quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ainda a acção grotesca

Já depois de ter escrito o postal anterior sobre a acção grotesca (o epíteto é da revista Veja, só que escreve à brasileira "ação", como também aqui nos querem impor), dei com mais pormenores sobre a polémica no blog Linguagista. Este lembra que também o mestre Almada Negreiros, quando ainda não era mestre, mas sim um jovem futurista e arrojado, usou o termo "cigano" em sentido pejorativo quando procurou ofender o escritor Júlio Dantas no Manifesto Anti-Dantas, escrevendo:
«O Dantas é um cigano! O Dantas é meio cigano! O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!».


Não era, certamente, um elogio.
Fiquei ainda a saber que a justiça federal brasileira ainda não se pronunciou sobre a acção proposta pelo Ministério Público Federal. Esperemos que prevaleça o bom senso.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Acção grotesca

Comecei por ver uma curta notícia em roda-pé numa TV que referia ter sido apresentada queixa contra o Instituto Houaiss por ter publicado no seu dicionário uma definição injuriosa da palavra "cigano".
Procurei a origem da notícia e encontrei a história em pormenor.
Comprei há anos a edição portuguesa da Temas e Debates do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa em 18 volumes e considero-o o melhor e mais completo dicionário com que trabalhei. Corri a ver que definição da palavra "cigano" era tão terrível que justificaria uma acção judicial.
Achei:
«adj. 1 relativo ao ou próprio do povo cigano; zíngaro
adj s.m. 2 relativo a ou indivíduo dos ciganos, povo itinerante que emigrou do Norte da Índia para o oeste de onde se espalhou pelos países do Ocidente; calom, zíngaro 3 p. ext. que ou aquele que tem vida incerta e errante; boémio 4 vendedor ambulante de quinquilharias; mascate 5 (1899) pej. que ou aquele que trapaceia; velhaco, burlador»

Procurei noutro dicionário que utilizo, o Cândido de Figueiredo:
«Aquele que pertence à raça dos ciganos. Adj. Trapaceiro; ladino»

Já que estava com as mãos na massa, fui ver a dois dicionários mais antigos que tenho cá em casa.
No Dicionário "Editora" (5.ª Edição) li:
«s. m. indivíduo da raça dos Ciganos; adj. trapaceiro, ladino; traficante de mercadorias subtraídas aos direitos; pop. impostor»
No Torrinha (Edição sem data) tem:
«s. m. Nome daquele que pertence a um povo errante, que vive da pirataria ou de enganar e traficar; trapaceiro. Adj. Trapaceiro, ladino»

Será que todos estes dicionários terão de ser julgados e condenados?

A revista Veja poupou-me o trabalho de expressar em mais pormenor a minha opinião, pois diz tudo o que penso sobre esta acção grotesca ("ação grotesca" em português do Brasil ou conforme o execrando Acordo Ortográfico que me recuso a seguir).

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sessões contínuas

Ainda haverá quem se lembre dos cinemas de sessões contínuas? O bilhete dava para entrar a qualquer momento e, como o que era mais provável era apanhar o filme no meio, bastava esperar que, depois do fim, repetissem tudo outra vez. E se se gostava, bastava ficar sentado e ver outra vez, e outra, e outra...

Já não há cinemas de sessões contínuas, mas há melhor: TVs de sessões contínuas (ou quase). Os canais de informação repetem, repetem e repetem vezes sem conta a mesma notícia. Às vezes muda o jornalista, mas as palavras e as imagens são exactamente as mesmas. O pior é que no canal ao lado também passa a mesmíssima notícia, e no outro também, embora a redacção da notícia seja ligeiramente diferente. Assim, como nas sessões contínuas, se se perde o princípio da notícia, basta esperar sentado (ou aproveitar para ir fazer qualquer outra coisa num instante) para daí a pouco ouvir e ver tudo outra vez.

O engraçado é que apesar da repetição, que levaria a pensar que não há novas para encher o tempo do noticiário, há coisas que se passam no mundo ou até aqui ao pé da porta e que não chegam a ser noticiadas. Claro que, como não posso ver todos os canais noticiosos durante todo o dia, nunca posso ter a certeza absoluta de que um acontecimento de que só soube por outras vias não foi mesmo noticiado, mas se o foi, foi tão rapidamente que passou despercebido. Por exemplo: Alguém viu nalgum desses canais qualquer referência à presença em Portugal da Princesa herdeira do Sião, que veio inaugurar há 2 dias um pavilhão tailandês que nos foi oferecido pela Tailândia para comemorar os 500 anos de boas relações entre os nossos dois países? Eu não consegui apanhar qualquer notícia sobre o assunto. Soube do acontecimento pelo blog Lisboa S.O.S..

