terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Greve

Até que enfim que leio uma crítica fundamentada ao direito à greve tal como esse "direito" é exercido actualmente:

«O direito à greve é um anacronismo nas sociedades atuais, um resquício, uma visão ultrapassada que ignora o que é o mundo contemporâneo civilizado. A greve traduz uma visão dialética, conflituante, das relações entre o “trabalho” e o “capital”, ignorando que hoje impera o interclassismo, a economia vive integrada, e o ambiente legal e institucional é suficientemente protector do trabalho, sem que se justifique por isso o recurso sistemático e banal a um processo profundamente destruidor de valor e que é tanto mais eficaz quanto mais prejuízos causa à empresa em si e aos clientes e utentes que dela dependem.
  1. A greve tornou-se infelizmente mais uma ferramenta política dos sindicatos-reféns dos partidos políticos da esquerda, e menos um mecanismo de defesa real dos interesses legítimos dos trabalhadores.
  2. Não deixa de ser relevante que a greve praticamente tenha desaparecido da realidade das empresas privadas, ao mesmo tempo que se tornou um expediente banal no sector público (incluindo empresas públicas). Hoje, em Portugal e em todo o mundo civilizado, impera um ambiente económico em que a empresa se faz, não de relações de conflito, mas de cooperação – uma cooperação por vezes difícil, é certo, mas sempre, de cooperação – entre accionistas, gestores, trabalhadores, clientes e fornecedores, numa teia complexa e multilateral. Muitas empresas em Portugal, que se encontram em dificuldades, são bons exemplos de como a cooperação, por vezes tensa, é certo, é a única saída, por vezes exígua, para a solvência. A destruição de valor não é hoje alternativa para ninguém, que não para alguns agentes sindicais e trabalhadores do setor público, uma ideia obsoleta que persiste nas cabeças da esquerda mais radical – que em Portugal continua a ser mainstream.
  3. Nas empresas públicas, no sistema educativo, nos hospitais, a greve continua a merecer um “carinho” especial por parte de “sindicatos-partidos” e dos que dormem no seu regaço. A greve, diga-se sem rodeiros, não é mais do que uma forma de causar atrito em favor de agendas políticas da esquerda, traduzindo-se num mecanismo agressivo de extorsão da sociedade que tem de pagar os custos da sua banalização – pois não há almoços grátis, todos pagamos, do nosso bolso, os custos das greves dos trabalhadores do metro, da TAP, dos professores, dos profissionais de saúde. Até ao dia em que não haja mais dinheiro para pagar, ou empresas viáveis para financiar. A TAP pode bem vir a tornar-se num primeiro exemplo deste fim-de-linha, dada a falência iminente, e o risco real de não haver quem a queira comprar
Visto n'O Insurgente, escrito por Rodrigo Adão da Fonseca.

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