terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Previsões antigas

Ao folhear papeis antigos (não muito antigos, com 2 anos) dei com uns apontamentos que tirei dum programa Negócios da Semana em Dezembro de 2010. O tema era "Previsões para 2011" e os participantes, convidados por José Gomes Ferreira, eram Helena Garrido, Pedro Adão e Silva e Paulo Baldaia. Ao ler agora as previsões destes intervenientes é flagrante que estavam bem informados e que muito do que previram se verificou não só em 2011 mas também em 2012, mas também se verifica que não arriscaram opiniões firmes sobre se haveria a curto prazo eleições e se iríamos ter novo governo.

Para quem tenha paciência de ler (talvez uma ou duas pessoas - já ficaria satisfeito), transcrevo os apontamentos que tirei na altura. Devo notar que, como não sei estenografia e já estou destreinado de tirar apontamentos em aulas, as notas são parciais e não são certamente rigorosas, mas dão uma ideia do que se discutiu.

«PREVISÕES PARA 2011

(Negócios da Semana 2010-12-23)

Helena Garrido (HG): 1 - Queda do produto no 4.º trimestre de 2010. Efeito recessivo das medidas ultrapassam largamente as vantagens económicas; só a médio prazo terão efeitos positivos.


Pedro Adão e Silva (?) (PAS):    2 - Dificuldades das empresas e despedimentos vão aumentar. A longo prazo poderão ter vantagem, mas no imediato causarão recessão.
    3 - É de esperar contracção no consumo interno causada pelo aumento de impostos e redução dos salários.

Paulo Baldaia (PB): 4 - Vamos ter uma recessão profunda e os portugueses ainda não perceberam. Tão profunda ou mais do que a recessão de 2009. As exportações podem atenuar a recessão, mas se alguma coisa correr mal nos mercados que nos compram coisas, será mau.

PAS:    5 - Temos de conseguir financiarmo-nos (com ou sem ajuda do FMI). Para sabermos se necessitamos de ajuda, temos de ver a execução orçamental deste ano [2010] e do início de 2011.

HG:    6 - O mais importante para o financiamento é a confiança no Euro. Há um défice de confiança. A probabilidade de evitarmos a ajuda é muito baixa.
    7 - É duvidoso que Portugal possa aumentar ao mesmo ritmo as exportações. São sempre as mesmas empresas de cortiça, papel, a Auto-Europa, a conseguir exportar.

PB:    8 - Se o Euro acabasse, era uma desgraça para Portugal, a começar pela dívida. Os juros da dívida portuguesa e os de todos os portugueses que têm empréstimos (por exemplo para a casa) disparariam.

José Gomes Ferreira (JGF): 9 - E se fosse Portugal a sair do Euro? O que deve acontecer é os bancos não deixarem, porque ficariam em más condições.

HG:    10 - A Islândia está a ter uma recuperação muito mais rápida do que a Irlanda. O facto de não ter ajudado os bancos está a permitir à Islândia sair muito mais rapidamente da crise. O modelo proposto pela chanceler alemã é correctíssimo.

PB:    11 - Tirando os angolanos, ninguém tem investido em Portugal.
    12 - Há pouco, todos os comentadores previam eleições em Maio, mas agora quase todos acham que se a execução orçamental correr bem já não acontece isso.

HG:    13 - É extremamente difícil saber se vamos ter novo governo ou não em 2011. O 1-º trimestre vai ser determinante. A receita que estamos a seguir é já a receita do FMI:

JGF:    14 - Há informação de que o Primeiro Ministro não está disposto a continuar se for preciso vir o FMI.

PB:    15 - O mal das PPP já está feito.

JGF:    16 - Estamos a trabalhar para quê? Para pagar dívidas?

HG:    17 - Para pagar juros.»

Quando se deu esta conversa, já as taxas de juro da dívida pública portuguesa tinham ultrapassado os 7%, valor considerado o máximo aceitável pelo então Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, em 2010.11.09, mas poucos dias antes da emissão do programa tinham descido abaixo deste valor no mercado secundário. Sócrates pediu a demissão em 2011-03-24, em consequência da reprovação do PEC IV, e só acedeu a pedir ajuda em 2011-04-06.

1 comentário:

Luis Moreira disse...

Nesta altura já não é "se" é "quando" :http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/111808.html