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Livraria Portugal 2

Livraria Portugal 2

http://www.seraqueosanjostemsexo.blogspot.com/2012/01/fecha-livraria-portugal.html

Voltei ontem à Livraria Portugal, em parte para me despedir, em parte para ver os saldos. Comprei 4 livros, mas foi uma visita triste. Já aqui me referi às minhas recordações desta livraria, quando soube que iria fechar.


Agora encontrei na mesma muitos livros, mas também muitas prateleiras vazias. O ambiente era desolador: Embora os livros estivessem expostos em várias mesas mais ou menos por assunto, era evidente a diversidade dos tipos de livro, muitos de edições antigas, outros mais recentes. O 1.º andar, maioritariamente preenchido por livros técnicos, tinha mais de metade das prateleiras quase completamente vazias. Deste modo tornava-se mais fácil ver a antiguidade das prateleiras, como já não é normal ver. Os livros eram vendidos com um desconto de 50% e, apesar de muitos me parecerem invendíveis, pelo número de clientes, parece-me possível que nestes últimos dias a livraria ainda faça bom negócio. O saco de plástico, que vou guardar como recordação, junto com a última factura do Grandella e de um talão da extinta Discoteca Roma, recordava que a livraria foi fundada em 1941.


Infelizmente não é só a Livraria Portugal que fecha: Os estabelecimentos fechados nas ruas da Baixa são em grande número. Tristes sinais dos tempos.

Fotografia tirada de Portugal dos Pequeninos.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CGTP e Carnaval

Que há de semelhante entre a CGTP e o Carnaval? Não adivinham? É fácil: Ambos movimentam multidões. A notícia nova é que afinal o Carnaval fica de longe a ganhar no poder de movimentação.

A CGTP pretende representar a maioria dos trabalhadores portugueses, que o mesmo é dizer dos portugueses, já que os patrões são uma minoria. Afirma que os trabalhadores estão descontentes, indignados, contra a austeridade e as medidas do Governo. Mas quando pretende que se manifestem, apesar de pagar viagens de autocarro a Lisboa para os convencer, só consegue mobilizar algumas dezenas de milhar.


Para disfarçar afirma que foram 300 000, mentira desmascarada por razões puramente geométricas.

Por sua vez. o Carnaval, que não representa nada a não ser a vontade de alguns se divertirem, movimentou nestes dias muitas centenas de milhares de pessoas em várias cidades, como Torres Vedras, Ovar, Loulé, etc., e ainda muitos adultos e muitíssimas crianças em tudo quanto é cidade e vila neste País. Ainda hoje vi no Parque das Nações, em Lisboa, muitas máscaras a gozar o sol da manhã. Não tenho um cálculo do total de pessoas movimentadas, mas estou em crer que são mais dos que as 300 000 apregoadas pela CGTP e muitíssimo mais do que o número real que se manifestou no dia 11 do corrente.



Portanto: Carnaval 1 - CGTP 0. A CGTP terá de mudar de estratégia se quiser ter alguma influência sobre o que se passa neste País.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Verdades inconvenientes

Medina Carreira continua a lembrar aos portugueses (aos poucos, mas cada vez mais, que o ouvem e acreditam nele) verdades inconvenientes. Claro que é difícil saber como reagir perante a crise, cuja origem é bem mais profunda do que o discurso corrente, mas a denúncia das causas é o primeiro passo necessário. Mesmo que o declínio do Ocidente seja inevitável, como parece provável e tem inúmeros antecedentes históricos, é importante procurar como mitigar esse declínio.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Exportações 2

Afinal verifico que a fonte da notícia e o próprio resumo da Lusa respondem à minha última dúvida, nomeadamente à questão do crescimento das exportações do sector da saúde em relação ao mês anterior. Segundo estas notícias, este crescimento foi de 20%, o que é muito bom. Esperemos que o sector, um dos que mais contribui para a investigação e o desenvolvimento e mais patentes internacionais possui, continue o seu esforço.

Exportações

Noticiaram hoje que as exportações na área da saúde, englobando fármacos, matérias primas farmacêuticas, equipamento médico, produtos para análises clínicas e diagnóstico e serviços, tinham pela primeira vez em 2011 alcançado o valor de 800 milhões de euros. A área da saúde contribui assim, segundo informaram, decisivamente para melhorar o nível das exportações nacionais, a seguir a outros produtos, como a cortiça e o vinho.



