sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Greves

Pensei que valia a pena escrever alguma coisa sobre o inqualificável abuso que é a greve dos maquinistas da CP e a escolha da época para a fazerem. Mas já alguém escreveu em pouca palavras o que eu penso sobre o assunto. Não vale a pena procurar frases diferentes. Com a devida vénia transcrevo o que Pinho Cardão escreveu hoje no Quarta República:

«Um sindicato de maquinistas de comboios, em prepotente manifestação de abuso de poder, mais uma vez decidiu fazer greve num período sadicamente escolhido para maximizar o prejuízo de quem, no final, lhes vem pagando o salário. Nomeadamente com impostos. Uma violência fomentada por pequenos ditadores de ocasião a quem se vai permitindo praticar todos os abusos. Da lei e das pessoas. Os grandes ditadores fazem-se desta massa.


Mais uma vez, o triunfo dos porcos.»

Também concordei com o que diz Carlos Garcez Osório no Aventar.

Não fui pessoalmente prejudicado, a não ser como contribuinte, mas acho que há que dizer basta a estas greves que são uma distorção do sentido da greve como último recurso de luta dos assalariados contra os seus patrões quando estes não reconhecem os seus direitos. A lei pode permiti-lo, mas a razão condena esta prática.

Genocídios

Sei o que é um genocídio, mas não sei bem qual é a definição oficial, se é que há uma. A guerra - por enquanto só diplomática e de palavras - entre a França e a Turquia parece-me ridícula. Não sei se a matança de arménios pelos otomanos em 1915 foi um genocídio ou não. Milhão e meio de mortos é muito, mas não é só o número que interessa para saber se se tratou ou não de um genocídio. Acho que é trabalho para os historiadores e não para os políticos. Se houver várias opiniões diferentes entre os historiadores que estudarem o assunto, não vem por isso mal ao mundo, penso eu. Por isso, não compreendo como um país democrático como a França decide impor penas duras de prisão e/ou multa a quem defenda que a matança dos arménios em 1915 não foi um genocídio. Por outro, lado também se compreende mal que na Turquia, herdeira do Império Otomano, seja exactamente o contrário que é proibido. Para quem defende a liberdade de pensamento e de expressão de opinião, ambas as proibições parecem condenáveis. Mais condenável ainda me parece ser decretado que determinado acto histórico foi um genocídio em retaliação por outra decisão de outro país, como fez a Turquia, depois de ter ameaçado, denunciando que a França procedeu a genocídio na Argélia. Quer dizer, se a França não tem proclamado o genocídio arménio, a Turquia calava-se com o alegado genocídio na Argélia, sendo portanto a denúncia apenas uma vingança e não uma consideração de uma verdade histórica.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Gerir a dívida

Pior do que Sócrates, só o seu discípulo Pedro Nuno Santos. Sócrates disse que as dívidas não são para serem pagas, são "por definição" eternas, são para serem geridas. Só é pena que não tenha sabido geri-las quando chefiou o Governo, a não ser que considere que gerir é engordá-las até serem ingeríveis. Posteriormente veio explicar que queria dizer que não são para serem pagas imediatamente e na totalidade. Queria dizer, mas não tinha dito. Mas Nuno Santos refinou o raciocínio: A dívida é uma arma, mas não para o credor: é a bomba atómica do devedor. Pode-se fazer bluff com a dívida ameaçando não pagar até tremerem as pernas dos banqueiros credores e ficaram finos. Só os políticos que nunca jogaram poker é que não compreendem isto... Eu, que não sou político e nunca joguei poker, o pouco que sei desse jogo é suficiente para compreender que se o adversário conhece que cartas temos na mão o bluff torna-se impossível; e os nossos credores conhecem bem a nossa situação e, se nós ameaçarmos não pagar, sabem que não podemos cumprir a ameaça porque precisamos que nos emprestem mais. Se eu tiver um crédito num banco e for lá ameaçar que não pago, não vale a pena pedir mais dinheiro emprestado. Aliás, ao contrário do que o ilustre deputado pensa, os bancos alemães e franceses não nos puseram condições duras quando nos emprestaram dinheiro: limitaram-se a comprar os nossos títulos de dívida em leilão ou no mercado secundário nas condições que o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público determinou. Como disse Miguel Beleza, o episódio só mereceria ser ignorado, tal a incompetência e ignorância que demonstra, não fosse o deputado vice-presidente da bancada do maior partido da oposição, partido que, enquanto suporte do governo anterior, negociou o memorando que, esse sim, nos obriga a medidas duras, mas nos obriga e nos dá condições e tempo para pagarmos as nossas dívidas. O melhor comentário sobre o assunto é o do blog With Bubbles.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pouco seguro

Seguro descobriu hoje que há 700 000 desempregados em Portugal e, sem ponta de vergonha, vá de apregoar o número. Claro que não teve a lata de dizer que a culpa é do actual governo, mas ao anunciar o número como um ataque à coligação deu-o a entender. É preciso ter memória fraca ou ter muita lata.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Fado

Não sou grande apreciador de fado, não é o género musical da minha predilecção particular, mas gosto de ouvir um fado bem cantado e aprecio principalmente o som da guitarra portuguesa. De qualquer modo, fiquei satisfeito por o fado ter sido reconhecido como património imaterial da humanidade e acho que merecia essa distinção. Tive ocasião hoje de ouvir mais fados do que nos últimos 30 anos, gostei mais de alguns do que de outros, mas tive algum prazer, principalmente de recordar os fados mais antigos, mesmo quando cantados por vozes jovens.

Mas o que me deu mais satisfação foi verificar, ao procurar "fado" na Wikipedia por curiosidade, que a entrada correspondente estava actualizada a ponto de incluir já:

«O fado é um estilo musical português. Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa. O fado foi elevado à categoria de Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO[1] numa declaração aprovada no VI Comité Intergovernamental desta organização internacional, realizado em Bali, na Indonésia, entre 22 e 29 de Novembro de 2011.[2][3]

Não só temos uma tradição musical que é reconhecidamente património mundial, mas temos um rigor tal que nos leva a actualizar no próprio dia da adopção a referência ao fado na Wikipedia. Não sei quem fez a actualização, mas quem quer que tenha tido essa preocupação merece o meu apreço.

sábado, 26 de novembro de 2011

Estaremos a empobrecer? E os juros?

aqui defendi que não estamos a empobrecer: Já éramos pobres, mas, graças a viver com dinheiro emprestado, podíamos disfarçar. Agora revelou-se a nossa pobreza.
Também, mais recentemente, estranhei que toda a gente se tenha subitamente posto a estranhar que tenhamos de pagar quantias chorudas de juros do empréstimo do resgate.
Felizmente verifico que há quem esteja de acordo comigo nas duas questões. Diz rui a. no Blasfémias:

«estaremos mesmo a empobrecer?

Será que o país está realmente a empobrecer com as políticas deste governo, como sugerem, por aí, comentadores e opinadores diversos? Por acaso o governo mandou encerrar empresas e fábricas, destruiu fontes de recursos, mandou reduzir a produção, nacionalizou empresas privadas e pô-las a perder dinheiro, ou será que este governo se tem limitado, de calças na mão, é certo, como o faria qualquer outro no mesmo lugar, a pagar o que é devido aos seus credores, de modo a poder continuar a ter acesso a dinheiro que lhe permita evitar a falência? Sendo, evidentemente, isto que se passa, se Portugal não perdeu produto por estar a pagar o que deve, há uma conclusão a retirar do actual estado em que nos encontramos: ele é apenas o estado real do país – de pobreza, é certo – de um país que abandonou os campos, reduziu as pescas, limitou a iniciativa privada, que criou falso desenvolvimento público com recursos desbaratados vindos do exterior, que pouco ou nada produz, que abandonou, há muito, as exigências de qualidade na educação, na justiça, na segurança, na saúde, que exige direitos e quer poucos deveres, e que tem vivido acima do valor real do seu produto interno, à custa do crédito externo, ou seja, do dinheiro que alguém lá fora produz. Por outras palavras: nós não estamos a empobrecer; nós somos pobres. Agora que os avalistas – as célebres agências de rating – desconfiam da nossa capacidade real para pagar o que devemos e o que mais queremos ficar a dever, estamos somente entregues a nós mesmos, ao que somos ou não somos capazes de produzir, e à obrigação natural de pagar aquilo que voluntariamente ficamos a dever a quem nos emprestou. Entretanto, quanto aos juros da dívida contraída pelo PS, PSD e CDS – os célebres 34 mil milhões -, se houver por aí quem arranje dinheiro a preço mais barato, será certamente bem-vindo.»

É mesmo assim.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Juros

Não é nenhuma novidade que Portugal tenha de pagar juros e encargos pelos empréstimos concedidos ao abrigo do apoio financeiro do trio UE-BCE-FMI que são quase metade do valor emprestado. Era um facto sabido e já comentado e não é difícil de calcular esse valor a partir das taxas e dos prazos, como faz qualquer pessoa que pretenda pedir um empréstimo e tenha a cabeça no sítio. Já se tinha falado disso, mas agora a comunicação social em coro desatou a mencionar o assunto não só como se fosse uma descoberta actual mas também fosse um escândalo. Claro que o PCP e o BE aproveitaram para as suas críticas ao governo, à troika e ao sistema financeiro internacional.

Mas será que nunca pediram um crédito-habitação, nunca pediram um empréstimo para qualquer outro fim nem compraram bens a prestações. Principalmente nos empréstimos a longo prazo, como os de crédito-habitação, fazendo as contas toda a gente sabe que vai pagar muito mais pela casa do que se comprasse a pronto.

Concretamente no caso do resgate português, que alternativa haveria? Se Portugal não tivesse pedido o apoio, mesmo que conseguisse continuar a financiar-se no mercado, os juros seriam muito superiores e portanto o valor final, mesmo se fosse, por hipótese, suportável, seria muito superior aos tão falados 34,4 mil milhões.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Escalada da dívida

Convém não esquecer:
http://quartarepublica.blogspot.com/2011/11/o-grande-especulador-nacional.html
«Quinta-feira, 24 de Novembro de 2011
O grande especulador nacional
Dívida Pública Directa do Estado- Fonte: Instituto Gestão do Crédito Público
Março de 2005- 92,7 mil milhões
2005- 102 mil milhões
2006- 109 mil milhões
2007- 113 mil milhões
2008- 118 mil milhões
2009- 133 mil milhões
2010- 152 mil milhões
2011( 30 de Junho)- 172,4 mil milhões
Sócrates cometeu a proeza inimaginável de praticamente duplicar a dívida nos seus seis anos e três meses de governação. Aos 92,7 mil milhões que recebeu juntou mais 80 mil milhões, à razão de 10,6 mil milhões por ano!... E, para coroar a façanha, só nos últimos 25 meses do reinado, endividou-nos em mais cerca de 40 mil milhões!...Claro que teve que começar a pedir emprestado até para pagar os juros.
A especulação tem um nome e é nacional. Mas agora fazem as greves contra o governo e os especuladores internacionais!...»

