seja do lado da despesa, como se prepara para 2014 e seguintes com o corte dos tais 4000 milhões que Seguro desaprova. Recusar o corte e pedir que todo o ajustamento seja feito por meio do crescimento é absolutamente impossível, pois só crescimentos estratosféricos o permitiriam (é fazer as contas!), quando o que perfila para 2013 é até ainda um clima de recessão e para 2014 um crescimento anémico. Aliás, para quem protestou veementemente contra o brutal aumento de impostos, a recusa de cortes na despesa é irracional.








2 comentários:

Anónimo disse...

Partilho aqui o que escrevi sobre este tema, no meu posto "Portugal: Que Estado Queremos?":

"Sairemos desta forma errática e ambivalente com que lidamos com as contas públicas, os nossos políticos e suas políticas, apenas quando entendermos e acordarmos aquela que é a questão fundamental: qual deve ser o papel do Estado? Não existe uma única resposta nem, muito menos, uma resposta certa. Mas o exercício de “pensar o país” desta forma ajuda, cada um de nós, a tomar uma posição mais consistente."

O resto do artigo encontra-se aqui:
http://antologiadeideias.wordpress.com/2012/10/26/portugal-que-estado-queremos/

Muito me honraria fazer parte da vossa lista blogs, coisa que, humildemente, retribuirei no meu Antologia de Ideias.

Bem haja,
O Autor

Freire de Andrade disse...

Obrigado, Antologia de Ideias. Não conhecia o seu blog, mas já o visitei e verifiquei que expressa ideias concordantes com o que penso e tento expressar no "Será que os anjos têm sexo?". Claro que o vou incluir na minha lista de blogs.