sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Praxes

Li agora mesmo com muito agrado a notícia de que o Instituto Piaget foi condenado a pagar uma indemnização no caso da aluna vítima de praxes degradantes. Tenho seguido o caso, assim como outros semelhantes, e as primeiras decisões de absolvição e de arquivamento deixaram-me espantado e revoltado. Agora finalmente considero que foi feita justiça.

Não sei que tradição existe nas praxes que se praticam no Instituto Piaget, mas mesmo uma longa tradição não justifica práticas aberrantes e humilhantes como as descritas neste caso e noutros. Se a tradição justificasse tudo, ainda teríamos pena de morte e escravatura. Mas sei que em Lisboa a ocorrência de praxes é recente e não tem qualquer tradição. Quando estudei no IST os caloiros eram acolhidos por uma Semana de Recepção aos Caloiros em que o evento principal era o Baile de Recepção aos Caloiros. Tudo cordial e simpático. Uma geração mais tarde, os meus filhos já foram vítimas de praxes que consistiam principalmente em pinturas na face. Não chegavam às torturas e humilhações que agora se descrevem, mas mesmo assim ficaram revoltados e chocados por terem sido obrigados a estas práticas contra vontade. Temo que quando os meus netos chegarem à Universidade, se lá chegarem, as praxes sejam ainda mais refinadas e absurdas. A não ser que a divulgação destes casos leve pelo menos a um abrandamento. Assim espero, mas os argumentos que neste caso foram adiantados pela escola e pelo tribunal de primeira instância, e a descrição de que a aluna praxada teve de mudar de escola e de cidade porque "era alvo de frequentes ofensas e insultos por ter denunciado o caso" não permite grandes esperanças.
A dignidade desta aluna que depois de tantas derrotas não desistiu do caso por ter a convicção da sua razão merece o maior louvor.

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