Simplesmente impressionante.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Buracos, em cima da mesa, disparou, chumbar

A comunicação social também é dada a modas. Há certas palavras que começam a ser sistematicamente usadas e todos os jornais e canais de televisão as adoptam como se não houvesse outras maneiras de dizer as coisas. O verbo "chumbar", que quando eu era jovem era considerado calão comum entre os estudantes mas impróprio de ser usado num título de jornal, é agora sempre adoptado para dizer não só "reprovar", mas também "votar contra" ou "não aprovar", seja uma proposta, uma lei ou uma ideia. Quando um valor ou um parâmetro sobe um pouco mais do que o habitual, logo se diz de "disparou". Por vezes o disparo é de pouco alcance, logo seguido de uma "queda". É assim com os preços de acções na bolsa e com os juros dos empréstimos. Os assuntos a tratar ou as questões discutidas numa reunião "estão em cima da mesa", mesmo quando não há qualquer mesa entre as partes. Mais modernamente convencionou-se chamar "buracos" a quaisquer verbas que venham alterar um valor ou uma previsão. São os buracos da execução orçamental, os buracos da Madeira (Serão causados por carunchos, bichos antipáticos que deixam a madeira esduracada?), os buracos nas contas mais variadas. Seria tão bom se os senhores jornalistas fugissem dos chavões e diversificassem um pouco os termos usados.

domingo, 6 de novembro de 2011

Empobrecer? Não, pobres já éramos!

Diz-se que a crise - ou as medidas de austeridade do Governo, conforme as opiniões - estão a causar o empobrecimento do País. Mais globalmente, acrescenta-se que a crise - ou a austeridade - a nível da Europa está a empobrecer os povos europeus.

Não creio que seja assim. Pobres já nós éramos, só que muitos nem sabiam que o eram outros disfarçavam como podiam. Mercê de empréstimos que íamos conseguindo sacar, vivíamos como ricos ou pelo menos como remediados, mas éramos verdadeiramente pobres. Quando chega a hora de pagar as dívidas, claro que temos de passar a viver com menos dinheiro e logo com menos coisas, menos conforto, menos bem-estar. Mas isso só porque passamos a viver em conformidade com a nossa pobreza real.

sábado, 5 de novembro de 2011

Yes, we Cannes

Agora, que Papandreo ganhou, embora por pequena margem, a moção de confiança e, com razão ou sem ela, os políticos europeus respiram de alívio, já podemos dedicarmo-nos às pequenas questões. E uma destas pequenas questões, mas que para mim é bastante irritante, é a dificuldade que muitos jornalistas têm com a pronúncia de nomes estrangeiros. A tendência para inglesar a pronúncia de nomes alemães, franceses e até árabes, quando a pronúncia à portuguesa é por vezes a mais correcta, é quase universal.
Até há pouco o nome da cidade líbia de Sirte era muitas vezes pronunciado Sarte (com A mudo à inglesa). Agora, a propósito da cidade francesa que acolheu a reunião do G20, ouve-se mil vezes por dia pronunciar Cannes com A mudo, como can inglês. É certo que já quase ninguém com menos de 40 anos aprendeu francês, que no meu tempo era obrigatório no liceu durante 5 anos, mas o nome da cidade e a respectiva pronúncia devia ser conhecido pelo menos por causa do célebre festival de cinema.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Inovação

Primeiro, vi a notícia no blog Club das Repúblicas Mortas:


«A empresa Waydip, criada na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, foi selecionada como uma das 50 novas firmas mais inovadoras do mundo, num concurso da Kauffman Foundation.»

que remetia para o Expresso, onde li o desenvolvimento. Quer a inovação dos estudantes da UBI venha a ter um grande futuro, como espero, quer não venha a passar de uma ideia interessante mas sem viabilidade económica, a notícia é positiva e animadora.

Contudo convinha que os jornalistas tivessem um pouco mais de atenção ao aspecto técnico da notícia. Quando dizem:

«Cada mosaico do sistema Wayenergy esconde pequenos motores sob a superfície que quando são pressionados produzem energia que é acumulada em baterias.»

deviam ter em conta que os motores não produzem energia. Trata-se, seguramente de dínamos ou outro tipo de geradores que transformam energia mecânica em energia eléctrica. Claro que há motores reversíveis que podem também funcionar como dínamos, mas mesmo neste caso quando produzem energia eléctrica devem ser designados como "dínamos" ou "geradores" e não como "motores".

Referendo na Grécia

A decisão de Papandreu de pedir aos gregos que se pronunciem em referendo sobre o perdão de 50% da dívida soberana e o novo empréstimo já acordado é uma jogada muito perigosa, mas audaciosa. Sem este referendo, Papandreu e o seu governo continuariam a ter de enfrentar uma reacção popular muito violenta às medidas de austeridade. É possível que, mesmo na hipótese de Papandreu ganhar o referendo, as manifestações de protesto continuem e sejam talvez ainda mais violentas com o endurecimento das medidas, mas faltar-lhes-á legitimidade. Por outro lado, se o "não" ganhar, como indicam as sondagens, a situação na Grécia só pode piorar e a banca-rota será inevitável. Não vejo como Papandreu pode continuar a presidir ao governo grego e, com eleições antecipadas ou sem elas, as consequências para a Grécia e para a Europa serão terríveis. Se hoje, segunda-feira 31 de Outubro, só por se noticiar a perspectiva de referendo, as bolsas caíram e as taxas das dívidas portuguesa e italiana subiram, é difícil imaginar o que acontecerá se Papandreu perder.

sábado, 29 de outubro de 2011

Mudança da hora

O blog astro.pt lembra que esta madrugada mudamos para a hora de Inverno. Ainda se discutem as vantagens e os inconvenientes desta mudança e da que tem lugar em Março para voltar à hora de Verão - conforme os casos, desfasagem do relógio biológico, crianças que são obrigadas a ir para a escola ainda com pouca luz, trabalhadores que chegam a casa já noite cerrada, poupança de energia, etc. - mas para mim o caso é outro.
A mudança de hora irrita-me muito, quer a de Março quer a de Outubro, não por dormir menos ou dormir mais nem por anoitecer cedo ou ter de me levantar antes do nascer do Sol, mas simplesmente porque hoje em dia na minha casa, como em qualquer casa moderna, existem muitos relógios que têm de ser acertados à mão. Só os computadores e a ZON Box acertam a hora automaticamente. Além destes tenho os relógios de pulso (meu e da minha mulher), dos telemóveis, das mesas de cabeceira, do telefone, do gravador de DVDs, dos ares condicionados, do fogão, do carro e ainda vários relógios de parede. Para poupar trabalho há alguns (carro, ares condicionados e fogão) que deixo sempre na hora de Verão, o que me poupa trabalho, mas pode dar origem a confusões. Com isto tudo vou necessitar amanhã de manhã muito tempo e muita paciência a acertar relógios. Será que mais ninguém se queixa do mesmo?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Akordu ortugráfico

Nunca gostei do chamado acordo ortográfico e recuso-me a adoptá-lo, mesmo nos casos em que sei as regras. Infelizmente não posso impedir que ensinem os meus netos por essas novas regras. Algumas são só irritantes, outras são completamente destituídas de lógica.

Leio agora com satisfação os comentários de Helena Araújo no blog 2 Dedos de Conversa sobre esta questão.
Também com satisfação saboreei a sugestão de passar a escrever exactamente como se lê, dando a cada letra um único som e atribuindo a cada som uma única letra. Já há muito que a ideia me ocorreu, mas nunca a desenvolvi. Chamei-lhe "ortografia fonética". Vejam o exemplo da própria Helena Araújo:

«à atensão dos purtugezes rezidentes em Berlim
Carus amigus,

escrevu-vus segundu as minhas próprias regras de nova urtugrafia. Bem sei que anda pur aí um acordo, mas eu axo que ele peca por defeito. Se é para simplificar, vamos até ao fim. Até às últimas consecuênsias.
Por ezemplo: acabar com o ç - o que soa ç escreve-se com s, e o que soa z escreve-se com z.

Para us mais acumudados, contudu, organizaram uma sesão de esclaresimento no prósimo fim-de-semana. Um "tudo o que sempre quis saber sobre o acordu ortugráfico e não teve curajem de perguntar".»

Porque não?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma coisa que funcionou bem

É com satisfação que constatamos que há alguma coisa que funciona bem para além das nossas expectativas. Não resisto por isso a descrever o modo como foi dado seguimento por entidades públicas a um pedido meu. O assunto pode não ter muita importância, mas é um bom exemplo.
Em frente da porta do prédio onde vivo há anos há um pequeno triângulo ajardinado com alguma erva, a que os serviços camarários chamam pomposamente de “relva rústica” - sem dúvida muito rústica – e com algumas árvores. Logo diante da porta do prédio está uma árvore que foi plantada há alguns anos para substituir outra que foi retirada por ameaçar queda e que serviu de brinquedo aos meus filhos quando eram pequenos. A árvore actual não tem o porte da outra e a relva que a circunda está pouco cuidada e suja, mas é um espaço verde que torna a vista agradável. Foi pois com preocupação que vi há coisa de um ano que as folhas da árvore se enchiam de manchas brancas e murchavam e caiam rapidamente, tirando-lhe completamente o vigor e a beleza. Resolvi enviar uma mensagem de correio electrónico ao vogal do ambiente da Junta de Freguesia com uma fotografia de algumas folhas da árvore atacadas. Algum tempo depois, ao chegar a casa, vi um pequeno veículo da Câmara Municipal com a menção “Espaços Verdes” e duas técnicas que observavam as árvores com atenção. À minha pergunta, confirmaram que vinham por causa da minha reclamação e prometeram dar seguimento ao assunto.



