sábado, 13 de junho de 2015

Grau zero do debate político

A privatização da TAP e os conselhos do FMI suscitaram comentários do PS que se aproximam do grau zero do debate político. No primeiro caso, Costa alinhou com as comparações divertidas do preço de venda da TAP, como lhes chamou O Insurgente, ao afirmar que era "escandaloso que a TAP tenha sido vendida por um valor inferior às [sic] das contratações" no futebol. Ora Costa, que não é estúpido, sabe perfeitamente que o preço da venda da TAP não é apenas o valor do encaixe do Estado. Que eu saiba não há contratações no futebol que atinjam 354 milhões de euros e ainda menos que impliquem assumir uma dívida de mil milhões (ou 2 mil, conforme as fontes). Pretender que se pensa que a TAP foi vendida por 10 milhões é querer atirar poeira para os olhos do contribuinte.

Aparentemente a propósito do outro caso, o dos conselhos do FMI, Costa afirmou que "Ao fim destes quatro anos, os próprios amigos do Governo vêm dizer: "falharam". E, portanto, o que nós temos que concluir é que, tendo falhado, há que mudar de estratégia, há que mudar de política, para podermos ter resultados diferentes". Mais uma vez, Costa baralha tudo e, não sendo estúpido, sabe muito bem que o FMI não é mais amigo do Governo actual do que era do Governo de Sócrates com quem negociou o Memorando. Sabe também que o FMI nunca declarou que as políticas do Governo falharam, mas apenas que, para conseguir atingir um défice de 2,7% serão necessárias novas medidas. Portanto, ao contrário do que Costa diz pensar, não foi a política de austeridade que falhou, será, sim, no dizer do FMI, necessária mais austeridade para manter a rota de consolidação, isto é, não há que "mudar de estratégia" nem "mudar de política", mas intensificar a estratégia seguida de que Costa discorda. Não acredito que Costa não tenha compreendido que as declarações do FMI são mais críticas para a política preconizada pelo PS do que para a política seguida pela coligação PSD/CDS-PP.

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