terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Défice surpresa (ou talvez não)

O Ministro das Finanças afirmou e reafirmou que foi surpreendido pelo valor do défice das contas públicas de 2009 que atingiu 9,3%. Declarou: «Enganei-me, mas não quis enganar os portugueses.» Porém não explicou, nem quando questionado directamente, como justifica que pouco tempo antes desta revelação surpreendente – até para ele próprio – do défice, ainda adiantasse valores significativamente menores.

Mas quase simultaneamente o Primeiro-Ministro afirmava: «Nós aumentámos o nosso défice porque quisemos aumentar o nosso défice. O défice não aumentou por descontrolo; aumentou porque decidimos aumentar o auxílio social às famílias, às empresas e à economia.»

(citações de memória; as palavras podem não ter sido exactamente estas)

Parece-me não haver qualquer dúvida que estas duas declarações são contraditórias. Se o aumento do défice foi voluntário e programado e não fruto de descontrolo, como diabo pode ter sido uma surpresa? Curiosamente, ontem de manhã diversos canais de televisão deram as duas notícias sem assinalar a contradição. Jornalistas que se limitam a repetir o que os responsáveis políticos dizem, sem cuidar das implicações e de eventuais contradições, são como papagaios. Só à tarde, na TVI, ouvi notar a discrepância entre o PM e o seu principal ministro.

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