Recebi agora uma carta do Presidente da Junta de Freguesia com o seguinte teor:
«Assunto: Árvore. Em seguimento da reclamação sobre o assunto em título, somos a informar V. Exa. o teor do despacho proferido pela Câmara Municipal de Lisboa – Direcção Municipal do Ambiente Urbano, o qual passamos a transcrever: “(…) Encarrega-me o Sr. Chefe de Divisão de Manutenção dos Espaços Verdes, na sequência da reclamação apresentada, a qual mereceu a melhor atenção, de informar que a árvore em causa encontra-se atacada por um fungo causador de oídio nas folhas, responsável pela queda precoce da folhagem. O tratamento contra o oídio, nesta altura do ano, é pouco eficaz, pelo que será efectuado tratamento aos primeiros sintomas de ataque à nova folhagem, no início da próxima Primavera(…)”».
Há pois coisas que funcionam bem. Esperemos pela Primavera.

domingo, 23 de outubro de 2011

Desonestidade ou incompetência

Importante ler.

Extrema-direita revisitada

Afinal, não é só Vasco Lourenço que vê a extrema-direita em acção: os indignados que se reunem frente às Assembleia da República também. E não é uma extrema-direita qualquer: está já organizada em milícias. Só que em vez de atacarem a sede da democracia burguesa, atacam os activistas que se manifestam contra a mesma Assembleia!

A extrema-direita está no poder!

Segundo o "capitão de Abril" Vasco Lourenço, os soldados, revoltados com o tratamento que o actual Governo lhes reserva, têm de fazer valer os seus direitos, mas não há perigo de que façam uma nova revolução, porque a revolução já está a acontecer, mas não é a dos soldados, é a da direita e extrema-direita, numa espécie de novo PREC de direita. Ouve-se e fica-se a pensar como chegaram indivíduos com uma capacidade de raciocínio tão primária e ter responsabilidades importantes na condução do País... Onde vê Vasco Lourenço a extrema direita? Há milícias de camisas negras ou de outra cor nas ruas? Estamos a prender os comunistas e os socialistas? Alguém deitou fogo ao parlamento? E pensar que Vasco Lourenço era dos "moderados"...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Patrão falido

Ouvi agora uma frase lapidar de Mira Amaral que deveria ser motivo de meditação profunda das pessoas que falam em equidade: "A função pública tem de perceber que o seu patrão está falido." De facto, talvez não completamente falido, mas sem dúvida em grande risco de falência e a beneficiar de um processo de recuperação e de protecção dos credores. Assim, por uma questão de equidade, a situação destes trabalhadores deve ser comparada à dos de empresas falidas ou em processo de falência e não à dos trabalhadores em geral.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SCUTS

Não resisto a transcrever o postal de Tavares Moreira sobre o fim das SCUTs e a indignação do Eng.º Cravinho.

«Grande ideólogo das SCUT's também está indignado...Stupete, gentes!
1.O Eng.º João Cravinho, grande ideólogo e impulsionador desse extraordinário modelo de financiamento/construção/exploração de AE sem custos para o utilizador (SCUT's) – só possível no pressuposto heróico de que nenhum contribuinte as iria utilizar – veio também manifestar agora a sua indignação contra a odiosa proposta de OE/2012...
2....E fá-lo sem papas na língua, afirmando, tonitroante, que “O Governo ataca a função pública por RESSABIAMENTO NEGATIVO”...curioso conceito este de Ressabiamento Negativo...fico a pensar no que consistirá o Ressabiamento Positivo?
3.Embora já tenham decorrido cerca de 12 anos, recordo-me bem do tempo em que alguns cidadãos pouco esclarecidos levantaram reservas sérias ao modelo SCUT, argumentando que não fazia sentido a utilização gratuita de uma infra-estrutura tão dispendiosa e que não se configurava de 1ª necessidade...
4.Acrescendo que o modelo de financiamento escolhido, por concessão de rendimento garantido para os concessionários com base numa taxa de rentabilidade muito generosa, se apresentava muito mais oneroso para o Estado do que a promoção directa dos projectos, com financiamento do próprio Estado e inscrição da despesa no OE – se necessário recorrendo à emissão de dívida pública, à época de muito baixo custo e sem problemas quantitativos...
5.A estas críticas o Eng.º Cravinho respondia (quando respondia) de forma sobranceira, esclarecendo o Povo de que essas pessoas tinham uma visão puramente financista, de contabilista, não se mostrando capazes de compreender os efeitos altamente positivos sobre a actividade económica das regiões atravessadas pelas SCUT’s que este projecto era garantido gerar... e esse incremento da actividade seria + do que suficiente para compensar os custos das ditas SCUT’s...
6.Os anos passaram,passaram, continuamos à espera dos efeitos das SCUT’s sobre a actividade económica das regiões...e entretanto caímos na insolvência, também com a ajuda precisa das SCUT’s, já não havendo dinheiro para assegurar a rentabilidade aos concessionários sendo por isso necessario transformar as SCUT's em CCUT’s!
7.Mas quem está indignado, afinal, é o Eng.º João Cravinho, que lança agora os mais duros impropérios contra aqueles a quem cabe a triste tarefa de apanhar os destroços e os “cacos” de uma feira de vaidades e de desvarios (que incluía uma “barraca” para as SCUT’s) a qual, como era previsível para os tais cidadãos pouco esclarecidos, se desmantelou e acabou na tragédia a que estamos a assistir!
8.Stupete, gentes!
Publicada por Tavares Moreira»

É exactamente assim. Há ilusões que se pagam caro. O pior é que quem paga não foi quem incorreu no erro.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sacrifícios

Equidade? Sim, equidade é fixe. Mas como?
Sou pensionista, dos que, por serem "ricos" com pensões superiores a 1000 €, vão sofrer o confisco dos subsídios de Natal e de férias durante pelo menos 2 anos. Claro que me vão fazer muita falta, mas penso conseguir uns euritos para poder comprar umas prendas aos meus netos nos próximos Natais. E o que me preocupa menos neste momento é a equidade. Não é por eu ser altruísta ou boa pessoa e aceitar o sacrifício mesmo que outros não tenham de o fazer; é que acho que Portugal tem neste momento problemas muitíssimos mais prementes e importantes do que a equidade. Uma das coisas que ajudava era que as pessoas com responsabilidade se deixassem de polémicas. Que discutissem discretamente as questões, em vez de lançar palavras dúbias ao ar.

Há limites para os sacrifícios que podem ser pedidos aos portugueses? Claro! Em 2012 o limite é conseguir que o défice não ultrapasse 4,6% do PIB. Se com as medidas duras deste Orçamento se conseguir isso, serão sacrifícios necessários e que portanto podem e devem ser pedidos, direi mesmo exigidos, aos portugueses.

domingo, 16 de outubro de 2011

Indignados II

A literatura bloguista sobre os indignados e a sua manifestação 15O é abundante e muito dela certeira.
Link
No Forte Apache, Luís Naves escreve:

« Uma reflexão final sobre os indignados. Nos EUA, os manifestantes do Occupy Wall Street dirigem-se com maior nitidez aos abusos do sistema financeiro e dou por mim a concordar com grande parte do que dizem. Parece-me evidente que estamos nas fases iniciais de uma profunda crise do capitalismo e que é preciso maior regulação.

Já o movimento europeu é confuso. Tem as mesmas características populistas do movimento americano, de anti-política, mas em quantidades que me parecem tóxicas. A rejeição dos partidos e o processo de decisões anárquico, que facilita as manipulações e as chapeladas, são retrocessos da democracia, não são avanços. As assembleias gerais populares são facilmente manipuláveis. E ser do contra porque parece moderno não resolve nenhum problema da sociedade.
Também não entendo a exigência de "democracia participativa". O país a ser governado na rua, por assembleias populares? O governo por sondagens ou pelas redes sociais? Uma senhora está neste momento na TV a dizer que "a gente não paga a dívida". Isto é apenas outra fantasia, como aquelas em que este país viveu nos últimos anos. Claro quer vamos pagar a dívida, pelo menos enquanto os credores nos exigirem isso, pois a alternativa é um retrocesso ao nível da Albânia. Se fizermos o que os indignados querem, o país vai à falência e fica isolado. O que temos é mau, sem dúvida, os nossos "amigos" externos são duros, mas o poder da rua não passa de uma ilusão cruel.»

Outras observações pertinentes aqui, aqui e aqui.

sábado, 15 de outubro de 2011

Indignados

Também eu estou indignado com a crise, mas no mais divirjo completamente dos manifestantes que hoje encheram o largo em frente ao parlamento. Estou indignado por irresponsáveis nos terem metido nesta situação, mas não com as medidas para tentarmos sair dela. Sobre a manifestação de hoje, no Blasfémias, Helena Matos escreve exactamente como eu penso. Excelente post. Também li e tenho presente textos dos anos 70, dos que então não se intitulavam indignados, mas sim revolucionários. Como disse alguém, a história repete-se. Então não eram tão pacíficos, talvez porque os tempos agora não são, pelo menos em Portugal, muito favoráveis a violências. Mas imagino que há quem, mesmo não participando nas manifestações, preferisse que houvesse mais incidentes e pancadaria para poder incriminar os políticos que tanto detestam. Afinal, embora não esteja já em moda a expressão "democracia burguesa", é contra essa democracia que se viram. Só que a "democracia autêntica" que pretendem ou é uma "ditadura do proletariado" (onde existe agora proletariado?) ou qualquer coisa indefinida e indefinível.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

OE 2012 A

Concordo com Helena Garrido. Em poucas palavras diz o necessário. E deixa-me a pensar como é possível deixar impune quem não tomou as medidas indispensáveis há um ano (ou mais), quando já alguns diziam ser tempo de arrepiar o caminho do endividamento e as medias a tomar poderiam ser muito mais leves.

OE 2012

Se por um lado me sinto prejudicado pelo corte na pensão, pelo confisco dos subsídios de férias e de Natal e pelos aumentos de impostos, por outro lado tenho a consciência que as medidas tomadas, embora negativas pessoalmente, vão ser positivas para a recuperação do equilíbrio financeiro do País. Crescimento? Desenvolvimento? Com os défices crónicos e com a impossibilidade de financiamento nos mercados, não é ocasião para pensar nisso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Tempo de antena de borla


Nunca Alberto João Jardim teve tão extenso e variado tempo de antena em todos os canais como nos últimos dias. Até parece que vale a pena esconder buracos para ganhar tempo de televisão, o que dá muito jeito em vésperas de eleições regionais. Será que o Alberto João fez de propósito?

