terça-feira, 21 de junho de 2011

Austeridade

Vamos viver nos próximos anos sob rigorosas medidas de austeridade. Estas medidas metem medo a muita gente e são contestadas por alguns. No entanto a mim não parecem tão terríveis. Claro que sei que vou ganhar menos, que tenho desemprego na família, que vou pagar mais pelos bens e serviços que consumo e também mais impostos. Vou portanto viver pior. No entanto sou suficientemente velho para comparar a austeridade que aí vem com o modo de vida de há 2 ou 3 gerações. Nascido numa família da chamada classe média, lembro-me do difícil equilíbrio económico que os meus pais tinham de praticar. Lembro-me de que ter casa própria era para os ricos, que ter automóvel era para uma minoria (e os meus pais nunca tiveram), que ia a pé para a escola a quilómetros de distância, que ir para o liceu em transportes públicos era habitual e eu tinha de tomar o comboio e depois o carro eléctrico diariamente (e considerava-me muito feliz por ser dos poucos que frequentavam o liceu). Lembro-me de quando a minha mãe comprou o primeiro aspirador, de quando o meu pai lhe ofereceu o primeiro frigorífico, de quando compraram a primeira televisão. Recuando ainda mais no tempo, lembro-me de quando, por dificuldades económicas, os meus pais tiveram de vender a Enciclopédia Luso-Brasileira e uma máquina de escrever, em que meu pai trabalhava na sua 2.ª actividade, e de se mudarem para uma casa mais barata. Lembro-me de ter de sair de casa e ir ao telefone público mais perto para poder telefonar, já que não tínhamos telefone próprio. Já homem, sempre levei uma vida que considero relativamente austera, embora procurando algum conforto: o meu primeiro carro foi um Mini, nunca passei férias no estrangeiro (excepto quando trabalhei no estrangeiro), pouco vou a restaurantes e espectáculos e não aprecio luxos. Ainda hoje, o meu telemóvel é dos mais baratos e satisfaz-me plenamente. Por isso a austeridade não me assusta muito. Se for necessária para permitir que os meus netos não vivam pior do que eu vivi, já me dou por satisfeito.

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