Conheci José Terra há muitos, muitos anos, em casa dos meus pais, era eu miúdo. Era amigo do meu pai, João Pedro de Andrade, e foi visita frequente da nossa casa antes de se fixar em Paris, menos frequente depois. Numa das suas últimas visitas trouxe e apresentou-nos a sua jovem esposa francesa. Soube agora que tem duas filhas e dois netos. Lembro-me do modo quase entusiasmado como descrevia as dificuldades com a censura quando da publicação do seu primeiro livro de poesia “Canto da Ave Prisioneira”. Chegou a ser interrogado pela PIDE e descrevia com pormenores a curiosidade dos agentes que o interrogavam sobre o significado de alguns poemas que lhes pareciam mais suspeitos. Depois perdi-lhe o rasto, para só agora vir a saber notícias dele, com a notícia da sua morte. Os jornais apresentam notas biográficas e algumas fotografias recentes. A que prefiro é a que publico agora, que mostra José Terra já velho, mas com o sorriso que me faz recordar a imagem já desvanecida que tenho dele na minha memória.
Também encontrei na net vários poemas seus. Eis um dos que mais gosto que reproduzo de:
http://timtimnotibet.blogspot.pt/2014/01/jose-terra-1929-2014.html
Para O Poema da Criação
Porque tu percorres o meu sangue
e paras de repente no meu cérebro.
Teus olhos procuram a flor da pele
buscando a existência fugidia
das árvores, dos rios, da paisagem.
E se te reconheço é porque apenas
és um sinal qualquer de outro país
donde fui expulso para sempre.
E se te reconheço é porque foges
pelas longas margens longamente
e teu sorriso concreto só existe
para a boca oleosa do veneno.
E se te reconheço é porque quero
entre meus dedos destruir teus olhos.
Para que tu existas e eu exista
nenhum sinal de nós deve existir.
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