FMI

Mais vale tarde do que nunca. As notícias sobre as assembleias anuais do FMI e do Banco Mundial e sobre a reunião dos ministros das finanças, incluindo o nosso, que as precedeu apareceram hoje em vários canais portugueses e na Euronews. Eu já temia que o fim de semana e o merecido descanso dos jornalistas impedisse qualquer notícia sobre as importantes reuniões. Afinal foi só alguma lentidão das redacções que fez com que só no Domingo se noticiassem estes eventos.

domingo, 25 de setembro de 2011

FMI


Já estamos habituados à falta de informação sobre assuntos importantes, enquanto faits-divers e coisas menores são apresentados repetidamente com grande desenvolvimento. Mas por vezes há exageros completamente condenáveis. Desta vez foi a reunião do Conselho do Fundo Monetário Internacional em Washington que decorreu este sábado e se debruçou sobre a crise económica mundial e especialmente sobre o problema das dívidas soberanas. Ninguém terá a coragem de dizer que a questão não nos interessa; claro que interessa e o modo como o FMI por um lado e os governos por outro pode influenciar de modo decisivo o nosso futuro e o dos nossos filhos. No entanto não vi qualquer referência a esta reunião em qualquer canal de TV nacional e mesmo em muitos estrangeiros. Não posso afirmar que não tenha sido de todo noticiado, só sei que não consegui ver nem uma simples notícia, a não ser na Sky-News, que deu o merecido relevo à reunião e transmitiu em directo, suponho que na íntegra, embora eu tenha perdido o início, a conferência de imprensa final. Nem no nosso canal Económico, que continua a transmitir nos Sábados e Domingos repetições de programas já dados durante a semana, consegui apanhar qualquer notícia. O comunicado final dá relevo à crise dos países da zona euro e refere as decisões da reunião dos ministros das finanças de 21 de Julho, o problema de financiamento dos bancos e a necessidade de melhorar a supervisão. Quem esteja interessado pode recorrer ao sítio do FMI.

sábado, 24 de setembro de 2011

Naming in Lisbon Subway

Ainda sobre a importantíssima questão da alteração dos nomes das estações do Lisbon Subway, que aqui referi há dias a propósito dum postal do blog Lisboa-Telaviv, não resisto a transcrever a opinião de Alexandre Andrade em Um blog sobre Kleist:


«NAMING: O metropolitano de Lisboa mudou o "naming" (é assim que se diz?) da estação "Baixa-Chiado". Houve quem se revoltasse. Estou certo de que esta mudança será rapidamente assimilada pela população lisboeta, pouco interessada em polémicas estéreis. Diálogos como «Vais até ao Cais do Sodré? Não, desço já aqui na Baixa-Chiado PT Bluestore.» irão em breve tornar-se corriqueiros.

Antecipo com prazer o dia em que uma das minhas entradas sobre leituras em lugares públicos rezará assim:

«Um leitor foi avistado a ler as "Metamorforses" de Ovídio na estação Telheiras Salsichas Nobre.»

aa 22:13»

Só é pena que o exemplo dado não respeite a norma de uma palavra ou expressão em inglês. Mas também é certo que, tanto quanto me é dado saber, as Salsichas Nobre, ao contrário da PT, não usam expressões no idioma de Shakespeare excepto na latas “Hot dog” (Shakespeare que me perdoe!).
Aí está!! O exemplo do local da leitura de Ovídio poderia ser a estação Telheiras Hot Dog Nobre. Teria uma ressonância muito mais internacional.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Taxas e mercados

No Quarta República fala-se da probabilidade de banca-rota da Grécia perante os juros altíssimos a que a dívida grega está sendo transaccionada.

Francamente não percebo bem o problema, provavelmente por causa dos meus fracos conhecimentos de economia e da nula sabedoria de finanças: Se bem percebo, desde o início do programa de ajuda da troika que a Grécia não recorre ao mercado financeiro ou pelo menos não recorre em escala apreciável, como acontece com Portugal. Até ao fim do programa de resgate, todo o financiamento é assegurado pelo FMI + BCE + UE, desde que a Grécia cumpra determinadas condições. Se é assim, as taxas mirabolantes a que os títulos de dívida da Grécia são transaccionados são, de certeza, os do mercado secundário. Portanto a Grécia não paga juros exorbitantes, paga os que contratou ao vender os títulos. O problema não estará portanto em a Grécia não ser capaz de pagar os juros altíssimos, está em ser capaz de cumprir ou não as medidas impostas, pois se não as cumprir terá de tentar voltar ao mercado e neste, embora mercado primário, as taxas são influenciadas pelo que se passa no secundário. Outra questão, mas que não se põe imediatamente, é que mesmo que cumpra tudo, quando o programa chegar ao seu termo, lá terá de ir ao mercado e então, embora cumpridora, é provável que os investidores não estejam muito dispostos a emprestar a juros compatíveis com as debilitadas possibilidades gregas. Gostava muito que alguém me dissesse se eu estou errado, ou se estão os que se assustam tanto com as taxas.

domingo, 11 de setembro de 2011

«Como se o passado não existisse...»

Li no Quarta República:

«Como se o passado não existisse...

Ouvi parte do discurso de encerramento de António José Seguro no Congresso do PS. Realmente, como pode o PS não fazer contas com o passado, fazer de conta que não deixou uma herança pesada, rasgar a página da sua governação que conduziu o país ao abismo, criticar o governo e falar de um novo projecto de desenvolvimento para o país que é preciso começar já apostado no emprego, no crescimento e no combate à corrupção, que o futuro que querem é um novo futuro.
Está tudo muito certo, precisamos de tudo isso e de muito mais, por exemplo, de um Estado que não falhe na protecção social das pessoas que precisam efectivamente de apoio, em lugar de andar a fazer obras megalómanas e desnecessárias sem dinheiro para as pagar. Um Estado que gastou no supérfluo, agora não tem como cuidar do essencial.
Bem sei, que o novo líder do PS precisa de um novo discurso, precisa de conquistar espaço e oxigénio para respirar, mas convenhamos que não lhe ficaria nada mal, muito pelo contrário, ter sentido de humildade e reconhecimento dos erros cometidos. Sem esta catarse não terá credibilidade para ser oposição construtiva. É por estas e por outras que os portugueses estão desiludidos com a política e com os políticos...»

É exactamente o que eu pensei ao ouvir excertos dos discursos de seguro. Seguro parece muito seguro que a crise actual, o alto grau de desemprego, a necessidade de medidas duras de austeridade para combater a dívida e a recessão daí resultante são culpa exclusiva do actual Governo, porque não teve uma política que promova o crescimento nos 80 dias que leva de vida. Até parece que há 81 dias, antes de este Governo tomar posse, o desemprego, a dívida e a necessidade de medidas duras não existiam.
Bem sei que os casos não são comparáveis, mas veio-me à memória a coragem de Kruchtchov ao denunciar, no XX Congresso do PCUS, os crimes de Estalin. Agora, como diz Margarida Corrêa de Aguiar, é como se o passado não exixtisse…

Bluestation

Leio em Lisboa-Telaviv

«Estação Bela Vista Pingo Doce
Uma excelente ideia a do Metropolitano de Lisboa: dar o nome de uma empresa à estação da Baixa-Chiado. As hipóteses são tantas como o número de estações: Estação Olaias Hotel Altis Park, Estação Bela Vista Pingo Doce, etc etc. Desde que reduzam o gigantesco défice do Metropolitano até podem pintar as estações de rosa-choque que o contribuinte agradece.

Publicada por David Levy »

Também acho uma excelente ideia. Não esquecer que deve ser obrigatório nos novos nomes das estações haver uma palavra ou uma expressão em inglês (como acontece em Baixa-Chiado PT Bluestation). Como o inglês é a nova língua franca, como outrora era o latim, e é de bom tom mostrar que dominamos bem o English, proponho mesmo que o nome da empresa Metropolitano de Lisboa seja alterado para Lisbon Subway. E preparemo-nos para quando a língua da moda for o chinês, não deve tardar muito

sábado, 10 de setembro de 2011

Lema do PS


O lema do PS é actualmente "PS O grande partido da esquerda democrática". Acho que este lema não é novo, mas agora, ao vê-lo inscrito nos painéis do Congresso de consagração de Seguro, é que reparei melhor nele. E fica-me uma pergunta: Se o PS é o grande partido da esquerda democrática, quais serão os pequenos partidos da esquerda democrática?

Beija-mão

É raro estar de acordo com as declarações de Vitalino Canas, mas desta vez acho que ultrapassou o limite da minha discordância para emitir um disparate de alto calibre: Ao comentar as deslocações de membros do Governo português à Alemanha e as reuniões que têm tido com a Chanceler Angela Merkel e outras autoridades alemãs, acusou-os de "irem ao beija-mão!". Não sei se o cumprimento com a Senhora Merkel foi alguma vez um beija-mão, mas é evidente que a acusação implícita não era de terem sido muito corteses, mas sim de serem subservientes. Esquece-se Vitalino Canas das reuniões e dos cumprimentos de Sócrates, enquanto Primeiro-Ministro e mais recentemente, à Chanceler alemã, cheios de sorrisos e vénias e, se não beija-mãos, pelo menos não faltaram beija-bochechas.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

No Insurgente, escreve Rui Carmo:

«Na edição (em papel) de ontem do DE, na primeira página está impresso o título: “Gaspar garante que contas da Madeira serão auditadas antes das eleições”. Assim mesmo, o Gaspar. Será o vizinho da frente? O homem da tabacaria? O fantasminha? Ou um dos amigos do Sérgio Godinho? Picuinhices à parte, na edição de hoje há uma ligeira confusão entre alta e baixa, como bem assinala o Joaquim do Portugal contemporâneo.

O instituto de estatísticas grego reviu em alta a contracção da economia grega de 6,9 para 7,3% nos 12 meses terminados no segundo trimestre.

Vamos lá usar a cabeça: se estava prevista uma contracção de 6,9% e, afinal, o cenário macroeconómico se agravou e a contracção vai chegar aos 7,3%, então o crescimento foi revisto em baixa. Em baixa! Fónix.
O DE não editará as notícias da Lusa?