É sem dúvida uma boa notícia, que aprecio tanto mais porque foi a área em que trabalhei na minha vida profissional. No entanto não creio que se possa comparar com a situação da cortiça e do vinho, já que desconfio que no sector da saúde as importações ultrapassam largamente as exportações, coisa que não creio que aconteça nas outras áreas citadas para comparação. Para a notícia ser completa e se poder apreciar devidamente a situação teria sido conveniente dar informação sobre a balança externa do sector. Quanto à comparação com as exportações de outras áreas, também era bom que tivesse sido quantificada com os valores das exportações de produtos da cortiça e de vinho. Um dado sobre quanto os 800 milhões representam em percentagem das exportações totais teria sido muito útil para completar o quadro. Também teria interesse saber quanto tinha subido o valor em relação ao ano anterior ou aos últimos anos. Isso sim, seria um trabalho jornalístico completo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Keynes e Soros

Li agora mesmo um texto exemplar no Notas Livres. Obrigatório ler.
É curioso que George Soros, na linha de Keynes, tenha hoje mesmo preconizado exactamente o contrário do defendido neste texto. É certo que Soros soube como ganhar dinheiro, mas isso não implica que saiba necessariamente a melhor maneira de combater a crise da Europa ou mesmo do Ocidente.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nível zero

Não sei se é falta de imaginação se tentativa de descer ao nível tão baixo que assegura o aumento das audiências acéfalas, mas confrange constatar que os nossos meios de comunicação, tanto escritos como falados, têm cada vez mais tendência para encher as páginas e as emissões com picuinhices (que nem merecem a classificação de faits-divers), como se não houvesse matéria mais importante merecedora de notícia ou de comentário. Agora é a tremenda ofensa que Passos Coelho fez ao corajoso povo português acusando-o (alegadamente) de ser piegas. Quem ouviu as palavras do PM sabe bem que ele só disse "não devemos ser piegas", sem acusar ninguém, até porque, ao usar a 1.ª pessoa do plural estava-se a incluir a si próprio. Mas teremos de desculpar a comunicação social, já que o assunto até teve honra de ser debatido na AR. Na situação em que o País (e a Europa, e o Ocidente, e o Mundo) se encontra há muitos outros assuntos que mereceriam informação pormenorizada, debate, explicação e crítica, mas esta... com franqueza!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

3 de Fevereiro foi dia histórico

e ninguém deu por isso (ou quase ninguém).

Porque é que a 1.ª ligação ferroviária semanal de mercadorias entre Portugal e a Alemanha passou despercebida (ou quase). Se não fosse o meu interesse por ler blogs ficava sem saber.

Nota: Não foi por acaso que escrevi "Fevereiro" com maiúscula. Eu cá estou com o Vasco Graça Moura.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Seguro confessa não concordar com o memorando

Fiquei absolutamente espantado com a confissão de Seguro de que não está de acordo com alguns pontos do memorando de entendimento que Portugal assinou e se comprometeu a cumprir. Não pelo facto em si, há certamente muita gente que não concorda com alguns pontos. Até no Governo pode haver quem discorde de certos pontos, e possivelmente mesmo o Primeiro-Ministro. De resto tem havido ajustamentos pontuais ao memorando. Mas declarar a discordância sem definir quais os pontos e dizer logo que afinal não se responsabiliza pelo conteúdo das normas acordadas porque não foi ele que assinou é uma absoluta inconveniência (apesar de conceder que não vai deixar de cumprir, mesmo não concordando). Todos sabemos que foi Sócrates e Teixeira dos Santos que puseram as suas assinaturas. Mas também sabemos que com essas assinaturas não comprometeram só o Governo e em consequência o partido que o suportava: comprometeram o País. Apesar de o PS ter mudado de líder continua comprometido com o que subscreveu. Para mais a concordância do PS na concretização das medidas do memorando é fundamental para dar credibilidade ao País perante a UE e perante os mercados. Declarações como a que ouvimos de Seguro só nos podem prejudicar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Greve? Quase não se deu por ela!

Que me lembre, é a primeira greve dos transportes que quase não se notou. Para já, a não participação da CP e da Carris tornou a greve muito menos penalizante para os utentes, ou pelo menos para muitos utentes. A CGTP e Arménio Carlos devem pensar bem no significado desta menor adesão de muitos trabalhadores. Este refluxo indica uma queda na aceitação da CGTP e dos seus métodos entre os portugueses. O povo está cansado de tantas greves para tão pequenos resultados.