quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Acordo de concertação social

As medidas do acordo hoje assinado entre o Governo, as organizações patronais e a UGT têm sido apresentadas como uma coisa extraordinária, uma autêntica revolução, quer pelos que as defendem, quer pelos que as acham inadmissíveis. O PCP fala em retrocesso e tem razão, mas quando diz que voltámos aos tempos do feudalismo ou outras barbaridades no género perde a razão toda. Mesmo a noção de retrocesso, na linguagem do PCP, é uma coisa condenável, diabólica, reaccionária e quiçá fascista, em oposição à ideia de progresso, que para os marxistas ortodoxos representa o caminho inevitável para a sociedade sem classes em que os meios de produção são propriedade de todos, o que assegura a felicidade na terra, os tais amanhãs que cantam. Eu admito que o PCP tem razão ao falar em retrocesso, porque já vivemos, e não foi há muito tempo, com condições como as que agora são consideradas inadmissíveis, como apenas 22 dias de férias e horas extraordinárias pagas por muito menos do que agora se praticava. Eu nunca tive mais de 22 dias de férias, nunca recebi horas extraordinárias, mesmo que o trabalho obrigasse a ficar mais tempo do que o contratado, nunca tive pontes que não fossem descontadas nas férias. Houve, portanto, um retrocesso na medida em que voltámos a uma situação anterior. Portanto nada me impressiona muito nestas medidas "revolucionárias" contra as quais se anunciam lutas e protestos. Sim, foi retrocesso porque se tinha ido longe demais. Agora é preciso retroceder, mesmo à custa dos chamados direitos adquiridos. Para a esquerda mais esquerda, os direitos adquirem-se de forma definitiva, não consideram que qualquer coisa adquirida pode ser posteriormente perdida.

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