Não me parece que tenha razão, senão vejamos:

1) Sobre o uso do apelido Gaspar para designar o Ministro das Finanças: Não vejo onde está o espanto. O anterior MdF não era sempre tratado pelo seu apelido Teixeira dos Santos? Era, e ninguém se admirava. O mesmo acontecia e acontece com muitos políticos, incluindo aqueles em que o apelido não é composto ou é simplificado: Basta lembrar Soares, Cavaco, Jardim, Passos, Bagão, Portas. Mais de estranhar era designar o anterior PM pelo segundo nome próprio Sócrates, coisa que não me lembra de ter ocorrido com qualquer outro PM ou simples ministro. Só por ironia ou para o atacar lhe chamavam Sr. Pinto de Sousa.

2) Confusão entre alta e baixa: A confusão reside no comentário. Se o jornal referia "reviu em alta a contracção" estava absolutamente correcto. Quando o crescimento é negativo ocorre uma contracção, que evidentemente é positiva. Portanto quando a contracção aumenta, significa que o crescimento baixa ainda mais. Então uma grandeza (a contracção, ou qualquer que ela seja) passar de 6,9 para 7,3 não é uma revisão em alta? É assim, mesmo que a grandeza inversa, o crescimento, ao passar de -6,9 para -7,3 seja revisto em baixa. Elementar, meu caro Watson. Quando se tem menos saúde, está-se mais doente, não é assim?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Princípio do fim de quê?

Ouvi Passos Coelho dizer claramente, no seu discurso de encerramento da Universidade de Verão do PSD, que 2012 seria "o princípio do fim da emergência". Referia-se, como é evidente, ao plano de emergência que faz parte do seu programa para acção a curto prazo. Fiquei admirado quando no Domingo Marcelo Rebelo de Sousa referiu, como um dos pontos negativos do discurso, que não deveria ter falado no "princípio do fim da crise". Pensei que era um lapso, mas que não teria grande importância porque não correspondia ao que Passos dissera. Mas já ouvi outras pessoas, entre elas o Prof. Manuel Maria Carrilho criticarem o PM por ter afirmado que 2012 seria "o princípio do fim da crise". Carrilho manifestou fortemente a sua discordância pela alegada afirmação. Assim se cria uma lenda, deturpando as palavras para criar um facto novo e poder aumentar o efeito da crítica.

sábado, 27 de agosto de 2011

Périplo de Passos e reunião internacional

As TVs noticiam laconicamente que na próxima semana, que começa dentro de minutos visto que escrevo sábado à noite, o nosso primeiro fará um périplo pela Europa durante o qual se encontrará com Zapatero em Madrid, com Angela Merkel em Berlim e finalmente com Sarkozy com quem estará presente numa "reunião internacional". Ninguém, que eu saiba, explicou qual a finalidade deste périplo nem de que "reunião internacional" se trata. Reuniões internacionais há muitas, mas não consegui obter qualquer notícia sobre esta. Claro que, estando Passos Coelho e Sarkozy presentes, já é uma reunião internacional, mesmo que mais ninguém participe, mas como só no caso de Sarkozy se usa essa expressão presumo que haverá outros participantes de outros países, mas quais e para quê é mistério. Curioso como nenhum jornalista pôs estas interrogações, como se noticiar que haverá uma reunião internacional com a presença do Primeiro-Ministro português sem acrescentar mais sobre o organismo que a promove, se a reunião tem um nome, uma agenda e uma finalidade, fosse a coisa mais natural deste mundo.
Esperemos que durante os próximos dias venhamos a saber a resposta a estas interrogações.

Alemanha e 2.º resgate de Portugal

O Vice-Ministro alemão das Finanças considerou, numa entrevista à Reuters, que é absolutamente prematuro falar sobre a possibilidade de um 2.º resgate a Portugal, visto que há um novo governo, que o programa de recuperação ainda está no início e que parece que as autoridades portuguesas têm vontade e são capazes de terem êxito no cumprimento deste programa.

Curiosamente não vi, não li e não ouvi qualquer referência a esta entrevista nos meios de comunicação portugueses, o que não quer dizer que não tenha havido, mas certamente sem a divulgação que merecia. É pena, porque, no meio de tantas más notícias, bem precisamos de uma notícia positiva.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os ricos e a crise

A ideia de que os ricos podem ajudar a combater a crise está-se a espalhar rapidamente por todo o mundo. Como extensão fala-se que se devia obrigá-los a ajudar a resolver a crise da dívida pública excessiva taxando-os para que, com as receitas assim arrecadadas, esta, e em consequência a dívida soberana, diminua mais rapidamente. Não sou em absoluto contra esta ideia, mas admira-me o modo como se expande de país para país e como os meios de comunicação a discutem me a defendem, exibindo com algum grau de voyerismo a riqueza dos mais ricos, estrangeiros e nacionais, os respectivos patrimónios e rendimentos, o que disseram sobre o assunto, se são contra ou a favor, com entrevistas, declarações de responsáveis internacionais e muita confusão. Sim, confusão, porque não se distingue bem taxas extraordinárias, para resultados imediatos, ou novos impostos para ficarem, taxação de rendimentos ou taxação de património, entre os rendimentos se se deve distinguir os que já são taxados, se a taxas progressivas ou a taxas liberatórias, e os que não estão sujeitos a impostos, no caso do património se se inclui o património imobiliários ou se só o mobiliário. Também não se diz como são estes rendimentos ou patrimónios taxados actualmente nos diversos países, logo não é possível avaliar da justeza de novas taxas.

Também não vi ninguém discutir a possibilidade de aumentar a fuga de capitais, nomeadamente para paraísos fiscais, nos países que aplicarem tais medidas. Nem vi considerar o efeito negativo sobre a poupança, que deveria ser promovida. Muito menos vi uma discussão séria sobre o nível de riqueza que seria justo ou útil submeter ao novo imposto.

Sobre o assunto tenho uma proposta: Que, no caso de se avançar para um imposto adicional sobre os rendimentos muito elevados, se isentem aqueles que se destinam a investimentos produtivos. Talvez assim não se facilite a redução das dívidas públicas, mas certamente se promoveria o investimento.

Por último, trazer à lembrança o slogan do PREC "Os ricos que paguem a crise!" só pode baralhar as ideias. Até porque as fortunas dos ricos, mesmo que taxadas a 100% se tal fosse possível, não chegavam para pagar a crise. A crise actual é mesmo muito cara!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Confusões entre energia e potência

O interessante blog Astropt reproduz informação sobre o Sol (Everithing under the Sun). A informação é muito interessante. Só é pena estar tudo em unidades americanas. Uma das coisas que me custa compreender é como uma nação tecnologicamente tão adiantada como os EUA não são capazes de passar a usar o sistema métrico!

Mas mais grave do que isso é o que me parece um autêntico disparate científico: A informação, entre outras coisas afirma na secção "Reach" :
“Amount of solar energy every square meter of Earth’s surface receives over the course of a 24-hour day: 164 WATTS. Imagine a 150 Watt table lamp on every square meter of the Earth’s surface.“
(Aleluia, aqui usaram o sistema métrico!) Ora o Watt não é uma unidade de energia, mas sim de potência. A unidade SI de energia é o Joule, que é igual a 1/3600 Wh (Watt.hora, que, esta sim, também é uma unidade de energia, não SI, mas muito usada, inclusivamente nos nossos contadores e nas nossas facturas de electricidade).

Por coincidência, vi e ouvi o mesmíssimo disparate hoje no canal Discovery no programa Futuro Energético. Várias vezes referia a energia consumida pela humanidade em Watts. Para um programa científico, embora de divulgação, devia haver mais cuidado.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

AA+ revisitado

Afinal na segunda-feira as TVs acordaram para a importância da baixa de notação da dívida dos Estados Unidos. Mesmo com um assunto mais candente, os tumultos de Londres, a classificação dos EUA pela S&P encheu um importante tempo de antena nos noticiários de todos los canais. Pena é que a profundidade da informação fosse na sua maioria reduzida, dando muita importância ao discurso de Obama e completando com algumas declarações bastante gerais de comentadores financeiros.

domingo, 7 de agosto de 2011

AA+

É espantoso como os noticiários nacionais das nossas TVs dão uma importância mínima à descida de notação da dívida americana para AA+ por parte da S&P, como se não soubessem que as graves consequências desta descida histórica podem espoletar uma segunda crise mundial, segundo alguns economistas mais grave do que a que resultou da falência do Lehman Brothers, que pode arrastar boa parte da economia mundial para a recessão e condicionar longamente a nossa qualidade de vida. Talvez por ser fim de semana e os principais jornalistas estarem a gozar merecidas férias, o facto é noticiado brevemente como se se tratasse de um pormenor sem importância, sendo antes dado relevo a um qualquer jogo do Benfica, a desacatos no Bairro do Mocho e a outros acontecimentos de equivalente relevo mundial...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A sociedade americana segundo Obama


O acordo obtido há poucos dias pelo Congresso americano sobre o aumento do limite da dívida e o modo de o financiar foi por muitos considerado uma derrota de Obama. Não estou bem ao corrente dos meandros da política americana para saber se têm razão, mas é significativo que muitos democratas, principalmente na câmara dos representantes, tenham votado contra, ao passo que os que de entre os republicanos tomaram a mesma atitude foram muito poucos. O acordo, portanto, agradou mais aos representantes dos republicanos do que aos do Partido Democrático, o partido de Obama. Porém os noticiários da Euronews, que sempre me pareceram parciais em questões políticas, afirmaram que o acordo tinha sido uma vitória de Obama.

