sábado, 9 de junho de 2012

Fatos são fatos

Claro que fatos são fatos: normalmente os fatos de homem são constituídos por umas calças e um casaco, mais raramente também por um colete, antigamente quase obrigatório, mas agora caído em desuso. Por causa destas 3 peças, calças, casaco e colete, no Brasil em vez de "fato" diz-se - e escreve-se - "terno", o que não tem nada que ver com ternura.

A que vem isto? Os mais conhecedores de provérbios terão notado que há um dito português parecido com "Fatos são fatos": é "Factos são factos" e aponta para a força da realidade, isto é, dos factos. Sempre se escreveu e disse "factos", pronunciando-se o c. O Acordo Ortográfico não alterou esta situação, visto que apenas obriga a eliminar as consoantes mudas antes de c e t (Base IV, 1.º b) quando são mudas, mas indica que se conservam quando se pronunciam pelo menos numa pronúncia culta (Base IV, 1.º c).

Não tem sido esse o entendimento de alguns jornais, onde já vi várias vezes "fato" por "facto", o que considero erro crasso. No entanto foi hoje que ouvi pela primeira vez pronunciar "fatos" quando não se referiam a roupa, mas sim a factos. Foi numa reportagem sobre a visita de Cavaco Silva ao bairro da Mouraria, quando este declarou que não era apropriado responder a perguntas de jornalistas sobre a ajuda financeira a Espanha para financiamento dos bancos. Segundo a jornalista, "Cavaco só queria falar das comemorações do 10 de Junho, ignorando os outros fatos" (Estou a citar a frase de memória, pelo que não afirmo que seja assim exactamente, mas é um facto que falou em fatos).

Sou o mais possível contra o Acordo Ortográfico que considero um atentado à Língua Portuguesa, mas ainda pior do que o AO é interpretá-lo mal e ser mais acordista que o acordo.

Sem comentários: