domingo, 1 de junho de 2014

Coerência

Segundo o dicionário, coerência é a "ligação, nexo ou harmonia entre dois factos ou duas ideias; relação harmónica" e ainda "harmonia de uma coisa com o fim a que se destina" e tabém "propriedade de critério que assegura a não-adopção de decisões baseadas em incertezas e cujas consequências são nitidamente indesejáveis". Basta atentar nestas definições para verificar que não há qualquer coerência entre considerar uma moção de censura "um frete ao Governo" e votar favoravelmente essa moção quando não se pretende defender esse Governo, antes se deseja o contrário. Não há nexo nem harmonia. O truque de afirmar que o que se vota é a censura e não se apoia os considerandos dessa moção é contraditório em si, pois uma censura tem de ter um motivo e por isso, ao apresentar uma moção de censura, é obrigatório fundamentá-la, especificar qual é o motivo da censura. Se o PS não concordava com os motivos alegados, nunca deveria ter votado a favor. Se, apesar de não concordar com as alegações que suportavam a censura, achava que o Governo era digno de censura por outras razões, o que seria coerente era apresentar uma moção própria com os fundamentos que considerava ajustados. Assim ficaria expresso qual o motivo porque o PS censurava o Governo. Se, como Seguro tinha anteriormente afirmado, o PS não apresentava uma moção própria por ser inútil, já que a maioria não permitiria a sua aprovação, não fazia sentido associar-se a uma moção alheia. Para mais, além de ser considerada um frete ao Governo, os pressupostos da moção não só censuravam também o PS e os seus governos como anunciavam claramente princípios políticos que o PS não poderia subscrever sob pena de apoiar um regresso ao PREC. Seria pelo menos indispensável que o PS repudiasse expressamente esses princípios, dentre os quais os mais importantes já transcrevi no meu artigo anterior. Não o fez, o que o torna cúmplice das teses marxistas-leninistas do PCP. Anunciou que apresentaria uma declaração de voto, mas até hoje não tive notícia dela. Se isto é coerência, não sei o que será a incoerência.

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