Derrota ou vitória, não há dúvida que Obama tentou tirar dividendos no discurso em que louvou o acordo que lhe terá eventualmente desagradado. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma questão absolutamente secundária, mas que revela o que Obama pensa sobra a estrutura da sociedade americana. Afirmando que todos os americanos tinham ganho com o acordo, Obama resolveu especificar: "... brancos, negros, hispânicos, latinos, americanos nativos, homossexuais e heterossexuais...". Não sei porque esqueceu Obama os bissexuais e os transgénero (A ILGA não deve ter gostado). Mas já que além das etnias que são mais importantes na sociedade americana achou por bem incluir outros tipos de classificação dos cidadãos, não teria sido mais natural referir, por exemplo, mulheres e homens, novos e velhos, ricos e pobres, ou mesmo altos e baixos? Porquê privilegiar a orientação sexual?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Congresso americano deixa passar acordo

Acabo de ver a votação na Câmara dos Representantes em que foi aprovado por larga maioria o acordo sobre o aumento do limite da dívida. Os democratas tiveram alguma relutância em votar e votaram maioritariamente Não, apesar de por pequena margem. Os republicanos votaram em grande maioria pelo Sim. É um grande alívio para a América e para o mundo que se tenha podido evitar, embora só à última hora, o incumprimento dos Estados Unidos, que poderia provocar nova crise mais profunda nas finanças mundiais. Mas só poderemos ficar completamente descansados quando e se os Estados Unidos forem capazes de começar a diminuir a dívida ou pelo menos a diminuir o endividamento, como nós estamos a tentar fazer, em vez de apenas o aumentar menos.

domingo, 31 de julho de 2011

NEI EOS

Ontem vi o porta-voz do NEI informar que a sua proposta para a compra do BPN tinha sido reforçada. Apesar disso, como se sabe agora, não venceu.
Mas uma imagem da notícia chamou-me a atenção por uma razão que não tem rigorosamente nada a ver com o BPN nem com a sua compra. Numa parede por detrás do porta-voz estava pendurado um quadro que me chamou a atenção: Uma cena mitológica com um carro grego que levava o que parecia um deus rodeado de belas jovens com túnicas de várias cores pareceu-me familiar. A minha mulher avivou-me a memória: Era uma reprodução de um quadro que vinha estampado no interior duma caixa de charutos brasileiros que o meu sogro trouxera do Brasil em 1946 e onde tenho guardados alguns selos antigos.


Fui verificar e constatei que era realmente a mesma cena que tinha visto na entrevista do porta-voz do NEI.


Fiquei curioso sobre o que representava, mas pensei que mesmo com o recurso à internet e a motores de busca era difícil identificar o quadro. Que palavras usar para descrever a cena de modo a poder obter informação sobre o assunto e o autor? Pensei que talvez se tratasse de Apolo num carro guiado pela Fama, mas as palavras "Apolo carro Fama" não deram qualquer informação. Tentei então uma busca de imagens com base na marca de charutos inscrita na caixa, Suerdieck, e realmente encontrei, entre milhares de figuras, algumas caixas com a mesma pintura no interior, mas nada que desse pistas sobre de que se tratava. Resolvi apostar nas palavras "Apolo ninfas carro" e aí tive mais sorte: com tempo e paciência descobri imagens do mesmo quadro, algumas mesmo de caixas de charutos Suerdieck da Bahia semelhantes à minha, mas não eram essas que identificavam o quadro. Mas continuei a não achar qualquer informação útil. Repeti com a busca em inglês: "Apollon nymphs car" e finalmente, entre numerosas imagens, achei uma que me deu o artigo que trazia a informação desejada: O quadro representa afinal Aurora (deusa Eos) mostrando o caminho ao seu irmão Helios (que por vezes se confunde com Apolo por ambos serem deuses que representam o Sol) cujo carro está rodeado pelas Horas. O quadro é um fresco de Guido Reni pintado no Palazzo Pallavicini em 1614.

BPN

Fiquei admirado de ter sido escolhida a proposta da BIC para compra ao Estado do BPN. Na minha ingenuidade, ao comparar a oferta da BIC com a do NEI, pareceria esta última mais favorável. Mas concedo que o que veio a público sobre as propostas, quase nada, não permitia ter opinião fundada sobre o assunto. Espero bem que o Ministro das Finanças tenha ponderado bem e resolvido pelo melhor. Pelo menos é positivo que finalmente se tenha tomado uma decisão sobre este assunto que se arrastava para além do razoável e que parecia não ter qualquer possibilidade de solução.

sábado, 30 de julho de 2011

Nomeações: escandalosas ou normais?

Os órgãos de comunicação informam que o novo Governo fez 235 nomeações para os gabinetes ministeriais. Lê-se nos jornais e ouve-se na TV em tom sensacionalista. E logo se ouvem comentários a criticar esta onda de jobs for the boys, a afirmar que afinal são todos iguais, a concluir que as promessas eleitorais foram quebradas. Será assim? Francamente a informação que me foi dado recolher não permite saber se estas nomeações são escandalosas ou se são absolutamente normais. É altamente positivo que estas nomeações venham listadas no sítio do Governo, com nomes, cargos e vencimentos, mas não se incluem as informações que permitiriam julgar do escândalo ou da normalidade.
Seria necessário saber:
- Os números são anormais? Os governos anteriores nomearam mais ou menos?
- É ou não normal que um governo novo que toma posse proceda a estas nomeações?
- Os cargos são novos ou vêm substituir tantos outros anteriormente nomeados que cessaram funções? (Pelos cargos, parece que se trata de substituições, veja-se o caso dos chefes de gabinete.)
- São entradas novas para funções públicas ou são funcionários públicos que tomam posse em novos cargos destacados ou em comissão de serviço?
- Os anteriores detentores de cargos equivalentes eram ou não funcionários em comissão de serviço que voltaram para as suas funções anteriores?
- Os salários são idênticos ou superiores aos praticados pelo governo anterior?
- No caso de funcionários em comissão de serviço vêm ganhar mais ou o mesmo?
- Qual é o acréscimo de despesa total em relação à situação anterior?
Se alguém me souber responder a estas questões, então poderei emitir opinião sobre a bondade destas nomeações, até lá dispenso comentários.

sábado, 23 de julho de 2011

Austeridade revisitada

Várias vozes, desde economistas estrangeiros com o Prémio Nobel ou nacionais sem prémios, até comentadores, criticam as medidas de austeridade e tanto as consideram ineficazes como temem as suas consequências recessivas. A estas vozes juntam-se, por motivos diferentes, os partidos de esquerda, que recomendam a renegociação da dívida e dizem que a austeridade é a causa de todos os males. Não sou economista nem comentador e não milito em partidos, nem de esquerda mas também não de direita ou de centro, mas parece-me que, se para manter o nível de vida que temos tido, foi preciso endividarmo-nos ao ponto que chegámos, a austeridade necessária e suficiente para passarmos a viver só com o que ganhamos sem pedir emprestado é uma consequência inevitável do limite do endividamento. Por outro lado, parece-me evidente que, se pedíssemos qualquer renegociação da dívida, a austeridade viria automaticamente por mais ninguém estar disposto a emprestar-nos dinheiro. Não há fuga possível e mais vale sermos nós a decidir o melhor modo de ser austero com tempo e os meios da ajuda exterior do que termos uma profunda crise repentina por não termos possibilidades de fazer frente às nossas necessidades.

Desvio... colossal

Afinal o desvio não era colossal, mas mesmo assim vamos ter de pagar para o endireitar. O esforço que será preciso para isso é que vai ser colossal. Sempre havia várias palavras entre "desvio" e "colossal", o que muda tudo. Só não muda a austeridade que vem aí. Vamos todos, quer queiramos quer não, ser muito austeros. Como disse há dias, sempre levei uma vida um tanto austera, um pouco por feitio, por vezes por necessidade. Agora vai ser a sério.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

To be or not to be colossal

A discussão a propósito do "desvio colossal" ou do "desvio... (várias palavras) ... colossal" é inútil. Tudo depende da definição de "colossal". Afinal as medidas de austeridade estão aí, algumas já chegaram e as outras virão em breve. Se houver um desvio muito colossal, haverá, para compensar, mais austeridade. Já vamos estando habituados...

Mas já agora, como é que ninguém se admirou de palavras ditas numa reunião à porta fechada terem chegado cá fora tão rapidamente? Também vamos estando habituados, infelizmente.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Queda de notação: consequência ou causa?

A decisão da Moody's de baixar a notação da dívida portuguesa em 4 níveis tem suscitado reacções muito desencontradas. Depois do coro quase geral de repúdio e indignação, apareceram numerosas vozes a considerar a medida justificada pela realidade da situação difícil em que nos encontramos. Claro que as agências de notação financeira não estão ao serviço dos emissores de dívida, estados ou empresas, mas sim dos investidores. Claro que a dívida portuguesa é problemática e sujeita a riscos. Assim se justificaria a baixa de notação. No entanto, pessoalmente parece-me que a iniciativa da Moody's falhou no tempo e no modo. Os riscos da dívida portuguesa não aumentaram agora, pelo contrário, o acordo com o trio FMI-UE-BCE e o comprometimento do novo governo com um apoio parlamentar largamente maioritário e expresso recentemente nas urnas vieram aliviar o risco, embora não o anulassem. A ocasião escolhida pela Moody's parece assim completamente desajustada. Não me teria admirado se esta ou outra agência tivesse subido ligeiramente a notação em vez de a baixar drasticamente. Mas principalmente, a baixa de 4 níveis não parece ter fundamento. Uma baixa desta amplitude necessitaria de uma melhor explicação e fundamentação.
Concordo, no entanto, com aqueles que dizem que as mostras de indignação não resolvem nada. Há sim que provar, com actos, que a Moody's não tem razão. Enviar pacotes de lixo para a Moody's? Pode ter alguma graça, mas é absolutamente pueril. Fazer uma manifestação de repúdio no Terreiro do Paço? Tenham juízo! Alguém na América se impressionará com isso? As manifestações de repúdio do antigamente resolveram alguma coisa? Apoiar as medidas do Governo e eventualmente, para quem tenha possibilidades de investir um pouco, comprar Certificados do Tesouro, procurar gastar menos, não contribuir para aumentar as dívidas (particulares e públicas), quando possível comprar português pode a médio prazo ser muito mais útil do que gastar tempo com graçolas e manifs.
A baixa de notação foi apresentada como uma consequência da difícil situação portuguesa. Há que procurar que não seja causa da sua deterioração.

