terça-feira, 24 de julho de 2012

Jornalismo fiel ou corrector de linguagem?

É norma nas nossas TVs traduzir as falas de entidades que se expressam numa língua estrangeira em legendas inseridas na parte inferior da imagem, como nos filmes, ouvindo-se simultaneamente a voz original ao fundo. Tudo bem, é preferível à dobragem, como faz a Euronews, em que não se consegue ouvir o original porque o som fica abafado pela voz do jornalista que debita a versão portuguesa. O pior é que na legendagem é mais fácil, quando se conhece a língua original, dar pelos erros de tradução, que infelizmente são numerosos. Mas o que é mais chocante não são os erros involuntários por mau conhecimento da língua ou por puro engano, são os "aperfeiçoamentos" da elegância das frases que os jornalistas tradutores acham por bem executar, sem que por vezes nada o justifique. Para ilustrar o que afirmo, apresento alguns exemplos que pude anotar. Se estivesse sempre de caneta em riste e com papel printo, muitos mais exemplos poderia apresentar.

A vice-presidente do Governo Espanhol dizia há dias que não eram as medidas de austeridade, mas sim os erros do passado "que nos han llevado a la situación que vivimos". Na legenda, o tradutor resolveu tornar a frase mais elegante, mais digna duma vice-presidente, legendando "que nos levou à situação actual"!

Hoje um responsável espanhol referia-se ao perigo de um eventual fim do euro usando a expressão "ruptura del euro". O legendador mudou duas vezes para "dissolução do euro". Porquê? Será que não sabe que existe em português a palavra "ruptura" ou, de acordo com o acordo ortográfico, "rutura", ou mais popularmente "rotura"? Mais adiante, o mesmo responsável afirmava que tal ruptura seria uma "hecatombe". Na legenda apareceu "catástrofe"! Será que o jornalista pensa que a palavra "hecatombe" é só espanhola?

Sem comentários: