segunda-feira, 14 de abril de 2014

Escola da ditadura e escola actual

Segundo o DN, o actual director do Camões (agora já não Liceu Camões) respondeu diplomaticamente às apreciações positivas de Durão Barroso sobre a "cultura de mérito, exigência, rigor, disciplina e trabalho" que existiam no Liceu Camões no tempo em que lá estudou. O DN intitula a notícia "Durão Barroso nostálgico do ensino na ditadura". Este título é enganador e parece-me que o director do Camões errou o alvo ao sublinhar a descida drástica das taxas de analfabetismo como contraponto às qualidades apontadas. Como não conheço as declarações integrais de um e de outro, posso estar a laborar em erro ao apreciar a resposta. Mas pelos trechos transcritos é evidente que falam de coisas diferentes. É um facto que no tempo do Estado Novo, mesmo na época em que calculo que Durão Barroso frequentasse o Liceu, o analfabetismo apresentava taxas vergonhosas e que só uma minoria frequentava o ensino secundário (e o ensino superior era ainda mais minoritário). Mas esse facto não tem nada que ver com a qualidade do ensino que se ministrava já que a maioria dos analfabetos não chegara a frequentar a escola, e é mais uma consequência das circunstâncias económicas do País na época. Por outro lado, Durão Barroso não se referiu ao ensino na sua globalidade, mas sim às circusntâncias que testemunhou no seu liceu, para justificar a dádiva de parte do prémio que ganhara. Daí, acusá-lo de ser "nostálgico do ensino na ditadura" é injusto. Além disso, ou o jornalista se enganou e o comentário do actual director do Camões não era uma "resposta diplomática ao saudosismo de Barroso", mas sim uma crítica justa à situação de iletracia do tempo do Estado Novo, ou então a resposta não negava nada do que Barroso dissera e não diminuia o mérito do Liceu Camões e o seu merecimento da homenagem que Barroso lhe quiz prestar.

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