terça-feira, 5 de julho de 2011

ETV

O canal ETV, do Diário Económico, tem informação muito importante e programas muito bem estruturados. Apesar de eu não ser economista, é um dos canais que mais vejo, já que considero importante estar bem informado sobre as questões económicas. No entanto esta canal tem um enorme defeito: a maneira deficiente com que apresenta súmulas de notícias nos seus rodapés.
Vejamos 3 exemplos retirados da emissão de ontem:
1) "GOVERNO CONTRATA BANCOS PARA VENDER A LOTERÍA"
A primeira impressão foi "Enganaram-se a escrever «lotaria»!" Depois reparei no acento no í e comecei a desconfiar: Porque escreveriam "lotaria" à espanhola? A que governo se referem; em que país isto aconteceu. De certo não foi em Portugal, onde a Santa Casa tem a máquina bem montada. Deverá ser em Espanha, mas não está certo escrever "Governo" sem dizer que se trata do governo espanhol.
2) "TAP PROIBIDA DE AUMENTAR VOOS PARA LUANDA"
Proibida? Por quem, com base em que lei. Porquê? Aumentar voos? será aumentar o preço dos voos, isto é dos bilhetes, ou o número de voos?
3) "PROFESSOR DE ECONOMIA EXIGE SAÍDA DA ALEMANHA DA MOEDA ÚNICA"
Professor de economia? Quem? Português? Alemão? De outra nacionalidade? Exige? Como é que um professor pode exigir? Não caberá ao governo alemão decidir?
É certo que aparece de longe em longe: "ESTAS E OUTRAS NOTÍCIAS EM economico.pt. De facto, lá estão as explicações todas. Mas se o canal não considera necessário dar essa informação e remete para a net, também não vou divulgar.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Fundo para os despedimentos

No Insurgente:

«o governo desistiu de avançar com umas medidas mais importantes do pacote legislativo: a criação de um fundo que financie os despedimentos»
(fonte: Jornal de Negócios)

Mais uma boa notícia. Sempre achei essa medida desajustada e injusta. Quando vi que constava do memorando de entendimento fiquei desanimado, porque pensei que tal inclusão a tornava inevitável. Venceu o bom senso e estou convencido de que a UE, o BCE e o FMI não vão penalizar o país por se desistir desta medida.

sábado, 25 de junho de 2011

Notícias erróneas

As nossas TVs necessitam ter mais cuidado com a exactidão das suas notícias. 2 exemplos:
1) Ontem, ao noticiar o aumento das taxas da dívida portuguesa, o jornalista afirmou: "Portugal vai pagar mais pelos empréstimos." Ora o aumento tinha-se dado no mercado secundário, já que não tinha havido emissões de novos títulos de dívida; portanto Portugal não pagou nem mais nem menos, continuou a pagar exactamente o mesmo. Quando muito pode-se dizer que é provável que na próxima emissão de dívida para os mesmos prazos as taxas sejam superiores, mas, como se sabe pelos dados históricos, nem sempre o mercado primário segue automaticamente as tendências do mercado secundário. Informação errónea pois.
2) Agora aparece em roda-pé: "Mais austeridade: pelo menos duas privatizações previstas para 2012 serão adiantadas" (Apesar das aspas, cito de memória: as palavras podem não ter sido exactamente estas.). Pode ser que venha a haver mais austeridade, mas não me parece exacto que as privatizações possam ser consideradas medidas de austeridade. Nem todas as medidas destinadas a diminuir a dívida pública são sinal de austeridade.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Previsões sobre o futuro do Governo e sobre o futuro de Sócrates

Basílio Horta, esse recém convertido ao socialismo, ou melhor, esse agora PS confesso, mas já cripto-PS de há muito, afirma que pensa que o actual Governo, acabadinho de empossar, não vai durar mais de 2 anos. Tem os seus argumentos, principalmente o facto histórico de até agora nenhum governo de coligação ter conseguido durar a legislatura completa (pelo menos é o que dizem, que eu não tive ocasião de confirmar), mas não creio que tenha razão, já que o acordo da coligação me parece sólido e a situação não é de molde a permitir que acidentes do caminho levem a crises políticas. Mas a outra previsão de Basílio Horta desperta-me ainda mais desconfiança: a de que Sócrates voltará a ter lugar de destaque no panorama político (Não me lembro das palavras exactas, mas é este o sentido). Se é certo que houve o exemplo de Cavaco Silva, que depois de uma derrota teve uma travessia do deserto de 10 anos após o que reapareceu em glória, não me parece que Sócrates possa repetir o trajecto, já que o caminho anterior é o oposto: Enquanto que Cavaco, durante o seu consulado, teve uma aceitação crescente e se retirou de moto próprio, Sócrates teve a evolução contrária, começou com uma maioria absoluta, nas eleições de 2009 perdeu essa maioria e agora perdeu em toda a linha, para não falar nas derrotas nas europeias e nas autárquicas. Retomar o lugar de líder do PS já me parece difícil, apesar das fracas figuras dos 2 candidatos actuais, mas ambicionar a mais do que isso, quer seja o lugar de PM novamente, quer vencer uma eventual candidatura à Presidência da República, parece-me do domínio do fantasioso.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Medidas simbólicas

O facto de o Governador Civil de Lisboa se ter demitido mesmo antes de Passos Coelho ter acabado o discurso é irrelevante. Na verdade não faz falta nenhuma. Mas o ter publicado a carta de demissão no Facebook antes de o destinatário a ter podido ler parece-me lamentável, para não dizer mais.
Acabar com os Governos Civis pode ser uma medida simbólica e a poupança de dinheiro é insignificante perante a necessidade de redução de gastos, mas, mesmo simbólica, é altamente salutar (assim como a decisão do PM de passar a viajar em classe económica!).

terça-feira, 21 de junho de 2011

Grécia


O governo grego venceu o voto de confiança. Os enormes problemas não desapareceram, o perigo de bancarrota não passou completamente, mas de qualquer maneira é um alívio porque permite, pelo menos, adiar os maiores perigos e dar tempo para procurar soluções mais viáveis.

Austeridade

Vamos viver nos próximos anos sob rigorosas medidas de austeridade. Estas medidas metem medo a muita gente e são contestadas por alguns. No entanto a mim não parecem tão terríveis. Claro que sei que vou ganhar menos, que tenho desemprego na família, que vou pagar mais pelos bens e serviços que consumo e também mais impostos. Vou portanto viver pior. No entanto sou suficientemente velho para comparar a austeridade que aí vem com o modo de vida de há 2 ou 3 gerações. Nascido numa família da chamada classe média, lembro-me do difícil equilíbrio económico que os meus pais tinham de praticar. Lembro-me de que ter casa própria era para os ricos, que ter automóvel era para uma minoria (e os meus pais nunca tiveram), que ia a pé para a escola a quilómetros de distância, que ir para o liceu em transportes públicos era habitual e eu tinha de tomar o comboio e depois o carro eléctrico diariamente (e considerava-me muito feliz por ser dos poucos que frequentavam o liceu). Lembro-me de quando a minha mãe comprou o primeiro aspirador, de quando o meu pai lhe ofereceu o primeiro frigorífico, de quando compraram a primeira televisão. Recuando ainda mais no tempo, lembro-me de quando, por dificuldades económicas, os meus pais tiveram de vender a Enciclopédia Luso-Brasileira e uma máquina de escrever, em que meu pai trabalhava na sua 2.ª actividade, e de se mudarem para uma casa mais barata. Lembro-me de ter de sair de casa e ir ao telefone público mais perto para poder telefonar, já que não tínhamos telefone próprio. Já homem, sempre levei uma vida que considero relativamente austera, embora procurando algum conforto: o meu primeiro carro foi um Mini, nunca passei férias no estrangeiro (excepto quando trabalhei no estrangeiro), pouco vou a restaurantes e espectáculos e não aprecio luxos. Ainda hoje, o meu telemóvel é dos mais baratos e satisfaz-me plenamente. Por isso a austeridade não me assusta muito. Se for necessária para permitir que os meus netos não vivam pior do que eu vivi, já me dou por satisfeito.

Esperança

A composição do novo governo e principalmente o discurso de Pedro Passos Coelho no tomada de posse permitem-me alguma esperança na evolução de Portugal, nas vertentes política e económica, nos próximos anos. Claro que sei que bonitos discursos não são garantia de boa acção, mas nesta questão nunca há garantias, mas pode haver esperança. Pelo menos por me lembrar dos discursos de tomada de posse do 1º Ministro de então em 2005 e em 2009 que não me inspiraram nenhuma confiança.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Adeus... sem saudades!

4 alegrias:

1) Termos finalmente conseguido correr com o Sr. Pinto de Sousa (o José, não o António);

2) O mesmo ter-se demitido do cargo de Secretário Geral do PS (talvez assim o PS volte a ter alguma credibilidade, o que será bom para a Democracia);

3) O povo português ter optado por uma maioria de centro-direita;

4) O Carlos Moedas ter sido eleito deputado num círculo difícil.

E agora, que os eleitos ponham rapidamente mãos ao trabalho, é o que esperamos.

sábado, 4 de junho de 2011

Dia de reflexão

Estou a reflectir!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

É preciso que se saiba

É preciso que se saiba:

«Maio 30, 2011

Os meios da campanha do PS

Filed under: Media,Política,Portugal — André Azevedo Alves @ 23:06

A extraordinária máquina de propaganda eleitoral do PS. Por Ricardo Santos Pinto.

Ao lado da extraordinária máquina de propaganda eleitoral do PS, todos os outros Partidos, incluindo o PSD, são quase amadores. Senão vejamos:
- 5 autocarros de 55 lugares em permanência
- 20 monovolumes em permanência
- um camião tir com palco, régie e ecrã gigante e 3 técnicos
- duas estruturas independentes com equipas de 10 elementos cada uma para montagem e desmontagem de palco, dotado de sistema de som profissional estilo concerto de média dimensão
- 3 bancadas (duas laterais e uma frontal) com capacidade total para 250 pessoas sentadas
- t-shirts, sacos de pano, canetas, calendários, chapéus, edição de 6 jornais de campanha, flyers de todo o tipo e feitio, múltiplos adereços para oferta, autocolantes, etc.
- mobilização constante de dezenas de autocarros – foram pelo menos 20 no comício da Afurada, 25 no de Braga (todos da Transdev) e um número incalculável no comício do Porto de ontem.
No meio disto tudo, expliquem-me por favor como é que o PS só prevê gastar 2 milhões de euros na presente campanha eleitoral.»

Obrigado pela informação, Ricardo santos Pinto. Obrigado 5 dias e Insurgente.

sábado, 28 de maio de 2011

Afinal havia outra versão

Numa nova versão do "Afinal havia outra", descobriu-se agora, embora eu não saiba bem quem descobriu, que há duas versões não coincidentes do Memorando de Entendimento assinado com o triunvirato (também prefiro a expressão "triunvirato", de raiz latina, a "troika", de origem russa). Verifico agora que eu próprio poderia ter descoberto as divergências comparando a versão inglesa que descarreguei através da ligação disponibilizada pelo Económico com a versão portuguesa divulgada pelo Ministério das Finanças. Nem precisava de saber inglês, bastando cotejar a tradução cedida pelo blog Aventar, num verdadeiro serviço público, com a do Ministério. As diferenças são muitas e não são meras questões de pormenor.

