segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Premissas falsas, conclusões erradas

A carta que 32 "notáveis" publicaram dirigida, ao que dizem, ao Primeiro-ministro já foi desmontada por quem tem para isso mais habilidade do que eu. Há, no entanto, um aspecto para o qual eu gostava de chamar a atenção: A falsa lógica. Partindo de premissas falsas, pode-se, usando a lógica mais correcta, chegar a conclusões erradas. No estilo do silogismo

Tudo o que á raro é caro.
Cavalo bom e barato é raro,
Logo, cavalo bom e barato é caro.

Neste caso não só se chega a uma conclusão errada como a uma conclusão irracional, ela própria ilógica.

Vejamos as premissas:

"Os factos têm evidenciado que este caminho (o caminho da austeridade) é contraproducente"
Errado, apesar de repetido em inúmeros discursos da esquerda e não só. A austeridade é uma consequência da redução de meios provocado pela impossibilidade de continuar o endividamento galopante. Menos meios exigem menos gastos. Os países que eram gastadores para além das suas possibilidades seguiram programas de contenção que tiveram efeitos negativos, mas possibilitaram, quando bem aplicados, a saída da situação de necessidade crescente de endividamento. A Irlanda e Portugal são exemplos de que "este caminho" não foi contraproducente. Permitiu chegar a novas situações de crescimento e de redução do desemprego.

"Este momento exige por isso uma atitude construtiva, que conduza a uma cooperação europeia de que Portugal não se deve isolar." Esta cooperação existe nas numerosas reuniões do Eurogrupo e Portugal não está isolado: participa activamente.

"O momento actual oferece uma oportunidade única que não pode ser desperdiçada para um debate europeu sobre a recuperação das economias e das políticas sociais dos países mais sacrificados ao longo dos últimos seis anos." Que tem o momento actual de especial? Que oportunidade única é essa? Será que a chegada de um partido de extrema esquerda ao poder num país da Zona Euro representa alguma oportunidade de debate? Até agora mais parece que o debate é mais eficaz entre os restantes países.

"É por isso também do interesse de Portugal contribuir activamente para uma solução multilateral do problema das dívidas europeias reduzindo o peso do serviço da dívida em todos os países afectados" - É novamente a velha ideia da reestruturação da dívida. Já foi mais do que discutida essa ideia e os seus inconvenientes. Pensar que um "debate europeu" pode chegar a uma "solução multilateral" é uma ilusão perigosa.

"é ainda necessário que Portugal favoreça uma Europa que não seja identificável com um discurso punitivo" - Não existe qualquer "discurso punitivo" na Europa. O que existe é um dos países da Zona Euro que quer deixar de respeitar os seus compromissos (embora afirme o contrário) e que pretende forçar os restantes países a aceitar a situação. Ninguém quer punir ninguém. O discurso da Europa é o discurso do cumprimento dos compromissos e do pagamento das dívidas.

"que não humilhe estados-membros" - A acusação de tentativa de humilhação, nomeadamente sobre o discurso do Presidente da República, não tem qualquer sentido. Seria conveniente uma análise deste ou de outras declarações para determinar onde possa estar a humilhação.

"que não destrua o emprego e as economias" - O discurso pretensamente punitivo destrui emprego e economias? Puro delírio.

"Estamos certos, senhor primeiro-ministro, de que agora é o tempo para este apelo à responsabilidade" - Novamente se pergunta: Agora é o tempo porquê? Não foi antes, não será depois, mas é exactamente agora? Que tem o momento de especial?

"numa Europa em que tanto tem faltado o esforço comum para encontrar soluções" - É uma opinião não baseada em factos e que ignora os esforços de auxílio aos países em dificuldade.

Gostava de saber se esta carta dirigida, ao que dizem, ao Primeiro-ministro, lhe foi efectivamente endereçada. É certo que foi intitulada "Carta ao primeiro-ministro de Portugal" e que se criticou Passos Coelho por não ter respondido, mas nunca ouvi dizer se lhe foi mesmo entregue. De qualquer modo, esperar uma resposta de uma carta publicada nos meios de comunicação não faz muito sentido.

Nota: A carta foi escrita com a ortografia do Aborto Ortográfica de 1990. Por me recusar a usar esta aborto, corrigi as citações para português correcto.

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