quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Cavaco Silva aterrorizado

Na sessão de apresentação do seu último livro, "A esperança é necessária”, Mário Soares apresentou teses que considero pelo menos controversas, para não dizer disparatadas.

A principal foi a tirada em que afirmou que "O Presidente da República mandou o diploma do corte de pensões para o Tribunal Constitucional por ter ficado aterrorizado depois da sessão que fizemos na Aula Magna" (citado de memória). Estou mesmo a ver Cavaco Silva aterrorizado, talvez mais ainda do que os banqueiros internacionais tremeriam se nós disséssemos "Não pagamos!", como alguns preconizam. Cavaco com as pernas a tremer de medo, talvez escondido num armário, receando a violência que Soares anunciou...

Outra foi ter considerado que "O Papa disse que isto vai resultar em violência dois dias depois de eu dizer". Claro que Soares não se atreve a supor que o Papa o imitou, mas a afirmação de haver uma concordância não tem em conta que o Papa não se freferia, obviamente, à situação portuguesa, mas ao ambiente mundial, o que é completamente diferente. Uma coisa é pensar que o "capitalismo selvagem", a que o Papa aludiu, pode levar a reacções violentas em algumas regiões do mundo por causa das desigualdades a que alegadamente dá origem, outra muito diversa é prever que a acção do Governo português vai inevitavelmente dar origem a violência a breve trecho, como defendeu Soares. A propósito: Não estou com os que acusam Mário Soares de incitamento consciente à violência; Penso sim que a justificação da violência como reacção inevitável é tão perniciosa como o incitamento. E isto aplica-se não só ao ex-Presidente, mas a outros interlocutores que o acompanham nestas andanças.

Se não disparatada, foi pelo menos muito exagerada a forma como criticou a chefia do PS: "Se o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90 por cento com certeza". Concordo que entre as causas de o PS não despegar nas sondagens que o põem muito longe da maioria absoluta estará certamente a fraqueza da sua liderança, a ausência de ideias firmes de Seguro e a inconsequência das críticas ao Governo repetidas monotonamente. Mas há outras causas, como a lembrança da acção de Sócrates que nos levou à beira da banca-rota e o modo como o Governo PS negociou o resgate com a troika, origem de muitos dos graves problemas que atravessamos agora. Se o PS fosse um bocadinho mais activo talvez conseguissa alcançar um bocadinho mais do que os 32 a 37% dos votos que as últimas sondagens prevêem. Se além de mais activo fosse também mais certeiro nas suas críticas e capaz de apresentar alternativas viáveis, teria um pouco mais, mas a maioria absoluta para o PS tem sido uma excepção e falar em 90% é uma piada de mau gosto.

A novela Mário Soares continua a dar que falar, mas só faz pena e não dá vontade de rir. Suponho que o livro agora dado à estampa padecerá do mesmo mal.

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