«Vem aí outro "centenário"
O PCP vai comemorar grandiosamente o
centenário do nascimento do seu inigualável líder Álvaro Cunhal. Nada
que nos deva admirar, conhecidos que são os costumes comunistas de
mumificar os seus heróis. A festa é para eles e ninguém lhes retira o
direito de nela participar longe de quaisquer perturbações, dessas
muitas que constam da habitual panóplia de esquemas com que a Esquerda
gosta de interferir nas iniciativas que não lhe são simpáticas.
Ainda assim, ficam-nos nos olhos imagens
confrangedoras, inexplicáveis. Como, por exemplo, a da fotografia de
Cunhal abraçando a mãe de Catarina Eufémia, em pleno cemitério de
Baleizão, em emocionada expressão prestes a verter lágrimas.
Que à sua volta se urrasse a plenos
pulmões e de punho ameaçadoramente erguido - «morte aos fascistas!», não
estranha. "Eles" não sabiam, "eles", alentejanos nunca saídos do
Alentejo, limitaram-se a acreditar - como muita outra boa gente - na
patranha. Mas Cunhal sabia.
Cunhal, nascido em 1913, acompanhou todo o mortífero percurso de Estaline. Conheceu, in loco,
a sua imensa capacidade de aniquilar. Não podia ignorar a gelada
eficácia do KGB: décadas e décadas de gelada eficácia do KGB. E o
quilométrico rol de balas assassinas com que se inscreveram os seus
agentes na História.
Sendo assim, qual a sua autoridade moral para se pronunciar acerca dos excessos da nossa GNR?
Quantas Catarinas Eufémias eslavas (e
inconformadas, também) não terá desprezado durante a sua estadia na
URSS? Justificando homicidios atrás de homicidios, decerto, com o rótulo
de "reaccionários" atado ao dedo do pé das vítimas...
Ninguém sente, em todo este processo, um cheiro imenso à mais revoltante impunidade?»
Eu não diria melhor. Por isso limito-me a transcrever com a devida vénia.
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