Ora o Ministério das Finanças teve o cuidado de avisar que "A presente versão em português corresponde a uma tradução do documento original e é da exclusiva responsabilidade do Governo português. Em caso de eventual divergência entre a versão inglesa e a portuguesa, prevalece a versão inglesa." Só não compreendo então como é possível que a versão inglesa, que prevalece, não tenha sido disponibilizada oficialmente para conhecimento dos cidadãos, nem sequer dos partidos envolvidos no entendimento. Por muito que Sócrates queira minimizar a questão, concordo com o professor Marcelo Rebelo de Sousa em que se trata de um verdadeiro escândalo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Grande derrota dos socialistas espanhóis

Segundo a TVE noticiou há pouco, nas eleições autonómicas e municipais espanholas, o PP teve uma vitória superior ao que esperava e o PSOE teve uma derrota também maior do que temia. Será que pode em Portugal acontecer no próximo dia 5 algo semelhante?

sábado, 21 de maio de 2011

Debate

Não sei quem ganhou o debate de ontem, se Passos Coelho, se José Sócrates. Não sei porque francamente não acho que um debate seja um combate em que há forçosamente vencedores e vencidos. Mas não tenho dúvidas de que Passos Coelho esteve mais seguro de si e mais pertinente nos seus argumentos.

Mas não vou na onda que ouvi repetidamente aos comentadores de que Passos Coelho surpreendeu, porque as expectativas eram baixas. Os discursos dele sempre me pareceram bem fundamentados e bem articulados, com calma e com determinação, por isso parece-me que no debate esteve como sempre, calmo e certeiro. Já José Sócrates esteve repetitivo, com uma estratégia errada e sem imaginação. Também não me surpreendeu, apenas achei que a repetição dos mesmos argumentos que lhe temos ouvido e uma estratégia de ataque constante foram muito pouco eficazes. De resto sempre me pareceu que Sócrates apresenta sempre um discurso lógico mas apenas aparentemente correcto, porque parte de premissas falsas ou viciadas para sustentar o raciocínio, chegando invariavelmente a conclusões erradas. Por exemplo, quando acusa o PSD de querer privatizar o SNS, conclui que prejudica o direito à saúde dos portugueses. A conclusão poderia ser justa se o PSD tivesse essa intenção, o que não está provado e sempre negou. Este tipo de raciocínio é uma constante e repetiu-o no debate de ontem.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Desemprego sobe mas pouco e culpa é da crise internacional

O desemprego continua a subir, atingindo já, com 12,4%, um nível superior ao previsto no Memorando (o tal que o Governo não tornou público e de que só se conhece a versão em inglês e uma tradução particular). Afinal a descida do número de inscritos nos Centros de Emprego não significava que o desemprego estivesse a diminuir. Mas o nosso Primeiro não desfalece. Fiel à sua missão de dar ânimo a Portugal ("puxar pelo País", como ele diz) faz notar que a subida real foi apenas de 0,3 pontos percentuais, uma ninharia, pois o número referido é calculado por uma nova metodologia. Congratulemo-nos pois por tão ligeira subida! Mas Sócrates tem de continuar na sua missão de animar os portugueses e afirma que afinal a nossa subida não tem nada de original, pois o desemprego subiu em todos os países da Europa. Além disso é consequência da crise internacional, e portanto as políticas do Governo não tiveram qualquer influência. Animemo-nos pois.

sábado, 14 de maio de 2011

Um poema

Não tem copyright, e por isso não há problema em transcrever o poema de Fernando Ferreira que um leitor do Expresso enviou como comentário ao artigo de Henrique Cardoso "Sócrates está a mentir ou é irresponsável. Escolham".
Aqui vai:

Poema de Fernando Ferreira

A culpa é do pólen dos pinheiros,
dos juízes, padres e mineiros,
dos turistas que vagueiam nas ruas,
das strippers que nunca se põem nuas,
da encefalopatia espongiforme bovina,
do Júlio de Matos, do João e da Catarina.
A culpa é dos frangos que têm H1N1
e dos pobres que já não têm nenhum.
A culpa é das putas que não pagam impostos,
que deviam ser pagos também pelos mortos.
A culpa é dos reformados e desempregados,
cambada de malandros feios, excomungados.
A culpa é dos que tem uma vida sã
e da ociosa Eva que comeu a maçã.
A culpa é do Eusébio que já não joga a bola
e daqueles que não batem bem da tola.
A culpa é dos putos da Casa Pia,
que mentem sempre de noite e de dia.
A culpa é dos traidores que emigram
e dos patriotas que ficam e mendigam.
A culpa é do Partido Social Democrata
e de todos aqueles que usam gravata.
A culpa é do BE, do CDS e do PCP
e dos que não querem o TGV.
A culpa até pode ser do urso que hiberna,
mas não será nunca do nosso PS e de quem governa!

enviado por Floriano Mongo para o Expresso on-line

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Economia planificada

A propaganda, as propostas e os programas eleitorais do PCP e do BE não revelam o verdadeiro objectivo político destes partidos: estabelecer um sistema socialista no sentido marxista do termo como fase intermédia para uma sociedade comunista. Este objectivo não é normalmente apresentado publicamente e só transparece em certos lapsos de linguagem ou em documentos internos que não se destinam a divulgação geral. Porém este facto não é nunca denunciado pelos políticos, comentadores e politólogos que debatem ou mesmo combatem as ideias apresentadas por estes partidos. Hoje, num comentário raro, talvez mesmo único nos últimos anos, José Gomes Ferreira, ao referir a "ingenuidade" do programa eleitoral do BE, disse claramente que não era possível pôr em prática as ideias defendidas naquele, a não ser que se mudasse do regime de mercado que vigora actualmente para um regime de "economia planificada", isto é, acrescento eu, um regime de tipo soviético em que o estado detém os meios de produção integralmente ou quase e decide o que se produz e em que quantidade para, alegadamente, satisfazer as necessidades da população, em vez de deixar que o mercado deixe equilibrar a oferta e a procura.

Estranhamente foi Sócrates, que de comunista não tem nada e de socialista muito pouco, e que não me parece que adira muito ao ideário marxista, que expressou há dias o princípio marxista a propósito da bondade do SNS: "de cada um conforme as suas capacidades, para cada um conforme as suas necessidades". Tem-se visto como este princípio tem sido aplicado...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Voto na CDU

A palavra "voto", na epígrafe desta mensagem, não representa a 1.ª pessoa do presente do verbo votar, mas sim o substantivo. Mas entenda-se que ao referir-me ao voto na CDU pretendo mesmo dizer que a tentação em votar na CDU é grande desde exactamente ontem. E porquê? Porque ao dirigir-me ao supermercado dei com um carro com 2 autifalantes no tejadilho donde saiam frases aliciantes, como "Para melhores salários e melhores reformas, para combater o desemprego, vota na CDU!". Como resistir? Claro que não sei como a CDU vai conseguir isso, mas talvez valha a pena arriscar: melhores salários e melhores reformas, menos desemprego! Que bom que seria.

Bem, espero que não pensem que estou a falar a sério. O que não deixa de me impressionar é como é possível apelar ao voto com estas promessas e, principalmente, como há quem acredite.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Afinal PEC IV resolvia a crise!

Pensava que já conhecia bem José Sócrates depois de conviver diariamente com ele há 6 anos, via TV, jornais e vários documentos. Afinal continua a espantar-me. Hoje, no excerto do discurso que fez num jantar em Portimão, promovido pela Geração Activa (seja lá isso o que for) transmitido pela televisão, não teve vergonha nem a voz lhe tremeu quando afirmou que o PEC IV teria sido afinal suficiente para tirar Portugal da crise e que, se não tivesse sido chumbado por políticos irresponsáveis, apenas porque têm ambição do poder, não teria sido necessária a ajuda externa. Duas afirmações espantosas:
1) Se o PEC IV tem sido aprovado, como continuaríamos a financiarmo-nos sem os milhares de milhões do resgate? Será possível que Sócrates admita intimamente que os mercados se renderiam e nos emprestariam mais dinheiro a taxas suportáveis só por saberem que o PEC IV iria estar em vigor? Se as medidas do PEC IV fossem suficientes, porque admitiu o Governo que nas negociações fossem introduzidas no acordo tantas novas medidas, principalmente no que se refere a reformas estruturais? Então porque considerou o acordo como "bom"?
2) É crível que na situação aflitiva em que se encontra o país e com medidas tão duras a cumprir, alguém no seu perfeito juízo tenha ambição pelo poder? Até me inclino a aconselhar Passos Coelho a fugir enquanto é tempo.
Afinal não há motivo para espanto. Sócrates continua igual a si mesmo e estas afirmações deixam-nos antever como Sócrates cumpriria as medidas do acordo.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A não comunicação do Primeiro Ministro


Estava anunciada para hoje às 20:30 uma comunicação do Primeiro Ministro sobre o plano de ajuda a Portugal. Afinal a notícia não era verdadeira, porque o PM apareceu realmente diante das câmaras, mas nada comunicou de substancial. Só falou do que não estava no plano acordado, mas não do que estava e aproveitou para dar umas ferroadas na oposição, louvar a acção do Governo e elogiar o Ministro de Estado e das Finanças.

A propósito do Ministro das Finanças, foi também anunciado que acompanharia o PM. No entanto também este anúncio foi um engano. Estava realmente um senhor muito parecido com Teixeira dos Santos ao lado de Sócrates, mas não podia ser ele, pois não é verosímil que tendo tido grande responsabilidade nas conversações, como o PM asseverou, e estando presente, não proferisse uma única palavra. Um Ministro de Estado não serve de figura decorativa. Era com toda a certeza um sósia.

Portanto, depois de uma não comunicação e de uma não presença, fica tudo em aberto e teremos de aguardar até amanhã para sabermos quais são as verdadeiras medidas de austeridade

Exactamente

Li no Corta Fitas:

«Por estes dias, ouvir alguns ex-ministros de Sócrates como Campos e Cunha e Freitas do Amaral, ou ex-ministros socialistas, como Daniel Bessa ou Augusto Mateus, é quanto basta para perceber de quem é a principal responsabilidade por Portugal se encontrar na bancarrota.»

Exactamente!