terça-feira, 10 de julho de 2018

Malthus actual

Em 1798, Thomas Malthus especificou no seu Primeiro Ensaio, que se aproximava, dentro de anos, uma crise alimentar, já que, se nada fosse feito para o evitar, a população cresceria a um ritmo exponencial, enquanto que a produção alimentar crescia a um ritmo aritmético, o que levari inevitavelmente a uma falta de alimentos. Malthus errou na sua previsão e foi muito atacado e finalmente quase esquecido por esse erro. O que se verificou nos anos seguintes foi um dramático aumento da produção agrícola, devido a novas tecnologias, de tal modo que a crise alimentar prevista não teve lugar. Sabe-se que até à actualidade a produção agrícola (com fins alimentares) tem sido suficiente para alimentar a população actual. Além disso, o crescimento populacional, embora sempre positivo à escala global, já não é exponencial, tendo sofrido um abrandamento, nomeadaente devido à diminuição do número de filhos por mulher, principalmente no Ocidente (em grande parte devido ao advento e generalização da pílula, e ao processo de liberalização da mulher), e a campanhas nos países mais populosos exactamente no sentido de diminuir a natalidade, como a lei do filho único na China, já revogada mas que teve forte impacto, e as campanhas de sensibilização para a esterilização na Índia.

Portanto, Malthus errou redondamente e não houve ainda crise alimentar geral. As suas conclusões foram fortemente atacadas e posteriormente praticamente esquecidas até ao século XX. Os optimistas de serviço concluíram então que jamais haveria crise alimentar, pois, apesar do aumento populacional contínuo, a produção alimentar continuaria a crescer o suficiente.

Mas Malthus não errou no raciocínio, apenas no modo como extrapolou a evolução temporal dos parâmetros que utilizou e,por outro lado, na limitação da análise à questão alimentar.

Mais recentemente houve outro sobressalto quando da publicação em 1972 do livro "Os Limites do Crescimento" (Edição portuguesa daa Publicações dom Quixote). Este relatório do M.I.T., da autoria de Donella Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens II, baseado nas pesquisas dos mesmos por encargo do Clube de Roma, voltou a pôr a questão da sustentabilidade da sociedade de consumo, nomeadamente da questão alimentar e da questão ecológica, que não tinha, como é natural, preocupado Malthus. Já com  ajuda de programas informáticos, Donella Meadows e colaboradores chegaram a conclusões que actualizavam e extrapolavam, desta feita com dados mais fiáveis, as previsões de Malthus. O principal dado é a evidência de que o planeta é finito, sendo também finitos, necessariamente, os recursos que se podem extrair dele para consumo ou transformação.



30 anos mais tarde, Donella Meadows deu à estampa uma actualização e uma verificação das previsões e uma apresentação da evolução dos recursos. Chegou à conclusão de que, de um modo geral, as previsões de 1972 se tinham confirmado.

Entretanto o Mundo continua entretido em coisas que podem ser importantes momentaneamente, mas que em nada contribuem para a resolução nem mesmo para a mitigação dos problemas que nos conduzem ao colapso da nossa civilização. Fala-se muito das alterações climáticas, e é combinado internacionalmente um pequeno esforço para tentar evitá-las, diminuí-las ou contrariá-las, procuram-se energias renováveis, mas estas revelam-se mais caras e a sua generalização, com o fim do uso de combustíveis fósseis, continua a ser uma miragem longínqua, mas a exploração desenfreada dos recursos continua e é a base do actual do nosso bem-estar. A adopção em massa de novas tecnologias impõe uma nova necessidade de recursos escassos. Os responsáveis políticos pensam mais no curto prazo, um pouco no médio prazo e nada no longo prazo. Quando se derem conta da necessidade urgente de mudanças drásticas, deve ser tarde.

domingo, 1 de julho de 2018

Horrível

António Costa considerou que a reunião de líderes da União Europeia  em que se alcançou um acordo sobre imigração foi "uma das mais horríveis " às que assistiu em Bruxelas. No entanto esta declaração não teve grande eco nos meios de comunicação portugueses, que optaram pelo lado positivo noticiando de preferência a declaração de Costa sobre "o grande passo em frente" conseguido sobre o euro. Sabendo as posições de Costa sobre o assunto dos migrantes, não admira que tenha considerado "horríveis" as novas medidas sobre a recepção de migrantes, embora pareça conveniente não noticiar muito essa opinião do nosso PM.